Sempre sua Garota [✓]

By ars_amanda

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🏆 OBRA VENCEDORA DO WATTYS 2021🏆 A vida de Lennon Clarke tomou um rumo inesperado ao ser traída por seu fut... More

SEMPRE SUA GAROTA
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prĂłlogo
parte Ășnica| sua garota
01| antes | ele
02| agora | nĂŁo volte
03| antes | nĂłs e mais dois
04| agora | lar doce lar
05| antes | elas
06 | agora | feridas
07 | antes | quase
08 | agora | medos
09 | antes | idiota
10 | agora | em queda
11 | antes | aposte em nĂłs
12 | agora | minta por amor
13 | antes | sem arrependimentos
14 | agora | as coisas que ignoramos
16 | agora | em colisĂŁo
17 | antes | estou bem
18 | agora | vida nova
19 | antes | nĂŁo estou bem
20 | agora | verdades nunca ditas
21 | antes |Ă© melhor assim
22 | agora | Ășltimas palavras

15 | antes | estamos bem

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By ars_amanda

BOSTON, USA
FIM DO VERÃO

Agarro a toalha molhada sobre a cama, não ignorando o emaranhado de lençóis sobre o colchão de molas. Digamos que John Avery não era o sinônimo de organização.

— Viu meus óculos, amor? — aquele grito passa pela porta, distante.

Minha mente começa a trabalhar em busca da última vez que tinha esbarrado com aquele acessório – e não fosse suspenso no rosto do meu marido -, mas são meus olhos que antecipam-se a minha mente e encontram a armação preta com lentes transparentes apoiada em uma pilha de livros no criado mudo ao seu lado da cama.

— Estão aqui — anuncia em plenos pulmões.

Rumando em direção ao pequeno banheiro dentro daquele quarto de casal. Os ladrilhos brancos davam um ar vintage para o ambiente com uma banheira branca velha circuncidada por uma cortina de bolinhas – escolha do Avery -, estava chegando à conclusão que meu marido tinha algum fetiche por bolinhas.

Nossa vida de casados era como qualquer outra, rotineira, bagunçada, com horários confusos e prazos que ás vezes fazia-nos desencontrar. Mas sabe uma coisa que não tinha diminuído naqueles meses? O amor. A paixão. Pareciam intactos.

Meus pensamentos são arrebatados por uma forte fisgada na região da minha bexiga. Aperto minhas pálpebras, tragando uma saliva amarga, meus dedos envolvem com força o tecido de algodão ainda em minhas mãos.

Droga

Resmungo mentalmente com aquela dor que assemelhava-se a agulhas sendo enfiadas nos meus ovários. Tinha cólica em meus períodos menstruais, mas esse mês, além do meu ciclo ter se tornado confuso, as cólicas haviam tornando-se nauseantes, quase uma tortura proporcionada pelo meu corpo.

Sopro o ar entre meus lábios que o expelem como se tivessem tentando apagar uma vela ou algo parecido.

Alivia

A fisgada diminui

Diminuiu

Some, deixando apenas uma sensação estranha.

— Está tudo bem? — aquele questionamento vem do outro cômodo.

Meus olhos alcançam a figura masculina, já usando seus óculos negros, encarando-me parado a poucos passos de distância da porta que nos separava.

Aceno positivamente.

— Coisa de mulher — resumo em poucas palavras mais um período do meu mês como mulher.

Nada.

Avery não esboça nada. Seus olhos vagueiam sobre mim, seus globos oculares analisam meu corpo, dos pés à cabeça, como se buscasse algo evidente ou saliente a quaisquer olhos.

Finalmente sua cabeça movimenta-se milimetricamente, como se dispensasse explicações ou não quisesse ouvi-las. Mas ao invés de abandonar o cômodo, ele aproxima-se, recostando seu corpo no batente da porta e cruzando os braços na altura do seu tórax, enrijecendo a musculatura dos seus braços sobre a camisa branca.

— Lennon — meu nome sai sério por entre seus lábios — Devo me preocupar? — seus dedos coçam sua nuca, acentuando seu ar confuso — Não entendo nada sobre essas coisas de mulher.

Meus lábios se comprimem em uma linha reta enrijecida, apenas para não tornar-se um sorriso que escapa por entre as minhas narinas.

Pois tudo o que eu não queria estava acontecendo, e estava discutindo meu ciclo menstrual com meu marido, que deveria apenas se preocupar com aquele fato como um período em que não poderíamos ter relações sexuais, não que ele não achasse outras formas para divertimo-nos.

Finalmente não sinto mais nada.

Giro meus calcanhares sobre a lajota, dando o destino final adequado para a toalha em minhas mãos: o cesto de vime ao lado da pia.

— Estou bem — murmuro —Está tudo bem, dentro do normal—garanto, esbarrando meus olhos no reflexo do espelho suspenso na parede — Não se preocupe.

Um alto reflexo, de madeixas negras desalinhadas divide o pequeno espaço do espelho comigo. Não ignoro seus dedos que repousam em meu abdômen, com delicadeza, como se temesse me machucar.

— Eu estou aqui — seus lábios balbuciam — Se precisar, ou quiser conversar.

Estreito meus olhos em sua direção, não conseguindo conter a provocação que queimava em meus lábios.

— Estará? — sua cabeça acena positivamente diante do meu questionamento — Vai aceitar tomar litros de sorvete e assistir filmes românticos — seus lábios maneiam-se, mas logo se selam em um claro sinal de arrependimento — Promete me aguentar chorando por um casal da ficção que não ficou junto?

Seus olhos me encaram, enquanto seus lábios permanecem fechados.

— Você é minha esposa nos bons e maus momentos — pondera — Até quando sou obrigado a tudo isso.

Rio. Gargalho. Meu peito oscila sob a camiseta cinza.

— Até quando tiver cena de homem pelado? — arqueio meu cenho, o desafiando diante das reclamações do último filme que assistimos juntos.

Certamente assistir Cinquenta Tons de Cinza com Avery não foi uma escolha sensata. O homem reclamou o filme inteiro. Achou defeitos em cada cena. Além de tirar o romantismo da história inteira e resumi-la como algo abusivo.

Foi engraçado. Mas pelo lado romântico foi melhor assistir com a Isobel e seus suspiros apaixonados.

— Nos bons e maus momentos — seus lábios resumem.

Não contenho minha risada decrescente. Seu tórax cola nas minhas costas, acolhendo meu corpo, fazendo-me sentir uma segurança protetora. Meus lábios se calam.

Uma das laterais dos seus lábios se elevam, em um encantador meio sorriso que faz meu coração palpitar fortemente. Me apaixono novamente. Não sinto nenhuma sombra de dúvidas, apenas certezas.

— Você é a minha esposa — garante — Suas dores e preocupações são minhas também — me derreto com aquelas palavras, em um sorriso bobo que resplandece em meus lábios pintados de vermelho — E amo até seu gosto duvidoso para filmes.

Mostro meus dentes, em um sentimento de gratidão.

— Sorte a minha de ter sido presa no mesmo dia que você.

Sua cabeça acena positivamente, curvando a outra lateral do seu lábio, naquele contagiante sorriso fácil.

— Sorte a minha — meus olhos acompanham o movimentar da sua cabeça, que planta seus lábios da curvatura do meu pescoço, estremecendo meu corpo — Tenho que ir.

Aceno positivamente. Suas mãos apressadas obrigam meu corpo a girar-se dentro do mesmo metro quadrado, apenas para que nossos olhos pudessem se encontrar e seus lábios tomar os meus em um beijo suave, lento. Um contato cheio de amor.

Suas mãos alcançam meu rosto, encaixando-se em meu maxilar, um gesto que permite seus lábios abandonarem os meus e tocarem o topo da minha testa em um gesto carinhoso. Minhas mãos espalmam-se em seu tórax, meus dedos fincam-se contra a musculatura do seu corpo.

— Vou trabalhar até tarde — anuncia.

Maneio a cabeça, processando aquela informação.

— Então te espero aqui, em casa — sugiro.

— Feito — meu marido não pestaneja.

Parecendo relutante em me deixar, apenas permitindo que seu polegar acariciasse minhas bochechas e seus olhos afundassem em minha figura. Minhas palmas empurram seu corpo.

— Você está atrasado — recordo, tentando expulsa-lo gentilmente.

Seus lábios se contorcem contrariados, antes de suas mãos abandonarem meu rosto em alguns passos.

— Está bem — Avery me dá as costas, aproximando-se do batente da porta.

Seus pés param, sua mão sustenta seu indicador ereto no ar, como se tivesse esquecido de algo, seus pés giram, refazendo seus passos.

— Só mais um beijo — anuncia, arrancando uma suave risada humorada do meu interior.

Novamente suas mãos envolvem meu rosto, apenas para permitir que seus lábios tocassem os meus, sem pressa. Demoradamente. Sua testa repousa contra a mim, permitindo que suas avelãs penetrassem meus olhos.

— Eu amo você — sussurra, não como se eu precisasse saber, mas como se ele precisasse ouvir.

— Eu também — minha resposta resplandece um sorriso capaz de iluminar todo o ambiente.

Satisfeito, sua cabeça se afasta e seu indicador acariciam a curvatura do meu nariz, antes de seus sapatos de couro girarem sobre o piso e suas costas sumirem pela porta.

O latente calor naquele ambiente era inegável, os murmúrios das pessoas que transitavam umas entre as outras, quase sempre equilibrando algum objeto quente nas mãos, era uma melodia cotidiana, que eu amava.

Meus dedos sustentam uma colher em direção aos meus lábios que sugam o suave e aromático molho, minhas papilas gustativas dançam felizes. Descarto o utensilio em uma vasilha ao meu lado. Satisfeita desligo o fogo.

— Candice — chamo a moça de cabelos negros, presos em um lenço, seus olhos gentis e atentos feito uma águia alcançam minha figura — Você atende o molho.

Esfrego minhas mãos suadas no pano de prato pendurado na alça do avental amarrado em torno do meu quadril. Em passadas largas desvio de alguns colegas, alcançando a enorme bancada limpa e livre, com um pequeno varal suspendendo alguns pequenos papéis, as comandas do dia.

— Eu assumo — anuncio para o homem magrelo, trajando calças negras, camisa branca e um colete da cor das suas calças, o garçom mais experiente daquele lugar que sempre me cobria quando precisava cuidar de alguma coisa na cozinha — Obrigada Pietro.

Seus lábios se curvam gentis, assim que suas mãos agarram a bandeja reluzente de inox.

— Sempre que precisar chefe.

Meus dedos ágeis arrancam um dos papéis, meus olhos ligeiros passam pela caligrafia pouco desenhada.

— Um prato de vieiras com legumes grelhados — canto a comanda.

— Sim chefe — o coro vem de um conjunto de vozes responsável por aquele prato.

E assim a manhã transcorre, entre pratos, comandas, comidas, poucos desastres e muita satisfação, alcançamos quase o começo da tarde, quando finalmente Pietro anunciou que restava apenas um cliente no salão, o último pedido do almoço: frutos do mar com purê de cenoura e um pedaço da nossa Ópera, de sobremesa.

— Chefe — o garçom de meia idade chama minha atenção.

—Sim?— murmuro, riscando a última comada do dia.

Ele nada responde, obrigando meus olhos a se afastarem da tarefa cotidiana e encontrar suas írises negras.

— Tem um cliente solicitando a sua presença — anuncia — Disse que tem algo estranho com o prato de frutos do mar.

Estreito os olhos, curiosa, não era incomum clientes reclamarem, mas sabia a qualidade da minha comida, bem como a habilidade da minha equipe, já tinha encarado reclamações, de até por uma carne mal passada, até pela falta de sal, mas fazia algum tempo que não era solicitada no salão do Leminski.

— Está bem — murmuro, abandonado o objeto cilíndrico.

Sem pressa, levo meus dedos até o laço que prende o avental em meu corpo, o desfazendo com um simples puxar da ponta do tecido. Agarro o objeto colorido e o apoio na bancada outrora repleta de pratos que chegavam e saiam. Agradecida, abro os primeiros botões do meu dólmã branco, sentindo o refrescante ar alcançar meu pescoço e secar algumas gotículas de suor acumuladas devido as horas em um ambiente fechado e cheio de combustão.

Empurro a porta dupla que abre-se com facilidade, meu corpo atravessa com a mesma facilidade com a que meus pés alcançam o enorme salão claro, com mesas de madeira posicionadas estrategicamente e aconchegantemente.

Meus olhos não demoram a se deparar com uma figura masculina, alta, cabelos castanhos e pele clara sentada em uma mesa posicionada no centro daquele lugar.

Me aproximo.

— Boa tarde — curvo os lábios a medida que as palavras são expelidas — Em que posso ajudá-lo?

O homem com o corpo relaxado no assento estofado me lança uma expressão rude, que acentuam suas grossas sobrancelhas que unem-se em um vinco de reprovação. Suas mãos dançam no ar, seus lábios crispados são o preludio de algo desagradável, podia sentir em meu estômago vazio que se revirava nauseado.

— Como você podem servir isso? — suas mãos outrora no ar, dançam em direção ao prato praticamente vazio, com os talheres repousados ao lado.

Pisco algumas vezes confusa.

— O que há de errado com a comida senhor? — questiono na minha melhor postura de seriedade.

E para a minha surpresa os lábios do homem loiro se desmancham em um largo sorriso, que aumenta minha confusão. Estreito meus olhos confusos em sua direção, meus lábios se maneiam em silêncio.

O homem gargalha animado.

Esse é maluco

Não ignoro o pensamento que passeia pela minha mente.

— Isso está maravilhoso — suas palavras são acompanhadas do arrastar da cadeira sobre o revestimento de porcelanato.

Estáticos meus olhos observam a figura alta e imponente do homem que se aproxima, agarrando meus ombros e plantando dois beijos em minhas bochechas – um em cada bochecha -, enquanto meus olhos limitam-se a piscar, ajudando minha mente a processar tudo aquilo.

— Você tem que vir trabalhar comigo — anuncia, quase como se a decisão não fosse passível de discussão.

Meus lábios maneiam, ameaçando produzir algum som, mas sua mão é mais rápida em se interpor diante dos meus olhos, e seu indicador ereto balança-se acentuando suas palavras.

— Não aceito um não como resposta.

Esvazio meus pulmões, sentindo-me encurralada. Ao mesmo tempo que sentia-me lisonjeada pelo reconhecimento do meu trabalho, não podia ignorar a frustração pela resposta que estava preste a dizer a aquele homem.

— Já tenho um emprego aqui — anuncio o obvio, tentando recusar a oferta gentilmente.

Em outra época da minha vida teria arrancado o avental do meu corpo, pegado minha mala e perguntado aonde iríamos. Mas tudo tinha mudado. E essas pequenas aventuras pertenciam a uma mulher solteira, livre, desimpedida, que só tinha um pai e uma irmã em casa a sua espera.

— Pago o dobro do que você recebe aqui — sua postura continua inabalável.

Uma risada resfolega por entre as minhas narinas. Maneio negativamente a cabeça.

— Não é por dinheiro — elevo os ombros tentando sustentar meus argumentos.

Seus lábios comprimem-se em linha reta. Sua mão alisa suas madeixas castanhas claras alinhadas para trás. Enquanto sua cabeça balança ponderando aquela informação.

— Você terá total liberdade no cardápio — insiste.

Maneio negativamente a cabeça, crispando os lábios.

— Desculpa — murmuro.

O homem sopra o ar com força por entre seus lábios.

— Sério? — suas palavras saem frustradas — Não estou acostumado com uma mulher me dizendo não.

Não sei se suas palavras são uma advertência ou um aviso. Mas tinha a absoluta certeza de que um homem como aquele, bem penteado, trajando roupas de marca, porte atlético, não estava acostumado a receber um não.

Seus ombros dançam impotentes no ar.

— Está bem — murmura com certo desgosto — Vamos começar de novo — e em um tom mais brando ele sugere, estendendo sua mão em minha direção — Sou Tobias Pullman, um cara que adora abrir restaurantes pelo mundo e precisando de um chefe para o meu mais novo bebê.

Curvo os lábios, sem mostrar os dentes, estendo minha mão, sentindo o calor da sua pele ao tocar a minha, seu aperto é forte, firme, impactando meu interior que não consegue desdenhar aquele homem.

— Lennon Clarke — me apresento.

É a vez dos seus lábios resplandecerem um enorme e contagiante sorriso.

— Eu sei — orgulhosos seus lábios proferem — E esperava que você não recusasse a minha proposta.

Comprimo meus lábios em sinal de impotência.

— Agradeço o interesse — murmuro — Mas meu lugar é aqui.

Sua cabeça maneia aleatoriamente.

— Espero que pelo menos me dê a oportunidade de assistir ao seu trabalho.

—Finalmente o dia acabou — anuncia Candice.

Um comentário que não ignoro, nem o prazer que aquelas palavras proporcionam ao meu exausto corpo.

— Pode deixar que apago as luzes — dispenso uma das únicas duas outras pessoas presentes no grande ambiente da cozinha — E fecho tudo.

Tanto a mulher como o outro homem – um assistente – não pestanejam. Me deixando sozinha naquela noite de verão chuvosa. Agora sozinha não conseguia ignorar as gotas que caiam sobre a cobertura do pequeno restaurante, uma melodia agradável.

Sem pressa nenhuma observo o ambiente ao meu redor, tendo a certeza que tudo estava no seu devido lugar. Caminho em direção ao salão, empurrando a enorme porta dupla, me deparo com as largas e grandes janelas por onde escorrem as gotas de água silenciosas.

Caminho para trás do enorme balcão do bar, apesar da minha avantajada altura, fico na ponta dos pés para alcançar o interruptor na parte superior do bar. A luminosidade do ambiente diminui.

Um sonoro barulho faz com que meus pés choquem-se com o piso, enquanto meus olhos vagam pelo ambiente, não conseguindo ignorar meu coração que dispara tenso.

O barulho se repete.

Volto a procurar.

Novamente o barulho se repete de forma mais insistente.

Finalmente meus tímpanos identificam o som de algo batendo contra o vidro.

Meus olhos correm em direção aos enormes vidros que não proporcionavam qualquer privacidade, apenas para encontrar a figura de um homem praticamente colado no vidro. Estreito meus olhos.

Avery

Toda a tensão se esvai com um simples soltar do ar, assim que identifico a figura através das gotas da água. Desfaço meus passos, mantendo meus olhos estáticos na figura masculina com as madeixas molhadas e caindo sobre os seus olhos.

— Seu maluco — grito lá de dentro.

Sua mão se espalma no ar, detendo meus pés obedientes, que paralisam meu corpo apenas para que meus olhos pudessem contemplar ele desenhar no ar com as pontas do indicador um coração.

O meu coração palpita.

Me apaixono mais uma vez naquele dia.

Aceno negativamente diante do seu gesto romântico. Não conseguindo ignorar o sorriso fácil tatuado em seus lábios. Sua cabeça balança sugestivamente para o lado. Pisco algumas vezes até compreender que ele estava indicando a porta que nos separava.

Apressados, meus pés alcançam permitindo que meus dedos alcançassem a chave ainda suspensa na fechadura, as dobradiças são silenciosas quando uma pequena fresta se abre, dando passagem para o corpo molhado do meu marido.

— O que você está fazendo aqui, seu maluco? — não contenho o comentário.

Assim como ele não deixa de sustentar o sorriso cativante em seus lábios. Suas mãos penteiam para trás suas rebeldes madeixas molhadas, deixando sua testa amostra.

— Senti saudades — e as palavras me atingem com uma naturalidade absurda.

Uma naturalidade que não me permite repreende-lo por aquele gesto, ainda mais porque tínhamos combinado nos encontrar em casa.

— Sentiu saudades? — arqueio meu cenho, repetindo suas palavras.

Sua cabeça acena para cima e para baixo, enquanto seus pés molhados afundam-se em minha direção e suas mãos estendem-se ameaçando me agarrar.

Espalmo minha mão entre nós, o detendo. Meus olhos passeiam por sua camisa branca que estava quase transparente, sua calça jeans que deveria estar colada no corpo e suas botas de couro de amarrar que pareciam intactas.

— Você está molhado — dou voz ao óbvio.

Seus ombros dançam em desdém.

— Eu vim fazer um gesto romântico e senhora se preocupa com um pequeno detalhe? — seu questionamento é indignado.

Inclino minha cabeça para frente, lançando meu melhor olhar de que aquelas suas palavras eram absurdas. Mas o meu olhar não foi compreendido ou Avery preferiu ignorar, pois seu corpo projeta-se diante dos meus olhos em uma aproximação, que não permitem aos meus pés recuarem.

E seus braços molhados envolvem meu corpo, molhando minha roupa, uma risada gostosa e contagiante é soprada próxima a minha orelha, assim que seu tórax envolve o meu, não deixando saída para as minhas roupas não mais seca.

Minha pele não ignora o gelo da água, mas incrivelmente seu abraço é quente, que logo esqueço a sensação estranha do molhado e grudento. Preferindo prestar atenção em seus lábios, que se colam em meu pescoço, provocando uma corrente que percorre o meu corpo.

— Minha Lennon —suas palavras são proferidas contra a minha pele.

E mesmo não sendo possível meu coração se derrete, se desmancha e se apaixona mais ainda.

Meus braços, rendidos, envolvem sua cintura, em um abraço que funde nossos corpos. Sua cabeça se afasta. Sinto seus olhos queimarem contra mim. Encontro suas avelãs e seus lábios sorridentes.

— Então, você está bem? — suas palavras são delicadas, como se pudesse me quebrar.

Estreito meus olhos confusos em sua direção.

— Você estava se sentindo mal pela manhã — recorda um fato que já tinha esquecido, e ignorado o mal estar durante o meu atarefado dia.

—Estou — movimento meus lábios, que tentam esconder um sorriso, um silencioso agradecimento, interponho uma mão entre nós, chocando meu indicador contra seu ombro — Apenas acho que preciso daquela noite tranquila, com sorvete e chocolate.

Jogo aquelas palavras como um balde de água fria em sua libido que me incendiava noite pós noite em uma paixão incansável. Não que não pudesse rolar naqueles lençóis ridículos com ele, porém queria ficar quieta e tranquila. Mas quem me surpreende é ele, quando dança seus ombros em desdém para cima.

— Já imaginava — e em uma versão arrogante que adorava ele profere.

— Já? — rebato surpresa.

Avery acena positivamente, antes de repousar sua testa na minha e suas mãos não soltarem o meu corpo, seus olhos invadem os meus, enquanto minha mão se vê obrigada em espalmar-se em seu ombro.

— Por isso já pedi comida naquele restaurante tailandês que você ama, já abastecia a geladeira com sorvete e o armário com chocolate e pipoca — revela calmamente, como se tivesse programado um roteiro — E pensei que poderíamos terminar de assistir aquela serie irritante — sua face contorce-se, um preludio para suas palavras seguintes — Cheia de homens pelados, que você adora.

Rio. Gargalho. Jogo minha cabeça para trás, um erro – ou não – pois os lábios ligeiros de Avery tocam minha garganta, paralisando meu som de humor, bem como a função de tragar a saliva. Me surpreendendo. Seus lábios se afastam, deixando um vazio na minha pele. Consigo abaixar novamente minha cabeça.

— Por mim parece perfeito.

E definitivamente não me referia a aquele roteiro da noite, em que comeríamos minha comida predileta, em que ele terminaria lavando a louça, onde assistiríamos o que eu gostava, abraçados no nosso delicioso sofá.

Mas me referia ao homem diante dos meus olhos, ao meu marido, a John Avery, o homem que não permitia ao meu coração bater em somente um ritmo.

O capítulo de hoje foi mais um momento casal que qualquer outra coisa.
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