Às vezes eu penso que estou tendo alucinações da Cindy para qualquer lugar que eu olhe. Neste exato momento estou encima da minha moto, pilotando até o meio da ponte. Tem uma garota caída no chão e eu estou com meu coração apertado porque tive a impressão de que é a Cindy.
Mas como pode ser a Cindy, se ela deve estar na apresentação de balé dela, sendo aplaudida por todos?
Meu coração para no momento que a vejo caída no chão. Largo a moto e corro até ela. Porra, o que ela está fazendo sozinha no meio do nada a essas horas? E... cheirando a ovo?
Coloco a cabeça dela no meu colo e seguro o seu rosto com delicadeza. Ela está desmaiada.
— Dama, Cindy... — chamo passando a mão pela sua bochecha. Amarro de um modo desajeitado o seu cabelo que está fedendo a ovo, o figurino dela está totalmente sujo de ovo. Seu nariz está vermelho, e embaixo dos seus olhos está com algumas lágrimas secas. Ela chorou? Que porra aconteceu?
Sinto meu celular vibrar no bolso da minha calça e o pego sem ver quem é.
— A Cindy sumiu. Saiu correndo do colégio e eu não consegui ir atrás dela. Estou a procurando pela cidade, mas não a encontro. Sei que já deve estar longe de Chicago mas precisava te avisar — Jonny fala desenfreado.
— Estou com ela. Que porra aconteceu, Jonny? Por quê ela está fedendo a ovo e parece ter chorado? — pergunto com a voz séria. Pela chamada consigo escutar a voz da Valerie e do Mattel.
— Bom... As coisas não saíram bem como o esperado — ele coça a garganta — A Cindy não dançou balé, antes que ela pudesse fazer isso, contaram a todo mundo que você era um traficante e que se relacionou com ela — faz uma pausa, como se estivesse receoso em me dizer — Ela... foi humilhada, Xavier, jogaram ovos na Cindy e a apelidaram de "comida de traficante" — aperto o celular com força e enrijeço o maxilar, trinco os dentes e respiro fundo sentindo a raiva injetada no meu corpo.
— Comida de traficante?! — esbravejo furioso — Quem foi? Me diz quem é porque eu irei matar! — falo perdendo a cabeça.
— Você teria que matar o colégio inteiro, gato. Quase todos a humilharam, a mãe dela disse coisas horrorosas para ela. Eu nunca vi a Cindy tão mal, mas ela não perdeu a pose na frente de ninguém. Foi cruel o que fizeram com ela — Mattel comtinua e aperto meus olhos, fito o rosto da Cindy deitada no meu colo — A Samantha armou tudo, foi terrível!
— Passa para a Valerie — peço seriamente.
— Manda — ela diz do outro lado da linha.
— Eu não faço nada contra mulher, mesmo que essa esteja merecendo. Cuida da Samantha pra mim? — pergunto com sangue nos olhos.
— Pode deixar, já ia acabar com aquela vadia mesmo que não pedisse. Irei fazer o meu melhor... Quer dizer, o meu pior!— Valerie exclama com a voz vingativa — Onde está?
— Na ponte do centro, não sei se consigo levar a Cindy para um lugar de moto com ela desacordada. Corre o riscos de sofrermos um acidente. Podem vir me buscar? — pergunto me levantando do chão e pegando a Cindy nos braços.
— Estamos presos em um engarrafamento. Irá demorar muito. A polícia já está atrás de você Xavier. Tem que ir embora agora ou você ficará preso para o resto da vida. A maioria dos pais dos alunos que você vendia as drogas o denunciou, estão todos querendo você atrás das grades. Precisa ir agora! — coloco a mão na cabeça tentando pensar.
— De moto eu não consigo levar ela, vocês estão longe. Preciso de um carro. Valerie, minha moto estará estacionada no início da ponte, pega ela pra mim —avisto um carro estacionado no meio do nada — Eu vou roubar um carro —arrumo a Cindy nos meus braços.
— O quê? Tá maluco, cacete? Você quer ser preso e acusado de mais um crime?!— afasto o telefone para não ouvir os gritos do Jonny.
— Já estou com a ficha suja, um crime a mais, um crime a menos, não fará a menor diferença. A polícia já quer me prender mesmo — digo dando de ombros — Depois eu ligo — desligo a chamada e guardo o celular — Eu vou cuidar de você — acaricio a bochecha da Cindy — Pelo menos antes de ir —murmuro, beijando a testa dela.
Agora eu só preciso roubar um carro.
[......]
Rápido e fácil.
Giro a chave na ignição do carro e o ligo, olho a Cindy pelo espelho retrovisor e respiro fundo antes de começar a dirigir. Decido levá-la de volta para sua casa, os pais dela não devem estar lá, não irão me ver chegando.
Pego meu celular ainda olhando para a estrada, entro no site de notícias e rio sem humor ao ver uma foto minha junto com uma nota. Rodo a tela para baixo e engulo em seco ao ver um vídeo gravado por uma aluna no colégio.
É um vídeo da Cindy chorando, com sua mãe alterada do lado. Se eu clicar nesse vídeo provavelmente vou perder a cabeça. Leio o que a garota escreveu embaixo: " Quando a Cindy era mais nova, provavelmente escutou que devia ficar longe das drogas, dizer NÃO a elas. Hoje em dia, Cindy Padilla namora um traficante. Tirem suas próprias conclusões pelo vídeo. Um amor impossível, amor bandido? Confira logo acima!
Me destraio com o vídeo e e assim que olho para o painel vejo que estou em uma rua do lado norte e têm uma mulher loira dos cabelos cacheados atravessando a rua. Freio o carro antes de bater nela. A mulher pula para o lado e olha diretamente para mim. Os olhos dela são iguais aos meus, idênticos. Ela me parece familiar.
— Xavier...? — ela sussurra colocando a mão na boca com o rosto pálido. Seus olhos estão marejados — Não é possível. Você.... Você foi assassinado quando era pequeno... — sussurra palavras desconexas. Ligo o carro novamente, ela deve ter visto minha foto em algum lugar e provavelmente irá me denunciar para a polícia.
Saio catando pneu com uma sensação estranha no meu peito. Escuto a mulher me gritar, mas ignoro, acelerando.
[......]
Coloco minha mochila sobre a mesa de Cindy, a deixei dentro da banheira e já irei voltar ao banheiro para tentar acordá-la. Tranco a porta do quarto dela por precaução. Franzo o cenho confuso assim que vejo um caixa de bombom em cima de sua cômoda junto com o bilhete. Abro a caixa de bombom e faço uma careta ao sentir um cheiro podre vindo deles.
Pego o bilhete e leio: " Seu tempo está acabando, logo eu venho te buscar, e irei te torturar e te fazer sofrer, querida. Hoje você estava linda de MORRER, pena que descobriram seu envolvimento com Xavier Russell. Achava que conseguiria esconder isso de todos por muito tempo? A morte chega para todos, e para você Cindy Padilla, chegará antes do tempo. Do seu admirador secreto, B.
Amasso aquele bilhete cheio de ódio. Quem porra é B? Só sei que esse cara irá se arrepender de mexer com a Cindy. Irá conhecer o inferno ainda vivo.
Escuto um barulho vindo do banheiro, paro na porta assim que vejo a Cindy acordada. Me encosto no batente e encaro seu rosto lindo que está com a feição confusa.
— O que faz aqui? O que eu faço aqui...?— Cindy sussurra confusa.
— Eu te achei caída na ponte, estava lá antes de você chegar — digo a encarando — Tirei suas roupas e te coloquei na banheira, para tomar um banho e tirar o cheiro de ovo — explico, ela sorri fraco — Eu não queria que isso acontecesse com você — digo sendo sincero.
— A culpa não é sua — fala, passando shampoo no cabelo — Eu sabia que poderia ser crucificada por me envolver com um criminoso, já sabia das consequências.
— Se você tivesse negado, mentido que se envolveu comigo, não seria tão humilhada assim. Por que admitiu que se envolveu comigo? — pergunto com o rosto sério.
— Como sabe que eu admiti... Ah, tem vídeos na internet, não é? — aceno, assisti o vídeo e fiquei com vontade de matar cada um que fez ela chorar e a machucou — Eu preferi dizer a verdade, não iria mudar nada eu negar. E por quê, não foi embora? — pergunta me olhando nos olhos — Não vai mais? —pergunta com um brilho nos olhos.
— Vou — ela abaixa a cabeça e finge estar concentrada em tomar seu banho e observo seus movimentos delicados —Mas antes eu tinha que me certificar que você estaria bem — sussurro — A polícia já está atrás de mim, irão vir a sua casa para investigar sobre meu paradeiro. Preciso fugir enquanto é tempo. O Trevor também está atrás de mim, quer me matar. Se eu ficar, serei condenado, morto — ela me olha triste.
— Eu entendo. Você irá embora, para bem longe, e eu também — franzo a testa confuso. Me desencosto do batente e adentro no banheiro, caminhando até a banheira.
— O quê? — pergunto confuso.
— Eu irei para a França. Estudar em um internato só para meninas, minha mãe já tinha me avisado que se eu fizesse algo que a humilhasse ou que poderia manchar o nome da família, iria me mandar para a França. Me envolvi com um traficante, um criminoso, agora terei que arcar com os meus atos.
— Se envolveu comigo mesmo sabendo que poderia ir para a França contra à sua vontade? — pergunto com a voz falha e ela assente sem olhar nos meus olhos — Por quê?
— Porque, Xavier, as únicas coisas que ficam na vida são as lembranças felizes. E eu preferi viver um amor errado, com lembranças felizes, do que viver o certo sendo infeliz e não ter nada bom para lembrar — Cindy diz com a voz embargada.
— Você não deveria estar me dizendo isso... — sussurro me afastando dela e caminhando até a pia.
— Foi você que perguntou — rebate e rio fraco. Sinto meu celular vibrar vendo que uma mensagem do Jonny, dizendo que já está com minha moto para que eu vá embora — Já vai? — pergunta fazendo bolhas de sabão com a mão.
— Já — guardo meu celular — Você quer ir para a França?
— Não. Eu não quero nem sair do meu quarto para não ser humilhada de novo. Eu só quero fugir e esquecer de Chicago — fala com a voz embargada e respiro fundo, sentindo meus olhos quererem lacrimejar. Caminho até a porta do banheiro para ir embora, até que ela me chama —Xavier — viro meu rosto para olhá-la — Eu vou guardar os nossos momentos para sempre, porque você me fez conhecer o amor, e eu me senti amada estando com você. Mesmo que você não tenha me amado, eu quero que você saiba que eu nunca vou te esquecer — ela sorrir para mim com os olhos marejados.
Atravesso a porta e caminho até a janela do quarto dela, com minha mochila nas costas. Seguro nas cortinas e sinto lágrimas quentes escorrem pelo meu rosto. Estou tendo uma péssima ideia, péssima ideia...
Aperto as cortinas com força tentando não voltar, eu não posso voltar pra ela. Eu não sou o cara certo pra Cindy....
Quer saber? Foda-se!
Largo minha mochila no chão e dou meia volta. Caminho rapidamente até o banheiro a tempo de ver a Cindy se levantando da banheira e se enrolando em uma toalha.
Seguro na cintura dela e a mesma arfa surpresa, olho seu rosto lindo que me encara confuso e a beijo com toda devoção. Ela corresponde de imediato, passando os braços envolta do meu pescoço, a pego no colo saindo do banheiro. A pressiono na parede, lhe beijando com luxúria e paixão.
— Eu te amo, eu sempre te amei Cindy!— falo com a voz rouca, ainda com meus lábios grudados no seu. Ela abre os olhos e vejo que estão com lágrimas — Eu te amo, minha Dama.
— Eu te amo, meu Vagabundo — diz com a voz embargada e sorrio voltando a beijá-la.
— Eu menti dizendo que não te amava porque precisava ficar longe de você, eu prometi para mim mesmo que não iria mais te ver, mas eu não consegui. Eu não consigo ficar longe de você, eu não posso ficar — seguro seu rosto com as duas mãos — Eu te amo tanto, Cindy, e não sei viver sem você!
— Eu também não sei viver sem você — ela aperta minha camisa — O que vamos fazer? Você não pode ficar em Chicago.... — me olha angustiada.
— Eu sei que é demais te pedir isso mas... Foge comigo! Foge comigo para bem longe daqui — digo exasperado — Eu vou entender se não qui... — ela me beija antes que eu termine de falar.
— Eu fujo! Quero ir para bem longe de Chicago, não quero ir para França! Irei sentir falta dos meus pais, mas você viu o que a minha mãe disse pra mim... —suas lágrimas começam a descer pelo rosto e as limpo beijando embaixo dos seus olhos — Eu fujo, sem pensar duas vezes!
— Então vamos fugir, ao amanhecer. Antes da polícia vir aqui investigar, antes de me encontrarem, nós sairemos de Chicago — ela assente sorrindo.
— Temos um pequeno probleminha... —diz fazendo careta e olho confusa — Não iremos sem a Nina — sinto a bolinha de pelos se esfregar na minha perna — Ela é nossa filha, não podemos deixá-la.
— É — concordo com ela, passo as mãos no cabelo — Irei falar com o Jonny, ele irá me arrumar um carro sem ser roubado — o carro roubado eu deixei no meio de uma estrada — Preciso encontrá-lo e comprar algumas coisas para a nossa fuga. Irá ficar aqui, arrumará suas coisas, poucas, apenas o necessário — ela assente, me escutando calada — Vou resolver isso e você vai ficar aqui, amanhã de manhã eu venho te buscar. Esteja pronta — explico a ela.
— Promete que vem me buscar? —pergunta com a voz falha.
— Eu prometo! — afirmo a beijando, desço a minha mão até sua bunda coberta pelo tecido da toalha e aperto, depois me afasto — Preciso ir resolver isso. Eu te amo! — ela manda beijo pra mim e caminho até a janela.
Irei fugir com minha Dama ao amanhecer. Ela é a minha vida!