Você não sabe qual a minha cor favorita, qual mão tem os dedos maiores que a outra ou quantos anos eu tinha quando dei meu primeiro beijo, você não sabe que hoje ainda pouco, eu me tranquei no banheiro pra chorar e gritar e minha mãe teve que chamar a vizinha porque ela achou que eu tinha enlouquecido e que me deu um calmante um remédio pra dor de cabeça e chocolate quente, e eu tô ouvindo ela chorar baixinho daqui do quarto por não entender o que eu sou,
você consegue imaginar que eu também não sei?
Que eu me escondia no armário de madeira da minha avó pra não encontrar meu pai, ou que eu sonhava despencar da janela do apartamento onde minha tia morava ao lado do sesc lá na domingos ferreira?
você não sabe como eu me senti naquele dia em que empurrei a filha do síndico na piscina do prédio,
você não sabe por que eu a deixei
você não sabe como eu não suporto ser controlada, e que foi por isso que eu dei o fora daquela história porque eu não fui feita para obedecer ninguém, você não sabe, você nunca esteve preparado para as minhas crises, porque você também tem os seus problemas, porque eu também tenho os meus problemas, e se eu fiquei todo esse tempo foi por birra mas agora eu te vejo distante e tenho medo.
Você não sabe como é desgastante esse desespero e essa inadimplência de amor que mantenho comigo mesma porque eu queria cuidar de mim mas não consigo mais, e sou orgulhosa demais pra te dizer que talvez você precise me ajudar agora porque você tem a sua vida e é natural que ela siga apesar de mim.
Eu só queria te dizer que apesar de você não saber de nada, você é um grande prédio no centro da minha cidade e eu queria falar de grandes metrópoles porque elas parecem nós dois.
Você nunca saberá de nada disso não porque eu não falo, só porque você não quer saber, eu quero te olhar antes de ir embora, te olhar por horas
porque eu te amei demais para abrir mão...
