Acidentalmente Ela ⚤ Jikook

By sasoossi

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[EM ANDAMENTO] Park Jimin deveria estar soltando fogos de artifício por finalmente estar levando a vida que s... More

⚤ Personagens e avisos ⚤
⚤ PRÓLOGO ⚤
01 ⚤ ELA é novata.
02 ⚤ ELA é estranha.
03 ⚤ ELA é surtada.
04 ⚤ ELA é viciada em doces.
05 ⚤ ELA tem a melhor mãe do mundo.
06 ⚤ ELA dorme de... cueca?
07 ⚤ ELA é motivo de ciúmes.
08 ⚤ ELA entende de bolas com maestria.
10 ⚤ ELA tem novos membros em sua familia.
11 ⚤ POR ELA um capitão constrói barquinhos de papel.
12 ⚤ ELA é o sol dele.
13 ⚤ ELA é o encaixe perfeito dele.
14 ⚤ ELA é a conchinha de dentro.
15 ⚤ ELA entende como é ser mulher agora.
16 ⚤ ELA vai cuidar dele agora.
17 ⚤ ELA disse que é santa, por acaso?
18 ⚤ ELA é a namorada dele.
19 ⚤ ELA não gosta de hospitais.
20 ⚤ ELA nunca mais vai brincar de "eu nunca".
21/1 ⚤ POR ELA, a tempestade se transforma em chuva fina.
21/2 ⚤ POR ELA, a tempestade se transforma em chuva fina.
AVISOS DE EXTREMA IMPORTÂNCIA
22 ⚤ Ela o ama.
23 ⚤ ELE tomou a melhor decisão.
24 ⚤ ELE vai recomeçar do zero.
25 ⚤ ELE tem garra, força e determinação.
26 ⚤ ELE não perde por esperar.
27 ⚤ ELE não sabe mais o que fazer.
28 ⚤ ELE é um cão muito bem articulado.
29 ⚤ POR ELE, a montanha pode curvar-se diante do vento. Parte I
30 ⚤ POR ELE, a montanha pode curvar-se diante do vento. Parte II
AVISOS DE EXTREMA IMPORTÂNCIA 2
31 ⚤ ELE cria planos como ninguém.
32 ⚤ ELE é de casa.
33 ⚤ ELE não precisa mais se esconder.
34 ⚤ ELE não estava nos planos.
35 ⚤ ELE nunca deixou de brilhar.
36 ⚤ POR ELE o futuro brilha em amarelo.
⚤ Livro

09 ⚤ ELA foi descoberta.

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By sasoossi

#PIMENTINHADECABINHO ☀️

Ooii, xuxus! Como vocês estão? Quem está falando com vocês aqui nas notas iniciais hoje é a Sarah, a autora. E aí, sentiram nossa falta?

Quis dar as caras por aqui porque esse é o décimo capítulo de ACIDELA, e eu estou muito muito feliz!!! Sério, vocês não tem noção do quanto eu e Anna ficamos maravilhadas com o tanto apoio vindo de vocês. A galera do twitter é perfeita demais! 🥺🥺 E pras pessoas que sempre recomendam a fic em outros lugares também, saibam que vocês tem um cantinho especial reservado no nosso coração.

Mil desculpas pela demora, e quando isso acontecer, peço a compreensão de vocês, porque escrever não é tão fácil quanto parece 🤧 leva muito tempo, paciência, inspiração e horas de betagem pra tentar entregar algo minimamente decente, ao nosso alcance. E pra recompensar vocês da nossa forma, o cap de hoje tem o dobro de palavras do habitual, ou seja, quase DEZ MIL PALAVRAS hehehehe 💜💜💜💜

Sei que tô falando demais, mas é o primeiro cap que falo aqui desde "personagens e avisos" e eu tô empolgada kkk Mais uma vez obrigada! E vamos logo para o cap irraa!

Ouço batidas na porta do meu quarto.

— Pode entrar. 

Eu tinha terminado de trocar de roupa e agora estava deitado na minha cama vestido de um jeito confortável. Do meu jeito. E eu adorava o meu jeito. Nada de perucas, saias, maquiagens, esmaltes e, principalmente, nada de sutiãs.

'Se foder as dezoito gerações de quem inventou essa porcaria!

Todo final de semana é a mesma saga. Saio da faculdade bem cedo, vou diretamente para a casa do Taehyung, me desfaço de toda a caracterização do Jimin versão "bela, recatada e do lar", deixo minha mochila vermelha cheia de bottons fofinhos e reluzentes na casa dele, e volto para a minha com a preta que minha mãe me deu no início do ano, como se fosse essa a mochila que eu estivesse usando desde o primeiro dia do ano letivo, e sorrio para minha mãe como se meu mundo fosse a definição caótica de "dedo no cu e gritaria".

— Filho? — Ela entreabre a porta de leve, colocando somente o rosto no meu campo de visão. — Podemos conversar?

— Claro, mãe. Entre. — Continuo mexendo no celular e sinto quando a ponta do colchão da cama se afunda com seu peso.

Não me julguem como um mau filho. Quando cheguei, já tivemos a cota de nos abraçarmos bastante, ela beijou meu rosto de todas as formas possíveis, perguntou se eu estava bem, se estava comendo direito, e todas essas outras coisas que mães fazem questão de perguntar quando passam um longo tempo sem ver o filho. No meu caso, apenas cinco dias úteis, que para minha mãe são uma eternidade.

— Já conversou com o Taehyung, meu amor? — Senti um carinho gostoso dos dedos dela na minha panturrilha, e com isso bloqueio a tela do celular e o coloco em cima da mesa de cabeceira.

— Já sim, ele concordou em dormir aqui. Mas eu chamei ele porque gosto da companhia do meu melhor amigo, e não pelos motivos que a senhora pediu.

— Ah, filho... — Ela suspirou e deixou os ombros caírem, fazendo uma expressão tristonha. — Eu me sinto tão culpada de deixar você sozinho em um sábado à noite. Fico a semana inteira longe de você, meu coração fica até pequenininho de tanta saudade, e daí eu simplesmente te abandono! Não é justo isso.

— Claro que não, mãe! — Apoiei os cotovelos no colchão e impulsionei o troco para me sentar. — De onde tirou isso? Nós vamos passar o dia todo juntos, e algumas horinhas que a senhora tirar para sair com seu rolo não vão fazer de mim um incapaz abandonado. Não tenho mais cinco anos.

Assim que ouviu a palavra "rolo" ela abriu a boca indignada e desferiu um tapa contra a minha perna.

— O que foi!? — Perguntei rindo. — É o seu rolo, oras. A senhora trabalha a semana inteira, mãe. Não tem nada demais em sair pra dar uns pegas em um bonitão cheio da grana.

Ela abre a boca em um perfeito "o" e lança outro tapa, dessa vez mais forte: — Park Jimin!

— Ai, mãe!

Acariciei o lugar que ela estapeou duas vezes. Essa mulher é pequena, mas é forte! Impressionante como a mesma mão que fazia um carinhosinho meigo e maternal em minhas pernas, de uma hora para a outra, vira uma agressora sanguinária. E olha eu fico marcado com muita facilidade...

— Você sabe muito bem que a última coisa na qual eu me importo, é com o dinheiro dele. — Falou ela muito séria.

Se existe uma coisa que Park Hinah tem, é caráter. Eu tenho plena consciência de que minha mãe nunca se envolveria com um homem por causa da condição financeira dele, mas, poxa... Ela não sabe brincar não?

— Eu só estava brincando, mãe. — Fiz beicinho.

— Uma brincadeira de muito mau gosto. E esse bico podia funcionar muito bem quando você era criança, mas agora já estou imune.

Me lembrei perfeitamente do dia em que Taehyung me disse a mesma coisa sobre meu beicinho e cerrei os olhos para minha mãe numa mistura de acusação com indignação: — Então, a senhora é a culpada...

— Pelo quê?

— Taehyung também não cai mais no meu truque.

— Amém, 'né, meu filho? O pobrezinho caia há até um ano atrás. — ela começou a rir. — Cheguei a pensar que ele nunca tomaria jeito.

— Mas até hoje não tomou. — Ri maldoso.

— Deus do céu... Tenho até medo de perguntar o que vocês fazem que eu não fico sabendo.

Ah...! Fazemos nada não. Só quase perdi a bolsa de estudos, finjo ser mulher todo santo dia, violo as leis da faculdade, minto para os meus amigos, engano todo mundo, infrinjo a lei, e corro o risco de ir pra cadeia sob acusação de falsidade ideológica. Supimpa!

— E então, o que está planejando no encontro com o seu peguete hoje? — Tentando fugir de meus delitos, mudei rapidamente de assunto. Já não bastava me preocupar com isso a semana inteira, ao menos nos fins de semana eu merecia uma pausa.

E como se já não bastasse, um terceiro tapa é disparado contra a minha perna.

...O que eu fiz para merecer, meu Deus.

— Por que a senhora me bateu de novo? — Perguntei choramingando.

— Porque eu não gosto que fale assim!

— Ora bolas. Do que eu devo chamar então? Não sei se a senhora sabe, mas é assim que os jovens falam quando estão saindo com alguém. Rolo, peguete, P. A, e isso porque eu estou usando os termos mais leves.

— P. A.?

Paquera amiga... — Risos, risos, risos...

— Isso não me interessa. Eu e Junghyun somos dois adultos caminhando para a casa dos quarenta e essas definições aí estão totalmente inadequadas para a nossa situação.

Opa, opa! Espera aí só um instantinho...

— Situação? Como assim? Não vai me dizer que a senhora está...

Ela mudou toda a compostura e ficou tímida de repente. Agora eu sei de onde puxei essa coisa de ficar vermelho quando fico com vergonha.

Senhora Park está parecendo um tomatinho.

— Era justamente sobre isso que eu queria conversar, meu filho. — Me encarou com um pouco de receio. — Você tem alguma coisa programada para fazer amanhã à noite?

— Uh, não. Por...?

— Então tudo bem. Lá vamos nós. — Estava falando mais pra ela mesma do que pra mim. Ela então fechou os olhos, soltou o ar, e relaxou os ombros. — Junghyun quer conhecer você.

Eu arregalei os olhos: — Quê?

— Eu sei, querido — se desesperou com o meu desespero e tentou me acalmar. — Talvez isso seja muito cedo, muito desconfortável para você, muito desesperador, mas... — mudou a expressão no rosto. —... Seria muito importante para mim se você fosse. Para nós.

— Nós? Vocês dois estão mesmo...?

— Sim, meu bem. — Apertou os lábios. — Estamos namorando. Ele fez o pedido.

— Wow. — Eu arqueei as sobrancelhas e mudei a direção do meu olhar para o tapete de pelinhos cinza nos pés da minha cama. Fiquei encarando ele um tempão tentando assimilar a informação que tinha acabado de receber.

Não é que eu não estivesse feliz por minha mãe, porque é óbvio que eu estava. Se ela estivesse feliz, eu também ficaria. É só que... Ela nunca namorou ninguém desde a morte do meu pai. E minha mãe não é o tipo de mulher que firma um compromisso com alguém de brincadeira, não mesmo. Se ela aceitou o pedido, é porque as coisas estavam sérias, mesmo.

E para esse nível de relacionamento, eu só estava achando, talvez, não sei, repentino demais.

— Não acha que estão adiantando muito as coisas? — Perguntei finalmente.

— Eu sei que para você pode parecer cedo demais já que ainda nem fez um mês que estamos saindo oficialmente, mas... Eu o conheço há bastante tempo, filho. Já gostava dele há bastante tempo. Passei meses cuidando dele, vendo ele todos os dias, acompanhando seu progresso de recuperação, e com isso a conexão que criamos já era forte antes mesmo de começarmos a sair. E outra... Junghyun me contou que ele já tinha a intenção de me pedir em namoro, antes mesmo da primeira vez que ele me fez um convite quando não pudemos sair e almoçamos ali mesmo na cafeteria do hospital. — Confessou ela com um sorrisinho bobo e apaixonado no rosto, com o olhar distante em suas lembranças.

— É... olhando por esse ângulo.

Ela sorriu para mim e eu usei minhas mãos como apoio sobre o colchão para me aproximar dela.

— Se é importante para a senhora, — agarrei suas mãos e sorri de volta — é importante para mim também. Vou adorar conhecer o Junghyun.

Ela não me respondeu, mas o seu olhar de brilho estonteante e abraço apertado que me deu, foram mais que suficientes para mim.

Depois dessa conversa esclarecedora e carregada de sentimentos, nós, literalmente, passamos o resto da manhã fazendo doces para comer de sobremesa. Depois fomos para o almoço. Eu estava morrendo de saudades da comida dela, e o bibimpab que ela preparou estavam, simplesmente, divinos.

Depois que a ajudei a arrumar a cozinha, fomos para a sala e ficamos assistindo filme até quase à noitinha. Sabe esses filmes bem ruins, que você sabe que são ruins e mesmo depois de insistir em assisti-los mesmo assim você, no final, não sabe se ama ou se odeia? Pois é, são esses mesmo que eu e ela adoramos ver juntos. Assistimos "O Ataque dos Vermes Malditos" e em seguida nos contentamos com alguns outros romances ou comédias do tipo trash.

Quando era por volta de seis e meia da noite, deitado em um sofá enrolado numa mantinha de zebra e minha mãe no outro sofá com uma mantinha de oncinha, ambos de microfibra – adoro um animal print! – ouvi meu celular tocar.

— Fala.

Olha o jeito que fala comigo seu filhote de pinscher com gnomo anão!

Eu revirei os olhos, e minha mãe percebeu.

— Quem é, filho?

— Ninguém não, só o Taehyung.

— Ô cria de chupacu, eu consigo ouvir você.

— Seus apelidos carinhosos são comoventes.

— Vem me atender logo, peste. Eu 'tô na porta da sua casa e não tenho a noite toda.

— Tá. — Encerrei a chamada e me levantei. — O Tae já chegou.

— Tá bom, filho. Pode ir. Eu não vou nem terminar de assistir esse filme aqui porque já está na hora de me arrumar para encontrar o Junghyun.

Eu com toda certeza, estaria mais curioso para ver o final de "Palhaços Assassinos do Espaço Sideral" do que me arrumar para encontrar o namorado bonitão. Mas cada um tem suas prioridades, 'né.

Caminhei até ela, me abaixei para dar um beijo em seu rosto, e fui em direção a porta.

Abri.

— Oi, gnomo. — Diz ele sorridente.

— Só aceito esse seu tratamento desnaturado porque já te vi hoje de manhã.

— Vai fazer a gay emotiva agora?

— Não, você não merece meus sentimentos. — Eu ri.

— Ninguém nesse mundo merece mais os seus sentimentos do que eu porque ninguém te ama como eu.

— Sempre soube me amava.

— Tanto que até dói. — Respondeu já entrando na minha casa sem nem pedir minha permissão, até porque ele nem precisava. A minha casa era dele, a casa dele era minha, e nós tínhamos toda a intimidade do mundo para fazermos o que bem entendermos na casa um do outro.

— Por que já está aqui? Pensei que viria só lá pelas oito. — Eu finalmente reparo em sua aparência. Taehyung estava, estranhamente, arrumado demais. Que eu saiba, a gente só ficaria acordado até tarde de pijama fofocando e comendo porcaria.

— Porque a gente vai sair. — Simples assim. Ele sequer olhou para mim e foi lá 'pro meio da sala falar com minha mãe. — Oi, tia!

Se curvou todo bonitinho para ela. Quem vê educadinho desse jeito, até pensa. De santo, esse só tem a imagem.

— Oi, querido! Que bom que chegou! — Ela o olhou de cima a baixo e sorriu. — Olha só... Está muito bonito. Vocês vão sair?

— Se eu conseguir arrancar o morcego que a senhora chama de filho de dentro dessa casa, vamos sim. — Sorriu como se não tivesse acabado de me difamar dentro da minha própria casa.

E para a minha decepção, a minha mãe, minha matriarca, mulher que me deu a vida e diz que me ama todos os dias, riu junto.

Iu ti imi miu filhi. Que ama! Ama nada.

— Por favor, Taehyung, eu estou confiando nas suas habilidades para convencer ele a sair. — Ora essa. Esses dois conversavam como se eu nem estivesse atrás deles ouvindo tudo.

— Desde que ele começou a se preparar para entrar naquela universidade, ele quase não tem se divertido mais.

— E não é? Eu concordo plenamente com a senhora! — Olha inimigo agindo contra mim.

Eu rolei os olhos e cruzei os braços: — Parem de falar de mim.

— Prefere que a gente fale de você aqui ou nas suas costas? — Hinah falou.

Taehyung cobriu a boca para disfarçar a risada. Aposto que ele está se divertindo horrores com essa situação.

— Tá bom. Já chega vocês dois. — Rolei os olhos outra vez. — Outro dia, quando eu voltar para a SNU, vocês se reúnem pra ficar de conversinha contra mim.

— Para de drama, filho. Você sabe que nós temos razão. — Ela se levantou do sofá e começou a dobrar as mantas. — De qualquer jeito, eu tenho um compromisso e não tenho horário para voltar. E, Taehyung — apontou para ele — se forem sair mesmo, não traga ele para casa muito tarde. Tá bem?

Meu deus! Minha mãe deve achar que eu ainda sou uma criança.

— E não revira esses olhos para mim, garoto!

Aish.

— Pode deixar, não vamos chegar tarde. — Taehyung falou tentando parecer sério e responsável, mas eu sabia que ele estava se segurando para não rir.

— Vocês não se importam de eu me retirar agora, não é? Preciso me arrumar.

— De maneira alguma.

— A gente nem vai ficar aqui, mãe.  Estamos indo lá pro meu quarto.

— Okay, mas se comportem. — Olhou para mim com os olhos um pouco cerrados antes de se virar e nos deixar ali sozinhos.

Credo. Será que ela pensa que eu tenho alguma coisa com o Tae?

Eww!

— 'Tá. — Peguei o braço dele e o puxei para dentro do quarto. — Me explica direito agora esse negócio da gente sair. — Cruzei os braços assim que fechei a porta.

— Sair, Jimin. Simples. A gente abre o aplicativo do Uber, pede um, e esse é o primeiro passo. Daí um moço de carro é enviado para a porta da sua casa para levar a gente até o nosso destino. Uns são caladões demais, outros conversam tanto que tem hora que falta pouco para eu não querer pular do carro, mas-

— Eu não 'tô falando disso, besta.

Ele suspirou. — Vamos para o Everland.

Acho que o Taehyung não teve infância, coitado.

— Um parque de diversões?

— Sim. — Deu de ombros e caminhou até minha cama para se sentar.

— Tae, sério? Em pleno sábado à noite? Pensei que ia me chamar pra um barzinho, uma boate, sei lá.

Ele me olhou com preguiça: — Você nem gosta de boate, Jimin. Me poupe.

— É, mas eu não saio há tanto tempo que não me importaria da gente fazer alguma coisa diferente para variar.

— Quer ir para uma boate então? — Perguntou já sem paciência.

— Não.

— Pois vá tomar no seu cu.

Comecei a rir e fui em direção a ele, sentei-me ao seu lado e rodeei os braços ao redor do seu corpo para derrubá-lo sobre a cama: — A gente vai no parquinho, tá bom?

Ele desfez a carranca e me abraçou de volta. Nos sentamos outra vez.

— Tá bom. Você vai gostar, eu tenho certeza. — Falou empolgado. — Fiquei sabendo de um projeto cultural que vai acontecer lá hoje e vai lotar de gente. Começa daqui a pouco então você tem pouco tempo para se arrumar. Já tomou banho?

— Já. Mas que tipo de projeto é esse?

— É sobre arte e formas de expressão. Vão ter alguns artistas expondo pinturas e coisas do tipo, música ao vivo, grupos de dança, essas coisas.

— E como é que você fica sabendo disso? — Perguntei.

— Twitter, meu amor. Já ouviu falar?

Revirei os olhos e decidi ignorar sua pergunta quando caminhei até o guarda roupa para escolher uma muda de roupas. Não estava frio então não tinha motivos para usar moletom ou algum casaco. Enquanto Taehyung mexia no celular e conversava comigo igual a uma maritaca, eu apenas o respondia usando onomatopeias ou acenos com a cabeça. Estava concentrado demais na minha tarefa de encontrar algo decente para vestir.

Algumas passadas de cabides foram suficientes, e segundos depois minhas mãos estavam ocupadas com minha jardineira preta e uma blusa listrada de preto e branco. Mais alguns acessórios, tênis branco, um pouco de maquiagem, e voilá. Eu estou pronto.

Saímos da minha casa por volta das sete e meia. A essa altura minha mãe também já tinha saído para encontrar o namorado. É... Talvez eu demore um pouco a me acostumar a esse novo título que o digníssimo Jeon Junghyun ganhou ao filiar-se a casta real dos Park. Vida longa ao "namorado da mamãe".

Quando chegamos ao parque, que, por sinal, estava lotado, a primeira coisa que fizemos foi garantir alguns passes de acesso para os brinquedos.

Qual é? Eu posso ter dezenove anos, mas isso não significa que eu faça parte da categoria "adolescentes – quase adulto – chatos", que só porque cresceram – no meu caso nem tanto – pararam de dar mortal pra trás quando vão ao pula-pula. Sim. Eu vou ao pula-pula, em todo aniversário de criança que eu seja convidado, contanto que Tae esteja comigo para eu não passar essa vergonha sozinho. Daí ficamos nós dois lá, as únicas pessoas com mais de um metro e meio na fila junto a um monte de crianças encapetadas de nariz escorrendo. E "Ai" delas se tentarem passar na minha frente: vai levar peteleco no meio da fuça. Não é porque sou mais velho que vou ser obrigado a ter piedade, fico na fila igual a todas as outras crianças e tenho o mesmo direito que elas.

— Vai ter coragem de ir à montanha russa comigo dessa vez? — Terminei de guardar os tíquetes no bolsinho da frente da jardineira e voltei a prestar atenção no meu melhor amigo.

— Pergunta se o ship do Faustão com a Selena Gomez vai se tornar real algum dia. As chances de receber um "sim" são maiores. 

Se existe uma pessoa que representa bem a frase "as aparências enganam", esse alguém é o Taehyung. A criança aqui do meu lado exibe uma estatura de um metro e oitenta, faz inveja em qualquer hétero com essa voz grossa, sexy e extremamente potente, e se estiver sério, com um único olhar é capaz de fazer até o mais âmago de sua alma se arrepiar. Mas como disse antes, pura enganação. Se bobear, até uma criança de cinco anos esmurra ele. Meu deus, como pode ser tão medroso?

— Vai você sozinho. Eu não me submeto a esse tipo de tortura psicológica.

— Não confunda adrenalina e diversão, com tortura.

Ele ri de escárnio: — Se você não sente a falência de seus órgãos internos a cada descida que aquela coisa dá, bom pra você. Eu não estou nem um pouco afim de ter enjoos, desmaios e uma morte súbita só por causa de um pouquinho de adrenalina. Prefiro correr de um boi e rasgar a roupa quando pular a cerca de arame farpado.

Eu rolei os olhos pelo que julgava ser a quadragésima oitava vez só nessa noite: — Mas você nunca foi na montanha russa. Como pode saber?

— Todo mundo sabe dessas coisas, Jimin. Não me cansa. 

Ele se aproxima de um painel que servia como uma espécie de mapa de localização entre repartições e brinquedos, e enquanto lê as informações, seu rosto se mantém inexpressivo e atento. Lembram de quando eu disse sobre aquela parada alma se arrepiar quando ele fica sério? Pois então, isso está acontecendo agora. Ladies and gentlemen, segurem seus corações.

Nós estávamos um pouco à frente da entrada principal e tínhamos o objetivo de chegar até a área designada para exibições de espetáculos e atrações, que era uma espécie de praça aberta extensa com um palco grande.

— Vamos, é por aqui. — Indicou para a esquerda e eu o segui. — Sabe a Haniu?

— Sua prima de treze anos que é humilhantemente mais alta do que eu? Sei. Ela vive esfregando na minha cara que consegue alcançar o botãozinho do chuveiro para mudar a temperatura sozinha sem precisar bater nele com o rodo.

— Veja pelo lado bom, pelo menos você alcança o ralo do banheiro sem precisar se abaixar.

Reprimiu uma risada e eu fiquei me perguntando: Por que é que sou amigo dele mesmo?

— Cala a boca.

Dobramos a esquerda perto da Torre Sky¹ e era possível ouvir o grito de desespero das pessoas que se aventuravam no brinquedo.

— Lembra que mês passado eu fui obrigado a vir aqui com a minha família para trazer uns parentes do interior, que estavam hospedados na minha casa para conhecer Seul?

— Lembro.

— Pois então, Haniu nunca tinha ido e inventou de andar na montanha russa pela primeira vez. Vomitou, a coitada. E eu a parabenizei pela coragem, porque senso não teve.

— Você é um péssimo primo. 

Comecei a rir, mas me senti a própria Malévola por não tido nem um tiquinho de compaixão pela experiência desastrosa de Haniu. Ninguém mandou ficar jogando na minha cara que eu sou baixinho. Não tenho dó mesmo.

— Sou um ótimo primo. Eu ainda avisei que ela iria se arrepender se fosse... Brinquedo do demônio.

— Para de ser exagerado. Você não pode pegar o exemplo de sua prima ou de outras pessoas que disseram que aconteceu o mesmo, e tomar isso como lei. Não é assim que funciona. Eu, por exemplo, nunca senti enjoo nesses brinquedos e conheço um bilhão de pessoas que também não sentiram.

— Prefiro não arriscar.

— Aish... Ainda bem que viemos para assistir as apresentações. Se o foco fosse ir aos brinquedos com você, eu nem teria saído de casa.

— Vou fingir que nem ouvi isso, filhote de gnomo.

Taehyung só gosta de uns brinquedos paradões que me dão sono só de olhar. Eu gosto de ir aos radicais, mas sozinho não tem graça. No final eu acabo com todos os meus tíquetes gastos em rodas gigantes, carrinhos de bate-bate e o tobogã, que de quebra é o mais legalzinho. Só para fazer companhia ao Tae.

Depois de mais alguns minutos andando, finalmente chegamos à praça onde estava acontecendo às apresentações. Estava lotado. Como chegamos atrasados, provavelmente já tínhamos perdido as exposições de pintura e desenho.

O parque inteiro estava cheio, mas esse lugar, em específico, vencia. Quando vi a quantidade de pessoas, até desanimei de tentar me aproximar do palco. Eu não estava com uma gota sequer de vontade de ser espremido, tendo que ficar abrindo caminho e falando "com licença" a cada cinco segundos só para ver as apresentações mais de perto. Não mesmo. E aposto que Taehyung também não estava disposto.

Por fim, decidimos ficar por ali mesmo. O ruim é que pelas centenas de cabeças na minha frente, eu mal conseguia enxergar o palco. Eu tentava subir em cima do meio fio, tentava ficar na ponta dos pés, cheguei até a pedir o Tae para subir nas suas costas de cavalinho, mas o desgraçado recusou. Nessas horas eu queria pegar os dezessete centímetros que ele tem a mais que eu e fazer ele engolir pela bunda pra ver se aprende a ter um pouquinho de empatia.

Acabou que eu mal puder ver as apresentações, e olha que eu adoro espetáculos de dança. Ainda assim eu contei, e no total foram dez. Pelo menos os que pude assistir depois de chegar. Não sei antes disso. Os três primeiros foram grupos de hip-hop com uma mistura de street dance, o quarto também foi street dance, mas solo, então vieram os seis restantes com o popping. Umas garotas performaram "La Di Da" e "Dun Dun" de um dos meus grupos de K-Pop feminino favoritos e foi perfeito, mesmo que eu não tenha visto tudo com clareza.   

Depois das apresentações de dança, vieram as de canto. Um coral de criancinhas da escola SUNY Korea foi a coisa mais linda e fofa de se assistir. Em seguida, uma garota começaria a se apresentar, mas eu parei de prestar atenção.

— 'Tô com fome. — Me pendurei no ombro de Taehyung para que ele se inclinasse e pudesse ouvir meu apelo em meio à música alta, barulhos do funcionamento dos brinquedos, gritarias de crianças, e conversas paralelas.

— Mas as apresentações nem acabaram, Jimin.

— Eu sei. Não sou cego. Eu vi.

— Se a gente sair daqui agora, vamos ficar por lá mesmo.

— Por quê?

— Porque já está no fim, esse parque é enorme, até acharmos uma barraca de comidas e você fazer o pedido já vai ter acabado, e eu não vou andar até aqui de novo em vão.

— Mas deve ter uma barraquinha aqui perto.

— Foda-se. Eu também quero fazer xixi.

— Aish, tá bom. Vamos. — Prestei atenção uma última vez no palco antes de seguirmos caminho, observando a garota que ainda cantava, e me despedi mentalmente dela. Ela era talentosa e eu gostaria de poder ter visto mais, mas meu estômago roncava alto e implorava para ser a atração principal.

— Eu acho que conheço ela de algum lugar — falei.

— Quem?

— A garota do palco. O rosto dela não me é estranho.

— E conhece de onde?

— Se eu soubesse, eu teria dito, oras. Mas devo estar viajando.

— Ela pode ter estudado com você no colegial ou algo do tipo.

— Não sei... Mas já passou, deixa pra lá.

Continuamos andando pelo que deveria ser mais uns cinco minutos, até que encontramos uma barraquinha de churros. Nem avisei para Tae e já fui correndo, todo saltitante, igual a uma gazela na direção dela. Eu adorava churros.

Aguardei duas pessoas que já estavam na minha frente, até que chegou a minha vez.

— Dois de chocolate com doce de leite, por favor.

— Com açúcar e canela?

— Sim, obrigado.

Taehyung me alcançou em questão de segundos: — Valeu por já ter pedido para mim.

— O quê? Esses dois são meus. — Peguei o doce da mão da vendedora e entreguei o dinheiro de volta. — Peça o seu você mesmo.

Tae me encarou incrédulo e rolou os olhos: — Você não vai pro céu.

Apontou o dedo para mim e se virou para a vendedora.

— Eu quero um de chocolate com goiabada. Sem canela e com açúcar.

Eww. — Fiz careta de nojo.

— Que foi?

— Goiabada, cara. Péssima escolha.

— Ótima escolha. Seu paladar é que está afetado pela quantidade de açúcar que você consome diariamente e já nem consegue mais identificar uma coisa que tenha o mínimo de sofisticação a mais.

— E goiabada é sofisticada desde quando?

— Desde que eu disse. Você gosta de canela, então cala a boquinha. Não tem moral pra discutir comigo.

— Goiabada é uma delícia, os clientes gostam muito. Sai com mais frequência do que imagina. — A vendedora disse com um sorriso gentil quando entregou o pedido ao Taehyung. Minha cara imediatamente ferveu de vergonha e eu quis enfiar a cabeça dentro da lata de lixo. Porra, ela estava escutando esse tempo todo. — Não quer arriscar e provar um pouco?

— Ah, não... moça. — Sorri sem graça. Alguém aí tem uma lata de lixo pra eu enfiar a cabeça? — Não faz muito o meu gosto esses doces feitos de fruta assim, não.

— Acontece que meu amigo é uma formiga com hiperglicemia e não come nada que não seja industrializado ou que não tenha pelo menos dois quilos de açúcar por cima. E a corja ainda consegue ostentar esse corpo curvilíneo e definido. Chega a ser revoltante... Ouch!!!

Ele dá um gritinho quando sente o tapa na nuca.

— Já vamos, viu moça? — Eu começo a falar, constrangido. — Muito obrigado e desculpa qualquer coisa. Tenha uma boa noite e que Deus te proteja.

Começo a empurrar Tae pelas costas o forçando a andar, e em pouco tempo já estamos longe da barraquinha de churros: — Eu me pergunto todos os dias porque você ainda é meu melhor amigo.

Dei um último suspiro de frustração antes de começarmos a comer, mas a raiva passou rapidinho quando mordi meu churros e senti a explosão de doces e sabores deliciosos dentro da boca. Até fechei os olhos para apreciar melhor e deixei os ombros caírem, totalmente rendido.

— Porque você não viveria um segundo sequer sem mim. — Dá de ombros e morde o dele de goiaba. Ew, goiaba!

— Eu passo cinco dias sem te ver toda semana e sobrevivo muito bem a isso. — Refutei com a boca cheia.

Taehyung, calmamente, terminou de mastigar e engoliu para me responder: — Se passasse tão bem quanto diz, não precisaria me mandar mensagem implorando por atenção a cada cinco segundos no kakao.

Sua expressão era serena e convicta porque o filho da mãe tinha razão.

Fazer o quê? Eu amo esse garoto mais que tudo! Amo ele até mais do que eu amo meus doces com quilos e mais quilos de açúcar, mas jamais vou admitir isso em voz alta. Não quero alimentar ainda mais seu ego estupidamente inflado.

Eu comecei a rir e respondi com um empurrão no ombro dele com o meu próprio, e por pouco ele não se desequilibra e cai, mas ao invés de me xingar, ele apenas ri junto comigo.

Continuamos caminhando enquanto terminávamos de comer os churros – que no meu caso eram dois – até que acabamos em frente a um banheiro, perto da roda gigante.

— Preciso urgentemente mijar antes que a minha bexiga exploda — ele fala.

— Vai logo. Eu te espero aqui.

Taehyung desapareceu dentro da construção, fechou a porta, e eu fiquei do lado de fora mexendo no celular. Eu sequer prestava atenção nas publicações que ia rolando com os dedos, só não queria parecer avulso.

Por algum motivo – sexto sentido, talvez – depois de passar as mãos nos cabelos, eu parei de encarar o telefone e virei a cabeça para o lado.

E quase infatei.

Distraída com o celular preso a orelha, provavelmente conversando com alguém, à minha esquerda Jisoo vinha caminhando na direção certeira onde eu estava parado. Ela não estava me vendo ainda, mas veria em questão de segundos se eu não fizesse algo.

O sangue coagulou dentro das minhas veias e senti o coração parando de bater aos poucos.

Não! Não! Não!

Eu me virei em pânico e comecei a socar a porta da cabine do banheiro.

— Tae, se você tem um pingo de amor pela vida do seu melhor amigo, me deixe entrar!

— 'Tá querendo bater uma pra mim, Jimin? E eu, hein. Espera, garoto. Já 'tô saindo.

— É sério! Eu preciso entrar! — Continuei batendo, louco, desesperado, em pânico, como se a minha vida dependesse disso.

— EU 'TÔ COM O PAU PRA FORA AQUI! Dá pra respeitar?! Você nem estava com vontade quando eu entrei.

Eu acho que vou morrer! Jisoo continuou se aproximando cada vez mais rápido.

Me vendo sem alternativas, a única coisa que restou fazer foi: correr.

Virei para a direção oposta e comecei a andar apressadamente para que não parecesse suspeito, mas parei tão rápido quanto comecei.

Jin e Namjoon hyung vinham do outro lado, igualmente com um telefone próximo ao ouvido, provavelmente conversando com Jisoo para que se encontrassem nesse ponto – no caso, onde eu estava mais especificamente.

Merda.

Caralho.

Fodeu tudo.

Ô porra.

Não tinha como fugir para trás, Tae não me deixaria entrar. Jisoo vinha a minha esquerda. Os hyungs a minha direita. Eu estava encurralado em três das quatro saídas que eu tinha.

Minha única alternativa era ir para a frente. Assim sendo, a roda gigante.

Eu, literalmente, corri e dei graças aos céus porque não tinha nenhuma fila e os compartimentos todos já estavam preenchidos, restando apenas duas cabines de dois lugares vazios, cada.

Eu subi as escadas em desespero e não sei como não cai e atraí ainda mais atenção para mim. Minhas tripas pareciam que saltariam pela boca, quase arranquei o botão frontal da jardineira de tão afobado que a abri o bolsinho para arrancar o passe e entregar para o maquinista, minhas mãos estavam trêmulas, e ele percebeu meu desespero, pois olhou para mim como se tivesse surgido um cavanhaque no meio da minha cara. Mas para minha a minha felicidade, não questionou.

Sequer sei como me sentei de tão instável que minhas pernas se encontravam, mas quando me dei por mim eu já estava com o rosto virado para o lado oposto de onde eles estavam para que não houvesse risco algum de me reconhecerem.

Minha respiração estava descontrolada, mas pude ouvir a histeria da Jisoo quando, aparentemente, ela havia alcançado os hyungs – deduzi somente, não ousei virar o rosto para ter certeza.

Eu não conseguia ouvir com clareza o que conversavam, mas conseguia ouvir suas vozes. Meu coração ainda batia acelerado e meu maior medo, no momento, era que eles viessem para a roda gigante. Do jeito que eu sou azarado...

Mas para minha surpresa, quando percebi, as falas deles estavam ficando cada vez mais baixas, demonstrando que eles, provavelmente, já estavam se afastando.

Até que desapareceu por completo.

Soltei todo o ar que eu estava prendendo e finalmente respirei, aliviado.

Por que o universo é assim comigo?

Ele continua fodendo minha bunda a seco todos os dias. Nem um lubrificantezinho. Nem uma cuspida, cara. Nada.

Pelo menos a foda não foi ainda pior, ao ponto de eles me virem e o meu disfarce ser arruinado.

— Valeu.

Escutei a voz agradecendo ao maquinista, e três piscadas de olhos marcaram o tempo entre a fala do sujeito e a percepção do peso e do calor corporal dele se sentando ao meu lado.

A roda gigante começa a se movimentar.

Não dá mais para sair.

"Segura nas mãos de Deus e vai... Segura nas mãos de Deus, segura nas mãos de Deus... Segura nas mãos Deus e vai..."

Ainda com a cabeça virada para o outro lado, eu fecho os olhos, respiro fundo, conto até cinco, e quando abro os olhos outra vez, eu , calmamente, começo a calcular a altura que estou do chão para saber quanto tempo vou agonizar até a morte depois que eu estrebuchar lá em baixo.

Porque é exatamente isso que eu vou fazer.

Eu vou pular.

— Ei!

Sinto a minha camisa ser puxada pela gola na parte de trás, perto da nuca, quando eu já estava inclinando o corpo para o lado de fora da cabine.

— 'Cê 'tá legal, cara?

Não, eu não estou legal. Nada legal. Tudo menos legal.

Eu quero partir dessa pra melhor.

Quero que os anjos me carreguem e me levem para um lugar sem dor, sem humilhação e, principalmente, sem desespero.

— Uhum. — Minha afirmação sai idêntica a um miado.

— Quer que eu peça a eles para pararem? 

EU QUERO MORRER.

Uh, um. — Nego, ainda com a cabeça virada para fora do brinquedo.

Eu precisava encontrar uma maneira de lidar com a queda súbita de pressão, a falta de dignidade, o risco de colocar tudo a perder, o medo de ser pego, e o perigo de borrar as calças.

É isso, preciso fazer com que Jeon Jungkook não perceba que o garoto ruivo suicida sentado ao seu lado, sou eu.

— Beleza... — Respondeu com um pouco de cautela na voz.

Ele devia estar pensando na furada em que se meteu ao se sentar do lado de um garoto perturbado, minúsculo, e que quase pulou da roda gigante, tendo em mente que de duas uma: se eu tivesse pulado, ou ele seria suspeito e investigado de ter me empurrado, ou ele passaria no mínimo três horas na delegacia dando depoimento por ter sido a única testemunha.

Ambas as situações acabam com ele se dando mal.

Por isso, nesse momento, ele continua olhando para mim, atento, com medo de que eu tente fazer alguma besteira outra vez.

Maravilha!

Tudo o que eu precisava eram dos olhos de Jeon Jungkook em cima de mim enquanto eu estou sem o meu disfarce habitual, com ele sujeito a encontrar semelhanças entre mim e a garota que ele tenta beijar todos os dias.

Lindo!

Simplesmente perfeito!

Disajmfjiaihensldnebsgfe.

Deus, eu jamais pediria isso se minha situação atual não fosse realmente desesperadora:

Me leva.

— Se for tentar pular outra vez, pelo menos me deixa descer primeiro.

É claro que ele está pensando que eu ainda vou tentar pular... Eu estou parecendo um idiota debruçado sobre a lateral da cabine para que ele não veja o meu rosto!

Não dá para continuar mais nessa posição. Logo, logo alguém lá em baixo ia acabar me vendo e iria chamar o segurança do parque para mim, e tudo o que eu menos preciso agora é de mais atenção.

Então eu me viro.

Simples assim.

Mas não sem antes pegar a gola da minha blusa e subi-la até acima do meu nariz, cobrindo metade do rosto.

Que. Ridículo.

Eu sou ridículo.

R i d i c u l o.

Meu deus, é claro que ele vai desconfiar.

Quem é que faz isso?

Eu estava esperando que Jungkook me reconhecesse e puxasse a minha blusa para baixo para revelar o meu rosto e jogar na minha cara a aberração que eu era, que ele não hesitaria um segundo em me denunciar para a supervisão da faculdade, além de chamar a polícia para mim.

Mas ao invés disso, ele levantou os braços e tentou, disfarçadamente, – o que não deu certo – cheirar as suas axilas para conferir se não estava fedendo.

Deus, me leva agora.

Agora!

Eu queria chorar de tanta frustação!

Coitado do garoto! Eu cobri o meu nariz quando me virei para ele, não era pra menos.

Meu deus que vergonha.

Minhas bochechas queimaram de tanto constrangimento, mas não por ele, e sim por mim, por estar o submetendo a esse tipo de situação.

Jungkook continuava tentando conferir o cheiro da jaqueta, roupa e tudo que estivesse ao alcance do seu olfato. Estávamos recriando a cena de Crepúsculo em a Bela se senta pela primeira vez ao lado do Edward na aula de Ciências.

Tudo o que eu queria agora era me virar para ele e falar o quanto ele estava cheiroso, perfumado e gostoso, e em como eu poderia passar a noite inteira com a cara enfiada no seu pescoço sentindo seu perfume.

Espera, o quê?

Eu obviamente não faria nada disso porque eu não estou interessado nele. Foi só um delírio momentâneo da minha cabeça, mas que já passou.

Jungkook continuou olhando para mim de soslaio de tempos em tempos, e eu me perguntava se ele estava achando o clima tão tenso e constrangedor quanto eu estava. Tudo o que eu queria era que o tempo de volta da roda gigante passasse o mais rápido possível.

E então o meu telefone tocou.

Era Taehyung: — JIMIN ONDE VOCÊ ESTÁ?!

Ele berra tão alto o meu nome, que mesmo no modo fone tenho certeza que o quarteirão pôde ouvir sua voz. Bem, talvez eu esteja exagerando... Mas mesmo assim, eu comecei a rezar para Jungkook não ter ouvido, e por precaução abaixei ainda mais o volume.

— Não posso falar agora... — Virei o rosto para o lado e tentei cochichar para que Jungkook não me ouvisse também.

O quê???

— Eu não posso falar agora... — Cochichei outra vez. Eu falava tão baixo que sequer eu mesmo podia me ouvir direito, mas minha cautela era necessária. Jungkook não tirava os olhos de mim.

FALA ALTO, DESGRAÇA EU NÃO 'TÔ TE OUVINDO!

— EU DISSE QUE EU NÃO POSSO FALAR AGORA! — Berrei no telefone e senti quando Jungkook deu um pulo no assento pelo susto que o coitado levou.

Por sorte o meu berro foi tão assustador, que a minha voz saiu irreconhecível.

Ele continuava com os olhos arregalados e eu tenho certeza que, nesse exato momento, ele estava pedindo para deus levar ele também. Ele tinha se sentado ao lado de um doido varrido.

— E por que não pode? Sabe o quão preocupado eu fiquei quando saí do banheiro e não te encontrei em lugar nenhum? Fiquei te gritando feito um desesperado e as pessoas devem ter pensado que eu sou louco!

— Você não é o único que está se passando por louco aqui... — Cochichei outra vez e olhei de soslaio para Jungkook, que me observava como se eu fosse a pessoa mais insana que ele já tivesse visto em toda a sua vida.

O QUÊ???

Eu fechei meus olhos e respirei fundo. Eu teria que abrir a minha boca para explicar onde eu estava, senão Taehyung seria capaz até de acionar a polícia para me procurar. O problema era que eu não poderia conversar normalmente. A minha voz normal é muito parecida com a voz que eu faço quando estou na faculdade fingindo ser uma garota. Na verdade, é a mesma, com o único diferencial de que eu tento suavizá-la um pouco para que ela fique mais delicada, porque eu naturalmente tenho a voz mais fina. Se eu conversasse normalmente, do jeito que converso com o Taehyung ou minha mãe, Jungkook com certeza me descobriria. Então restava a mim tentar forçar várias oitavas abaixo, como um cantor de ópera ou um locutor de tele-mensagens – daquelas bem bregas mesmo que sua família contrata no dia do seu aniversário e que quando chamam pelo seu nome na porta da sua casa, você se esconde e tenta fingir que não está para que não tenha que passar essa vergonha toda na frente dos vizinhos.

— Estou na roda gigante.

Mas o quê...? Que voz é essa? Bateu com a cabeça, foi?

— Depois eu explico isso. Me espera aí em baixo que já, já eu te encontro.

— Você está soando como uma cruza mal finalizada de um cabrito, o Pumba e a Jarilene.

Eu revirei os olhos. — Eu vou desligar. Daqui a pouco eu estou aí.

— Okay.

Deve ter levado quase uns cinco minutos para o maquinista começar a parar a roda gigante, cabine por cabine, até que todas as pessoas tenham saído do brinquedo. E, infelizmente, eu e Jungkook fomos uns dos últimos.

Esses, definitivamente, foram os dezoito minutos mais desesperadores e constrangedores de toda a minha vida! Ficamos o restante do percurso inteiro travados em nossos assentos ora ou outra pegando o outro no flagra, encarando e desviando o olhar na mesma hora.

Eu por estar com medo de ser descoberto e com vergonha de estar parecendo "o louco do centro" com a cara coberta com uma blusa, e ele por estar confinado dentro de uma cabine com "o louco do centro" com a cara coberta por uma blusa.

Assim que chegou nossa vez de deixar o brinquedo, ele sai apressadamente, e eu saio logo em seguida para procurar por Taehyung.

Eu sabia que agora iríamos cada um para um lado e só nos veríamos segunda-feira, na faculdade, outra vez.

Não tinha como eu estar mais enganado.

Quando eu finalmente avisto Taehyung e começo a caminhar para alcançá-lo, estranhamente Jungkook continua a apenas alguns passos de mim, caminhando na mesma direção que eu. Parecia até que estávamos juntos.

E então eu descubro a causa do problema: Taehyung estava conversando com Yoongi e Hoseok.

Espera. Como é que é???

Que espécie de universo paralelo é esse que eles conversam entre si?

Assim que me vê, Tae sorri e acena, mas seu sorriso acaba assim que percebe a camisa cobrindo meu rosto. Certeza que ele parou de acenar porque me achou ridículo e vai fingir que nem me conhece.

Eu aproveito a oportunidade e paro de andar imediatamente para que eu não tenha que correr um risco maior ao enfrentar os três de uma só vez.

— VAI FICAR PARADO AÍ IGUAL UMA ASSOMBRAÇÃO OU VAI DAR UM JEITO DE VIR PRA CÁ?

Ódio!

Eu vou ser preso por asfixiar meu melhor amigo.

Eu vou matar Kim Taehyung!

— O que é que deu em você? — Tae pergunta assim que me aproximo, se referindo a minha mão segurando a camiseta na altura do nariz.

Eu não respondo e ele franze o cenho: — Okay... Agora você está conseguindo me deixar realmente preocupado. O que está acontecendo, Ji-

Ménage! — Grito fazendo a mesma voz estranha de momentos atrás.

Taehyung se cala imediatamente.

Nós precisamos rever a nossa palavra de segurança assim que possível.

Mas pelo menos ele se calou e entendeu que havia alguma coisa fora dos trilhos. Tae me olhou com os olhos um pouco espremidos, tentando me ler de alguma forma para entender o que podia haver de errado. Como acionei a nossa palavra de segurança, ele sabe que deve ser cauteloso com tudo a partir agora, só não com o quê exatamente.

— Você estava a ponto de se suicidar ali em cima e agora está sugerindo que a gente faça um ménage? — Jungkook oscilava entre ficar assustado e incrédulo.

— Suicidar? — Taehyung falou aos berros e Hoseok tapou os ouvidos da criança que estava com ele.

Espera só um momento.

CRIANÇA?

— O que é ménage, tio Hobi?

Oi, Deus, sou eu de novo.

Todo mundo, inclusive eu, olhou aflito para o menino, sem saber o que responder. De onde essa criança surgiu, meu deus?

Hoseok foi rápido em disfarçar: — Ménage é um doce.

Yoongi riu maldoso e completou: — E só dá pra comer se tiver três coleguinhas ou mais.

— Você quer calar a boca ou quer que eu cale pra você?

Yoongi ergue os braços em rendição e Taehyung se volta para falar com Jungkook: — O que quis dizer ao falar que o Ji-

— Taehyung! — O interrompi outra vez e olhei para ele com súplica, quase chorando, para ver se ele entendia o recado de uma vez por todas.

— O Ji... — Continuou, dessa vez olhando para mim, para avaliar minhas reações. E eu balanço a cabeça negativamente de um modo bem sutil para que os outros ali presentes não percebam. —... Hyun.

Isso, Taehyung!

— Jihyun... O que estava falando sobre o Jihyun, mesmo?

Tae era esperto. Ele sabia pegar as coisas no ar muito rapidamente, além de tudo é meu melhor amigo de infância e me conhece como ninguém. Ele sabe interpretar até o jeito como eu olho para ele. A essa altura ele já tinha percebido que, como eu não queria revelar nem meu nome e nem meu rosto, eu provavelmente já conhecia essas pessoas e não tinha a intenção de revelar minha identidade.

— Seu amigo fã de ménage tentou pular da roda gigante. — Jungkook respondeu e Taehyung me lançou outro olhar de reprovação.

Faltava pouco eu chorar de desespero. De verdade.

— Hm... — Ele começou incerto, vacilando entre mim e Jungkook. — Ele bateu a cabeça quando era criança e ficou meio louco da cabeça. Sinto muito.

Meus ombros caíram e eu me senti patético. Não tinha desculpa melhor para inventar não?

"O cachorro dele morreu e ele ficou deprimido" ou, simplesmente, a verdade: "Ele estava fazendo drama e não tinha a intenção de pular verdadeiramente". Mas não. Tinha que ser logo "Ele bateu a cabeça quando era criança e ficou doido".

— É, deu para perceber.

Como é que é?

— Qual é a dele segurando essa camisa no rosto? — Yoongi perguntou enquanto me encarava de um jeito esquisito.

Taehyung abriu a boca algumas vezes sem saber o que responder e quando finalmente pensou em alguma solução, ela foi tão ridícula quanto à anterior: — Ele... t-tem vergonha por tem a boca torta. Um dia ele se esqueceu de tomar o remédio controlado e ficou brincando com a temperatura da água do chuveiro, sabe? Ficou mudando do quente para o frio toda hora e teve um choque térmico. Aí a boca dele entortou.

Céus! Eu quero partir desse mundo para a melhor. Por favor, me leva, Deus! Eu não aguento mais tanta humilhação.

Hoseok fez uma cara de pena: — Ow... Sinto muito.

— É muito torta? Por isso que a voz dele é estranha assim? — O sobrinho dele perguntou. — Eu posso ver?

Não moleque do caralho, não pode!

— Não, Young. Onde estão seus modos? — Hoseok o repreendeu, e o garoto cruzou os braços e inflou as bochechas, decepcionado.

— De onde vocês se conhecem? — Eu perguntei, inquieto.

Em um momento eu tenho meu melhor amigo que apenas sabe do outra face da minha vida dupla através dos relatos que eu conto para ele, e no outro tenho as pessoas que conheci na SNU e que nunca ouviram falar do meu melhor amigo e sequer fazem ideia da minha vida real. E de repente esses dois mundos opostos se colidem.

Taehyung apontou para o Neandertal e olhou para o relógio no seu pulso: — Ele, eu conheci há uns quinze minutos, e os outros dois, vejamos... — ergueu a cabeça outra vez e me fitou. — Agora.

— O quê?

— Depois de passar um tempão te procurando feito um condenado, e você me dizer que estava na roda gigante, eu fiquei aqui te esperando como me pediu. Nessa, eu conheci o Yoon. 

Yoon? Mas que porra é essa?

— Assim como eu, ele estava esperando os amigos dele aqui em baixo.

— Só que no meu caso eu não fui porque eu não quis. — Yoongi, o Neandertal, falou. — Nem fodendo que eu iria nesse brinquedo idiota.

— Não é idiota, é muito legal! — O garotinho defendeu o que deveria ser um dos brinquedos favoritos dele. — Você que não é legal igual o tio Hobi e o tio Kookie, que foram comigo! — Inflou as bochechas outra vez com raiva.

— Hoseok só foi porque hoje ele 'tá de babá como um favor para a irmã dele, sua mãe, e Jungkook, porque vira um babão quando se trata de crianças e não sabe dizer não. Mas nenhum dos dois gosta de roda gigante.

— Caralho, Yoongi. Colabora comigo! — Hoseok arfou, aparentemente já esgotado.

— Ah, foda-se. — Rolou os olhos e começou a se afastar de nós. — Eu preciso relaxar um pouco.

Enquanto caminhava, retirou uma pequena caixinha arredondada de metal prateado dos bolsos – um dichavador ²– e se virou outra vez: — Você vem Jungkook?

Eu abaixei a cabeça e me atentei para a mão que estava erguida em minha direção: — Toma.

Uma máscara era oferecida para mim pelo seu próprio dono.

A máscara do Jungkook.

— Para mim? — questionei.

— Você disse que tinha vergonha de mostrar seu rosto por causa do pequeno acidente, então... — deu de ombros. — Seus braços vão ficar cansados de segurar a blusa o tempo inteiro.

Quero chorar. Mas dessa vez de emoção.

— Obrigad... Obrigado.

Estava tão acostumado a mentir sobre meu gênero quando estou com Jungkook, que até aqui quase alimentei a farsa, em um momento de liberdade.

Eu levantei a mão para pegar a máscara e meus dedos tocaram sua pele. A primeira vez que seu corpo entra em contato com o meu. Com meu corpo.

E isso foi... Estranho.

Recolhi a mão rapidamente, constrangido, e quando ergui o olhar, encontrei o dele já atento aos meus.

Eu sorri, ainda um pouco tocado com seu gesto solidário mesmo depois de eu ter agido feito um maníaco quando dividimos a mesma cabine na roda gigante, e me senti aliviado por estar com o rosto coberto e ele não poder ver minhas bochechas se incendiando em tons de escarlate.

Por fim, ele dá uma última olhada em Taehyung, acena, quase que de um modo imperceptível com a cabeça, e segue em direção ao Yoongi para acompanhá-lo.

Quando Jungkook o alcança e passa por ele, eu noto que Yoongi está encarado em algum ponto a minha esquerda sustentando sorriso imoral e olhar lascivo, antes de se virar outra vez e sumir com o amigo em meio à multidão.

E esse ponto tem um nome e se chama Kim Taehyung.

Ah, não!

Não, não, não!

Não mesmo!

— Você quer comer alguma coisa, Young? — Hoseok perguntou ao sobrinho agora que haviam ficado sozinhos.

— Oba! Quero! Mas e o tio Kookie e o tio Yoon? Eles não vão com a gente? — Perguntou, todo inocente.

— Não. Eles foram brincar sozinhos com um brinquedo que é mais a cara deles, mas não vão demorar muito.

— E eles não estão com fome, tio Hobi?

— Ainda não, mas quando se encontrarem com a gente de novo vão estar. E muita.

— Podemos ir pedindo a comida deles de uma vez! — Sugeriu empolgado e sorridente.

— Eles vão adorar. E vamos pedir comida em dobro só para garantir porque a larica vai ser grande. — O garotinho começou a especular o que era larica, mas Hoseok o ignorou e se voltou para mim e Tae. — Querem acompanhar a gente?

Taehyung abriu a boca, mas eu fui mais rápido em responder: — Não. Muito obrigado, nós já vamos embora.

Faltou pouco Taehyung inflar as bochechas e cruzar os braços, igual ao Young: — Nós vamos?

— Vamos. — respondi firme.

— Ah, tudo bem. Foi um prazer conhecer vocês. — Hoseok sorriu simpático, lindo e maravilhoso como sempre, e apertou o enlaçar de sua mão na mão da criança. — Dê "tchau" a eles, Young.

— Tchau! — Acenou as mãos pequenininhas e abriu um sorriso fofo que lembrava muito o do Hoseok hyung. Ele deve ter uns seis anos.

Eu e meu melhor amigo acenamos de volta e em segundos estávamos apenas nós dois de novo, e eu pude respirar com alívio por, finalmente, ter sobrevivido a tudo isso.

Não me lembro de já ter tido uma noite tão agitada quanto essa em toda a minha vida.

— Jimin, agora me explica o que foi tudo isso! Até agora eu estou- — Agarrei sua mão às pressas e comecei a puxá-lo para longe com muita afobação. — Ei!!!

Eu já não cobria mais meu rosto, mas estava me certificando de dar o fora desse parque o mais rápido possível. Eu sequer olhava para os lados. Meu foco estava na porta de saída desse lugar.

— Jimin! — Tae gritou exigindo respostas outra vez.

— Lembra da garota no palco? Se lembra que eu disse que era como se eu a conhecesse de algum lugar, mas não me lembrava de onde? — Eu não me dava ao luxo de diminuir a velocidade dos meus passos. E nem deixava que Tae diminuísse.

Minha mão estava firme rodeando seu pulso.

— Sim.

— Pois então. Eu me lembrei. — Minha voz estava ofegante. — Eu já a vi antes porque ela estuda na minha faculdade, Tae! Esse parque está lotado de gente da minha faculdade! O parque é a ratoeira, as apresentações a isca, e eu o rato! Jisoo e os hyungs também me chamaram para ir a uma apresentação com eles nesse fim de semana, mas eu neguei porque queria passar com você e com minha mãe... Como não assimilei as coisas? Como posso ter sido tão burro? — Me perguntei, estressado comigo mesmo. Eu queria me socar. É claro que um evento tão grande como esse atrairia amantes da arte de todos os lugares, e isso inclui os estudantes da minha faculdade.

— Então você quer dizer que aqueles três...

— Sim. Aqueles três são Yoongi, Hoseok e Jeon Jungkook. Os três mosqueteiros, em pessoa. E não foram só os três. Eu corri em disparada para dentro daquela roda gigante porque vi Jisoo, Jin e Namjoon hyung.

Senti o corpo do Tae se enrijecer sob minha mão. Mas não me virei para olhá-lo.

— Puta merda!

— Sim. Puta merda, mesmo. E bota merda nisso. Como você não percebeu?

— Sei lá, Jimin. Eu estava tão concentrado naquele gatinho que eu-

— Não! — Exclamei bravo. — Tudo menos Min Yoongi, por favor. Tudo o que eu menos preciso é daquele Neandertal de paquera com meu melhor amigo. Além do mais, ele é hétero!

— Hétero é o meu pau! Eu fodo uma bunda se ele for hétero e você sabe como eu tenho repulsa de ser o ativo!

Finalmente enxerguei a saída do parque. Em pouco tempo já havíamos atravessado o enorme portão e já estávamos do lado de fora.

— Depois conversamos sobre isso direito. Eu não estou com cabeça agora. Já tive adrenalina demais para uma noite só. Só quero ir para casa.

— Okay. Vamos chamar o Uber na próxima esquina para não correr o risco de que alguém te veja aqui.

Soltei o braço de Tae e comecei a segui-lo, agora mais calmamente em direção a esquina, e pude sentir toda a tensão no meu corpo se esvaindo aos poucos. Eu estive à beira do abismo diversas vezes só essa noite. Que noite desastrosa, meu Deus!

Mas não despenquei. E isso é o que importa.

Acho que a partir de hoje eu vou ficar com medo de ir até na esquina da minha rua se não estiver usando uma máscara.

Falando em máscaras...

Abri minha mão que formava um punho apertado e encarei o recorte de tecido, agora um pouco amarrotado, sob os meus dedos. Era a máscara do Jungkook. A máscara que eu já o vi usando algumas vezes na faculdade.

E ele deu ela para mim. Não para a garota que ele está interessado, mas para mim. Park Jimin. O Park Jimin.

E quando me dei por mim, já estava olhando para o tecido, sorrindo feito um bobo.

— Jimin?

Distraído com o presente que ganhei, por um ato de descuido, eu me viro para trás.

Um milésimo de descuido.

Suficientes para acabar com anos de esforço.

Ele estava de pé. A poucos passos de mim. Me olhando nos olhos. E desvendando a farsa completa que eu era.

continua...

1 - Torre Sky:

2 - Dichavador: instrumento metálico ou de madeira usado para triturar o "fumo" como preparação pré-consumo, que neste caso é consumo de maconha mesmo :)

E AÍ GAROTEXXXX KKKKJK, OQ ACHARO
(agora eh a anna😎🤙🏻)

NÃO ME MATEMKSKDJFKSHDKAJSKEHEJ

gente tá uma breve explicação aí em cima sobre possíveis coisas que talvez vc não saiba (no caso eu não sabia) e aí é isso

como foi a semana de vocês docinhos????

SIGAM O JIMIN E O JK NO TWITTER
jimin: eleocjimin
jk: eleocjeon

o meu, caso queiram me fazer perguntas e interagir com a gente:
_wastmeliss e sarahlolipop_

amo vocês, perdao a demora

Pergunta da semana:

Vocês tem amigo virtual?

link do grupo no zap lá na bio!!!

#pimentinhadecabinho ☀️ no twitter!

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