Quando o amor é pra sempre (R...

بواسطة Strange-Boy

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(COMPLETO E REVISADO) No ano de 1989, em Denver, Colorado - Estados Unidos, Harrison é um garoto de 18 anos q... المزيد

Prólogo
1 - Robin
2 - A festa e a academia
3 - Quadrinhos
4 - Como (ou não) se aproximar de alguém
5 - Uma noite peculiar
6 - Go, Tigers!
7 - 1989... 1990!
[nota aos leitores]
[boas notícias!]
8 - Eu vou sentir falta dos anos 80...
9 - Volta às aulas
10 - O último baile colegial
11 - Chuva de verão
12 - É com você que eu quero estar
13 - O adeus
14- Mudanças da vida
15 - Memórias
16 - C'est La Vie!
17 - Há quem acredite em coincidências
18 - Decisões, decisões...
19 - O que fazer?
20 - Laços que nunca foram rompidos
21 - Lar?
22 - A luz nas trevas
23 - Se reerguendo aos poucos
24 - Desequilíbrio
25 - Arrependimento
26 - Na saúde e na doença
27 - De coração quebrado
28 - Prova de amor
29 - Coisas que estão além do nosso alcance
30 - Não vou desistir de você
32 - O pedido
33 - Como nos velhos tempos
34 - A vida normal
35 - Faça um pedido
36 - (Des)confiança
Epílogo
Continuação: A História de Gael

31 - Forte como era antes

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بواسطة Strange-Boy

SCOTT

O que...

Harry?

É você?

Apertei forte a sua mão.

Onde estou? O que aconteceu?

Minha visão estava tão embaçada... Estava um pouco tonto...

— Scott... Não acredito... Não acredito! — Harrison gargalhava alto em meio as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. 

Ele se aproximou de mim e me abraçou forte, fazendo com que eu sentisse algumas dores pelo meu corpo, mas eu não ligava. Sentir o abraço dele era muito bom. 

Como se já não bastasse o abraço, repousou um beijo longo e delicado na minha bochecha.

— Eu já volto, só um instante, preciso avisar ao médico, depressa! — ele limpou o rosto e saiu apressado do quarto.

Eu piscava os olhos lenta e fragilmente, sem entender ainda o que estava acontecendo. Logo, o médico e uma enfermeira entraram no quarto. 

— Me ajuda com essas coisas.

— Claro, doutor. 

Estava me sentindo muito fraco e cansado, então fechei os olhos mais uma vez enquanto eles desconectavam todos aqueles... negócios de mim.

Sem mais nada no meu rosto e impedindo a minha livre passagem de ar, comecei a tossir ao tentar falar alguma coisa.

— Calma, garoto... Acabou de acordar de um longo sono. Aos poucos tudo vai voltar ao normal. — o médico me assegurou. — Consegue respirar normalmente? Como se sente? 

Fazendo o máximo de esforço que conseguia, não consegui falar. Meus braços pareciam muito pesados e eu mal conseguia mexe-los. 

Eu estava sem o movimento das pernas? Não conseguia sentir ou mexer nenhuma das duas. 

— Um momento. — o doutor levantou a pálpebra do meu olho e apontou uma pequena lanterna. — Ok... 

Respirei fundo. Só queria saber o que estava acontecendo. 

Onde estava Harry agora?

— Sente isso? — apertou os meus braços com força.

Assenti com a cabeça positivamente. Sentia, só estava bastante dolorido. 

— Aqui? — fez o mesmo pelo meu peito e barriga.

Assenti com a cabeça de novo.

— E aqui? — apertou minhas pernas até os pés. 

Graças a Deus eu sentia. Afirmei positivamente com a cabeça pela terceira vez.

— Ótimo, Scott. Pode agradecer a Deus ou a alguma força superior que acredite, pois é um milagre. Sabe, você perdeu muito sangue. 

Sangue...

Na banheira... 

— Vou te ajeitar aqui rapidinho, tá bom? — a enfermeira me avisou com gentileza enquanto ajeitou o meu corpo com cuidado, dobrando a cama usando um controle remoto para que o meu corpo ficasse um pouco mais sentado do que deitado. 

— Eu vou te pedir pra tentar beber um gole de água agora, Scott. Acha que consegue fazer isso? — o médico me perguntou. 

Dei de ombros. Não sabia se conseguiria ou não. 

Enquanto isso, a enfermeira trouxe uma jarra de água e colocou um pouco num copo de vidro.

— Com calma, só um gole. — ela aproximou o copo da minha boca e com muito cuidado o virou lentamente. 

Consegui sugar um pouco da água e dar o primeiro gole, mas tossi. 

— Calma, calma. — o médico apoiou a mão no meu ombro. — É assim mesmo. Vamos mais uma vez. 

E assim tentamos mais umas três vezes até que de tanto sentir a minha garganta seca, comecei a dar mais goles quando percebi que já não tossia mais.

— Devagar, Scott! — o médico avisou mas não dei ouvidos. 

Suspirei ao terminar de beber a água. 

— É normal o seu corpo estar assim, fraco e desacostumado. Temos que acostumá-lo aos poucos, com calma. Afinal, ficou adormecido por bastante tempo. — ele me orientou, sentando na poltrona que estava ao lado da cama. 

— O que... — com a voz rouca, finalmente consegui falar. — O que aconteceu? Não lembro bem...

— Bom, mocinho, o senhor tentou tirar a sua própria vida com uma lâmina de barbear, cortando seu pulso... Sorte que te encontraram e te trouxeram pra cá. Mas você entrou em coma e ficou assim por quase dois meses. Está acordando hoje. 

— Ah... — pressionei os olhos enquanto os fechava. Aos poucos, minha visão estava voltando ao normal. — Meu Deus. 

— Não faça isso de novo, filho. Sua vida vale muito a pena. É jovem, tem a vida toda pela frente e confio no seu potencial.

— Eu...

— Depois que sair do hospital, eu quero te pedir pra que busque ajuda, tá bem? Se consulte com um psicólogo, faça uma terapia. Vai te ajudar muito. Se precisar, tome até remédios, mas não quero você pensando em fazer uma besteira dessas nunca mais na sua vida, ouviu bem? — o doutor me falava atentamente. 

— Tudo bem... — engoli a saliva, sentindo um pouco de dor na garganta. — Escuta...

— Sim? —ele levantou da poltrona. 

— Pode chamar... O Harrison?

— Já vou chamar. — ele riu. — Esse garoto não deixou de dormir um dia com você aqui no hospital, sabe. É seu irmão?

— Não... — ri. 

— Scott, você só sai do hospital quando estiver bom pra isso. Até lá, precisa comer muito bem nossa comida que é preparada pra te deixar forte e recuperado cada vez mais. 

— Ah, não... Comida de hospital? — fiz uma cara de nojo.

— Ou é isso ou vai ficar mais tempo ainda aqui. O que prefere? — a enfermeira forçou um riso pra mim. 

— A comida... — bufei. 

— Já volto. Depois conversamos mais. — o médico fez sinal pra enfermeira. — Vem, vamos. Scott, qualquer coisa é só apertar pra chamar a enfermeira. 

Os dois saíram do quarto, apressados. 

Aos poucos, minha tontura estava passando. Com muita dificuldade e cautela, tentei mexer os braços e apesar do peso que sentia sobre eles, consegui. Depois, estava conseguindo movimentá-los mais naturalmente e sem dificuldade.

E então, ao sentir um formigamento nas pernas, comecei a balançar os pés pra depois conseguir movimentá-las de forma mais responsiva. Dobrei os joelhos sentindo uma dor imensa, mas logo as estiquei de novo. 

Em pequenos passos, parecia que eu estava ganhando o controle de todo o meu corpo novamente. 

De repente, o médico abriu a porta e sorriu pra mim. Harrison entrou na sala e ficou em pé, parado, me olhando com um sorriso bobo e os olhos brilhando.

— Eu vou deixar vocês a sós, mas se precisar de algo, chamem. — o doutor fechou a porta.

— Harry... — sorri envergonhado ao vê-lo ali, depois de tudo o que havia acontecido entre nós dois...

Ele abriu seu sorriso mais ainda e se aproximou de mim, sentando na poltrona ao lado da cama. Me olhou nos olhos por mais um instante e inclinou seu corpo pra me abraçar.

Lentamente, com os braços ainda fracos, o abracei de volta. 

— Eu sabia que não ia me deixar. — ele começou a chorar.

— Desculpa. Não sei o que me deu... — comecei a chorar também. — Eu nunca mais faço isso.

— Por favor, Scott, por favor nunca mais faça. — Harry limpou as lágrimas do rosto enquanto me apertava ainda mais. — Por que foi fazer isso?

— É porque você disse pra eu sair da sua vida de uma vez por todas... — eu expliquei enquanto desfazemos nosso abraço e ele voltou a olhar pra mim. — Mas como eu poderia sair da sua vida se a minha vida é você? 

— Nunca mais diga isso... — ele segurou na minha mão.

— É a verdade. — apertei sua mão de volta e limpei as lágrimas do meu rosto.

— Promete que nunca mais tenta fazer uma besteira dessas? Tem que me prometer. 

— Eu prometo. — falei enquanto virava o braço, olhando a cicatriz que tinha ficado no meu pulso. — Como... Como me salvaram? Foi você, Harry?

— Eu não conseguiria sem a ajuda do Steve.

— Steve? — franzi o cenho.

— Eu te segui depois do motel, Scott... Fui até a sua casa e senti que tinha algo de errado, então pedi pra ele arrombar a porta pra gente entrar e... Te encontramos na banheira. — ele abaixou a cabeça e começou a soluçar. 

— Não, não, não precisa lembrar disso... — estiquei meu braço pra segurar na outra mão dele mas senti uma pontada horrível no ombro. — Ai!

— O que foi? — Harry perguntou, preocupado, imediatamente levantando a cabeça. 

— Não foi nada... — ri. — Só meu corpo que ainda está se acostumando de novo a... Bom, a vida, eu acho! 

— O médico disse que a sua recuperação vai ser breve. Logo você já vai poder voltar pra casa. — Harry esfregava a palma de sua mão no dorso da minha. 

— Que bom. — fechei os olhos e suspirei aliviado. 

— E como você está? Como está se sentindo? — Harry fez uma expressão preocupada.

— Eu estou me sentindo fraco ainda, mas está tudo bem... Tudo normal. O médico disse que é esperado eu estar assim depois de tanto tempo com o corpo adormecido... Mas que logo vou me recuperar comendo direito e tudo mais. 

— Ah, que ótimo! — ele sorriu pra mim enquanto forçou um pulo com seu corpo sentado. 

— Pois é, ainda bem... — respirei aliviado.

— Sabe, quero te contar algo. — ele riu levemente. 

— O que!? Conta. — sorri, curioso.

— Você perdeu muito sangue, então... Precisava de transfusão e a fila de espera do hospital estava grande, muitas emergências e... Bom, acontece que eu tenho o mesmo tipo de sangue que o seu. 

— É mesmo!? — ergui as sobrancelhas e ri. — Tipo, exatamente o mesmo?

— Sim, exato! A positivo. 

— Nossa. — ri, corando de vergonha e não sei muito bem o porquê. Escondi os olhos com uma das mãos e depois pude voltar a olhar pra Harry. — Você... Fez isso por mim?

— Mas é claro que sim! Seria louco se eu não fizesse. 

— Harry... Obrigado. 

Segurando as duas mãos dele, trocávamos carinhos com o dedo polegar. Ah... Esse tipo de carinho não era qualquer casal que tinha. E eu sempre tive isso com ele. Só com ele. 

— Você não precisa me agradecer por nada. — Harry suspirou e abaixou a cabeça. — Me desculpa por ser tão idiota com você. Eu não quis dizer nada daquilo de ruim que eu falei pra você. Essas coisas feias que eu te disse... Nenhuma delas é verdade. Eu gosto tanto de você... Gosto tanto de estar com você, do seu lado. Eu sei que tanto eu quanto você cometemos erros e eu queria estar lá pra você quando você mais precisou, Scott. Eu deveria estar. Mas você tem razão, eu fui um egoísta...

— Não fala assim. — toquei o seu queixo e levantei a sua cabeça lentamente pra que olhasse pra mim de novo. — Está tudo bem, tá bom? Eu entendo o seu lado... E desculpa por ter te falado coisas que eu não deveria falar na hora da raiva. Desculpa por ter errado tanto e não ter feito o que era certo antes de decepcionar Amanda, você e todo mundo... Desculpa pelo o que fiz há oito anos atrás. Agi de um jeito tão idiota, menti por medo de ser julgado, mas meu amor por você sempre foi verdadeiro... Sempre foi genuíno, Harry. Sempre. Eu ainda tenho um pouco de medo de ser julgado e tudo mais, mas eu prometo que vou melhorar isso. Se eu pudesse voltar no tempo hoje, pegaria na sua mão e gritaria para Deus e o mundo que eu era tão feliz por ter o melhor namorado do mundo.

— Não, Scott, é que... — Harry riu, corando um pouco. 

— Shhh! — toquei o seu lábio com o meu dedo indicador. — Você disse que ambos erramos e está certo. Eu reconheço os meus erros também, Harry. Mas chega de sofrer e errar. Está tudo bem agora... Vamos virar essas páginas das nossas vidas pra recomeçar. Sei que podemos.

Acariciei o seu rosto enquanto levei a palma da minha mão para a sua bochecha. Harry a pressionou contra a minha mão enquanto a segurava, fechando os olhos e sorrindo.

— Eu senti tanto a sua falta... Tanto. — me falou.

— Eu também senti muito a sua.

— Como sabe, se estava dormindo esse tempo todo? — abriu os olhos e sorriu. 

— Eu me conheço o suficiente pra saber. — ri. 

— Ah, então tá... — Harry também riu. — Sabe... Eu avisei Nathalia e Rob pra virem te visitar o mais rápido possível. Elas já estão à caminho. 

— Que bom. — sorri. — Obrigado. 

— De nada... — Harry pigarreou. 

— Sabe... — cruzei os braços. — Ainda estou me perguntando sobre os nossos sangues serem exatamente iguais. 

— Não é algo... Incomum? — Harry riu. 

— Certamente. Pra você ver como fomos feitos um para o outro. — encerrei a frase com um enorme sorriso.

— É... — Harry olhou para o lado de um jeito sem graça e mexeu no cabelo. Suas bochechas estavam vermelhas como fogo. 

Ele ainda parecia aquele adolescente tímido por quem eu me apaixonei no colégio... 

Ah, nerd...

Você é tão... meu.

— Eu jamais imaginaria que você fosse ser capaz de... — Harry abaixou a cabeça, não conseguindo terminar a frase, embora eu tenha entendido o que ele queria dizer.

— Por que?

— Porque você sempre foi tão forte e seguro de si... Sempre foi um dos garotos mais populares no colégio, cobiçado pelas meninas... Poderia ter qualquer uma que você quisesse. E qualquer um que gostasse de futebol queria você no time e como amigo.

— Ser popular não é tão legal quanto as pessoas acham que é. — eu ri. — Sabe, as pessoas chegam perto de você por interesse. Seja pela sua beleza, seu status, talento ou coisas legais que faz, enfim. Amigos de verdade mesmo só temos um ou dois. Por aí vai. 

— Nossa, isso faz sentido.

— Pois é, Harry... Não é atoa que no fundo me senti sozinho por tanto tempo. 

— Scott, eu- 

— Qualquer um tem seus medos e inseguranças, Harry. — falei e ele olhou pra mim. — Isso é tão... Humano. Sabe?

— Eu compreendo... — ele disse enquanto fitava meus olhos. 

De repente, Rob abriu a porta do quarto. 

— JOGADOR! — ela gritou e abriu os braços, correndo da minha direção.

— Oh, calma! — eu ri. 

— Tá bom. — ela maneirou um pouco sua pose e também riu, me abraçando gentilmente. — É tão bom te ver de volta... Achei que nunca mais veria você de novo...

— Ah, vamos. Não seja tão pessimista. 

— Olha... — ela desfez o abraço e me olhou. — O único que não foi pessimista nem por um segundo aqui foi o seu... Foi o Harry. 

Ela olhou pra Harry, que soltou um sorriso bobo. 

— É, eu imaginei. — sorri de volta pra ele e olhei pra Rob. — Vocês não acreditaram em mim, né? Nem você e nem Nathalia, imagino?

— Não é que não acreditamos, mas... Ah, Scott, é tão complicado... — ela sentou na poltrona, massageando a testa.

— Eu sei, não se preocupa. 

— O importante é que agora você voltou pra nós e está bem!

— É sim, estou muito bem. — a assegurei enquanto sorri. 

Eu, Rob e Harry ficamos conversando até que o médico me trouxe a primeira refeição de verdade depois de muito tempo que fiquei dormindo. 

Mas ele estava acompanhado de uma enfermeira que eu conhecia... Amanda.

— Amanda. — arregalei os olhos.

— Oi, Scott. — ela respondeu, séria. Ajudou a colocar a bandeja na cama. — Que bom que você está bem. 

— Obrigado... Amanda, sinto muito por tudo que-

— Deixa isso pra lá. — ela jogou a mão no ar enquanto virou as costas e andou pra fora do quarto.

— Puxa... Ela é uma menina até forte, sabia? — Rob comentou ao entreolhar Harry e a mim. — Se fosse no dia do meu casamento, eu nem teria coragem de falar mais com você, Scott. 

— Eu entendo... — suspirei. — Ter pedido a Amanda em casamento foi um erro. Eu deveria ter continuado a esperar Harry e...

— Ei, ei, ei. Não é culpa sua. — Harrison me interrompeu. — Nós dois tentamos seguir em frente... Nem sabíamos mais um do outro, Scott. E por oito anos... Está tudo bem, eu nunca te culparia por ficar com Amanda.

— Eu também nunca te culparia por ter seguido em frente, Harrison. Aquela época foi... Bem difícil. — estalei os lábios. 

— É, mas já passou, né, rapazes!? — Rob sorriu, batendo palmas. — Agora come a sua sopa, porque você tem que ficar forte como era antes. 

— Tá bem... — revirei os olhos enquanto sorria. 

Nós três conversamos e rimos mais um pouco. Harry contou que começou a fazer terapia após descobrir que havia desenvolvido episódios com ataques de pânico. Óbvio que fiquei muito preocupado e fiz dezenas de perguntas, mas ele me assegurou que até remédios estava tomando agora, que já estava bem melhor, então fiquei mais tranquilo. 

Ele e Rob me contaram que as coisas na escola vão muito bem, no trabalho de cada um dos dois. 

Harry me explicou algo que parecia mais um milagre. Aparentemente, a clínica onde eu trabalhava ia continuar de portas abertas para o meu emprego assim que eu pudesse voltar ao serviço. Isso também era ótimo. 

Depois de muita conversa e com a garganta ainda um pouco dolorida de tomar a sopa, Nathalia chegou ao quarto e chorou assim que me viu sentado, rindo e conversando com Harry e Robin normalmente. 

— Scott, meu irmão... — fungou o nariz e apertou o passo até a mim, me abraçando forte. — Foi um milagre... Estou tão, tão feliz!

— É melhor deixar vocês dois sozinhos. — Rob sorriu, sem graça, levantando da poltrona. 

— É, fiquem à vontade, não tem problema nenhum. — Harry concordou, levantando da cadeira em que estava sentado. 

— Não, não precisam sair... — Nathalia avisou a eles.

— A gente vai tomar um café, algo assim, bem rápido, não esquenta! — Rob assegurou e abraçou Harry de lado, enquanto saíam do quarto.

— Já voltamos. — Harry olhou por cima do ombro com um sorriso e eu assenti a ele com a cabeça. 

Então, Nathalia sentou naquela poltrona que sempre esteve tão perto de mim. 

— Scott, me perdoe por não ter te escutado... Naquele dia no casamento, eu fiquei tão abalada com...

— Nathalia, esquece isso. — fiz uma cara de impaciente.

— Não esqueço... Você é meu irmão e falhei muito com você. Muito. É que eu nunca imaginaria que você pudesse ficar tão mal assim ao ponto de...

— É, mas enfim, não vai acontecer de novo e tá tudo bem, de verdade. — sorri pra ela. — Eu prometo. 

— Mesmo? Eu me preocupo tanto com você...

— Prometo, Nathalia, prometo. 

— Sabe, eu até pensei em ligar para os nossos pais...

— Mas Nathalia! — exclamei, incrédulo. — Eles nos abandonaram! Nem falam mais com a gente há anos! 

— Calma! Não precisa se irritar.

— Como não? Olha a ideia que você tem!

— Ah, Scott... É porque querendo ou não... São seus pais, né?

— Será que são mesmo? — cruzei os braços. — Que tipos de pais são esses?

Nathalia abaixou a cabeça. 

— Sabe, Nathalia... — prossegui. — Quando chega o dia, eu vou ter filhos. E com Harry. 

Ela olhou pra mim e arregalou os olhos. 

Depois de um breve momento, esboçou um sorriso. 

— E eu vou ser um ótimo pai pra eles. — olhei pro lado enquanto senti uma lágrima escorrendo no meu rosto. — Vou ser o pai que eu nunca tive, mas sempre quis ter. Você vai ver. 

— Eu tenho certeza que vai ser um ótimo pai, sim. — ela limpou a lágrima do meu rosto e apertou minha bochecha. — Eu também estou pensando ser mãe e breve. 

— Sério!? Eu finalmente vou ser tio? — falava alto, animado.

— Não sei se é em breve, calma! — ela riu. — Não é nada confirmado ainda...

— Ah, mas eu espero que sim. 

— E esse Harry... — ela desconversou. — Ele te ama muito, não é? Te salvou, Scott. Se não fosse por ele e aquele policial...

— Eu daria minha vida por ele se fosse preciso.

— Ele disse que faria o mesmo por você. — Nathalia sorriu. 

Harry... Eu tenho tanta sorte de ter você na minha vida.

Eu e Nathalia ficamos conversando por mais um tempo até ela precisar ir embora. Me abraçou forte e pediu para que eu me cuidasse, que ela sempre estaria ali por mim, pra tudo, e que jamais me decepcionaria novamente. 

Depois de ficar sozinho por um tempo, o médico retornou para a sala com Harry e Rob. 

— Scott, vim rápido só pra me despedir. — ela me deu um beijo no rosto e me abraçou brevemente. — Preciso resolver um monte de coisa, mas se cuida e fica bem, tá? Te amo muito. 

— Obrigado, Rob... — sorri de lado. — Pode deixar que vou me cuidar, também te amo. 

Ela sorriu pra mim e abraçou Harry, se despedindo dele também.

— Tchau, Harry. Vocês me deem notícias, hein. 

— Tchau, Rob. Pode deixar, até mais.

— Até.

O médico se aproximou de mim enquanto Harry foi para o outro lado da cama. 

— Então, Scott... Gostaria que tentasse se levantar. 

— Ah, isso seria ótimo, pois eu tô apertado pra ir ao banheiro. — confessei.

— Vamos com calma, tá bom? — o médico me disse. — Vou pedir pro senhor Harrison ajudar. 

Primeiro, sentei na cama com cuidado. Com a ajuda do doutor e de Harry, consegui colocar as pernas pra baixo e toquei os pés no chão. 

— Aqui. — o homem me ofereceu um par de muletas.

— Nossa, acha mesmo que eu vou precisar disso? — soltei um riso nasal.

— Talvez só no primeiro dia, até se acostumar melhor. 

Apoiei meus dois braços nas muletas e me levantei com calma.

— Isso, não tenha pressa, temos o dia todo. — Harry me acalmou. 

Já estava quase completamente em pé, até que senti uma das pernas falhar e quase caí, mas Harry me segurou firmemente. 

— Obrigado. — ri levemente enquanto fitei o seu rosto tão próximo do meu.

— Não foi nada. 

Me segurando, os dois conseguiram me ajudar a ficar em pé. 

— Viu? Sem as muletas não conseguiria ter todo esse apoio que precisa agora. — o doutor comentou. — É só no início, Scott. Logo se acostumará de novo.

— Assim espero, doutor.

Minhas pernas tremiam um pouco assim como o meu corpo. Era como se eu estivesse aprendendo a andar novamente, só que... Com um pouco de experiência.

— Vamos, tente andar um pouco agora. 

Aos poucos fui caminhando de uma forma bem lenta e cuidadosa. Conforme fui andando pelo quarto, os dois deixaram de me segurar. 

— Viu, já está andando sem nossa ajuda.

— Pois é, doutor. O que acha, Harry? — sorri de um jeito bobo ao olhá-lo, esperando qualquer elogio dele. 

— É, você já está se acostumando de novo. É esperto. — ele cruzou os braços enquanto me observava. 

Fui e voltei pelo quarto pequeno umas quatro vezes. Minhas pernas já não tremiam mais e o apoio das muletas ajudava muito. 

— O que acha do Harrison acompanhar você pelo hospital enquanto pratica uma caminhada? A gente tem um pátio bem bonito, ao ar livre... Pode ser bom respirar ar puro, Scott. — o médico me aconselhou.

— Ótima ideia. — sorri pra Harry. 

— Vem, vamos. — ele acenou com a cabeça e saímos do quarto.

— Tá bom, antes eu só preciso ir ao banheiro, lembra? Tô muito apertado mesmo. 

— Então tá esperando o quê, ué? Vai logo! — Harry ordenou. — Só não tranca a porta. 

— Tá bom... — sorri ao passar por ele.

Eu amava a preocupação que ele tinha comigo. 

Nos mínimos detalhes...

***

Harry estava ao meu lado como se fosse o meu enfermeiro pessoal. Qualquer desleixo ou cambaleada ele preparava os braços pra me segurar. Sempre atento ao me observar, se preocupava como um responsável se preocupa pelo bebê que ainda está aprendendo a andar. Acho que era quase isso. 

Descemos pelo elevador e foi ótimo respirar fundo aquele oxigênio ao ar livre. As árvores, o gramado... Era outro ambiente completamente diferente daquele quarto de hospital triste e sombrio.

— Ah! — suspirei. 

— Ar puro, Scott. Scott, ar puro. — Harry zombou.

— É, faz tempo. — dei uma risada. 

Então, fomos caminhando pacificamente pelos caminhos entre as árvores.

— Ainda não acredito que você já tá aqui de novo... — Harry colocou as mãos nos bolsos da sua jaqueta preta. 

— Graças a Deus eu estou. A você e ao policial também. — dei de ombros. 

— Você não gosta dele, né? — Harry riu.

— Bom, é claro que não vou gostar. — balancei a cabeça. — Ele tinha segundas intenções com você. 

— Então o Scott tem sim, ciúmes... — Harry bagunçou meu cabelo. 

— Para. — ri e afastei o braço dele com o meu cotovelo. 

— Falando nele, Rob me acompanhou até os telefones que ficam aqui no térreo quando a sua irmã tava falando com você hoje mais cedo... Aproveitei pra ligar pra ele e dizer que você acordou, que está de volta. 

— E o que ele falou?

— Bom, ele ficou feliz, né. 

— Qualquer dia, quando eu puder, agradeço a ele também. Mesmo que eu não goste dele. — apontei o dedo indicador pra Harry. 

— Olha só, que atitude nobre. — Harrison zombou, rindo. 

— E eu estou adorando caminhar com você. — parei de caminhar, mudando de assunto. — Mas infelizmente já tá ficando tarde e precisa ir pro motel descansar, Harrison... Eu não acredito que ficou todos esses dias dormindo no hospital. 

— Seria pior ficar longe de você. — ele parou de caminhar também e abaixou a cabeça, chutando o chão. — Acredite. 

— Você tem que ir. Não vou sossegar enquanto não for. Me preocupo com a sua saúde também! — falei severamente. 

— Mas...

— Sem "mas"! Vá e descanse, por favor. — mexi no cabelo dele. 

— Tudo bem... — bufou. 

— Fico mais aliviado assim. — sorri.

— É que eu tirei folga do trabalho para os dois dias seguintes... Expliquei toda a situação, que você tinha acordado e tudo mais... — Harry gesticulava com ambas as mãos. — Planejei ficar com você...

— Bom, você pode voltar amanhã. Não vou aguentar ficar sem te ver. — sorri e deslizei minha mão pro pescoço dele. — Só precisa descansar em um quarto de verdade, em uma cama descente. 

Harry revirou os olhos.

O abracei forte e inspirei fundo para sentir o seu cheiro. 

— Que saudade eu senti de você... Só de lembrar de você naquele estado, eu... Eu... — me apertou no abraço. 

— Ei, não precisa lembrar disso. Eu estou aqui agora e é o que importa.

— Tá bom... — ele escondeu o rosto no meu pescoço.

— Te vejo amanhã? — afastei o meu rosto, o fitando de perto. 

— Sim. — ele sorriu.

— Até amanhã. — beijei a testa dele. 

— Até, Scott... — Harry se soltou do meu abraço e foi caminhando lentamente para os portões do pátio. 

Sorri ao vê-lo andar até lá e dei meia volta, andando bem devagar pra dentro do hospital de novo. O som das muletas batendo no chão me irritavam demais. 

Por mais que os últimos acontecimentos tivessem sido muito turbulentos, eu estava feliz, grato por ter sobrevivido e por ter Harrison ao meu lado. 

Subi de elevador e finalmente cheguei ao meu quarto. Deitei na cama sem muita dificuldade.

Logo uma enfermeira entrou no quarto carregando uma bandeja. 

— Boa noite, senhor. O doutor pediu pra que comesse mais uma sopa. — ela sorriu pra mim.

— Meu Deus, mais sopa? — fiz uma cara de descontente enquanto ajudei ela a colocar a bandeja sobre a cama. 

— E se reclamar, já sabe... — ela sorriu e foi andando até sair do quarto.

Enquanto comia, fiquei observando os detalhes do quarto e principalmente o teto. Descendo o olhar, notei a televisão pequena que ficava acoplada na parede. Procurei na mesinha que ficava ao lado da cama um controle remoto e felizmente achei. Pelo visto, estava com pilhas. A televisão ligou, mas pelos canais que eu passei, não estava tendo nada que me interessasse. 

Bufei e coloquei o controle de volta na mesinha.

Terminei de comer e bebi todo o copo de suco. Era a melhor parte da refeição, na verdade. 

Coloquei a bandeja sobre a cômoda que ficava do outro lado da cama e respirei fundo. Que tédio.

A porta do quarto abriu.

Meu Deus, de novo alguém pra vir me perturb-

— Boa noite. — Harrison abriu um enorme sorriso ao passar pela porta do quarto e encostá-la. 

Franzi o cenho enquanto tentava sentar na cama. 

— Mas o que- 

— Nem mais uma palavra. Apenas fingi que ia embora, mas não fui. — ele protestou e veio andando e sentou na poltrona sem tirar os olhos de mim. — Eu não vou a lugar nenhum

— Harrison... — adotei uma postura mais relaxada, voltando a encostar aos poucos na cama.

— Você não pode me arrastar pra fora daqui. — ele riu.

— Só aceito que durma aqui essa noite com uma condição. — falei ao olhar pra ele com uma expressão séria. 

— Ui, que medo. Pode dizer. — cruzou os braços.

Cheguei pro lado daquela cama minúscula. 

— É pequena, mas você vai ter que deitar aqui comigo. 

— Isso é uma piada? — ele riu. — Não tem espaço pra nós dois, e o que vão dizer quand-

— Dane-se o que vão dizer. — interrompi, sorrindo. — É isso ou eu vou te colocar pra fora daqui. — ri. 

— Scott Miller... Continua o mesmo adolescente chantagista e teimoso que eu conheci anos atrás... — ele ergueu uma sobrancelha e levantou da poltrona, deitando do meu lado na cama de forma cautelosa. 

— Harrison Lennox... Continua o mesmo nerd debochado e reclamão. — fiz uma careta pra ele, mostrando a língua.

Harry riu e inevitavelmente fez com que eu desse uma risada também. Ele finalmente conseguiu deitar e ficar com o rosto virado pra mim. 

Estávamos ali, com as almas conectadas e mais próximas do que nunca. 

Repousei minha mão no seu rosto e fiz um carinho delicado. Ele fechou os olhos e dentre de alguns segundos inclinei minha cabeça pra beijá-lo, mas... 

Percebi que ele já havia caído no sono.

Tão rápido.

Meu Deus, o quanto ele devia estar cansado...

Esses dias todos me acompanhando no hospital, sem dormir direito e nem em um lugar adequado... 

Por que você é tão teimoso, Harry? Por que?

Descansa, meu anjo.

O beijei na testa e fiquei fazendo um cafuné no seu cabelo. Eu não estava muito confortável naquela cama pelo espaço minúsculo, mas estar com ele era tudo o que eu precisava. Com o meu outro braço, o abracei e o puxei pra mais perto ainda de mim. Ele resmungou alguma coisa, o que fez com que eu soltasse um riso leve. 

Levei meu rosto ao seu pescoço e inspirei aquele cheiro que eu amava tanto.

Cheiro de Harrison.

E não era qualquer Harrison, era o meu Harrison, meu nerd, único. Igual a ele jamais existiria. Único. Único amor da minha vida. Ontem, hoje e sempre. 

Com tanta paz e amor no meu coração, acabei adormecendo também. 

***

Acordei sozinho na cama. Me espreguicei e olhei ao redor. A luz do sol entrava pelo quarto.

Harry levantou para tomar café ou algo do tipo, já que nem estava no quarto. 

Com calma, sentei na cama e já sem dificuldade quase nenhuma, rapidamente me apoiei nas muletas. 

Ao me levantar e andar um pouco, percebi que já estava fazendo isso bem melhor do que no dia anterior.

— Bom dia! — Harry exclamou ao entrar no quarto e me ver em pé, andando. 

— Bom dia. — sorri em surpresa ao olhar pra ele. 

— Como está? Dormiu bem? — enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta e ficou me olhando. — Parece até que está sabendo andar melhor. 

— Eu tô sim... Isso que to vendo. — ri levemente. — Mas eu dormi bem sim e você?

— Descansei melhor essa noite. Acho que precisava disso. — admitiu. 

— Pois é, foi o que falei pra você... Mas ainda precisa descansar mais. 

— Eu também acho, mas não se preocupe, eu vou. 

— Assim espero. — fiz um olhar de desconfiado pra ele, cerrando os olhos. 

— O médico disse que pode receber alta hoje mesmo caso mostre um quadro de recuperação melhor que ontem, dependendo... — Harry olhou pra cima.

— Mesmo!? — exclamei ao explodir de felicidade internamente. — Ah, eu não vejo a hora! Não esperava por isso!

— Sim. — Harry sorriu. — ele disse pra você fazer mais uma caminhada daquelas comigo depois de tomar o café da manhã... Pra ver se você tá mais forte e melhor preparado pra recuperar o restante que precisa em casa, sabe?

— Claro! 

— Então espera aqui que eu vou pedir pra trazerem o seu café da manhã.

— E você vai comer comigo, né?

— Claro. — Harry riu. — Vou trazer algo pra eu comer com você também.

***

Eu e Harry comemos juntos enquanto conversávamos sobre coisas aleatórias e assistíamos de relance os desenhos animados que estavam passando na TV. Eu amava assistir e ele também, embora não estivéssemos dando muita atenção a isso, já que a gente estava jogando conversa fora e aproveitando nosso momento juntos.

O café da manhã até que foi bem gostoso. 

Depois disso, desci com Harry para o pátio mais uma vez, fazendo aquela mesma caminhada. 

— Você tá bem melhor mesmo... Tá se recuperando até rápido demais, eu acho. — Harry elogiou. — Logo já nem vai precisar mais dessas muletas.

— Nossa, eu não vejo a hora...

***

Passamos quase duas horas no ar livre, caminhando e conversando. É claro que eu não deixava de fazer um carinho nele e soltar um elogio que o deixava sem graça.

Agora estávamos ambos solteiros e não tinha mais nada ou ninguém que impedisse a nossa reaproximação. 

A reaproximação de verdade. 

Harry continuava sendo aquele menino tímido que parecia se encantar com qualquer coisa carinhosa e romântica que eu dissesse ou fizesse a ele. 

Diante de Steve, por exemplo, ele parecia ser diferente. Não era tímido ou aparentava não ficar tão tocado por ações do tipo. Será que eu tinha esse poder todo pra mexer com o coração dele? Será que eu sou tão único assim pra Harry da mesma forma que ele é único pra mim?

Depois de voltarmos para o quarto, o médico veio até nós.

— Vejo que você está muito bem, Scott. — sorriu pra mim, ajeitando seu óculos. — É impressionante como não sofreu danos permanentes e como está se recuperando tão rápido. 

— Eu estou tão feliz e grato por isso. — respondi com um suspiro. 

— O mocinho aí que sempre te acompanha. — o doutor apontou seu dedo indicador para Harry. — Fica de olho nele e ajude-o a tomar conta da sua saúde mental. 

— Pode deixar. — Harry assentiu com a cabeça. 

— Eu não vou cometer esse erro de novo, prometo. — assegurei. 

— Mesmo assim, filho. Só por segurança. — ele pigarreou. — Então, Scott... Posso te dar alta hoje mesmo se puder confiar na sua palavra que vai continuar se recuperando em casa seguindo as regras?

— Com certeza. — esbocei um enorme sorriso. 

— Tudo bem... — ele sorriu. — Precisa de muito repouso e de algumas coisas que vou te prescrever. 

***

— Devagar... — Harry me pediu enquanto abríamos a porta da minha casa. — Isso, está indo muito bem. 

— Obrigado, nerd. — soltei um riso nasal, caminhando cautelosamente pra dentro. 

Harry fechou a porta. Com a ajuda das muletas, andei pela sala facilmente.

— Ah, eu já estou me acostumando. Quase cem por cento. — olhei pra ele por cima do ombro e sorri. — Acha que logo volto a andar completamente normal? 

— Bom, o médico disse que sim, muito provavelmente em breve. — Harry juntou as duas mãos e ficou me olhando.

— Olha, eu preciso tomar um banho digno. 

— Você... Vai precisar de ajuda? — Harry olhou pro lado e massageou a nuca. 

— Acho que não. — ri. — Mas se eu precisar, te aviso.

Dessa vez até eu tinha ficado envergonhado. 

— Tudo bem. — ele forçou um sorriso. 

— Obrigado por tudo o que fez e faz por mim, Harry... — andei até mais próximo dele. — Obrigado de verdade. 

— Não há de quê. — ele riu enquanto olhou pra baixo, com uma feição sem graça no rosto. — Eu faria isso e muito mais.

Suspirei em meio ao sorriso. Como ele poderia ser um garoto tão doce e amoroso assim?

— Eu vou tomar banho no andar de cima então e você pode usar o banheiro de baixo, pode ser?

— Claro. Vai conseguir subir as escadas normalmente?

— Não sei... Vamos ver. Tenho que subir de qualquer jeito pra pegar nossas roupas.

Caminhei até a escada e tive certa dificuldade pra subir com as muletas, mas Harry estava atrás de mim a cada degrau subido, de braços abertos pra me segurar caso eu perdesse o equilíbrio. 

Finalmente, consegui chegar no segundo andar sem muitos problemas.

— Viu só? 

— Parabéns, escalador. Essa foi a montanha mais alta que subiu? — Harry cruzou os braços com um sorriso sarcástico, se encostando na parede do corredor.

— Ha-ha. Muito engraçadinho, senhor Harry. 

Fui até o meu guarda roupa e separei as roupas, tanto minhas quanto as de Harrison. Queria que ele se sentisse confortável na minha casa e eu nem sabia quando ele iria embora.

Ou se ele iria embora. 

— Tem certeza que quer me emprestar sua roupa? Acho que não precisa...

— Precisa sim, Harry. Que isso. Não custa nada, cara!

Deitar na banheira foi fácil. Foi um momento muito relaxante que eu precisava. Acredito que ajudou até na circulação do meu sangue, minhas pernas até pareciam ainda mais equilibradas, fortes e responsivas. 

Lentamente me sequei e vesti minha roupa.

Ao sair do banheiro com as muletas, não avistei Harry por perto.

— Harry? — o chamei.

— Estou aqui. — a voz veio do meu quarto.

Fui até lá com aqueles sons das muletas que odiava tanto. 

Ao chegar, Harry estava sentado na cama de casal, mas se levantou quando me viu.

— Ocorreu tudo bem?

— Sim, Harry. Não se preocupa. 

— Eu nunca tinha visto seu quarto antes... É bem bonito. — olhou ao redor.

— Obrigado. — sorri. — Bom... Você vai querer ficar aqui? Passar a noite?

— Claro que sim. Tenho que tomar conta de você, esqueceu?

— Não queria te atrapalhar. — torci os lábios. 

— Nunca vai me atrapalhar por isso. — ele cruzou os braços, me falando seriamente. 

— É, então... — olhei pro lado e sentei na cama, apoiando as muletas na parede. — Eu não sei se você vai continuar na minha vida sendo um amigo, ou algo mais do que isso, se é que me entende... 

Decidi falar logo o que estava entalado, mas estava ficando envergonhado e com o coração acelerado. 

Eu não podia desistir de falar agora, de qualquer forma.

— Mas de qualquer jeito, eu só preciso de você na minha vida. — olhei pra ele e sorri levemente. — Você estando na minha vida está tudo bem. 

Harry ouvia tudo com seus braços cruzados e expressão séria. 

Houve um breve silêncio, logo quebrado pelo curto riso que ele emitiu. 

Harrison caminhou lentamente até mim e se sentou do meu lado. Ficou me olhando por alguns segundos em silêncio e de repente inclinou seu corpo pra mais perto de mim, fechando os olhos e... Pressionando seus lábios contra os meus. 

— Isso responde a sua dúvida, seu estúpido? — Harry sorriu de orelha a orelha no momento em que afastou o seu rosto do meu em uma curta distância. 

— Ainda não tenho certeza. — sussurrei com ironia ao fitar os lábios dele, com sede por mais. 

— Ah, não? — Harry gargalhou. 

— Não. — ri. 

— Scott... — ainda com o sorriso no rosto, Harry apoiou suas mãos no meu pescoço e me beijou intensamente. 

Por quanto tempo eu esperei por esse beijo de novo. Há quanto tempo eu sofri com sua ausência e não havia enxergado tão claramente quanto nos últimos meses, ou ainda mais agora. Nos beijávamos com amor, com paixão, sedentos, mas a sede parecia nunca ser saciada por nenhum de nós dois. 

Nesse momento, com ele, tão conectados, era impossível não sentir que éramos um só. 

Já estava me sentindo sem ar e acredito que ele também. Estava com a garganta seca, meus lábios dormentes, mas o gosto de Harry jamais seria o suficiente para que eu encerrasse aquele beijo. 

O abracei forte contra o meu corpo e nos desequilibramos, caindo na cama. Me posicionei por cima dele, já não ligando muito para as partes doloridas do meu corpo. 

O beijava cada vez mais amorosamente, entrelaçava nossas línguas e mordia seus lábios. 

Mas eu queria mais. 

E já não poderia suportar adiar mais isso.

Desci os beijos até o seu pescoço, o que fez com que eu pudesse ouvir de perto a respiração ofegante dele. Uma de suas mãos estava agarrada às minhas costas e a outra massageando o meu cabelo. 

Harry soltou um gemido com os chupões no pescoço. Isso me excitou mais ainda. Lentamente, com as duas mãos descendo pelo corpo dele, fui levantando sua blusa.

— Scott. — ele sussurrou. 

— O que foi? — sussurrei de volta ao me afastar um pouco do seu corpo, olhando pra ele.

— Eu tô preocupado, não sei se a gente devia...

— Preocupado com o quê? 

— É que o médico disse que você precisa de repouso, lembra? E eu-

— Eu preciso é de você. — o interrompi, logo antes de beijá-lo intensamente outra vez. 

FIM DO CAPÍTULO

Estão felizes, mores?

Espero que tenham gostado desse cap inteirinho só pro Scott

Próximo em breve


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