combat lover ✷ l.s (a/b/o)

By spanklouis

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Harry é um alfa que gosta de se ver como um selvagem com princípios - note a ironia. É o típico cara encrenqu... More

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By spanklouis

n/a: olá preciosidades, espero q estejam bem (: me alegro que mesmo depois de tanto tempo ainda tem quem acompanhe a fic. uma leitora veio me perguntar com que frequência eu atualizaria e eu disse que no máx. a cada duas semanas, mas resolvi fazer essa exceção porque já tinha betado esse cap aqui. agora to prestes a começar a escrever o cap 17, o último ):

agradeço pelos votos e comentários e vejo vcs em breve. tenham um bom finzinho de semana. um beijo (ou mais de um caso alguém queira)

com amor, nat.

(...)

Quando Harry chegou ao Elks no sábado por volta das onze e meia, depois de uma noite tranquila de sono ao lado de Louis e um bom café da manhã, ele sabia de duas coisas: a primeira era que precisava de um banho; a segunda era que precisava procurar Zayn — não necessariamente nessa ordem. De qualquer modo, ele o encontrou estirado na espreguiçadeira, torrando abaixo do sol do meio-dia, dormindo como se o mundo tivesse acabado. Ele não era o único: havia pelo menos mais três ou quatro alfas na mesma situação. A área das piscinas era a mais próxima da portaria, e como Carl não permitiria que ninguém desabasse por lá depois da festa, ali era o local mais acessível para aquelas pobres almas bêbadas cansadas demais para se dirigirem aos devidos dormitórios. Harry não queria nem imaginar o estado em que Zayn acordaria, mas tomou seus riscos e o levou para o quarto, decidindo que almoçaria um pouco mais tarde para que pudesse se dedicar a ele.

"Você é louco, não sabe?" Harry perguntou num tom quase paterno conforme assistia de braços cruzados Zayn vomitar o estômago inteiro dentro do vaso sanitário. Ele estava chorando de tanta dor de cabeça, algo que realmente sensibilizou o alfa de olhos verdes, que eventualmente o deu paracetamol e um copo com água que realmente havia água dentro. "Diferente de você, eu sou um bom amigo, seu merdinha." Resmungou, fingindo certo ressentimento ao lembrar-se da pegadinha da noite anterior. 

"Como assim?" Zayn perguntou com a voz falha, arqueando as sobrancelhas como se não fizesse a porra da mínima ideia do que Harry estava falando. Ele tomou o remédio, fazendo uma careta arrependida, e depois engoliu metade da água do copo.

"Esquece." Respondeu, dando de ombros, colocando o copo na máquina de lavar louça. Voltou a sentar na cama e fitou Zayn por longos instantes, perguntando-se se havia mais alguma coisa que ele poderia fazer para ajudá-lo.

"Jesus, Harry." O mesmo proferiu com uma voz engraçada. "Pare de me olhar como se eu fosse seu esposo."

No meio da tarde, ainda naquele dia, Gemma ligou e perguntou se eles poderiam jantar juntos; disse que estava com saudades e que precisava conversar com ele acerca de um evento que ocorreria na mansão Styles. Harry não negou, é claro, porque também sentia saudades e estava com a consciência meio pesada depois de tê-la procurado para pedir ajuda e não ter mantido tanto contato posteriormente. Eles ficaram de se encontrar no próprio restaurante, que ficava há umas nove milhas da academia, às sete horas em ponto.

"Não vou tolerar atrasos." Gemma alertou em tom de brincadeira, mas Harry ainda assim levou a sério — gostava demais de sua irmã para deixá-la esperando. Ele saiu às seis e vinte de casa, porque queria passar no dojo e deixar um beijo em Louis. Além do mais, queria combinar com ele algo para eles fazerem no dia seguinte, no domingo. Zayn sugeriu que eles passassem o dia na praia, afinal aquele final de semana estava quente como o inferno e ir para o mar cairia bem, e ele particularmente gostou da ideia — esperava que o ômega a aprovasse também.

Não avisou quando entrou, pois sentia pelo cheiro dele que ele estava na área dos tatames, e também porque gostava de entradas dramáticas. O encontrou apenas de samba-canção fazendo flexões em um dos acolchoados, concentrado naquilo, e a visão fez Harry sentir uma fisgada na virilha.

"É uma visão do caralho," Disse, o observando atentamente. Em outras circunstâncias, teria se juntado a ele, mas aquilo teria de ficar para a próxima. "que qualquer um poderia apreciar, já que-."

"Eu sei que a porta está destrancada." Louis replicou, o interrompendo, não parando de fazer seu exercício. "Eu estava te esperando." Justificou, se jogando para o lado. Ele estava pingando de suor, o que fazia Harry querer ir até aquele maldito tatame e deixá-lo todo molhado de outra forma também. "Você está lindo." Murmurou, o observando com admiração. Harry vestia uma camiseta preta por baixo de uma camisa xadrez vermelha aberta, calça skinny e botinas; quanto aos acessórios, uma bandana verde musgo estava amarrada aos cabelos e a corrente de prata com pingente de cruz parecia brilhar em seu peito.

"Obrigado." Disse, abrindo um sorriso que logo sumiu quando se lembrou de que não poderia ficar muito. "Eu só estou de passagem, minha irmã me chamou para jantar hoje e eu parei para vir te ver." Explicou antes que Louis, que àquela altura já havia se levantado, chegasse perto demais tendo outras intenções — sabia que não conseguiria ceder caso ele o agarrasse, por exemplo. As bochechas deste mesmo enrubesceram diante de sua fala, algo que ele achou amável; em contrariedade, já no instante seguinte sentiu calafrios ao vê-lo se aproximar a passos lentos, como um maldito predador prestes a mordê-lo.

"Me pergunto se devo te abraçar. Estou todo suado." Louis disse em voz baixa, contornando os lábios de Harry com os dedos.

"Vamos para a praia amanhã?" Perguntou no mesmo tom, o puxando gentilmente para perto porque não tinha frescura. Louis começou a deixar vários beijos estalados em seu rosto e ele riu, passando as mãos pelas costas nuas e escorregadias. "Passar o dia lá, comer camarão, dar um mergulho..." 

"Posso levar minha prancha?" Perguntou, parecendo empolgado com a ideia. "Vou te ensinar a surfar." Disse, o olhando com ar de desafio e Harry riu.

"Eu vou te ensinar a surfar, Louis. Sou o rei dos mares, você não sabia?"

"Ok, Poseidon." Ele respondeu dando de ombros. "Que horas você vem?" Perguntou, tendo o olhar fixo no piercing do alfa, que até chegou a abrir a boca para responder, porém foi interrompido. "Espere, não responda. Eu amo chupar essa coisa." Ele disse antes de morder o lábio inferior de Harry e chupá-lo devagar, fechando os olhos ao sentir a textura rígida em sua boca. "Fale." Pediu, recompondo-se.

"Às sete, talvez? Precisamos sair cedo caso queiramos achar uma praia tranquila e um bom lugar para estacionar." Afirmou, sentindo uma queimação gostosa no lábio. Louis concordou. "Então está combinado," Disse, abrindo um sorriso. "agora eu preciso ir." Anunciou, vendo nos olhos do outro a relutância em deixá-lo ir. Eles trocaram um beijo rápido, sem línguas, apenas os lábios se encaixando da mesma forma perfeita de sempre. 

"Bom jantar." Desejou de maneira sincera e Harry apreciou aquilo. Qualquer outra pessoa poderia ter sido egoísta e feito o maior drama, mas não Louis — aquele garoto era ouro. "Oh, e não tome café da manhã amanhã. Vou fazer sanduíches para comermos no caminho." Ele anunciou quando eles se afastaram devagar.

"Você é demais." Falou, trocando um high-five com ele.

"Yeah, eu sei." Louis respondeu e Harry revirou os olhos por tamanho convencimento, abrindo um sorriso logo em seguida. Foi a última coisa que fez antes de sair do dojo e correr até o carro, porque, apesar de tudo, não queria chegar atrasado no encontro com sua irmã. Não ficava tão longe, mas era sábado à noite e ele com certeza enfrentaria algum trânsito no caminho, então ele literalmente correu contra o tempo.

Jane era o nome de um restaurante da rua State conhecido pelo ambiente refinado, comidas saudáveis e pelos bons vinhos. Quem escolheu foi obviamente Gemma, porque Harry passava longe daquele tipo de lugar; o achava frescurento demais e a comida parecia não sustentar, mas é claro que ele não havia o dito para a irmã — o espírito fitness dela explodiria caso ouvisse algo do tipo.

"Não é minha culpa se você não é saudável." Era o que ela sempre resmungava quando Harry a zoava por comer e beber aquelas coisas estranhas. E então ela dava uma aula sobre carboidratos e vitaminas e todo aquele blábláblá que as crianças escutam quando vão ao nutricionista pela primeira vez. Nada legal.

Ele largou o carro com o manobrista e andou a passos rápidos até a entrada, checando o relógio — eram sete horas e três minutos. Ele sentiu-se um fracassado pelos três minutos de atraso, mas deu o foda-se, pois sabia que sua irmã entenderia. A hostess que o recebeu era uma beta alta de cabelos pretos que sorria de modo profissional.

"Gemma Styles." Ele disse de um jeito talvez bruto demais e a funcionária o guiou para a mesa reservada, onde sua irmã já o esperava. Encantadora como sempre, Gemma vestia uma camisa florida, saia preta e saltos dourados; seus cabelos estavam arrumados em uma trança bem feita e, em relação aos acessórios, ela usava o conjunto de jóias que ele havia a dado de presente em seu vigésimo aniversário. "Você fica cada dia mais bonita, garota. Qual o segredo?" Ele perguntou em um sussurro conforme a abraçava com cuidado.

"Ser uma Styles." Ela respondeu, rindo graciosamente em seguida e eles se afastaram. "Você está lindo também, querido. Sente-se." Pediu e os dois tomaram seus devidos lugares, trocando uma breve conversa antes de realizarem os pedidos.

Conforme jantavam, eles conversaram basicamente sobre três coisas: cotidiano, relacionamentos e família. Mas o que Gemma realmente queria falar com ele era sobre a festa que os pais deles planejavam dar na sexta-feira, em comemoração ao aniversário de casamento deles, a qual toda a família seria convidada. Harry sacou, no instante em que ela começou a falar sobre aquilo, que o papel dela era convencê-lo a ir — algo que Anne ou Des devem ter pedido, mesmo que esse tipo de coisa fosse mais do feitio deste último, que vivia por aparências e sabia que não repercutiria bem caso o único filho homem resolvesse não comparecer à comemoração. Anne certamente sabia também, mas ela não se importava: respeitava demais os interesses e vontades de seus filhos para se importar com o resto.

"Se não quer fazer isso pelo papai ou pelos nossos parentes, faça pela mamãe. Você sabe que ela ficaria feliz." Ela disse, abrindo um pequeno sorriso em seguida. "Além do mais, é a chance perfeita para apresentar Louis para a família e deixar todos de queixo caído. Imagine a cara do tio Henry!" Exclamou, porque Henry Styles era o mais babaca de todos. Uma vez ele havia o dito que ele era uma vergonha para aquela família e que jamais encontraria alguém que se importasse com ele. Harry não tinha muitos limites na época e meteu um soco na cara dele, fazendo com que parte da família o odiasse ainda mais — não porque se importavam com Henry, mas porque era o único motivo concreto que tinham para usar como justificativa à toda aquela implicância com ele.

Harry disse que pensaria sobre o assunto, mas a verdade é que ele sequer o considerou — pelo menos naquela noite. Quando chegou ao dormitório da fraternidade, a primeira coisa que fez após se despir foi programar o despertador para cinco e meia da manhã. Tudo bem que ele havia marcado com Louis às sete, mas até ele arranjar coragem para se levantar, tomar banho e separar suas coisas, um bom tempo já teria se passado. Escovou os dentes e foi dormir, procurando descansar bem.

No entanto, o domingo dele não teve um começo tão bom assim: ele acordou suado e duro como uma pedra, pingando a pré-gozo, com uma necessidade animalesca de foder. Com os olhos semicerrados, ele se encaminhou até o banheiro e fitou a si próprio no espelho: observou uma leve alteração em suas orbes esmeraldas, pois suas pupilas estavam um tanto dilatadas, e viu que suas bochechas estavam anormalmente coradas — ainda não parecia o dia do hut, mas estava bem perto, provavelmente chegaria na quarta. Analisar a si próprio nos dias antecessores ao hut era como acompanhar a transformação de um monstro, mas ele gostava; ficava admirado com a força que a sua natureza animalesca exercia sobre seu corpo e sua mente em questão de poucos dias.

Dispensando uma punheta, pois não queria se atrasar, ele seguiu direto para a ducha e grunhiu frustrado diante do choque térmico, mas conseguiu se adaptar com rapidez. Quando desligou, escovou os dentes e deu uma penteada nos cachos. Após voltar para o quarto enrolado na toalha, vestiu-se com uma sunga, uma regata de time e uma bermuda preta; depois, esvaziou a mochila da universidade e colocou nela: uma toalha, dois protetores solares — um quase no final e o outro no mesmo estado, provavelmente pertencente a Zayn —, uma camiseta de manga comprida de tecido leve e todas aquelas coisas que ele costumava enfiar nos bolsos. Deixou de fora apenas a chave do carro e separou a prancha de surfe, largando-a próximo da mochila para que não a esquecesse. Calçou os chinelos, vestiu óculos escuros e amarrou uma bandana no cabelo, e então se viu pronto para ir.

Ele manteve-se ranzinza durante todo o percurso até o dojo, porque era assim que ele ficava quando estava com tesão; além do mais, estava faminto, algo que não ajudava muito. A porta estava trancada quando ele chegou, algo que aconteceu por volta das dez para a sete, então ele teve que recorrer à campainha. Louis demorou um pouquinho para atender, o que o fez deduzir que ele ainda não estava pronto, mas aquilo não o incomodou ao todo — o ômega aparentemente estava isento de toda aquela dose de mau humor. A ele, uma dose de outra coisa era dedicada.

Quando a porta foi destrancada, um Louis sonolento e vestido em uma regata cinza quase maior que ele deu as caras. Apesar de ambos terem mantido o silêncio quando a passagem foi cedida a Harry, uma vez que a porta foi fechada este não conseguiu controlar: prensou o ômega contra a mesma e ergueu a perna dele, encaixando-se no vão formado para que Louis pudesse sentir o quão fodidamente duro ele estava.

"Harry?" Ele proferiu num tom surpreso, arregalando os olhos pelo movimento repentino. Mordeu o lábio inferior quando Harry, sem se importar com nada, começou a cheirar seu pescoço como um fodido cão. "Você está no hut?" Perguntou baixo. Apesar do susto, Louis sentiu que o compreendia e moveu a mão até a nuca dele numa demonstração de acolhimento.  

"Se eu estivesse," Ele rosnou, chupando sua clavícula de uma forma que o fez arfar e fechar os olhos. "você já estaria gemendo para mim conforme eu te abro inteiro." Acrescentou convicto, fazendo com que um grunhido fugisse dos lábios de Louis, cujo pescoço passou a ser beijado com voracidade.

"Por Deus," Ele choramingou, puxando o cabelo dele na intenção de afastá-lo. Temia dar para aquele homem ali mesmo. "acalme-se. Nós temos um passeio para fazer, lembra?" Perguntou, procurando ser a voz da razão já que o outro agia como um maldito faminto por sexo. Harry, por sua vez, que tinha os lábios rubros e um olhar escuro e centrado, assentiu devagar, pequenos ofegos escapando de seus lábios.

"Desculpe." Ele murmurou, soltando a perna dele com cuidado, parecendo de fato constrangido por sua ação brusca. "Eu te intimidei?" Ele perguntou com nítida preocupação e Louis abriu um sorriso.

"Porra, não. Você me deixou molhado." Ele afirmou, desviando o olhar por vergonha e foi Harry quem sorriu agora, o abraçando com cautela, procurando conter-se diante do aroma avassalador que Louis emanava. "Vamos subir, estou quase pronto." Anunciou, o puxando pelo pulso.

A casa estava como sempre: organizada e limpinha. Louis não quis sua ajuda para terminar de fazer os sanduíches mesmo que ele tivesse insistido, portanto não restou a ele outra alternativa a não ser sentar no sofá e assisti-lo fazer o trabalho. Não quis puxar assunto, pois não queria sentir que estava o incomodando de alguma forma, então se dedicou apenas às suas observações. Demorou cerca de dez minutos para que ele terminasse de montar os lanches e se vestir, e então eles desceram com as coisas — Harry carregando a prancha e Louis levando a própria mochila nas costas — e fecharam tudo.

"Para qual praia vamos?" Louis perguntou quando eles já estavam no carro, com Harry pronto para dar partida.

"South Jetty." Replicou, referindo-se à praia em Ventura recomendada para surfistas intermediários. Era uma praia tranquila e com um mar propício para a prática - logo, a melhor escolha para eles. Distava cerca de uma hora e quinze de Goleta, mas Harry acreditava poder realizar o percurso em menos tempo. Já havia ido lá uma vez com Zayn, Liam e algumas ômegas que eles costumavam ficar na época.

"Yas." Louis proferiu empolgado, sorrindo para Harry, que, embora ainda se sentisse meio estranho, retribuiu sem nem pensar duas vezes. "Primeira vez que viajo com um alfa, isso soa quente." Confessou. Styles manteve o sorriso e colocou a mão livre no banco dele, que entendeu o recado e entrelaçou as mãos. Louis observou com curiosidade todos aqueles anéis a decorar os dedos longos e finos.

"Sem alfas na família?" Perguntou, porém não recebeu uma resposta. Embora tivesse o olhar fixo na direção, realizou quando Louis escorou a cabeça no puxador do cinto de segurança e passou a fitar a rua através da janela, o que o fez supor que aquele era um assunto complicado para ele. Não só isso: o fez perceber também que eles nunca haviam conversado sobre suas respectivas famílias. Um silêncio confortável foi mantido nos primeiros vinte minutos do trajeto, mas então o estômago de Harry roncou e Louis riu, apressando-se em pegar na mochila os sanduíches que fizera. Eles tiveram que soltar as mãos para que pudessem comer, mas isso não foi muito um problema; passariam o dia inteiro juntos, afinal — cinco ou dez minutos sem manter contato não mataria ninguém.  "Delicioso, Lou." Elogiou, lambendo os dedos após ter terminado o segundo sanduíche triplo. Sua bermuda e o banco do carro estavam uma bagunça de farelos, mas isso não incomodou: sentia-se até melhor agora que estava alimentado.

"E olhe o que eu comprei." Ele cantarolou, tirando da mochila uma lata de limonada da MTN Dew e, por Deus, Harry freou o carro de uma maneira tão brusca que fez eles darem um tranco. Por sorte, não havia nenhum carro tão próximo quando ele o fez.

"Puta que pariu," Ele proferiu, os olhos verdes adquirindo um brilho intenso conforme ele apanhava a garrafa de meio litro em sua mão. "Louis, você é foda demais. Você é foda para caralho." Harry sentiu vontade de parar no acostamento só para foder aquele cara — sem brincadeiras. "Obrigado, de verdade." Acrescentou, acelerando ao escutar uma buzina próxina, o que o fez perceber que o carro ainda estava parado no meio da estrada. "Eu amo essa merda."

"Eu sei." Ele riu, ajudando Harry a abrir a garrafa, já que era complicado fazê-lo com uma mão só e ele não podia mais largar do volante. "Não se acostume, é só porque seu hut está chegando." Fez questão de explicar antes que o alfa começasse a se gabar pelo mimo. "E porque, obviamente, eu sou o melhor ômega de todos." Zombou e Harry riu, dando uma boa golada em sua limonada favorita antes de responder.

"Depois desse presente, não vou poder discordar."

(...)

Não havia mais do que dois carros estacionados nas vagas em frente a praia quando eles chegaram em South Jetty. O sol brilhava radiante mesmo às oito e pouco, em compensação a brisa gélida vinda do mar tornava as coisas um tanto mais agradáveis. Quanto a isso, no entanto, Harry não poderia se importar menos: poderia estar nevando, ele só sairia dali quando Louis quisesse. Cada qual com sua mochila e prancha, eles seguiram até o coqueiro mais próximo, notando que não eram os únicos que tiveram a ideia de surfar ali; era possível ver nitidamente uma mulher e um homem competindo habilmente.

Harry já estava quase largando a mochila de qualquer jeito na areia na intenção de correr até o mar e começar a surfar também, exatamente como uma criança quando chega a uma loja de brinquedos, mas Louis apertou sua mão com força, impedindo-o.

"Protetores." Ele o lembrou num tom que soou meio paterno, levantando as sobrancelhas como se perguntasse ao alfa como diabos ele pretendia ir para o mar debaixo daquele sol sem usar protetor solar. "Ah, Harry, se não fosse eu..." Zombou, vendo como ele parecia confuso. A verdade é que Harry nem lembrava daquilo.

"Eu pegaria um bom bronze." Ele continuou em provocação conforme sentava-se e abria a mochila. Louis fazia o mesmo, mas parou apenas para encará-lo e sorrir de modo cínico.

"E um câncer de pele de brinde." Retrucou e, ok, Harry não tinha respostas para aquilo, então ele apenas bufou e pegou o protetor solar, jogando a mochila em seguida. Ele se livrou da regata, revelando o abdômen razoavelmente definido e as tatuagens que tinha em seu peitoral, e deu uma piscadela para Louis ao flagrá-lo o fitando. "Convencido do caralho." Ele resmungou. Foi o próximo a tirar a regata, embolando-a de qualquer jeito antes de enfiá-la de volta na mochila.

Eles começaram a passar o protetor solar nas pernas, braços e torso. Harry, por sua vez, aplicou o creme em camadas generosas, com empenho, já que sabia que dificilmente teria vontade de voltar e retocar depois. Ele sabia que sua teoria de merda não fazia sentido algum, uma vez que a água do mar eventualmente sugaria tudo com rapidez, mas ele não ligava. Estava ansioso para competir com Louis — a chegada do hut parecia estar aflorando seu espírito competitivo. 

"Passe nas minhas costas." Louis pediu, entregando a ele o tubo de protetor e Harry assentiu, despejando o creme nas mãos enquanto o via ficar de costas. Deslizou-as pela pele dele devagar, espalhando o conteúdo desde os ombros até o final das espinha, escutando suspiros quase imperceptíveis emitidos em retorno, algo que o fazia sorrir. "Uh, obrigado. Agora sua vez." Proferiu, voltando a ficar de frente para ele, parecendo disposto a retribuir o favor.

Harry não iria aceitar, mas algo naqueles olhos azuis o fizeram mudar de ideia, então ele deu de ombros e ficou de costas, sobressaltado-se levemente ao sentir as mãos firmes percorrendo suas costas quentes, aplicando o protetor com todo o cuidado. Naquele momento, por algum motivo, sentiu sorte por ter alguém como Louis em sua vida; nenhuma outra pessoa além de Gemma e Anne teria se importado tanto. Era um gesto simples, mas que o fez perceber daquilo.

Harry era do tipo que preferia encarar todos os seus vínculos na vida de maneira nua e crua: o único companheiro do dia-a-dia que ele tinha era Zayn, já que Liam era um pouco distante; os únicos familiares que o amavam era Gemma e Anne; o único parceiro que se importava com outra coisa além de seu pau era Louis. Alguns podiam sentir pena, mas ele próprio estava ok com aquele fato — o realismo não o entristecia, na verdade o dava até satisfação, porque todas essas pessoas listadas eram as únicas com quem ele se importava. Ou seja, seus vínculos eram todos recíprocos, ele não tinha o que reclamar.

A única verdade que o chateou naquele momento foi descobrir que Louis, de fato, surfava bem para caralho; ele soube executar de primeira manobras que Harry poucas vezes havia conseguido, deixando-o boquiaberto. Todavia, sua chateação logo deu lugar a orgulho, porque observar o pequeno ômega sumindo em meio às ondas e depois voltando com um sorrisinho no rosto era simplesmente magnífico. Surfar com ele foi um dos momentos mais memoráveis que ele já havia tido naquele ano até então.

Os dois estavam tentando fazer um aéreo, uma manobra que consistia em, como o nome já diz, voar sobre a onda, mas em todas as vezes eles acabaram caídos no mar. Os corpos deles há muito já estavam encharcados, mas eles não sentiam frio devido ao sol que insistia em irradiar sob as costas deles. Alguns outros surfistas estavam chegando aos poucos, mas estes iam mais ao fundo, levavam a coisa toda mais à sério, enquanto Harry e Louis estavam pelo lazer.

"Ok, eu desisto do aéreo." O ômega anunciou, agarrando a prancha e Harry riu, recolhendo a sua também, cansado de tentar. "Eu pertenço somente aos tatames." Sorriu, aproximando-se devagar, pois a correnteza estava tentando arrastá-lo.

"Somente aos tatames, uh?" Repetiu de modo enfático, fingindo uma careta ofendida conforme rodeava a cintura dele com o braço livre. "Pensei que eu significasse algo para você, Lou."

"Nah." Ele resmungou, formando um bico nos lábios antes de continuar. "Você só é um alfa gostoso que me leva para sair." Provocou e Harry sentiu um leve aperto no peito, mesmo sabendo que Louis estava brincando. Quer dizer, ele estava brincando, certo?! Para a sua agonia, não soube responder aquela pergunta; aquela imensidão azul diante de si — tanto os olhos dele, quanto o mar — tirava sua concentração de uma forma absurda.

"Bem," Harry proferiu numa voz profunda, o barulho das ondas nunca os abandonando. A brisa sorrateira fez com que os cabelos deles se movimentassem, mas nem tanto os fez perder o contato visual. "nesse caso... espero que você não demore a encontrar o alfa certinho que te dê chocolates e flores." Respondeu, arqueando levemente as sobrancelhas. Assistiu um sorriso se formar nos lábios de Louis antes deste rir.

"Assim você me ofende!" Ele exclamou, ruguinhas formadas no canto dos olhos. "Detesto flores. Já fica de aviso caso você resolva aparecer com a porra de um buquê no meu dojo." Retrucou, começando a andar de volta para a costa e foi a vez de Harry rir, entrelaçando a mão na dele.

"O que te faz achar que eu usaria meu dinheiro para comprar flores?" Perguntou num tom depreciativo. "E para você ainda, o que torna essa ideia terrível ainda mais absurda." Ele provocou e Louis revirou os olhos, mandando-o se foder.

Havia um pequeno restaurante na beira da praia que vendia peixes e frutos do mar, e era lá que eles garantiriam o almoço deles. Já era meio-dia e pouco e, como aquele era o horário na qual ambos costumavam almoçar normalmente, eles já estavam com fome. Pediram duas porções de camarão com batata frita, sendo uma para cada, mas não ficaram por lá; eles optaram em comer debaixo do coqueiro, onde estavam as coisas deles, pois sentiriam-se mais à vontade — era naquilo que dava juntar dois homens extremos no quesito simplicidade. Para beber, escolheram duas garrafas geladas de limonada. Louis praticamente implorou de joelhos para que Harry o deixasse pagar a conta, então ele acabou cedendo, mas deixou claro que seria só daquela vez.

"Mmm... muito bom." O lutador gemeu em satisfação ao levar o primeiro camarão até a boca após ter espremido limão sobre sua porção. Harry teve a mesma reação. 

"Yeah." Concordou, experimentando a batata frita, que estava um tanto oleosa, mas não deixava de ser boa.

"Eu nem te perguntei," Louis disse, parecendo ter lembrado de alguma coisa. "como foi ontem? Com a sua irmã." Perguntou com curiosidade e Harry sorriu, ocupado em abrir os dois sucos.

"Foi ok." Replicou, o encarando de modo singelo. "Mas não sei se ela queria conversar de verdade... acho que ela só me chamou para que pudesse me convencer a ir na casa dos nossos pais sexta-feira. É a comemoração do aniversário de casamento deles." Explicou, mordiscando um camarão periodicamente e Louis franziu o cenho, mas então suavizou a expressão e abriu um sorriso compreensivo.

"Deixe-me adivinhar." Ele disse com certa empolgação, seus lábios formando um bico ao redor do gargalo antes dele continuar. "Você também não se dá bem com a sua família." Deduziu e Harry assentiu, então os dois riram. "Yeah, sempre desconfiei. Você nunca fala deles, eu só fui descobrir ontem que você tinha uma irmã."

"Pelo visto você está na mesma." Observou com a mesma calma, não querendo parecer invasivo ou deixá-lo desconfortável. Ele não sentia ressentimento em falar sobre seus problemas familiares, mas tinha ciência de que, para algumas pessoas, aquele poderia ser um assunto delicado, então sentiu o dever de fazer uma abordagem leve. Louis, no entanto, apenas abriu um sorriso tímido, como uma criança que é pega aprontando. 

"Você primeiro." Disse, prendendo uma batatinha entre os lábios como se aquilo fosse um cigarro.

"Anne Styles, como você já sabe, é minha mãe... ela é uma ômega e trabalha como estilista. Desmond é o meu pai, um alfa diretor de uma empreiteira em Los Angeles. Tenho uma irmã mais velha chamada Gemma, ela também é ômega, e atualmente ela dirige uma academia junto com o marido dela." Explicou meio sem jeito, pois aquilo era... era estranho para ele. Nunca havia se aberto para alguém da forma que estava prestes a fazer. "Sempre quis a atenção do meu pai, ser o garoto certinho que ele sempre desejou, mas mesmo com os meus esforços o cara estava pouco se fodendo. Eu vivia naquela casa com a constante impressão de que ele me odiava, então quando eu fiz dezoito eu simplesmente... me cansei daquela merda. Foi quando eu entrei para a Universidade e para a Sigma Phi Kappa, e isso foi bom como o inferno porque eu finalmente podia viver sem dogmas, sem pressão." Revelou, fazendo uma pausa para beber suco, sorrindo minimamente ao dar de cara com o olhar atento de Louis. "Meu pai não é o único a me odiar. Meus tios e tias seguem a dele, usando o argumento de que o meu comportamento mancha a imagem da família. Meus primos... eu não sei o que eles acham de mim, na verdade, mas foda-se. As únicas pessoas na família que eu me importo são minha irmã e minha mãe."

"Essas pessoas que odeiam você vão estar na festa?" Louis perguntou e Harry assentiu devagar, temendo por um segundo aquele olhar de pantera que o outro carregava. "Oh, ótimo. Mal posso esperar para conhecê-los, quero falar mal de você também." Afirmou, sorrindo de modo irônico.

"Se você ao menos tivesse um motivo para isso." Zombou, dando de ombros.

"Eu tenho." Ele respondeu, atraindo seu olhar. "Você não me fodeu aquele dia que fomos ao restaurante." Relembrou e Harry riu.

"Você está louco?!" Perguntou assim que recuperou o fôlego. "É lógico que fodi! Foi contra a parede ainda, eu me lembro bem." Disse, lambendo o piercing ao recordar os detalhes. "Depois eu ainda te chupei." Afirmou despudoradamente, assistindo a forma violenta em que as bochechas dele coraram.

"Mas eu queria mais."

"Isso não é um problema meu. Você havia passado dos limites." Respondeu com seriedade. Eles passaram alguns minutos em silêncio, comendo sem muita cautela, pois as porções estavam realmente boas e eles sentiam fome. Harry quem terminou primeiro e, deixando de lado o prato e a garrafa de limonada já vazia, ele se pôs a observar o rapaz à sua frente e a forma cuidadosa na qual ele segurava o camarão antes de levá-lo até a boca. Uma visão adorável.

"Mãe beta, pai alfa, gêmeas alfas de dois anos, meio-irmão alfa três anos mais velho. E eu." Louis disse de modo repentino assim que finalizou a porção. Ele deu uma última golada na limonada e voltou o olhar para o mar diante deles, fixando-o nos surfistas que no momento aproveitavam as ondas altas. Harry sorriu de modo mínimo, atento. "Família classe média: meu pai era motorista de táxi e minha mãe professora. Era o bastante para arcar com as despesas, mas ainda assim pouco para uma vida de muitos luxos. Nunca fui para a Disney, por exemplo." Revelou, suas pequenas mãos entrelaçando-se sobre o próprio colo. "Ninguém estava feliz tendo um ômega na família, mas eles... me aturavam. Me colocaram nas artes marciais bem cedo justamente para que eu soubesse me defender quando fosse maior, pois eles não estavam dispostos a fazê-lo. No dia do meu primeiro cio, aos quinze, meu meio-irmão enlouqueceu; ele bateu na minha mãe quando ela tentou separá-lo de mim. Meu pai estava trabalhando, não havia ninguém para defendê-la... então eu arranjei forças para bater naquele filho da puta." Continuou, uma lágrima solitária escorrendo por sua bochecha enquanto Harry permanecia perplexo. "Quando meu pai chegou e viu tudo aquilo, ele não disse uma palavra, apenas me despachou até o o quarto mais isolado da casa e me trancou, dizendo que eu ficaria lá até meu cio acabar. Minha mãe me levava comida duas vezes por dia, nada além disso. Tive de passar meu primeiro cio apenas com os meus dedos, amedrontado, tendo a sensação de que a qualquer momento meu meio-irmão destrancaria a porta e..." Ele não terminou de falar, fazendo uma pausa para secar as lágrimas. "Quando o cio terminou, encontrei duas malas cheias na frente do meu quarto e meu pai parado em frente à porta, dizendo que não daria mais para viver com um ômega sobre o mesmo teto. Que eu era o culpado pelo descontrole do meu irmão, que a atitude dele foi compreensível, entre outras merdas absurdas."

Os punhos de Harry estavam cerrados contra a areia, seus dentes rangiam. Olhos escuros e pouca satisfação neles. Louis, obviamente mobilizado por relembrar tal história, abriu um sorriso gracioso quando olhou para o lado e o viu puto daquele jeito.

"Acalme-se, já passou." Ele disse com toda a calma. "Procurei refúgio na casa de meus mestres, um casal de idosos que sempre deixou claro que cuidaria de mim caso fosse necessário. Como agora morava com eles, eu participava de todas as aulas que eu queria quando chegava do colégio, então com isso meu amor pelas artes marciais só foi crescendo. Participei de campeonatos, comecei a participar das lutas livres... quando fiz dezoito, eles passaram tudo para mim e me fizeram prometer que levaria aquilo adiante, pois eles já estavam cansados e queriam voltar para a terra natal. Disseram que eu era o aprendiz mais apto para dar continuidade ao negócio. E assim foi." Disse emocionado.

"Oh, Lou... que história você tem." Comentou um tanto mais calmo, abrindo um sorriso reconfortante conforme se arrastava na areia para mais perto de Louis, o abraçando de lado. "Você é tão forte. Sabendo disso tudo, agora eu tenho ainda mais orgulho de você." Murmurou, fechando os olhos ao sentir o aroma dele, sentindo a mão dele encontrar com a sua. "Você teria destruído o gorila naquela noite em More Mesa se eu não tivesse aparecido." Afirmou num tom casual, a risada gostosa de Louis preenchendo seus ouvidos no instante seguinte.

"Puta merda," Ele praguejou, fungando um pouco. "você ainda tinha dúvidas?!" Perguntou e Harry riu, abrindo os olhos e se pondo de joelhos em frente a ele, o observando com atenção. Levou o dedo indicador até a bochecha dele, onde uma ou duas lágrimas ainda escorriam, e voltou a sorrir.

"Onde está Niall nessa história? Achei que vocês fossem grudados." Perguntou com curiosidade, mantendo uma carícia sutil na face macia dele, que já estava nitidamente bronzeada.

"Meus pais me colocaram naquele dojo em específico justamente por ele ser alugado do tio de um conhecido do Niall. Nossas mães eram amigas, nos conhecemos desde o jardim de infância. Não quis me mudar para lá porque não quis atrapalhá-los de alguma forma... eles também não tinham muito dinheiro, ficaria apertado manter eu e Niall, mas em compensação a amizade delas foi destruída depois disso. Maura ficou estarrecida pelo fato de minha mãe não ter se oposto em me largar." Afirmou, fazendo carinho em sua mão. "Minha família e eu nunca nos falamos depois daquilo, mas fiquei sabendo que eles se mudaram para Santa Monica. E que meu meio-irmão foi preso depois que destruiu a vitrine de uma loja dirigindo embreagado."

"Karma." Harry disse e ambos sorriram. "Você reformou o dojo depois que os cuidados foram passados para você?"

"Uh, yeah. A estrutura de antes era a de um centro de treinamento, sabe? E eu queria algo mais simples, mais clássico... um dojo. Fechei por alguns meses para reformar, já que eu tinha um dinheiro guardado das lutas e dos campeonatos, e mudei tudo. Fiz minha casa do jeito que eu queria, estudei formas de me aprimorar." Revelou e Harry abriu um sorriso talvez grande demais.

"Você fala japonês?" Perguntou e Louis enrubesceu.

"Um pouco." Sorriu de modo tímido. "É bom falar sobre isso com alguém,  obrigado por ter escutado." Proferiu, acariciando um dos anéis de Harry, que suspirou.

"Digo o mesmo. Você está muito melhor sem eles, e eu estou muito melhor sem meu pai. Não acho que chegaríamos onde estamos hoje caso ainda tivéssemos de aturá-los." Opinou e Louis o encarou, interessado por aquele ponto de vista. "Você talvez nunca teria um dojo e eu, tentando agradar meu pai, talvez estaria preso em algum escritório arrumando mão-de-obra para a construção da porra de um prédio." Falou, revirando os olhos de desgosto só de pensar na possibilidade.

"Você ficaria gostoso de terno." Observou, sorrindo de lado e Harry riu.

"Talvez." Disse, cutucando o piercing em seu lábio inferior com a língua. Eles descartaram as garrafas e os pratos na lixeiras mais próximas e em seguida retocaram o protetor solar, pois ambos sentiam o corpo queimar por conta do sol ardido. Harry até quis voltar logo para o mar surfar, porém Louis o puxou e disse que eles deveriam esperar mais um pouco, alegando que o sol estava muito forte e que eles deveriam esperar a digestão, então eles voltaram a se sentar abaixo do coqueiro, onde uma sombra gostosa os protegia. Para a surpresa de Harry, o ômega se arrastou até o colo dele e sentou ali, pousando as mãos sobre as andorinhas tatuadas em seu peito. "Não era você que tinha uma decência a manter e jamais beijaria alguém em público?" Harry perguntou, repetindo as palavras ditas pelo outro quando eles estavam indo embora do Opal Restaurant & Bar. As mãos dele voaram até a cintura do outro, apalpando-a devagar, e seus lábios se curvaram em um sorriso ao notar o suspiro quase inaudível que Louis deixou escapar.

"Vamos lá, aquele dia nós estávamos no meio da rua." Disse num tom zombeteiro, abrindo um sorriso de lado. "Aqui não tem ninguém." Afirmou num tom de superioridade, porque de certo modo não tinha mesmo; os surfistas, que daquela distância não passavam de miniaturas em meio ao mar brilhantemente azul, estavam concentrados demais em executar o esporte para se dar ao luxo de prestar atenção no que eles estavam fazendo. 

Sem ao menos dar uma resposta, Harry tomou os lábios dele e deu início a um beijo vagaroso, mas ainda assim quente, que começou apenas com o movimento ritmado dos lábios, mas logo se aprofundou. A língua do alfa adentrou a boca de Louis lentamente, como se não a conhecesse, e começou a explorá-la; conforme o fazia, seu lábio inferior foi puxado e sugado, o que o fez grunhir. Ao que parecia, Louis tinha uma coisa pelo seu piercing.

Harry não quis movimentar muito as mãos, porque sabia que seria difícil parar por ali, mas em compensação Louis não parava de se mexer em seu colo, tornando extremamente fácil a formação de uma ereção. Sua respiração começou a ficar acelerada e ele sentiu o corpo esquentar ainda mais, algo que o levou a quebrar o beijo e tombar a cabeça levemente para trás, encostando-a com cuidado no tronco do coqueiro. Louis sorriu ciente dos efeitos que causava e aproximou o rosto do pescoço dele, depositando beijos úmidos no local.

"Pare." Harry pediu num tom vacilante, pressionando a cintura do ômega com um pouco mais de força, pois precisava de algo para descontar seu tesão. Ele não queria que Louis parasse, mas também não queria ficar descontrolado. "Quando você entrou no cio, eu não fiquei te provocando." Relembrou, fechando os olhos ao sentir um chupão sendo deixado em seu pescoço. Pelo o que ele se lembrava, aquele local em específico era o mesmo que ele já havia marcado no dia de seu encontro com Gemma, o que o fez concluir que Louis estava destacando-a novamente.

"Use seu tom sério comigo," O ômega pediu ao tomar distância de seu pescoço, parecendo ofegante. "me mande parar." Complementou, esfregando-se minimamente em sua virilha e Harry rosnou baixo, sentindo o coração bater rápido. 

"Então agora você quer ser dominado, uh?" Perguntou devagar, segurando o rosto dele para que pudesse mantê-lo de frente para o seu. "Te deixo molhado quando dito as regras?" Questionou com certa ironia, assistindo com prazer um arfar audível escapar daqueles lábios finos e rosados dele. "Eu já falei o que eu quero. Cabe a você decidir se vai me obedecer ou não." Proferiu, o analisando minuciosamente — aquele ômega era uma obra de arte.

"Por que você tem que ser sempre tão sexy?" Perguntou baixo, massageando os ombros de Harry. Suas pupilas estavam dilatadas e as bochechas, rosadas, com uma fina camada de suor podendo ser notada sobre a face. A Califórnia podia ser quente, mas Harry e Louis quando juntos queimavam como o inferno. "Tão imponente."

"Você é igual." Afirmou, pressionando os lábios contra o de Louis em um selar singelo, sentindo-o derreter-se com o seu toque. "Gosto de você," Murmurou próximo do ouvido dele, descendo a mão que até então estava segurando o rosto dele até o pescoço, aplicando naquela região carícias lentas. Em resposta ao toque, sentiu seus ombros serem apertados com mais força, o que o fez abrir um rastro de sorriso. "do jeito em que você é todo atrevido e independente e adora competir comigo sobre quem é o mais fodão." Complementou, raspando o piercing no lóbulo dele, obtendo um suspiro trêmulo em retorno. "E do jeito em que você se excita tão fácil."

"Eu não me excito fácil." Louis tentou inutilmente se defender. O peito dele subia e descia com rapidez, resultando numa respiração entrecortada. 

"Ok. Vamos checar." Disse, alcançando o cós da bermuda dele, mas Louis se afastou de modo abrupto, pondo-se de pé.

"O mar nos espera." Proferiu ofegante, apanhando depressa a prancha que o pertencia para fugir da constatação. O contorno de sua ereção era notável através do tecido da bermuda, e isso fez Harry rir antes de se levantar e pegar a prancha também. Trocando um olhar cúmplice e com as mãos livres tocando-se minimamente, eles caminharam de volta para o mar.

Ambos arriscaram ir mais fundo, onde era possível pegar ondas mais rápidas e maiores, e é possível dizer que eles começaram bem — poucos erros e manobras boas. Eles logo notaram que havia um surfista aparentemente alfa meio que competindo com Harry, pois pegava as mesmas ondas e, quando acertava, ficava encarando-os com pouca humildade. Parecia como um daqueles riquinhos de Los Angeles loucos por atenção.

"Que porra há de errado com aquele cara?" Harry perguntou para Louid num tom irritado, olhando para o alfa desconhecido com os olhos semicerrados. "Ele está tentando te impressionar?" Questionou, não muito contente com a teoria. Não que ele não confiasse no próprio taco, mas ter de lidar com um alfa esnobe em pleno pré-hut intensificava a raiva dentro de si de uma maneira não tão controlável. 

"Deixe para lá." Louis proferiu num tom tranquilo, segurando-o pelo pulso com leveza. Ele tinha força o bastante para colocar muito mais pressão naquele aperto, mas sabia que não era necessário, pois Harry o ouvia — bem, na maior parte do tempo. "Ele só quer sua atenção."

"Ou a sua." Replicou, encarando os olhos de lápis-lazuli ao seu lado. Ao descer o olhar, reparou que a água batia na metade das coxas do ômega, fazendo com que a bermuda grudasse na pele dele, salientando-as.

"Quer que eu vá tirar satisfações?" Perguntou da forma mais natural possível e Harry não conseguiu conter um sorriso. Permitir que um ômega que o acompanhava fosse comprar briga com um alfa bem na sua frente deveria parecer a coisa mais absurda para ele; era algo que feria diretamente seus princípios e instintos. No entanto, naquele momento, ele não sentiu aquilo: a ideia não parecia tão ruim quando o ômega em questão era Louis, um cara que passou cinco anos tendo de se virar sozinho. A situação o fez ponderar se alfas — ou betas — que tinham como parceiros ou parceiras ômegas lutadores sentiam-se da mesma forma.

"Deixe para lá." Respondeu, indo atrás da prancha à deriva, vendo de relance um sorriso nascer nos lábios de Louis.

Acompanhados pelo mar e pelo sol escaldante, ambos divertiram-se imensamente naquela tarde em South Jetty. Surfaram na maior parte do tempo, mas então se cansaram e voltaram para a areia, onde esticaram as toalhas que haviam levado e, lado a lado, tomaram um banho de sol e eventualmente caíram no sono — deixando as mochilas e as pranchas sem vistoria, mas eles não carregavam nada de valor mesmo. O celular de Harry era pequeno e desatualizado, servia apenas para mandar mensagens e fazer ligações, e Louis... ele  ao menos tinha um; não por falta de condições e sim por preferência. O carro estava no seguro, ambos tinham cópias das chaves de casa, não havia muito dinheiro nas carteiras. Apesar das condições econômicas distintas, os dois tinham hábitos simples e talvez fosse por isso que viviam tudo de modo tão intenso — nada de frescuras ou superficialidades, apenas a vida como ela era. Em outras palavras: foda-se se alguém decidisse furtá-los.

O sol já estava se pondo quando Harry despertou. A brisa morna e gostosa parecia ter dado lugar a algo um tanto mais frio, algo que o fez estremecer, e seu primeiro instinto foi olhar para o lado — já que até então ele estava de bruços — e verificar se Louis estava bem. O que encontrou foi um verdadeiro anjo: também de bruços, o ômega dormia serenamente, o peito subindo e descendo devagar, os lábios levemente entreabertos e os cílios projetando sombras nas olheiras quase imperceptíveis. Ele estava arrepiado, embora, tornando claro que também era uma vítima da mudança de tempo. 

Sonolento, Harry se sentou devagar, notando que, yeah, eles estavam definitivamente sozinhos agora — o mar estava um tanto agitado, perfeito para pegar boas ondas, mas ele estava esgotado. Só acordou porque havia esfriado. Ele levantou e recolheu a toalha, sacudindo-a para afastar os grãos de areia, e embolou-a em torno do braço conforme se agachava ao lado do corpo adormecido de Louis. Ele parecia estar dormindo tão gostoso, Harry até sentiu dó por ter de chamá-lo, mas eles precisavam ir embora.

"Loueh." O chamou num tom razoável, levando a mão até o ombro dele, cutucando-o. Obteve um grunhido incomodado em retorno. "Hora de ir embora." Afirmou, mantendo-se próximo para caso precisasse repetir o gesto. Como não observou nenhuma reação, cutucou-o novamente com um pouco mais de firmeza. Ele definitivamente não dominava a arte de se acordar alguém com sutileza, afinal ele era impaciente e bruto; a única pessoa que ele precisava acordar de vez em quando era Zayn, e com ele era tudo sobre socos e berros. Com os ômegas com quem já havia se relacionado antes, bem... ele não os acordava — apenas ia embora e voltava para a próxima foda sem cerimônias.

"Vá se foder, Harry." Ele resmungou de modo arrastado, abrindo os olhos devagar e o alfa bufou.

"Finalmente. Obrigado." Disse com sarcasmo, voltando a se levantar. Aproximou-se da mochila e a tomou nos braços, abrindo-a sem muita delicadeza, e dela pegou: sua camisa de manga comprida, a regata de time e a outra bermuda que havia levado. "Ponha." Mandou, jogando a camisa na direção de Louis, que estava sentado na toalha olhando para o céu. 

"Eu trouxe outra regata." Disse um tanto desnorteado, sem desviar o olhar do pôr do sol.

"Legal," Replicou com pouco caso, tirando a bermuda que usava. "mas esfriou." Afirmou, finalmente atraindo o olhar de Louis para si. Este, por sinal, arregalou os olhos ao encontrá-lo só de sunga, prestes a vestir a bermuda seca. O que estava o levando a trocar era o fato de que a outra ainda estava úmida, grudando em suas pernas, e ele sentia um desconforto enorme usando roupas molhadas — além do mais, dirigir com aquilo seria ruim, pois tornaria o couro do banco escorregadio e o deixaria incomodado pelo resto do percurso.

"Por que você não ficou só com ela antes?" Perguntou com tanta indignação que era como se Harry tivesse cometido o pior dos piores crimes.

"Tenho vergonha." Replicou, ajustando a bermuda no corpo e Louis riu.

"Seria adorável se não fosse mentira." Afirmou e Harry abriu um sorriso de lado. Em menos de dez minutos, os dois já estavam dentro do carro, com as pranchas devidamente guardadas no porta-malas e as mochilas no banco de trás. "Você se importa se eu dormir?" Ele perguntou quando o carro deu partida, bocejando ao final.

"Fique à vontade." Anunciou, dando de ombros, o olhando de relance apenas para presentear os olhos com a visão que tinha: Louis vestido com a sua camiseta de manga comprida que ficou um tanto maior nele e uma bermuda azul justa. "Te chamo quando chegarmos." Afirmou, recebendo um breve aceno em resposta. "Vou ligar o rádio, ok?" Perguntou num tom sutil. Não gostava de dirigir no total silêncio, mas também não queria atrapalhar o sono de Louis.

"Lembre-se de que eu sou só um passageiro." Respondeu com bom humor, permanecendo de olhos fechados. "O carro é seu, você quem manda."

"Ok." Disse no mesmo tom, ligando o rádio, diminuindo um pouco o volume. Cinco minutos depois, pôde escutar o ressoar lento de Louis ecoando pelo carro, algo que o fez menear a cabeça em negação e abrir um pequeno sorriso.

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