Eu não sei direito o que lhe contar sobre mim. Mal posso dizer sobre os outros, e eu os observo, enquanto mal me enxergo. 

Acho que o simples fato de dizer que não me enxergo já diz muito sobre mim. Eu não me enxergo. Essa é a primeira, e talvez a única coisa concreta que posso lhe contar.

Minha idade não é importante, porque, em alguns momentos, sinto como se já tivesse vivido tudo há milhares de anos e há milhares de anos venho vivendo o mesmo.

Essa é uma outra coisa concreta sobre mim: eu estou perdida no tempo.

Eu estou perdida em mim. E não me encontro, ainda que muito me procure.

Então, muito provavelmente, passarei mais alguns milhares e milhares de anos, entre eternidades infinitas e vidas sem fim, num grande vazio, procurando por alguém que ainda não sei quem é.

Passarei, quem sabe, mais algumas milhares de anos à procura de mim, perseguindo pessoas e investigando lugares que se pareçam comigo.
  • anos-luz de distância
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