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Ao entrar no shopping, Gilson se voltou em dúvida, mirando as costas da moça bonita que havia cruzado com ele em companhia daquele rapaz. Parecia-se tanto com Beatriz! Só os cabelos eram diferentes, e o corpo era mais delgado do que o da namorada de seu filho. Mas a semelhança era incrível.Uma sombra de desconfiança atravessou a sua mente, e o coração deu um salto. Seria possível? Gilson balançou a cabeça de um lado a outro para afastar aquela ilusão. O encontro com Beatriz e a conversa que tivera com Renato estavam fazendo com que visse coisas. Seu filho namorar Beatriz já era coincidência demais. Encontrar-se com aquela moça, ali, no Rio de Janeiro, em plena Barra da Tijuca, seria um acaso inimaginável, algo que estaria muito além das possibilidades de um mundo real. 

Gilson balançou a cabeça e afastou aquele pensamento extraordinário. Precisava comprar gravatas novas e tirara à tarde para fazê-lo, mas não conseguia parar de pensar naquela moça e na espantosa semelhança que possuía com Beatriz. Vira a namorada do filho poucas vezes, porém, aqueles olhos castanhos raiados de verde eram inconfundíveis, e, com certeza, não haveria outra no mundo com o mesmo olhar. 

A muito custo, Gilson conseguiu comprar as gravatas, acatando as sugestões do vendedor e levando as que ele lhe aconselhara. Voltou correndo ao jornal e passou a tarde pensativo, hesitando entre ligar para o filho e não ligar. Queria muito falar com ele, perguntar-lhe de Beatriz, mas foi impedido pela insegurança e o medo.

O jeito era esperar. 

Até o final da noite, Vítor ainda não havia voltado, e Gilson não conseguiu dormir. A seu lado, o espírito de Lorena se deixava consumir pela raiva e a irritação. 

 Não estava junto do marido quando ele se deparou com a moça, mas seus insistentes pensamentos criavam formas-pensamento igualzinha a Suzane diante de seus olhos, devassando o teor de sua mente. 

- Só faltava essa - reclamou Lorena. - É por isso que dizem que uma desgraça nunca vem sozinha. Será possível que essa moça tinha que aparecer justo agora?Quando Vítor entrou em casa, encontrou o pai sentado na poltrona da sala, bebendo uísque e consultando o relógio a todo instante. 

- Oi, pai - cumprimentou o rapaz, virando a chave na porta. - O que faz acordado há essa hora? Algum problema? 

- Estou com insônia. 

- Por quê? Em que anda pensando, hein? 

Gilson derramou um gole da bebida pela garganta, estalou a língua e indagou sem rodeios: 

- Você esteve com Beatriz à noite toda? 

- Estive. Por quê? 

- Por nada. Curiosidade. Boa-noite. 

- Boa-noite, pai. 

Apesar de a pergunta ter parecido a Vítor despropositada, ele não disse nada e foi dormir. O dia seguinte era sábado, e havia combinado de se encontrar com a namorada na praia. Acordou cedo para aproveitar as ondas antes de os banhistas começarem a aparecer. Quando achou que já havia surfado bastante, saiu da água e sentou-se na areia para esperar por Beatriz. Ficou assim distraído, olhando o mar, e percebeu que algumas pessoas chegaram e preparavam a barraca um pouco mais atrás do lugar onde ele estava, o que não seria nada excepcional se ele não ouvisse a voz de uma moça muito parecida com a de Beatriz. 

Virou-se rapidamente, achando que ela havia ido em companhia dos pais, e levou um susto ao perceber que não se tratava de Beatriz, mas de uma moça extremamente semelhante a ela, só que com cabelos pretos, cortados à Chanel, e o corpo um pouco mais magro. Estava acompanhada de um rapaz e de um senhor.

 O rapaz ajudava o outro a armar a barraca e abrir uma cadeira na sombra, e eles nem perceberam o olhar de assombro com que Vítor fixava a moça.Em dado momento, ela tirou a canga e falou algo para o rapaz, que meneou a cabeça e lhe deu um beijo rápido. Ela então partiu sozinha para a água, atraindo ainda mais os olhares de Vítor, que não conseguia desgrudá-los dela. Olhava-a fixamente, fascinado com o que via. 

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora