~ Amber ~
Fui para a escola com Jéssica sentindo a decepção me percorrer. A recepcionista de coque disse que ia chamar o Dener, mas assim que uma outra com a expressão bem nojenta e a boca mais chamativa que aquele sutiã vermelho ridículo chegou, disse que o mesmo não estava porque tinha acabado de sair com uma garota, o que claro, fez o meu peito doer com a ideia. Será que é a Julie ou a Milla? Talvez Hannah ou a Rita, só que, talvez seja apenas uma garota que ele conheceu agora e está se envolvendo. De qualquer forma eu tentei e não penso em voltar aqui de novo. Quero apenas que o Dener seja feliz, e ficar lhe perseguindo não é uma boa ideia.
Mas eu ainda queria conseguir me despedir de uma forma decente...
Jéssica não disse nada durante o caminho para a escola, que devíamos ter ido direto sem desviar. Ela viu que me perdi em pensamentos e decidiu não intervir. Contei para a mesma sobre esse tempo na casa da minha avó Nathalina, sobre ter visto o Benjamin que conheci no aniversário de Diana, o próprio aniversário também e todo o resto que ela não estava sabendo. A garota fez poucas perguntas também, e quando a conversa morreu de vez, senti o meu peito apertar com toda essa maldita situação. Ainda não acredito que me deixei vir atrás do Dener... O que eu faria, afinal? Ia abraça-lo? Dizer "oi"? Não dizer nada? Nem bolei um plano para não parecer uma idiota.
O que obviamente não funcionou, já que as duas recepcionistas não só vão avisar que eu estava aqui, mas que também vim procura-lo. Já imagino o sorriso vitorioso dele quando souber, imaginando que ainda estou completamente e loucamente apaixonada por ele. Que se dane que seja verdade, eu só não queria que o Dener tivesse esse gostinho, principalmente agora que com certeza partiu para outra. Estou me sentindo uma ex psicótica e maluca, que é incapaz de deixar o garoto respirar sem ficar em seu pé implorando o mínimo de atenção.
Que tolice! Eu devia ter pensado duas vezes antes de ter cometido esse erro.
Respirei assim que o carro parou de frente para a escola. Vi a quantidade excessiva de alunos conversando e rindo uns com os outros, fora os abraços e a animação do reencontro. É meu último ano aqui e particularmente queria que já tivesse acabado. Estou cansada das amizades forçadas que só fazem as pessoas ficarem do meu lado pelas festas, mesmo sabendo que esse lugar é repleto de mauricinhos ricos e refinados, que são capazes de comprar uma casa apenas para essas festas com os cartões dos pais. Por muito tempo me senti privilegiada de estudar aqui, mas agora noto quão cega fui.
- Mesmo horário de sempre - Avisei ao motorista. - E por favor, chegue o mais cedo possível. Ficar aqui um minuto mais do que o necessário vai ser um veneno.
Ele assentiu com a cabeça pelo retrovisor.
Ajeitei a mochila no ombro e abri a porta, saindo do carro e ficando de pé do lado de fora. Jéssica fez o mesmo logo depois, e quando o motorista avançou pela rua, senti vontade de ir correndo atrás do automóvel igual cachorro. Precisei segurar a mão da minha melhor amiga com força para isso não acontecer.
Antes que pudéssemos nos aproximar da entrada da escola, senti a mão de alguém sobre meu ombro. Me virei, dando de cara com Julie que sorriu sem mostrar os dentes. Retribui, sentindo a calmaria que finalmente se instalou entre nós duas.
- Achei que fosse desistir de vir
- Bem que ela tentou - Jéssica disse. - Mas conheço os pontos fracos capazes de arrastar a Amber para qualquer lugar
Revirei os olhos. Não que fosse totalmente mentira, mas hoje ela não precisou de nenhum deles.
- Então é isso, não é? - Julie suspirou. - De volta para o submundo
- Que Hades tenha misericórdia da nossa alma... - Murmurei.
Fomos andando e tentamos ignorar ao máximo as pessoas que cruzaram o nosso caminho com o cumprimento que diz secretamente "eu tenho amizade com os populares, olhem pra mim também".
A primeira parte do dia foi até que tranquila. Passei algumas aulas sozinha mas valeu a pena, de qualquer forma não sinto mais aquela pressão de necessitar de qualquer atençãozinha. Fiquei no meu canto e fiz questão de me dedicar ao máximo já que estamos no começo do ano e não quero mais o risco de ficar em dependência ou reprovada. Algumas aulas foi com a Jéssica, uma ou duas com a Julie e ficamos juntas em uma também. Achei que seria estranho ter a garota ao meu lado depois de tudo, porém, agimos como velhas amigas que ainda agem cautelosamente e ao mesmo tempo com uma verdadeira vontade de mudar tudo o que houve.
Agradeci a todos os deuses existentes quando não cruzei o caminho com o Sebastian uma única vez. Teve um momento bem específico quando eu jurei ter visto o mesmo pelo corredor, o que me fez entrar rapidamente na primeira porta que eu bati os olhos. Pela minha sorte era o banheiro feminino.
Quando o intervalo bateu, coloquei as minhas coisas na mochila e encontrei as garotas na porta do refeitório. Jéssica apareceu rapidamente, já Julie demorou um pouco mais, e quando o fez, sua cara não era lá a das melhores.
- Olha, estou de saco cheio do pessoal daqui - Franziu as sobrancelhas. - Não posso passar por ninguém que me perguntam se eu ainda namoro aquele babaca
- É, Ju. Namoro anunciado para o mundo da nisso - Falei.
Nos aproximamos da fila para pegarmos as bandejas.
- Até parece que ninguém olha o perfil do Facebook. Lá está escrito perfeitamente que estou sol-tei-ra - Disse entre pausas. - Se eu estivesse namorando estava grudada no pescoço daquele otário. No fundo meu subconsciente sabia que ele não prestava
- Pelo menos o de alguém sempre funcionou, né? - Jéssica me alfinetou, olhando para a outra. Ergui uma sobrancelha na direção da mesma.
Dei dedo do meio.
- Bom saber que não passei por isso sozinha - Julie sorriu, pegando um pequeno pote de salada e ponto na bandeja.
Peguei algumas coisas básicas e coloquei na minha também. Estou sem fome depois do papel de trouxa que passei. Não toquei mais nesse assunto, da mesma forma que minha melhor amiga também preferiu deixar quieto.
- Vocês são ótimas pessoas - Revirei os olhos com desdém.
Ambas deram de ombros enquanto nos aproximamos de uma das mesas vazias. Me sentei no meio das duas.
- Apesar de tudo, foi bom ver a cara dos garotos quando falei que estava solteira - Julie sorriu. - Eles estão mais gatos do que no ano passado
- Aproveita que é o nosso último e cai dentro
- Devia seguir esse seu conselho também, Jess - Falei, levando o garfo cheio na boca. - Vai curtir. Tem tanto menino lindo por aqui
- "Menino lindo"? - Franziu o cenho. - Espero que esteja se referindo as garotas
Dei uma risada. Julie ergueu uma sobrancelha na direção da morena.
- Não sabia que se interessava por garotas também
- Jéssica é bem indiferente - Respondi. - Por ela tanto faz
- A maioria delas aqui são hétero - Deu de ombros. - Fora que a última pessoa que fiquei foi o Andy
- Não deram certo? - Os olhos azuis da garota ao meu lado mostraram curiosidade.
Prestei atenção na comida em minha frente.
- Foi só curtição mesmo e sabíamos disso
- Parecia que ir dar em outro lugar... - Sorriu de forma maliciosa.
- Deu tudo o que tinha pra dar. Talvez um dia a gente dê um beijinhos de novo, mas só - Jéssica levou a colher cheia de bolo de pote na boca. - Quem passava o rodo na escola era a Amber
Encostei as costas na cadeira com indiferença, dando pequenos goles no suco de caixinha.
- Não é bem verdade, eu só ficava com quem achava interessante - Falei.
- Tipo todo mundo?
- Julie ta engraçadinha hoje, notou? - Perguntei ironicamente para minha melhor amiga que riu. - De qualquer forma, estou de boas esse ano
- Está falando isso só por causa do Den. - Julie cantalorou com a boca cheia de salada.
Ignorei a mesma, voltando a comer tranquilamente. Se ela soubesse o que aconteceu hoje e como eu quase avancei no pescoço esticado daquela secretária da empresa não ficaria tão ilustrada assim. Dei uma outra checada no celular, vendo que não tem nenhuma mensagem, o que me deixou bem aliviada. Há quatro meses atrás eu ia ficar me mordendo por ninguém estar tentando falar comigo, porém, hoje eu não poderia agradecer mais. Incrível saber como só alguns meses já me fizeram mudar drasticamente.
Tudo por causa de um simples garoto que foi contratado como "meu babá". Podia ser menos clichê?
Olhei em volta enquanto as garotas continuaram a conversar entre elas. Ainda preciso decidir sobre qual faculdade fazer depois que acabar o ensino médio. Tenho que estudar o dobro esse ano para encher o meu currículo. O problema vai ser achar uma atividade extracurricular que eu me encaixe e não desista no meio do caminho, e o mais importante, que seja realmente boa pra mim de alguma forma.
Respirei fundo.
Quando acabamos de comer e de bater mais um pouco de papo, fomos para as aulas. Essa eu tenho com a Julie, então nos apressamos em não chegar atrasadas. Os dois últimos tempos são de filosofia, então depois podemos ir para casa fingir que está tudo bem e focar bastante na internet. Minha caixa de mensagens estava cheia, mas apaguei todas elas que foram enviadas nesse tempo que eu estava em Nathalina, sem nem ler nada ou sequer me importar. Não sei quem mandou mensagem, e prefiro não saber. A Amber desses meses foi essencial pra mim, porém, não é por isso que vou voltar com as lembranças.
Apesar de tudo, ainda me deixa bastante apreensiva e chateada lembrar das coisas que rolaram. A melhor coisa que faço é ignorar o que trás de volta essa parte da minha vida, deixando tudo no passado como tem que ser. Julie não tocou muito nesse assunto, e conversamos apenas o básico da matéria. Mal vejo a hora de me jogar na cama do meu quarto e dormir, apagar, hibernar... Amanhã tudo recomeça novamente.
- Já sabe o que vai fazer no seu aniversário? - Ela perguntou.
- Tinha até me esquecido que o meu aniversário está chegando
- Todos os anos você faz uma baita festa. O que pretende fazer nesse?
Dei de ombros.
- Talvez me fingir de morta ou sei lá
- Para de graça. Não precisa ser a mesma coisa de antes, mas pode fazer algo leve como dar um rolê por aí. Talvez te faça bem
- Duvido muito - Murmurei.
Julie negou com a cabeça, com um sorriso sem mostrar os dentes.
- Se não fizer, a gente inventa alguma surpresa de última hora
Forcei os olhos na direção da garota.
- Nem se atreva!
Julie gargalhou.
(....)
Quando o sinal de encerramento do dia finalmente bateu, não pude sentir um alívio maior. Olhei para a tela do meu celular vendo que são exatamente uma hora e meia da tarde. Arrumei a mochila e coloquei a mesma nas costas, indo com Julie ao meu lado para a porta da aula de biologia, esperando Jéssica. Após a chegada da morena, fomos andando calmamente até o portão da entrada vendo algumas meninas rindo e sussurrando entre si. Revirei os olhos, imaginando que os garotos estão jogando futebol americano de novo na quadra. Logo no primeiro dia?
- Eu só quero dormir - Choraminguei.
- Ah, está cedo pra isso. Vou maratonar série o dia inteiro - Julie se espreguiçou.
Paramos de frente umas para as outras no meio do grande pátio da entrada.
- Sedentárias - Jéssica revirou os olhos. - Façam algo produtivo!
- Tipo o que? - Ergui uma sobrancelha.
- Sei lá, arrumar a casa talvez
- Se nem você sabe quem dirá a gente - Julie respondeu.
Dei uma risada.
Algumas garotas passaram ao nosso lado cochichando e rindo juntas. Franzi as sobrancelhas com irritação.
- Meu Deus, essas meninas estão mais assanhadas do que no ano passado! - Indaguei.
Minha melhor amiga travou o olhar em algum lugar distante e ficou em silêncio, sem dizer absolutamente nada. A encarei por alguns segundos, tentando entender. Estalei os dedos na frente do rosto da mesma, atraindo a sua atenção de volta.
- O que houve? - Julie perguntou.
Jéssica sorriu, mordiscando o lábio.
- Acho que sei o porquê dessa agitação toda...
- Então diz! - Falei.
O olhar castanho da morena me atingiu, seguido de um sorriso caloroso.
- Pelo visto é pra você, e não para elas.
Franzi as sobrancelhas novamente e virei o rosto. Meus olhos bateram automaticamente em um carro cinza, com um homem de cabelo escuro e roupa social apoiado no mesmo, de braços cruzados, com o olhar sobre nós três. Inclinei um pouco o rosto, forçando os olhos. Quando a feição fez sentido na minha cabeça, quando os olhos rapidamente foram reconhecidos pelos meus e quando o sorriso surgiu naquele rosto, me faltou ar, me faltou chão, faltou absolutamente tudo. Precisei entreabrir a boca, na intenção de não me sufocar com o ar que ficou preso em meus pulmões.
- Ai, meu Deus! - Julie falou em choque. Não desviei o olhar dele. - É o Dener mesmo?
- Não sabia que ele tinha pintado o cabelo. Agora faz sentido todo mundo estar olhando, é um puta gato apoiado em um carrão na entrada da escola. - Jéssica riu.
Ignorei elas e me aproximei sem nem pensar duas vezes, dando passos rápidos e cautelosos na direção da entrada. Suas novas tatuagens brilharam pelo sol sobre si, deixando o cabelo mais irreconhecível ainda pela escuridão do mesmo.
Parei no meio do pátio com o sol batendo nas minhas costas. Tentei andar mais, tentei me aproximar, porém, meus pés travaram no chão. Engoli a seco quando Dener se afastou do automóvel e colocou ambas as mãos dentro da calça preta mais apertada do que uma social deveria ser. Os primeiros botões da blusa estão abertos, com a gravata frouxa. Ele veio se aproximando, chegando cada vez mais perto sem se importar com a claridade refletindo em seu rosto.
Sei que todos os olhares estão sobre a gente, porém, não poderia me importar menos.
Dener parou de frente pra mim, com um sorrisinho sacana nos lábios. Fiquei com o rosto sério, franzindo as sobrancelhas e tentando não deixar visível a tremedeira das minhas mãos.
- Então acha que é assim? Simplesmente saiu hoje com uma garota qualquer e acha que aparecendo na minha escola no horário da saída vai resolver as coisas? Teve uma puta overdose há algumas semanas atrás e agora tem a cara de pau de aparecer aqui como se não tivesse acontecido nada? Que porra você tem na cabeça, Dener? O mínimo que eu esperava era que ao menos se cuidasse, mas parece que fui burra o suficiente para achar que isso realmente ia acontecer, não é? Se veio aqui pedir desculpas ou fingir que foi tudo um delírio coletivo então pode ir para casa, não estou querendo ouvir e muito menos argumentar! Tem ideia do que fez? Da gravidade de toda a situação? Agiu como um adolescente escroto e irresponsável ao fazer essa merda. Sorte sua que eu não estava aqui, ou teria ido no hospital só para quebrar a sua cara! - Falei com rapidez, sentindo o meu rosto queimar pela raiva.
O rosto dele continuou impassível, exceto pela sobrancelha direita erguida. Seus olhos azuis continuaram presos e fixos aos meus que se encheram d'água. Respirei fundo, fechando a mão em punho.
- Acabou? - A voz dele me deixou tonta.
- É só isso que tem a dizer?
- Eu não vim aqui dizer nada - Deu de ombros.
Engoli a seco, negando com a cabeça.
- E veio fazer o que então?
As mãos escapuliram da calça do garoto, e achei que tivesse enlouquecido ao sentir as mesmas em volta da minha cintura, me puxando para perto. Travei com o seu calor grudado ao meu. Minhas pernas começaram a bambear mais ainda quando o toque de Dener foi para a minha bochecha. Entreabri a boca com o peso da situação. Só pode ser minha imaginação...
Dener sorriu, aquela droga de sorriso que fez o meu corpo formigar.
- Isso...
Sem pensar duas vezes, se aproximou, juntando os nossos lábios de uma vez. Não me afastei, apenas fechei os olhos e coloquei os braços em volta de seu pescoço, o puxando mais para perto e ficando na ponta do pé. O garoto colocou a mão na minha nuca, por baixo do meu cabelo longo e escuro. Fiz questão de diminuir qualquer distância entre nós dois, me certificando de estar o mais perto que posso. O gosto dele me fez suspirar contra a sua boca, fazendo nossa língua trabalhar juntas.
Como não faziam há tanto tempo...
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Não digo é nada, ai ai
É ISSO AI, BEBÊS UHUUUUU
E para quem já leu pelo menos um terço do meu outro livro "Droga Novato", notou a referência, né? KKKKK amo esse tipo de cena kk
Continuem acompanhando porque a história ainda não acabou
Já peço antecipadamente para que me perdoem aaaaa
Bom, curtam e comentem.
Amo vocês e espero que tenham gostado 💜
Miin.