Capítulo 23

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Ash

— O que aconteceu? — Anastácia parecia tão preocupada que Helena segurou o braço dela.

— Creio que Estevão pode informar melhor as Vossas Majestades. — Ela respondeu ao encarar Serena. — Mas agora, não quero perder um só segundo desse espetáculo gratuito.

— Poliana! Pelo amor da Deusa! — Anastácia parecia estar envergonhada.

— Não se preocupem. — Respondi calmamente. — Estou acostumado em receber a atenção de damas tão belas. As senhoras não me intimidam. — Pisquei um olho para elas e sorri.

Poliana passou seus olhos em mim, analisando-me de cima a baixo, enquanto Anastácia ficou corada e virou o rosto. Não sei dizer se de timidez ou raiva. Tinha certeza de que Helena era rancorosa. Todavia, não conhecia Anastácia tão bem assim, há muitos e muitos anos. Sabia que ela era apaixonada por Nicholas, poderia dizer que sinto um pouco de remorso em tê-lo matado, mas eu estaria mentindo. Toda revolução precisa de um marco.

— Mas como eu ia dizendo. — Voltei-me para Kalel. — Você precisa de uma real motivação para lutar, não só por questões de segurança, mas por uma razão. Existem sabe-se lá a Deusa quantos guardas para darem a vida no lugar da sua. Então me diga, Kalel: Qual foi o motivo da sua raiva? — Usei um tom de voz neutro. — O que tinha naquela maldita carta que feriu tanto o seu ego, o que dizia sobre ti?

— Eles apenas falaram que eu era um bastardo coitado que não merecia o trono. — Kalel deu de ombros — Aquilo, sinceramente, não me incomodou.

Meu sangue pareceu ferver quando ouvi as falas dele. Não era possível que ele estivesse falando sério. Foi quando eu o tirei do chão, levantando-o com apenas uma mão ao enforcá-lo pelo pescoço.

— Escute bem aqui. — Falei baixo o suficiente para que apenas ele pudesse me ouvir. — Você se casou com a minha filha. Nunca permitiria que ela estivesse amarrada a um homem fraco. Está me entendendo?

Ele não respondeu, estava ocupado demais tentando recuperar o ar. Quando o soltei, seus joelhos pareciam ter falhado por um momento, pois ele bambou — porém não caiu no chão — enquanto massageava o pescoço.

— Eu — Kalel puxou o ar com pesar, a voz dele ainda estava oscilante. Os olhos se voltaram para a mãe que parecia sussurrar algo. O rosto dela estampava preocupação. — Me irritei porque falaram da Serena, falaram que ela não era nada.

— E quem me garante que você se preocupa tanto assim com a minha filha se você não se preocupa consigo mesmo? — Kalel se assustou ao ouvir minha pergunta. — Não me olhe assim, nem mesmo eu faço isso — Menti, eu nunca me colocaria em prioridade com relação a minha filha, mas existia uma enorme diferença ali, eu era o pai dela. — Porque não podemos proteger as pessoas se estivermos mortos — Falei sério. — Ninguém quer morrer em vão.

— Achei que fosse me treinar e não fazer terapia como a Késya. — Kalel debochou.

Ri daquilo.

— A única terapia que eu faço é quebrando pescoços. — Respondi.

— Que bom. — Kalel sorriu. — É a minha favorita.

— Então temos uma coisa em comum, filho. — Falei calmamente. Ele arregalou os olhos ao ouvir. — Eu disse que era comum que os sogros chamassem os genros de filho. Já deveria estar acostumado, Dhrumond não fez isso sua vida toda?

Kalel não respondeu, apenas ficou me olhando com o rosto mais neutro possível. Decidi então me aproximar dele.

— Conheci alguém que se parecia muito contigo. — Meu filho. — Por isso tenho um único aviso. — Sussurrei. — Posso tirar sua vida com mais facilidade do que te deram, então eu acho bom se manter vivo antes que Serena surte por sua causa.

Queda de Estado (Coroa de Vênus - Livro 3)Where stories live. Discover now