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O tempo em Brasília continuava quente e seco, e Suzane chegou darua esbaforida, correndo até o banheiro para enxugar o suor do rosto. Tomouum banho demorado e preparou uma pequena mochila onde colocou algumascoisas básicas para passar a noite, além do vestido novo. Era sexta-feira, e opai havia prometido levá-la a casa de uma amiga, onde dormiria, apósvoltarem de uma festa de aniversário. 

Suzane acabou de preparar-se e foi sentar-se na sala para esperar o pai,que prometera chegar por volta das seis e meia. Ligou a televisão para passar otempo e consultou o relógio. Faltavam ainda dez minutos para as cinco, e eledeveria estar saindo do trabalho naquele momento. Passaria antes para pegar amãe no escritório de advocacia do qual era sócia, e só então os dois voltariampara casa. 

Aquele fora um dia exaustivo. Suzane se preparava para prestar oexame vestibular e passava grande parte de seu tempo estudando. Acostumadaa acordar muito cedo, a ladainha monótona da televisão logo lhe cutucou aspálpebras, e ela adormeceram. Ao despertar, a noite já se fazia visível dajanela, e ela consultou o relógio.

Passava das sete e meia, e os pais ainda não haviam aparecido. Suzaneesfregou os olhos e desligou a televisão, chamando a empregada, que acorreuda cozinha

- Chamou, Suzane? - perguntou a velha senhora, criada da casa faziamais de quinze anos. - Meus pais telefonaram? 

- Não. 

- Falaram alguma coisa sobre se atrasar?

- Que eu saiba, não.  

Estranho. Papai prometeu me levar à casa de Inês antes do jantar...

- Não se apoquente, não, que ele logo aparece. 

Marilda, a criada, deu as costas a Suzane voltando para a cozinha, e amoça foi para a janela. A todo instante, consultava o relógio. As horas iampassando, e nada de os pais aparecerem. Resolveu ligar para o trabalho do pai,e o rapaz que atendeu informou que todos já haviam ido embora, ficandoapenas o pessoal da faxina.

No escritório da mãe, também não havia mais ninguém, e ela conferiuas horas: nove da noite.

O telefone tocou logo que ela desligou, e ela atendeu ansiosa. Mas não era o pai nem a mãe. Era Inês, preocupada com a sua demora.

- Como é que é, Suzane? Vamos nos atrasar para a festa. 

- Eu sei, Inês, mas é que meus pais ainda não chegaram. Papai ficoude me levar aí por volta das sete horas, mas ainda não apareceu. 

- Será que ele se esqueceu? 

- Não creio. Liguei para o trabalho dele, mas todos já se foram, eminha mãe também não está no escritório. 

- Por que não vem no seu carro? 

- Meu pai não quer que ele durma na rua. 

- Posso pedir ao meu irmão para dar uma passada aí e apanhar você. 

- Não. Estou preocupada com meus pais. Eles não são de se atrasar,e quando isso acontece, sempre telefonam.

- Quer que eu vá para aí ficar com você? 

- Não precisa. Vá para a festa e aproveite. Quando meu pai chegar,peço a ele para me levar direto para lá. 

- Está certo, então. Vamos nos encontrar na festa. 

Desligaram, eSuzane voltou à janela. Em breve, Marilda foi-se juntar a ela. Também estavapreocupada. O jantar ficou pronto e esfriou, e ninguém apareceu para comer. Aquilo não era comum. 

 - Ah! Marilda, será que aconteceu alguma coisa? Meu coração estáapertadinho. 

- Vamos orar pelo melhor.

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora