Prólogo

2.4K 148 15
                                    

No ano de 2666 D.C., o mundo como era conhecido até então sofreu uma reviravolta. Antecipado por centenas de anos de maus presságios – catástrofes naturais, genocídios, suicídios em massa, desacreditação em deuses de qualquer tipo – o apocalipse se instalou. Os portões do inferno se abriram, graças à maldade e ambição desmedida e todos os demônios se soltaram das suas clausuras. Os quatro cavaleiros foram os primeiros, liderando as tropas. Fome, Peste, Guerra e Morte se espalharam pelos quatro cantos do mundo, deixando destruição por onde quer que passavam. Para os combater, Deus enviou os seus próprios cavaleiros: Fé, Esperança e Caridade. As lutas entre os dois lados redefiniram o mundo, destruindo-o e reavivando-o, vezes sem conta. Os humanos foram apanhados no meio dos confrontos e foram utilizados como peões naquele jogo mortal. As perdas mais significativas foram no seu seio e não no daqueles que guerrilhavam. 
Quando todos pensavam que era o fim do mundo, naquele que ficou conhecido como o primeiro ano da nova era, um acordo foi forjado e um aparente estado de paz provisória alcançado. Os cavaleiros de ambas as equipas foram aprisionados, contudo, o ódio entre os restantes continuou e a tranquilidade de antes do apocalipse nunca mais foi restaurada.
Despojados de todos os seus bens e do mundo que lhes havia sido concedido, os humanos não tiveram outra escolha a não ser se subjugarem àqueles que eram mais poderosos do que eles, em troca de proteção e uma oportunidade de sobrevivência naquele estado latente. Nem anjos, nem demônios, se ausentaram da Terra e, apesar do acordo, ainda existiam conflitos de menor escala. A civilização humana deixou de ser livre e se tornou escrava ou fugitiva. Famílias inteiras respondiam e atendiam a um único anjo ou demônio, ou a um clã deles. Grande parte dos avanços tecnológicos e científicos foram esquecidos e recomeçados. Uma nova era das trevas se ergueu. Num antigo livro guardado pelos anjos, se podia ler que a maldade era uma característica única dos demônios. Os homens não tinham tanta certeza disso e preferiam não tomar partidos morais, mantendo-se fiéis àqueles que os alimentavam.
Muitos anos se passaram desde o acordo e a paz fingida foi ficando cada vez mais fina, dia a dia mais translúcida. Todos aguardavam um novo apocalipse, enquanto desejavam o regresso daquele tempo em que conceitos como anjos e demônios, paraíso e inferno, eram apenas ideias abstratas e não certezas empíricas.

Entre Anjos e DemôniosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora