Capítulo bônus - Dopada (por Eduardo)

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― Eduardo... – Amanda chamou, ao separar nossos lábios. Eu encolhi os ombros, receoso de que fossemos começar uma discussão, quando tudo que eu queria era só continuar a beijá-la. – Não estou me sentindo bem.

Para ser totalmente sincero, acho que ela nem terminou essa frase. Seus olhos já estavam se fechando e seu corpo desabando antes que eu conseguisse entender o que ela tinha dito. E, de repente, Amanda estava desmaiada nos meus braços.

― Gustavo! – eu gritei pelo salão. Algumas pessoas já nos olhavam com curiosidade, quando eu gritei, o número delas aumentou, fazendo uma rodinha ao redor de nós dois. – Gustavo!

Eu endireitei Amanda nos meus braços, carregando-a como uma criança. Por sorte, ela não era muito alta, nem pesada. Porém, eu não sabia o caminho da enfermaria. Gustavo não apareceu de primeira, mas Lila sim. Ela chegou correndo esbaforida, olhando de mim para a amiga no meu colo, sem entender nada.

― O que aconteceu?

― Você sabe onde é a enfermaria? – eu perguntei.

Estava tentando ao máximo me manter calmo, afinal, pânico não ajudaria em nada. Lila começou a chorar antes de conseguir responder, mas começou a apontar em uma direção. Não conseguia ver nada com todas aquelas pessoas ao redor de nós, porém, comecei a andar na direção apontada. Logo depois, Gustavo estava atrás de mim, puxando a namorada, ainda em prantos, pelas mãos. Ele sabia onde ficava a enfermaria e me direcionou até lá, gritando para as pessoas saírem do caminho, enquanto isso.

― Deixa eu adivinhar? – a socorrista disse, quando chegamos. – Coma alcóolico?

― Não sei, nem você e ajudaria muitíssimo se você fizesse o seu trabalho, ao invés de julgar a paciente – eu respondi, supreendentemente irritado com a pergunta.

A socorrista me olhou em choque, como se não estivesse esperando aquela resposta. Ora, caguei. Quem fala o que quer, ouve o que não quer. Deitei Amanda na improvisada cama da enfermaria com o maior cuidado que consegui e a socorrista se aproximou. Dei espaço, mas acompanhei seus movimentos com atenção.

A socorrista colocou Amanda no soro, provavelmente ainda crente que a situação era de coma alcóolico. Claro que poderia ser. Eu não sabia se Amanda bebia muito, mas quando a beijei, senti um ligeiro gosto de álcool. Porém, era muito evasivo tratar o caso como uma simples bebedeira.

― Não é melhor fazer um exame de sangue? – eu perguntei. – Para tentar descobrir a causa exata do desmaio?

A socorrista me encarou por cima do ombro, mexendo em agulhas descartáveis. Eu dei um sorriso presunçoso, mas Lila e Gustavo entraram no coro, dizendo que realmente era melhor fazer um exame. Lila pode ter dito algo como “não vou sair daqui até você fazer um exame de sangue nela”, porém não dá para entender perfeitamente, devido as ainda presentes lágrimas.

― Ela só precisa de um acompanhante – a socorrista comentou, preparando as ampolas para o exame. – Dois de vocês podem esperar lá fora.

― Fica você, Eduardo – Lila disse. Isso eu entendi. – Fica você. Qualquer necessidade, me ligue. Ou para Gustavo.

Assenti, em silêncio. Meus olhos ainda fixos no que a socorrista fazia. Ela tirou amostras do sangue de Amanda sem que esta esboçasse a menor reação.

― Tem algum laboratório próximo? – perguntei.

― Temos um laboratório conveniado que funciona 24 horas. O que pensa que somos, irresponsáveis? – ela respondeu, irritadiça. Tenho certeza que ela queria adicionar “irresponsável é a sua amiga, que bebeu mais do que devia”, porém ela não diz nada. – Em umas duas horas teremos o resultado. Vou pedir para que levem as amostras agora mesmo.

Acampamento de Inverno para Músicos (nem tão) TalentososOnde as histórias ganham vida. Descobre agora