II

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Scarlett on

Estava estática

E nem era pelo fato de que eu simplesmente não conseguia me mover -o que está de fato me incomodando-. Era pela surpresa, pelo susto. E talvez pelo leve pânico

Companheiro?

Eu tenho um companheiro?

Uma alma gêmea, um parceiro escolhido a dedo pela Lua? Alguém com quem eu devo passar o resto da minha vida?

Eu tenho um maldito companheiro?

E eu não conseguia ver a expressão do homem a minha frente graças a escuridão, mas ele não havia movido um músculo nos últimos 5 minutos em que ficamos encarando um ao outro e eu tenho certeza de que ele não lutou contra os homens do supremo na floresta há algum tempo para perder sua mobilidade. Então ele não tinha a mesma desculpa que eu para estar estático

Fecho os olhos com força e solto um suspiro tentando me levantar novamente e falhando miseravelmente

A cela era um cubículo e eu estava no que parecia ser um colchonete fino e desconfortável. Na grande e pesada porta de metal, havia apenas uma frestinha por onde deveriam passar água e comida

-Há quanto tempo estou apagada?-consigo formular uma frase com a voz falha pela garganta seca, mas me parabenizo pela eloquência

Ele fica em silêncio por alguns instantes, como se pensasse em como me responder

-Eu não sei-escuto a voz rouca que me daria medo em qualquer outra situação

Era como se a garganta dele estivesse seca, como se ele não exercitasse a fala há anos. Quase sentia sua voz arranhando sua garganta e isso fez cada pelo do meu corpo se arrepiar

Uma série de barulhos altos preenche o ambiente fora da cela. Como se várias portas de aço e metal fossem sendo abertas sucessivamente até que enfim escutasse uma voz vinda de trás da nossa porta

Uma parte dela é aberta e de lá uma bandeja com comida é deslizada para dentro.

Assim que a porta é fechada, escuto mais uma vez barulhos de outras portas sendo trancadas até que o silêncio reine novamente

-18-ele diz simplesmente enquanto se levantava- são 18 portas para chegar até essa cela

Meus olhos se arregalam com o pensamento. 18 portas reforçadas para chegar até um cubículo? Quem era esse homem?

Ou melhor, eu havia incomodado tanto o supremo para ter sido jogada nesse lugar?!

Sinto-me tensa ao sentir o homem se aproximando de mim e graças a velinha, conseguia ver mais ou menos seus cabelos e barbas longos provavelmente pelo tempo em que esteve aqui.

Ele se agacha no chão, recolhendo um copo plástico pequeno e caminha até mim

Me sentia tensa, mas ele não pareceu se importar já que simplesmente ergue minha coluna para que eu me levante.

Ele cheirava mal e estava sujo, mas tinha cuidado e sanidade em cada movimento

O homem leva o copo aos meus lábios e eu não sabia que tinha tanta sede até sentir o líquido escorrendo por minha garganta

Suspiro aliviada pela água e ele retira um "pano" de minha cabeça. Estava mais para um pedaço de camisa ou restos de o que quer que aquilo fosse

Se ele recebe a água em um copinho quer dizer que ele deixou de bebê-la para umedecer esse tecido?

-Onde está a sua água?-indago tentando encarar o chão da cela a procura da bandeja

Ele não responde, apenas se agacha novamente e retira um pote e uma colher, ambos de materiais inofensivos

-Consegue comer sozinha?-indaga coçando a garganta enquanto pousava a tijela em meu colo e colocava a colher em minhas mãos

Apenas assinto com a cabeça mesmo sem ter certeza de que conseguiria e ele logo retorna ao seu lugar anterior, se sentando no chão com as costas na parede

-V-você não vai comer?-indago forçando meus olhos e notando a ausência de mais comida na bandeja

Era comida e água escassas para uma única pessoa, quem dirá duas

Ele tem vivido com isso há quanto tempo? Ou melhor, por que abrir mão disso por alguém que não conhecia? É porque somos companheiros?

Não... antes mesmo de saber quem sou, ele já havia cuidado de meus ferimentos. O pedaço de pano em minha testa parecia ter vindo de suas próprias roupas, e aparentemente era umedecido com a pouca água que ele tinha, provavelmente para controlar minha febre

Ele colocou minha vida acima da dele sem saber quem eu sou

Um bom motivo precisa estar se escondendo atrás disso

A comida estaria envenenada?

Isso é um teste?

Quem é esse cara?

Com um resmungo de dor e um palavrão, coloco a tijela no chão e a arrasto o máximo possível para o centro da cela

-Não preciso disso-pontuo desinteressada e vejo-o erguer a cabeça- vou dormir

-Se não se alimentar não vai-começa, mas sua voz falha e ele engole saliva e coça a garganta antes de fazer menção de continuar

-Você está nitidamente pior que eu-digo com firmeza e ele não me responde- quem precisa disso é você. Se eu dormir e não fazer esforço vou me curar sem problemas. Faça um favor para nós dois e se alimente

-Acredito que-começa, mas eu bufo me deitando no colchonete de vez e o interrompo

-Boa noite

Fecho os olhos mesmo sabendo que a dor não me deixaria dormir de maneira nenhuma e me irrito ao constatar que o homem não se movia para pegar a tijela

Eu não cederia

Se ele tiver realmente me ajudado porque é bonzinho -o que eu duvido-, ele merece e precisa da tijela mais do que eu. Mas se ele estiver fazendo isso com segundas intenções como uma futura chantagem ou se isso for uma espécie de teste ou tortura ou se a comida estiver envenenada...

É melhor eu não comer

Finalmente, depois de alguns minutos, escuto o homem se aproximando da tijela e logo consigo ouvi-lo comendo e soltando um suspiro cansado

Eu sei de uma coisa: se tudo isso não for uma grande armação, esse homem deve ser temido mais do que tudo no mundo por quem o colocou aqui. Que no caso só pode ter sido o supremo alfa

O que esse homem pode ter feito para irritar o supremo ao ponto de jogá-lo aqui?!

A loba da revolução Where stories live. Discover now