Reis e Magos VII

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Sizor sabia que iria morrer, é algo comum, mas ele não esperava voltar a pensar nisso com tão pouca idade. Ele já havia lidado com a morte, porém havia superado a perda de seus pais a algum tempo. Os dois humanos que lhe deram a vida foram sobreviventes das Ruínas, fato estranho, já que eram meros recepcionistas dos elfos poderosos da Antiga Shilandia. Os pais de Sizor perderam saúde com o incidente e então foram morar no Centro, no apartamento das Grandes Árvores onde hoje ele mora. O menino dentro dele ainda se lembra de acordar e ver os pais mortos deitados juntos, Sizor acredita que tenham partido com uma saudável sensação de dever cumprido.

Porém ele ainda teme a morte, mesmo que a aceite.

Assim que os portões do Castelo foram abertos ele viu mais uma cena de que jamais iria se esquecer. Por toda a vista de Stanis haviam algumas explosões e o fogo clareava a noite decadente. Logo o sol surgiria e iluminaria os corpos que ele não via, mas a lua já iluminava as batalhas entre os homens de capas negras contra os humanos e Tigres que serviam ao exército de Leono.

A praça que ficava a frente do Castelo tinha uma linha de uns dez guerreiros que ainda seguravam os avanços de guerreiros negros isolados. Sizor não precisava ser especialista pra saber que se os invasores atacassem em grupo os Leonos morreriam. Assim que os reis saíram do Castelo o movimento ao redor aumentou. Venceslau colocou seu cajado a postos, até os reis pareciam prontos para sair e lutar, mas ele e London não tinham condições para aquilo, ele se perguntava se as fugas propostas pelo azuli sempre eram assim, não estranhou ele ter tantas percas.

Sua namorada tremeu e caiu em seus braços, Sizor foi rápido e a segurou, ela estava fraca e não desmaiada, como estavam logo atrás dos mais velhos eles não notaram, mas o humano viu que todos os que diziam ser sensíveis a magia ficaram mais alertas. Repentinamente uma luz roxa brilhou no centro da praça que ficava na frente deles, um fogo subiu tomando a forma de dois seres que estavam entre os reis e os Leonos. A mulher que vestia-se toda de preto se pronunciou.

- Olá soberanos, viemos matá-los.

- Já é a segunda a fazer isso esta noite, pelo visto estamos populares. - O rei icarídeo sussurrou.

Sizor notou que ao lado da mulher havia um homem muito velho vestido de branco, o que contrastava a imagem dos dois; enquanto uma representava muita beleza, o outro parecia decadente, ainda assim ele sentia que o mais forte entre todos era o velho.

- Vamos acabar com essa babozeira toda majestades. - A mulher gritou. - Sintam o farfalhar do vento agora ! Viagem para a minha dimensão !

  As palavras dela pareciam sem sentido, até o humano sentir um soco no estômago e largar London sem reação. Ele viu a sua namorada ser consumida em um fogo roxo assim como o que fez surgir os dois estranhos na praça. Logo depois o fogo consumiu os reis e Venceslau, Sizor foi o último.

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Os olhos dele se abriram, o que era bom porque significava que ele ainda estava vivo, a parte ruim é que London não estava a vista. O chão era de terra batida e ele conseguia escutar uma fina risada feminina, que deveria ser da loira maluca.

- Bem vindos a caixa da morte, eu demorei pra poder aprender a conjurá-lo. Hoje vocês só sairão desta caixa a preço de sangue.

O humano viu que os reis estavam de pé e ajudavam Venceslau a se levantar, ao lado da loira estava o velho, que aparentava ser o Elfo do mal de quem o azuli havia avisado. A mulher tinha asas como as de fada, mas Sizor decidiu não tentar entender, London estava a alguns metros dele, ele precisava ir até ela.

- Foi você quem despertou o Elfo maldito Fada ? - A Rainha perguntou.

- Menos questões e mais diversão soberana, você vai ser a primeira a morrer. - A fada lançou uma espécie de raio de energia roxa na Rainha, que se jogou ao chão para desviar. A cena começou a ser de batalha campal e então Sizor viu que realmente era uma caixa mágica. Paredes arroxeadas que pareciam vidro separavam eles da praça real.

O rei fez uma expressão de dor enquanto suas asas que antes eram pequenas para o seu corpo, tomavam agora a verdadeira extensão. A diferença vital dos icarídeos era ter asas presas aos braços e não as costas, o que os fazia ser mais sucetiveis a dor da total transformação.

Já tonto pelos raios de magia que vinham dos dois lados, Sizor chegou rastejando até onde estava London, ele lhe deu um beijo e a acordou.

- Vamos meu amor, precisamos arranjar um jeito de não morrer. - Certamente Sizor não formularia jamais em sua mente uma frase mais romântica e adequada para aquele momento.

Os Contos das Ilhas III - Reis e MagosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora