03

152 10 0
                                    

Na manhã seguinte, quando Suzane acordou, guardava uma lembrança muito vaga do sonho que tivera com Roberval. Ele estava a seu lado, invisível ,e ela não percebeu sua presença, embora tivesse sentido um leve e súbito bem-estar. Era domingo, e todos haviam saído para almoçar em casa da avó de Inês, mas Suzane não quis ir. Sozinha em casa, ligou a televisão, mas, como não houvesse nenhum programa interessante, desligou em seguida. 

Tentou ler um livro, porém, a história lhe pareceu maçante, e colocou-o de volta na prateleira da estante. Finalmente, inspirada pelo espírito amigo, apanhou uma revista e pôs-se a folheá-la aleatoriamente. Foi quando se deparou com o anúncio de uma agência de viagens, com fotografias lindas do Rio de Janeiro e suas praias. 

A princípio, Suzane ficou admirando a foto do Corcovado e da praia de Ipanema, até que virou a página com um muxoxo. Até parece que ela tinha dinheiro para viajar.

- Volte à página - sussurrou Roberval em seu ouvido. - É para lá que você deve ir.

Ela foi folheando a revista rapidamente, até que parou de súbito e foi voltando às páginas, procurando o anúncio da viagem ao Rio. Encontrou-a e tornou a olhar as fotografias. Havia ido ao Rio apenas uma vez, com os pais, quando ainda era criança. Gostaria de voltar, e uma viagem seria ótimo para relaxar naquele momento. 

Só que tinha pouco dinheiro e precisava economizar. Não podia se dar o luxo de gastar suas poucas economias em viagens de turismo. 

Não - protestou Roberval. ― Turismo, não. Você precisa se mudar para lá. Pense bem: o que tem a perder? O que sobrou para você aqui?

Pensando melhor, por que não se mudava para o Rio de Janeiro? Sua vida em Brasília já não tinha mais a menor graça. À exceção de Inês, os amigos haviam se afastado dela. Perdera tudo o que tinha, estava sozinha no mundo. Por que não experimentava algo novo? Podia dar certo.

 - Vai dar certo - insistiu Roberval. 

- É, pode dar certo - repetiu ela em voz alta. - E posso arranjar um marido rico. 

- Marido rico é ilusão. Você vai aprender isso. 

- Está resolvido. Vou tentar a sorte no Rio. Pior do que aqui não pode ficar. 

A idéia rapidamente ganhou corpo na mente de Suzane, e ela, duas semanas depois, embarcava para o Rio de Janeiro. Conseguira economizar com a venda do carro e das jóias, e ainda arranjou mais um pouco vendendo algumas peças de roupa num brechó. Assim que chegou ao Rio, saiu à procura de um lugar para ficar e acabou encontrando uma quitinete num prédio decadente do subúrbio, perto da linha do trem. Com pouco dinheiro e sem fiador, não podia reclamar.

O que tinha em mente era arrumar um marido rico. Embora não tivesse sido criada para se casar por interesse, não via outra solução. Conseguir dinheiro por si mesma seria difícil, quase impossível. Ainda que conseguisse um emprego, não ganharia o suficiente para ficar bem de vida. Não sem uma profissão. 

Bem casada, voltaria a estudar e seguiria uma carreira de sucesso. E se vingaria de Cosme. Nos primeiros dias, andou a esmo pela cidade, familiarizando-se como bairro e os locais que pretendia freqüentar. Era preciso sair do subúrbio setencionava mesmo arrumar um marido rico.

 Ninguém importante e com dinheiro freqüentava um lugar como aquele. Quando visitara o Rio antes, com os pais, ficara hospedada num hotel cinco estrelas em Copacabana, mas não podia nem pensar em se mudar para lá. Restava-lhe apenas se vestir bem e transitar pelo bairro como se fosse uma turista em busca de aventura  e emoção. As roupas que levara eram todas de grife, o que lhe garantia uma boa impressão.

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouWhere stories live. Discover now