- Eu, bom, estou começando a ficar assustado. - Jack comentou.
Encarei ele nada contente por ter que tirar os meus olhos da multidão do campus. Eu procurava pela garota da sexta passada, havia se passado um final de semana inteiro e eu não aguentava mais pensar nela sem poder fazer nada. Eu a queria e nenhuma das garotas que eu fodi no final de semana conseguiu amenizar isso. E porra não foram poucas.
- Assustado com o quê? Seu merda. - Perguntei, tornando a olhar para as várias pessoas que deixaram o prédio e as salas. Estávamos no mesmo lugar da sexta-feira passada e eu olhava em todas as direções em busca daquele belo rosto e de seus lindos olhos. Daquele sol quente que iluminou todo o meu dia.
- Com essa sua obsessão pela garota. Eu nunca vi você querer tanto alguma garota ao ponto de parar e procurar por ela, devo te levar ao médico? - Ele se perguntou com uma expressão falsa de pensativo. - Será que você foi contaminado pela bactéria denominada sentimento? Céus o que vai ser do mundo? O que será de todas essas lindas garotas de quatro por você? Será que é definitivo?
- Vai se foder, Jack! - Deixei ele se perguntando sobre a possível contaminação que eu tinha e mais dúvidas sobre.
O que era uma mentira. Eu não estava nutrindo sentimento algum por aquela garota, ou algo parecido. Eu apenas a queria, queria foder ela para aliviar a vontade despertada desde sexta-feira passada. Era só isso. Ele que estava dramatizando como de costume.
- Ai meu Deus. - Disse com os olhos arregalados.
- O quê?
- Será que é o vírus denominado amor? Amigo, sinto informar, você foi infectado. - Olhei para ele, seus olhos estavam arregalados mas a sua expressão era de muito divertimento, deboche e malícia. Fuzilei ele com apenas um olhar e tornei a procurar por ela em meio as poucas pessoas que sobravam. - Eu não sabia que drogas podiam se autoconaminar... isso é uma descoberta científica, deve valer milhões...
- Jack, cala essa porra de boca. - Frustado, precisei tirar o maço e o isqueiro do bolso acendendo um cigarro para relaxar. Ofereci para Jack na intenção de que ele calasse a merda da boca dele. O que funcionou.
Satisfeito, soprei a fumaça e continuei olhando ao redor, cada garota conhecida, cada foda e cada consequência insuportável no dia seguinte e por alguns outros se passaram diante dos meus olhos, me fazendo relembrar esses momentos. Eu odiava ter que lidar com essas coisas, elas nunca entendiam, eu dava o meu aviso e elas cientes decidiam continuar, e no dia seguinte elas pareciam ter algum tipo de amnésia e exigiam coisas que eu avisei que não iriam acontecer. Coisas que eu nem havia dito! Ficavam colocando palavras na minha boca, santo Deus, isso era insuportável.
A noite era incrível mas o que vinha depois era uma dor de cabeça fodida que eu precisava contornar, quando eu tinha paciência (nunca) e no fim, acabar saindo com a marca de dedos no rosto porque elas agem como se a culpa delas esperarem o que não foi prometido, fosse minha.
Elas que foram tolas o suficiente para pisarem no meu aviso e esperarem algo de diferente por ignorar ele, como se estivessem em um filme ou em um livro onde o cara "mau" se apaixona pela menina. Elas não entendem que essa é a vida real e nada disso acontece.
Eu não sou o tipo de cara que faz isso.
Pensar em tudo isso piorou a minha frustação. E me fazia torcer para essa garota não ser como elas apenas para tornar as coisas mais fáceis uma vez que elas acabarem. Eu ainda conseguia sentir a palma da mão da última garota no meu rosto.
- Sabe o que eu acho? - Jack questionou, fitando o cigarro.
- Não, e não quero saber.
- Dane-se o que você quer...eu acho que você está dando muita importância para um rostinho bonito, acho que tem sentimento sim....- Ele mexeu o cigarro. - E eu acho que como você é um insensível, não sabe que isso aí, esse desespero, são sentimentos. - Encarei ele, pensando se ele reagiria ou ficaria magoado, caso eu acertasse um soco no seu rosto e desse uma pinta enorme e roxa. Bem no olho direito. Ficaria lindo de tão colorido e doloroso. Entraria em contraste com seu cabelo loiro claro e os seus olhos. A marca ficaria semanas e eu não poderia me sentir mais relaxado.
- É meu caro, o amor vem para todos, não precisa sentir vergonha, você não tem o meu apoio, sabe como é, relacionamentos são...eca...- Ele fez uma careta - Mas, vai fundo soldado. Ah droga, perdemos um soldado...- Ele sorriu radiante com todas as suas piadas.
- Cara, você tá um porre hoje. - Constatei. Ele me olhou como quem diz "É mesmo?"
- Por que não vai foder alguma garota e esquece essa baboseira para lá de ridícula? - sugeri, olhando para o campus quase vazio, tinha desistido quando, como se brotasse do chão ou caísse do céu, algo que combinava mais com ela, atendendo minhas preces a garota surgiu descendo as escadas de um dos prédios.
Quente como no primeiro dia em que eu a vi. Eu não sabia que era possível alguém se tornar ainda mais bonita quando a se vê pela segunda vez, mas, ela definitivamente tornou isso possível quando apareceu com o cabelo ondulado se balançando conforme ela descia os degraus da escada. Dizer que ela é bonita é quase como mentir, porque se torna tão pouco para o que ela é.
Hoje, ela vestia vermelho, uma incrível regata, a lateral de sua irresistível cintura violão estava à mostra, assim como a pele definida pela calça justa e escura que contornava as suas pernas de tirar fôlego.
Me manter sentado se tornou impossível.
- Achei. - Avisei Jack pouco antes de levantar ao som das suas reclamações e começar a andar na direção da bela garota que estava acelarando as batidas do meu coração, simplesmente por me dar o prazer de cruzar o meu caminho com o seu mais uma vez. Eu faria valer a pena cada segundo até que não fosse mais possível.
Em cada passo que eu dava até ela, os seus detalhes se tornavam ainda mais vivos, eu ficava ainda mais duro e tentado quanto a beijar ela e levar um belo tapa, como resposta pelo meu desespero e atrevimento posso acrescentar.
- Boneca?
Chamei, porque agora perto o suficiente essa definitavemente era a palavra que melhor caracterizava ela, que parecia a porra de uma boneca angelical, delicada e quente como o sol acima de nossas cabeças, e eu estava em chamas antes mesmo dela se virar, quando isso aconteceu, eu queimei.
- Está falando comigo? - Ela perguntou, em um misto de confusão e surpresa. Os seus olhos azuis me observavam de forma avaliadora.
- Sim, eu estou. - Me aproximei, perdido nos traços do seu rosto e em como o seu cabelo natural era lindo. Em como aquele cabelo deixava ela com um ar sexy para a porra e em como o meu coração batia forte contra o peito. Em como os seus olhos tão azuis quanto o céu eram intensos, angelicais, gentis e sedutores na mesma incrível proporção.
- Eu conheço você? - Indagou, franzindo o cenho e erguendo levemente o rosto dando uma arqueada na sombrancelha, e, relaxando em poucos segundos a sua expressão. Ela sorriu de forma inocente e simpática, e eu soube o que era ter uma falta de ar por causa de alguém no momento em que isso aconteceu. Porque eu estava sofrendo uma por ela neste momento.
- Não, é exatamente isso o que eu quero fazer, boneca. - Sorri de canto um pouco menos inocente do que ela. Eu transbordava maldade e ela pureza, isso estava claro. Ou pelo menos essa era a minha segunda impressão em relação à ela. E bem, eu mancharia cada parte do seu corpo com sexo sujo e palavras numa mistura de mentiras e verdades que levam a minha lábia.
- Ah, claro. - Contemplei ela se virando totalmente na minha direção dando-me toda a sua atenção. E eu queria. Toda a sua atenção. Ela toda. Por inteira.
- Eu me chamo Liana. - Ela estendeu a mão, e eu pude perceber um delicado anel em seu dedo indicador, dourado com uma pequena pedra em cima. Segurei com cuidado a sua mão, como se fosse quebra-lá e devagar eu me inclinei até que meus lábios repousasem nas suas costas macias.
- É um prazer conhecer você, Liana. - sussurei afastando os lábios da sua mão, ainda tentando entender porque eu havia feito isso. Eu tinha acabado de agir como um idiota.
Talvez fosse a áurea acima da cabeça dela. Talvez fosse o ar de realeza que ela emanava. Talvez fosse ela parecer tão nobre quanto uma princesa que tudo o que eu mais quis foi tratar ela como uma. Talvez fosse o medo de não ser digno por ser um cara tão fodido pelo qual a universidade espalha rumores, que são a mais pura verdade, na grande maioria das vezes.
- Sou Vinnie. - Alisei a mão dela e olhei orgulhoso para as suas bochechas, um pouco avermelhadas em timidez. A boneca mais linda e adorável que entrou no meu mundo caótico por acaso. E eu adoraria ter ela na minha estante.
- Por que você quer me conhecer, Vinnie? - A doçura em sua voz me deixava fascinado.
- Por que as pessoas se conhecem? - perguntei, sorrindo, ela riu.
- Por vários motivos. Amizade, acaso, afinidade ou gostos em comum, sentimentos, interesses, sexo... - o seu olhar se tornou mais duro e eu percebi que ela já estava tendo uma noção de que tipo de cara eu era.
- Você tem uma grande reputação, não preciso te conhecer para saber que, há um interesse maior em querer me conhecer....- concluíu, terrivelmente esperta.
- E se tiver? Você não gostaria? - Meu tom saiu sugestivo e malicioso.
- De ser despachada ao amanhecer? Desculpe, eu não sou assim, Vinnie.
Ela se aproximou em questão de poucos passos e uma determinação incrível tomou posse dos seus olhos azuis, gentis e doces.
- Eu sei quem sou, e o que mereço. E eu sou mais que um rostinho bonito que caras como você vivem à ter relações e enxotam ao amanhecer, e, eu mereço muito mais do que isso que você quer me oferecer. - O sorriso que ela me ofereceu não chegou aos olhos. Havia tristeza nele, uma tristeza não relacionada à mim, mas o tipo de cara que eu me tornei e apesar de não me orgulhar tanto, não queria deixar de ser.
- Eu tenho um compromisso, preciso mesmo ir, nos falamos depois, Vinnie... - Ela acenou com a cabeça, sorriu gentil, se virou e foi embora.
E pela fodida primeira vez em que eu dialoguei com uma garota, em todos esses anos sendo um solteiro inconquistável, eu me senti ofendido pelas palavras de uma garota.
Liana apenas tinha me dito tudo o que eu sei, mas, por alguma razão eu me afetei.
Por que diabos eu me afetei?
Neguei com a cabeça e me virei caminhando na direção de Jack, que me observava com um enorme sorriso nos lábios.
E mesmo sabendo que seria difícil fazer Liana pensar o contrário.
Eu iria convence-la de que eu sou o tipo de cara que ela, desesperadamente, quer conhecer.