Lauren POV
Naquela manhã, o dia estava bem friozinho como de costume em Campos do Jordão. Levantei deixando um beijo no ombro desnudo da minha namorada e logo tomei um banho e me agasalhei.
Desci para tomar café com a minha mãe e provavelmente Cristopher já deveria ter chego.
Estar naquela casa onde cresci tinha um significado diferente agora. Eu era dona do meu próprio nariz e não dependia de absolutamente ninguém. Passei por uma foto minha em família e admirei por longos minutos.
Os anos me fizeram bem.
- Saudades da adolescência? – Ouvi minha mãe falar atrás de mim, parada no vão da porta próximo à cozinha.
- Nenhum pouco. – Falei sorrindo e colocando a fotografia de volta no lugar dela. – Bom dia mãe.
- Bom dia meu amor. E Camila?
- Ainda está dormindo. Está cansada da viagem e da turnê. – Falei me sentando e me servindo uma xícara de café.
- Ela estava com uma carinha de exausta mesmo pela madrugada. Quer torradas meu bem?
- Vou apenas tomar um café, vou deixar para comer quando ela levantar. – Sorri simpática. – E Cristopher?
Falei e vi minha mãe suspirar.
- Deve estar chegando.
- Qual o problema? Me parece preocupada...
- Cristopher está estranho. Desde que descobriu que é pai ele anda muito diferente.
- Bom, espero que para melhor afinal ele agora tem responsabilidades.
- Não estaria tão confiante no seu lugar. Lorenzo passa muito tempo aqui na cidade já que Alexa tem viajado cada vez mais e o deixa com o pai. Mas Cristopher não dá a devida atenção. Então o Lo fica com os avós ou vem pra cá, a Tay também da um suporte...
- Mãe está me dizendo que aqueles dois irresponsáveis estão jogando ele de um lugar pra outro? – Perguntei começando a me exaltar. Como era possível que fizessem isso com uma criança de pouco mais de 2 anos?
- Não fale assim Lauren, ele não fica jogado. Ele recebe muito amor e carinho, ele gosta de vir pra cá, de estar com a Tay, dos avós...
- Mas ele não tem a atenção dos pais! – Cortei aquele discurso protetor da minha mãe depositando a xicara no pires e cruzando as mão sobre a mesa.
- Meu bem, é uma escolha deles. Não podemos interferir. Acredite eu gostaria, mas nosso vínculo é quase nulo agora.
- Mãe como espera que eu não interfira? Eu estou nesse momento me sentindo mais culpada que tudo pelo que aconteceu! Talvez Camila tenha razão e eu deveria sim ter assumido ele. Ao menos ele teria um lar saudável e a atenção que uma criança precisa!
- Lauren não diga isso filha, você fez o que qualquer um teria feito. Você não errou meu amor... E se quer ajudar, será muito bem recebida por ele. Ele adora você e adora Camila também!
Sorri só de lembrar como ele realmente adorava ela, mas me sentia triste pela situação que no fundo eu ajudei a criar.
A campainha soou e logo minha mãe foi atender. Bastaram alguns segundos para que um pequeno Lorenzo entrasse correndo pela casa arrastando sua mochila pelo chão, quase caindo.
- Tia Lauurrrrrrrrrr – Me levantei da cadeira e abaixei para pegar ele no colo enchendo seu rosto de beijo.
- Hey meu pequeno! Que saudadeee – Abracei ele forte sentindo aquele cheirinho de bebê e ouvindo sua risada gostosa devido às cócegas que ele sentia com o contato do meu nariz no seu pescoço – Que bebê cheirosooooo, vou morder!
- Naummmmm morde não – Ele seguia rindo e logo pude ver a minha prima entrando na cozinha com a minha mãe.
- Hey Tay! – Me aproximei colocando o Lorenzo em um braço e com o outro abraçando minha prima.
- Que saudades Laur... Fez boa viagem? E Camila?
- Sim... Camz está dormindo ainda. Chegamos de madrugada.
- A tia mila tá dormindo? – Lorenzo perguntou deitando a cabeça no meu ombro e com uma das mãos ficava pegando na minha orelha.
Que mania mais fofa era essa.
Ele ficava deitado no meu ombro com o rosto escondido no meu pescoço do mesmo jeito que Camila dormia. Era adorável!
- Está sim. Daqui a pouco vamos lá acordar ela, combinado?
- Simmmmmmm – Ele sorriu e voltou a ficar na posição que mais gostava.
Me sentei à mesa com as duas outras adultas e ficamos conversando um pouco.
- E o Cristopher? – Perguntei.
- Ele estava dormindo, acho que perdeu a hora. Como eu sabia que você estaria esperando e o horário de vocês é bem limitado, resolvi trazer ele.
- Naum Tia Tay ele tava no quarto com a namorada dele. – Lorenzo falou e eu imediatamente olhei pra Tay.
- Alexa? - Perguntei
- Naum, a mamãe tá viajando. É outra namorada. – Lorenzo falava com uma calma e com uma inocência que eu me sentia até culpada em ouvir as verdades vindas de uma criança.
- Hey meu garotão, o que acha de pegar umas amoras para levarmos pra tia Mila? Ela adora amoras no café da manhã. – Falei e logo ele desceu do meu colo e saiu correndo para o quintal, com a minha mãe logo atrás.
- Lauren...
- Tay eu acho bom você não mentir pra mim, do contrário eu já percebi que vou ter que usar uma criança pra descobrir a verdade. – Falei e ela respirou fundo.
- As coisas não estão bem, Cristopher não está lidando bem com a Alexa. Ela praticamente largou o Lo com a gente e passa boa parte do tempo viajando. Cristopher não tem como...
- Cristopher é o pai e tem a obrigação de dar atenção ao filho e não de encher a própria cada de putas na presença de uma criança! – Levantei passando a mão pelo cabelo – Tem noção da gravidade Tay? Olha o exemplo que ele está dando pro menino! Que tipo de homem ele vai se tornar? Mais um macho escroto, tóxico que vai tratas as mulheres como sempre viu o pai tratar?
- Cristopher não se sente preparado...
- Não me diga... – Falei irônica cruzando os braços. – E Alexa? O que sabe dela?
- Ela esteve lá em casa há uns 15 dias, deixou o Lo e estava indo para a França. É o que sei. – Ela abaixava a cabeça e não estava nada confortável em me enfrentar.
- 15 dias? Como assim ela não aparece há 15 dias?
- Lauren eu não sei! Ele não é o meu filho! Eu me preocupo afinal é o meu sobrinho mas eu também não sei como lidar com isso!
- Taylor, ninguém nasce sabendo como criar uma criança. Mas é uma questão lógica você saber o que é prejudicial ou não para uma. E eu posso te garantir que um menino de dois anos que vê a mãe se afastar dele tanto tempo e o pai sair com uma vagabunda diferente toda semana não tem como crescer sem traumas! – Elevei a voz e vi ela baixar a cabeça.
Ficamos em silêncio um tempo e logo vejo Vero entrar pela cozinha.
- Bom dia... está tudo bem? Lá de cima dá para ouvir vocês. – Falou se sentando a mesa, afinal já era de casa.
- Verônica não se mete, por favor. – Tay falou com tom de quem não queria retomar aquela discussão.
- Olha Tay eu até que gostaria de não me meter mas só pelo que eu ouvi de longe acho que tenho motivos de sobra. Não vou fazer papel de passa pano pra isso. É sério? Alexa viajando? Cristopher sem ter a decência de ao menos vir aqui trazer o garoto? – Vero estava tão indignada quanto eu.
- Todos fomos pegos de surpresa com isso. Não é fácil mudar a rotina. Vocês sabem muito bem! – Tay falou entre dentes e eu avancei até ela espalmando as duas mãos sobre a mesa e ficando bem próximo do seu rosto, trocando olhares de pura fúria.
- Escuta aqui Taylor... Não estamos falando de mudar a porra da rota pro trabalho porque tem um desvio na estrada. Não estamos falando de mudar a alimentação por questões médicas. Estamos falando de uma criança! De uma vida! Não fale dele como se fosse algo passageiro por que não é!
- Lauren calma... – Vero alertou.
- CALMA UMA PORRA! – bati a mão com tudo em uma garrafa de leite que estava sobre a mesa em puro acesso de raiva, fazendo com que ela estourasse em algum ponto da cozinha.
Vero e Taylor estremeceram com aquilo e logo eu fechei os olhos tentando me acalmar
- Vai embora daqui Taylor. Vai embora daqui e só volte quanto eu não estiver. Não quero você ou ele ou seja lá quem for perto do Lorenzo enquanto eu estiver com ele você me entendeu? – Falei e vi ela assentir com um certo medo.
- Fala para aquele filho da puta do seu irmão que eu estou de olho nele e que é bom ande na linha pois eu não vou aliviar a barra dele. Tá me ouvindo?
- Sim...
- E se vir ou falar com Alexa... – Fiz uma pausa – Dê o mesmo recado.
Taylor levantou e sem dizer nada saiu.
- Não quero que Camila saiba disso, ouviu?
- Seria o mesmo que dar esperanças a ela... – Vero me respondeu concluindo o meu pensamento.
Apenas a olhei e assenti, saindo logo em seguida para o quintal, encontrando Lorenzo repleto de amoras maduras.
- Eu escoli as mais bonitas pra Tia Mila! – Falou vindo até mim para pegá-lo no colo.
- Oh Estou vendo! Vamos lavar e levar para ela no quarto, o que acha?
- Simmmm! Mas a cozinha é ali tia Laur – Falou apontando enquanto eu ia em outra direção para lavarmos na pia da área gourmet.
- A tia derramou leite na cozinha. Vamos lavar aqui.
- Derramou sem querer tia? – Perguntou inocente.
- Não... – Falei e logo fechei os olhos vendo a expressão confusa dele. – Não vamos demorar para acordar ela, certo?
- Simmmmm!
Se mentir pra adulto já é impossível, pra criança a tarefa é 100X mais impossível!
Lavamos as amoras e logo entramos pela sala para irmos ao quarto onde Camila dormia. Pedi para fazer silêncio antes de entrarmos no quarto e logo me lembrei de um detalhe: Havíamos transado ontem a noite e ela estava nua. Como eu vou agora arrumar uma desculpa para não entrar no quarto com ele?
- A porta tá trancada tia? – Perguntou baixinho.
Oh merda....
- Não, não está meu amor.
- Então vamos entrar! – Murmurou empolgado.
- Não... a gente não pode entrar. Não agora...
- Mas porque? - Fez uma carinha de dúvida. - Ela gosta de amoras e eu peguei amoras pra ela.
- Sabe o que é meu amor... – Fiquei olhando pra ele em silêncio tentando formular alguma resposta que conseguisse enquanto ele me olhava cheio de dúvidas – Er... Acontece que....
- Acontece que a tia Mila não gosta só de amoras, ela gosta de bananas! – Fui pega de surpresa com Lucy na porta do outro quarto, atrás de onde eu estava.
Ouvir aquela desculpa dela me deu um alívio na alma.
- Tia Lu!! – Ele gritou e correu para abraçar ela.
- Xiiiuuuu desse jeito você vai acordar a Tia Mila antes da hora! – Lucy pegou ele no colo e sorriu pra mim, me fazendo sinal para entrar no quarto.
Aproveitei que ela estava com ele no braço e logo entrei no quarto fechando a porta em seguida e correndo pra cama.
- Amor... hey Camz... amor eu preciso que acorde e se vista...tipo, rápido. – Falei dando beijos no seu rosto vendo ela se mexer na cama.
- Hummm o que? Laur... o que houve amor? – Acordou sem entender a minha pressa.
- Depois eu te explico direito, mas o Lorenzo está querendo entrar e a Lucy tá com ele na porta. Mas você está nua e eu preciso que se vista... – Falei tudo rápido e ela parecia ainda tentar absorver.
- Certo, o Lorenzo quer entrar... ok. – Falou e levantou rumo ao banheiro.
Levantei e caminhei até o mesmo onde vi ela entrar para um banho.
- Amor eu só precisava que se vestisse, ele queria te acordar sabe? – Falei coçando a nuca.
- Laur, eu não vou entrar no discussão que preciso de um banho depois de termos transado quase a noite toda. Não quero que uma criança de dois anos sinta cheiro de sexo em mim, amor.
- Você está certa. Desculpa... - me aproximei de deixei um selinho nela saindo logo em seguida. – 10 minutos e posso entrar com ele?
- Sim... 10 minutos. – Falou me soprando um beijo.
Sai dali e iria falar pra ele que montaríamos um banquete completo para Camila, não apenas as amoras, assim eu ganharia tempo para ela terminar o banho e se vestir.
Ao sair, notei pelas risadas que estavam de volta à cozinha. Desci e entrando nela notei que também já estava limpa depois do meu descontrole de mais cedo.
- Tia Laur, a gente tá preparando mais coisa pra levar pra Tia Mila ó! – Falou sentado no colo de Vero e apontando para uma bandeja, enquanto Lucy cortava umas bananas e colocava junto das amoras.
Sorri e olhei pra Lucy murmurando pra ela
- Obrigada por me salvar
Em alguns minutos terminamos de colocar várias coisas gostosas na bandeja e subi com o Lorenzo para o quarto.
Dei umas batidinhas na porta e logo entramos encontrando uma Camila já vestida, com os cabelos molhados, sentada na cama com as costas apoiadas em alguns travesseiros.
- Tia milaaaaaaaaaaa eu ia te acordar, poxa! – Falou correndo até a cama e subindo com certa dificuldade.
- Own meu amor desculpa a titia já acordou mas eu amei a surpresa! – Falou enchendo seu rosto de beijos enquanto eu me aproximava e colocava a bandeja sobre a cama para me sentar ao lado deles.
Ele estava deitado sobre as suas pernas todo desajeitado mas agarrado a ela que também não parava de dar beijos dele enquanto riam.
Chamei atenção dos dois para sentarmos em posições de índio e tomarmos café juntos, o que não foi difícil de conseguir já que estávamos falando de COMIDA.
Ficamos naquela bolha gostosa tomando café com o clima gostoso de Campos do Jordão, entre sorrisos, brincadeiras e um Lorenzo que não parava de falar das amoras que ele mesmo escolheu.
Sentia a alegria dela em estarmos assim e principalmente a dele por estar recebendo toda atenção que queria. O que me levava ao questionamento:
Como aqueles dois irresponsáveis não notavam a preciosidade que era ter o Lorenzo como filho?
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