Já era madrugada adentro. O ar estava gelado, fazendo par com a umidade do chão, já meio enlameado pela chuva reincidente. O Bairro Universitário era tão convidativo quanto bar em beira de estrada: simplório, meio caótico, mas acolhedor. Isso explicava o movimento ininterrupto mesmo àquela hora da noite. (...) As pessoas não se intimidavam com a chuva ou com o frio. Os grupos iam se formando e se desfazendo rapidamente, à medida que os planos mudavam ou que o dinheiro acabava. O ambiente não era propício para conversas mais elaboradas, as interações ficavam a cargo do destino, qualquer esbarrão era motivo suficiente para começar um papo, um oferecimento mútuo de cerveja, uma gargalhada despretensiosa. A liberdade do desconhecido é impagável, mas geralmente a coragem que a experimentação exige não é suficiente para que se abra os olhos no escuro sem saber o que esperar.
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