Capítulo XV

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There were pieces of me that lived in corners on a hard wood floor.
Until an Angel walked in through my door.
Time stopped, the arch of her back grew wings.
And pulling me further from a devil to a heaven, she said "Believe."
True peace as she looked into my soul.
She said "I'm here to show you faith, and to help you when you fall."

Angels in Everything, Blue October

Ezra’s POV
Fiz um esforço quase hercúleo para abrir os olhos, se é que os tinha, mas precisava vê-la, precisava olhar para ela e dizer que tudo ficaria bem. Ela dissera que me amava, eu a ouvira. Eu desejava retribuir, apesar de as palavras queimarem minha boca. Precisava de olhá-la.
Aos poucos e poucos, vários feixes de luz começaram entrando na minha visão meio opaca, iluminando meu caminho para fora da escuridão. Os humanos tinham uma expressão para isto. Chamam-lhe a luz ao fundo do túnel. Formas foram se delineando na minha frente, contornos de um corpo real que me abraçava e embalava como se fosse um bebé. À medida que tudo foi ficando mais nítido, também minha lucidez pareceu voltar e as peças do quebra-cabeças que era minha mente começaram se unindo, formando ideias coerentes. O primeiro sentimento a abater-me foi alívio e, depois, felicidade.
- Hannah…
A humanazinha de meus sonhos levantou a cabeça e me olhou. Seus olhos estavam vermelhos e a cara amassada, mas nunca me parecera mais bela do que naquele momento, chorando por mim.
- Graças a Deus! Está vivo! – me abraçou e pousou a cabeça em meu peito, como se não pudesse se afastar. A mim, aquilo sabia divinamente.
- Pensei que me tinha abandonado – murmurei.
- Não. Nunca. Foi o Daniel. Tudo isto, foi ele.
- Não me deixe. Não me deixe nunca mais. Eu preciso de você comigo. Preciso de você. Quero você comigo. Sempre.
Ela levantou a cabeça e assentiu, me encarando com os olhos marejados de lágrimas mas com um sorriso.
Aquilo sim, era o paraíso. Meu paraíso no inferno.

Hannah’s POV
Não conseguia conter o sorriso enorme que decorava meu rosto. Ezra estava vivo! Não morrera e, além disso, fazia juras de amor, mesmo sem pronunciar a palavra uma única vez. Não era necessário. O que eu sentia e, aparentemente, ele também, não precisava de rótulos ou definições, isso era supérfluo. Palavras, leva-as o vento. Eu desejava acções e, com ele, sabia que elas chegariam, nem que fosse no ato suave de me puxar para si e passar os lábios por meu queixo, para onde escorriam as lágrimas, subindo delicadamente até meus olhos, apagando, completamente, qualquer rasto de tristeza, substituindo-a com ternura e paixão, culminando num beijo intenso nos lábios.
- Não quero interromper vocês, mas não será melhor sair daqui? – com toda aquela emoção, esquecera Lucas, encostado no batente da porta.
Senti Ezra se mexendo.
- Não, foi aquele anjo filho da puta que fez isto. Tem de pagar – com alguma dificuldade, sentou na cama e, depois, se colocou de pé.
- Cuidado – pedi, lhe segurando no braço, talvez para o amparar, talvez para não o deixar fugir. – Não está em condições para enfrentar o Daniel.
- Desculpa, mas desta vez tenho de concordar com a humana anã – declarou Lucas.
Ezra afastou minha ajuda e deu um passo como que testando sua situação.
- É de modo que se torna numa luta mais justa – acabou dizendo e fez o caminho até à rua, como se não tivesse acabado de sair de um estado de inconsciência.
- Faça alguma coisa, Lucas! – berrei.
Ele encolheu os ombros.
- Se você não consegue, acha que eu vou conseguir?
- Ele está fraco!
O demônio sorriu.
- Não, minha cara, ele está mais forte do que nunca. Agora, tem algo pela qual lutar.
Por mais lisonjear que aquelas palavras me parecessem, não conseguiram afastar minha apreensão.
Lucas e eu seguimo-lo porta fora. Ezra estava parado no meio da rua deserta, olhando, aparentemente, para o nada.
- O anjo vem aí – afirmou Lucas, fitando o mesmo horizonte que Ezra. Fixei a vista aí.
Vários segundos passaram, talvez, até mesmo minutos, até um pequeno ponto se começar formando e se tornando maior e maior, sendo possível distinguir a figura clara de Daniel. Um arrepio percorreu minha coluna. Não sabia o que aconteceria a partir dali, quando o anjo ficasse tão próximo que Ezra pudesse tocar-lhe e começar uma luta que lhe poderia ser fatal. Ele e sua superioridade demoníaca!
- Ezra… - chamei, num última tentativa de o convencer a desistir e fugir. Comigo.
Se aproximou de mim, parou na minha frente e emoldurou meu rosto com as mãos, olhando com toda a intensidade daqueles olhos escuros.
- Espere por mim. Isto não vai demorar e, quando acabar, vou mostrar a você o porquê de ser o Guardião da Luxúria – prometeu, com um sorriso que acabou por se fechar em meus lábios, num toque suave de promessa.
- Acho que já sei.
- Ainda não sabe nada – tocou minha face com as pontas dos dedos e o observei voltar à posição inicial, com Daniel já na sua frente.
Olhando para o anjo, depois do que fizera, não conseguia compreender como é que o pudera achar interessante ou amável, um dia. Até seu aspeto físico, que eu sabia ser irrepreensível, me começava parecendo imperfeito e com falhas. Sem a graça natural de Ezra.
- Ora, ora, ambos os pombinhos fugiram da gaiola – gracejou, se colocando numa posição presunçosa pouco comum dele.
- Domínio, primeiro, o meu tempo, para se chegar a essa posição, era preciso ser bem mais inteligente do que você e, segundo, estou prestes a desfigurar esse seu rostinho de sacana angelical – ameaçou o demônio.
O anjo riu.
- Num dia normal, sim, provavelmente, isso aconteceria, mas hoje não é um dia normal. Não tem metade da força e do poder, demônio. Tenho de admitir que aqueles humanos facilitaram em muito o meu trabalho.
- Não preciso de metade da força – as asas de Ezra abriram, de rompante, grandes como sempre e mostrando-se totalmente curadas.
Daniel imitou-o. Suas asas eram um pouco mais pequenas, mas não deixavam de ser impressionantes. 
- Vamos a isso – disse e parou seus olhos em mim. – Quando acabar com o seu demônio, pequena, vamos ser só nós dois – prometeu, piscando o olho.
Uma onda de náusea subiu por meu esófago, mas, rapidamente, fui distraída pelo salto de Ezra e subsequente aterragem em cima de Daniel.
E assim começou. Lucas estava encostado na parede como se tudo não passasse de um jogo da qual era um mero espectador. Eu, por outro lado, tinha o coração nas mãos, apertado. Não conseguia perceber o que acontecia, não era possível distinguir entre as formas claras e escuras que se misturavam numa dança confusa.
De vez em quando, eles paravam por meros segundos, para recuperar o fôlego, e eu era capaz de ver como aquela luta evoluía e afetava cada um, através da sequência de ferimentos que ia sendo reproduzida nas roupas rasgadas, lábios ensanguentados e mãos vermelhas.
Era impossível determinar quem estava ganhando, tamanha a confusão de movimentos, penas esvoaçando e jogos de luz.
Num dado momento, o corpo de Ezra foi projetado contra a parede da casa, fazendo um buraco. Fiz tensão de o acudir, mas se levantou com uma rapidez surpreendente e, logo a seguir, era o corpo de Daniel que enfeitava a rua. Este, contudo, não se levantou com tanta facilidade. Ezra se preparava para aproveitar a vantagem, mas a voz do anjo impediu-o.
- Sabe o que é que vou fazer quando você desaparecer, definitivamente, demônio? – questionou, com um sorriso zombador. – Vou provar o doce da sua humana preferida. Deve ser ótimo, para não a conseguir largar.
- Cala a boca – murmurou Ezra.
- Vai saber tão bem! Enterrar-me dentro dela e fazê-la esquecer que você alguma vez existiu – algo cambaleante, ficou de pé.
- Cala a boca!
- Ouvi-la gritar meu nome ou, melhor ainda, mantê-la calada, ocupando a boca dela com outra coisa.
No segundo seguinte, Ezra voltava para cima de Daniel, suas asas fechadas à volta de ambos, ocultando o que quer que estivesse acontecendo, mas acumulando uma quantidade impressionante de energia e calor. Minha testa começou pingando suor de um modo tremendo. E foi aumentando e aumentando, até chegar a um ponto quase insuportável. A rua começou se movendo, ilusoriamente, confirmando a existência de uma cortina de calor que não poderia vir de outro lado que não do bloco que Ezra e Daniel formavam.
Nessa altura, um som demasiado alto e oco ecoou pela rua estreita, me obrigando a tapar os ouvidos com as mãos e a fechar os olhos, por instinto. Tentei raciocinar o que poderia estar acontecendo, mas não era capaz, aquele som ocupava meus pensamentos, não deixando espaço para mais nada. Então, aumentou, de um modo estridente, fazendo-me me fechar ainda mais em mim mesma para, depois, desaparecer, gradualmente, regressando o silencio, apenas quebrado pelas respirações ofegantes dos dois combatentes.
Soltei o ar que segurava, afastei as mãos dos ouvidos e abri os olhos.
Vermelho.
A primeira coisa que vi foi vermelho. Montes de vermelho. Uma cortina de fogo nos circundava, como que nos protegendo do exterior, ou nos impedindo de sair, nos obrigando a concentramo-nos no combate que decorria entreEzra e Daniel, cada um em sua ponta, rodeados de vermelho.
Senti comichão no nariz, como uma chamada de atenção para algo que me estava escapando. Quando estava prestes a lembrar, uma figura desceu, sabe-se lá de onde, aterrando junto a Daniel.
- Para!
Surpreendi-me por reconhecer a demônio que ocupara minha cama, especialmente, vestida, mas surpreendi-me, ainda mais, por vê-la se agarrando a Daniel, tocando suas faces e olhando-o com preocupação.
Com amor.
- Pare, Ezra. Não vou deixar que o mate – continuou, se colocando na frente do anjo, como um escudo protetor.
- Saia da frente, Khaya – disseram Ezra e Daniel, em uníssono.
- Não! – voltou-se de novo para o Domínio. – Não posso deixar que ele te magoe.
- Que merda é esta, Khaya? – rugiu Ezra. – Só veio para me aborrecer?
- Pensa que tudo gira à sua volta, seu filho da puta presunçoso? 
- Khaya, saia – murmurou a voz de Daniel, baixa, mas não o suficiente para eu não ouvir.
Ela olhou-o com a boca escancarada e desfigurada pela incompreensão e o escárnio.
- Por que é que está fazendo isto? – questionou. – Por ela? – apontou para mim. – Pela criança humana? Depois de tudo o que fiz por você? Depois de ter tentado seduzir aquele nojento porque você me pediu? – sua linguagem corporal indicava que se referia a Ezra. – Que me enfiasse em sua cama e esperasse, por ele ou por ela? O que sou eu para você? Uma puta que fode quando lhe apetece?
- Khaya…
- Não! – o grito dela soou agudo de mais. – Não! A culpa é toda sua! – com uma rapidez e força avassaladoras, se prostrou na minha retaguarda e envolveu meu pescoço com um braço, limitando minha respiração. - Me dê uma razão para não a matar aqui e agora! Uma razão! Vai ser tão mais fácil depois de seu corpo ficar flácido, docinho. Aí, ele vai ser todo meu. Para sempre.
Não consegui conter meu coração, que disparou. Olhei para Ezra, pedindo ajuda de um modo quase inconsciente. 
- Larga ela, Khaya… - pediu ele, se aproximando, com cautela. – O que quer que você tenha com o Domínio, não é culpa dela. A Hannah não se vai meter entre vocês os dois, ela é minha.
- Cala a boca, também você! A culpa também é sua! Você foi o primeiro, a me rejeitar. Se nunca o tivesse feito, eu nunca teria ido atrás dos outros anjos! Mas agora, já não quero você! Quero-o a ele!
- Então, fique com ele, merda! Mas larga-a… – a voz de Erza pareceu falhar, na última sílaba. 
- Ela tem de morrer! Se ela não morrer, ele nunca ficará comigo! 
Tentei engolir em seco, mas não consegui. O braço à volta de minha garganta estava demasiado apertado, mesmo que minhas mãos o agarrassem, numa tentativa vã de afrouxar um pouco o aperto.
- Khaya, se a matar, eu nunca ficarei com você – afirmou Daniel.
- O que o babaca está tentando dizer é que ficará com você, mas só se a deixar viver – deturpou Ezra. – Eu juro, Khaya, ele nunca lhe porá as mãos em cima. Ela é minha e é comigo que ela quer ficar. Não com ele.
Uma gargalhada soou perto de meu ouvido.
- Ela nunca o aguentaria. Você nunca o aguentaria. Não como ele gosta. Não sobreviveria a uma noite com ele. Ele gosta à bruta, não é, docinho? – inquiriu, se virando para Daniel. – Por isso é que ficava comigo. Eu sabia como o fazer, não é? Não percebe que ela não serve? Ela partiria, se você lhe fizesse o que faz comigo – fez uma pausa, antes de gritar. – Mas, mesmo assim, você prefere-la a ela! Porquê?!
- É mentira, Khaya! Eu quero você – garantiu Daniel. – Eu fiz isto tudo para me vingar do demônio. Eu não a quero. É você que eu amo. Por favor, acredite em mim.
Os braços que me envolviam afrouxaram, um pouco, e ela foi sacudida por um espasmo.
- Me amas? É verdade?
Senti suas lágrimas caírem em meu cabelo.
- Sim, querida, eu te amo. Só a você – Daniel foi-se aproximando, com os braços abertos.
O choro dela se tornou mais compulsivo.
- A mim… - largou-me com um safanão. Teria caído se Ezra não se apressasse a chegar a mim e a me envolver em seus braços, com força.
- Por Deus, está bem? – me encolhi em seu peito, como se me quisesse tornar parte dele, para nunca o largar. 
- Estou bem, estou bem – murmurei e levantei a cabeça para o olhar. Tinha um corte no lábio e outro na sobrancelha e, com certeza, sua bochecha tornar-se-ia negra no dia seguinte. – “Por Deus”? – questionei, com um sorriso.
Pegou minha face com as mãos e encostou a testa na minha, antes de me beijar. 
- Se para você costuma resultar, não custa tentar – voltou a me abraçar e, desta vez, coloquei o queixo apoiado em seu ombro.
Khaya estava abraçada a Daniel, que lhe afagava os cabelos, com uma expressão impassível. Vi Lucas se aproximar e o anjo acenar afirmativamente com a cabeça, num movimento subtil. Lucas se colocou atrás da demônio e, sem mais nem menos, vi sua mão entrar pelas suas costas, fazendo-a arqueá-las, com um esgar de dor. Ezra virou-se e, instantaneamente, puxou minha cabeça contra o seu peito, me protegendo da visão da mão ensanguentada de Lucas saindo do corpo rígido de Khaya.
- Logo, logo vai acabar – sussurrou Ezra, mexendo as mãos por meu corpo para me reconfortar. 
Da boca da demônio saíram mais alguns sons, acima de tudo, gemidos e suspiros de moribunda. 
Ezra me permitiu olhar, quando ela já se encontrava no chão, com a cabeça apoiada no colo de Daniel e um olhar de incompreensão estampado em sua face.
- Senhor, absolva esta vossa filha de todos os seus pecados, e aceite-a junto de você nesta que é a hora de sua morte – murmurou o anjo. 
Não demorou muito tempo para que o corpo começasse envelhecendo, de um modo extraordinário. Passou por todas as fases da vida adulta e da velhice, antes de apresentar um aspeto tão seco que parecia que iria se desfazer se lhe tocassem. E foi exatamente isso que Daniel lhe fez, colocando a mão no peito, e Khaya voou com o vento, desaparecendo da terra.
- “Do pó vieste e ao pó voltarás” – murmurei e Ezra me abraçou mais forte. 
Lucas se aproximou de nós, com a mão cheia de sangue fechada. 
- Por que é que o fez? – perguntei.
- Porque ele pediu – respondeu o demônio, acenando com a cabeça para Daniel, que continuava parado, no chão, no mesmo local. – Ele é um anjo, não o poderia fazer. Eu já estava conspurcado. Não que fique feliz com isto. Ela era uma cabra mas, ainda assim, uma de nós. Por outro lado, não deixava de ser um perigo. Especialmente, para você.
Agradeci-lhe silenciosamente.
- Está preparado para o novo trabalho? – inquiriu Ezra, sem me soltar.
- Um círculo a menos, um círculo a mais, que importa? Já tenho a traição, existe algo mais compatível que a fraude? – Lucas abriu a mão, mostrando uma pedra de um verde-escuro, oval e muito polida, com um caractér desenhado. 
- Isso é…?
- A essência de um Guardião – respondeu Ezra. – Seu poder, sua vida e sua morte. A razão pela qual os Serafins não conseguem nos matar com luz como fazem aos outros demônios.
Lucas aproximou a pedra do peito e esta começou brilhando, me obrigando a fechar os olhos, por um momento. Quando os abri, a mão estava vazia.
Olhei para o demônio, espantada. Ele bateu com a mão no peito.
- Agora, tenho duas vidas. Quase como um gato.
Sem pensar, virei-me para Ezra e coloquei as mãos em seu peito, procurando algo que sabia não estar lá ou, pelo menos, ser visível.
- Sim, humanazinha, eu também tenho duas. Uma vermelha e a recém adquirida amarela.
- Isso torva-vos mais fortes?
Eles assentiram. 
- E mais difíceis de matar – completou Lucas. – Uma das pedras está no peito mas para onde terá ido a outra, isso não fazemos a mínima ideia.
- E agora, humanazinha… - Ezra espalhou as mãos em meus quadris para, logo depois, coloca-las dentro dos bolsos dE meus jeans.- Oh, o que teM aqui? – voltou a tirar a mão e, com ela, uma folha de papel dobrado.
minha mente fez click.
- O Meu Deus! – tirei-lhe o papel das mãos e me apressei a abri-lo. – É a nova profecia do Ary. Já começou!
- Que quer dizer? – Ezra puxou a folha de mim e eu virei-a para o lado que interessava ficar para ele.
Lucas se aproximou.
- A cortina vermelha – fiz um sinal à nossa volta, para abranger o fogo que continuava vivo, ainda que não parecesse ter-se mexido do lugar. Virei a folha ao revés. – Quadro Cavaleiros do Inferno e três Cavaleiros do Paraíso num portão aberto. Está acontecendo!
Ezra olhava para aquilo com concentração, tal como Lucas, procurando algo que mostrasse que estava errada, que furasse minha teoria e só Deus sabia como eu desejava que ele o fizesse. 
- A Hannah tem razão. Já começou – declarou, olhando para Lucas. – Chame quem conseguir. Em minha casa, daqui a quatro horas.
Lucas assentiu e desapareceu, com aquele troque de magia que só ele conhecia.
- Quatro horas? Não é muito tempo? – perguntei.
- Não. Eles virão para cá porque esta cidade é exatamente à mesma distância de ambas as prisões mas demorarão. Existem muitas armadilhas pelo caminho e ficaram durante muito tempo confinados. Antes de partirem, vão esperar se recuperar. Temos tempo.
- Eu quero ajudar – Virei a cabeça para trás. Daniel estava, finalmente, em pé, ainda que com um ar cabisbaixo e abatido. - E tenho a certeza que outros anjos também. Estamos todos do mesmo lado aqui.
Senti o braço de Ezra me agarrar com mais força e seus olhos se estreitaram, buscando mentira nas palavras do anjo.
- Daqui a quatro horas em minha casa. Traga quem quiser.
O anjo assentiu e se virou para ir embora.
- E, Domínio? – chamou Ezra, mais uma vez, e esperou que Daniel se voltasse, novamente. – Não tente me enganar.
O que quer que estivesse pensando, não o deixou transparecer quando regressou ao seu caminho.
- E agora? – perguntei, olhando para o demônio.
Ele fez um meio sorriso, seus olhos escurecidos e brilhantes. Levou as pontas dos dedos à minha face e, naquele momento, senti-me a mulher mais amada de sempre. Ali, com meu corpo contra o dele, absorvendo seu calor, uma de suas mãos apertando minha cintura, eu era feliz, mesmo que o mundo ameaçasse acabar a qualquer momento.
- Agora, acho que fiz uma promessa, há pouco – respondeu, sua voz mais enrouquecida do que o normal.
Franzi os olhos, sem entender.
Ambas as suas mãos voltaram para meu traseiro, puxando-o para cima, bem ao encontro de seus quadris e um sorriso malicioso se desenhou em seus lábios.
Então, lembrei.

Entre Anjos e DemôniosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora