Sempre sua Garota [✓]

By ars_amanda

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🏆 OBRA VENCEDORA DO WATTYS 2021🏆 A vida de Lennon Clarke tomou um rumo inesperado ao ser traída por seu fut... More

SEMPRE SUA GAROTA
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prólogo
parte única| sua garota
01| antes | ele
02| agora | não volte
03| antes | nós e mais dois
04| agora | lar doce lar
05| antes | elas
06 | agora | feridas
07 | antes | quase
08 | agora | medos
09 | antes | idiota
10 | agora | em queda
11 | antes | aposte em nós
12 | agora | minta por amor
13 | antes | sem arrependimentos
15 | antes | estamos bem
16 | agora | em colisão
17 | antes | estou bem
18 | agora | vida nova
19 | antes | não estou bem
20 | agora | verdades nunca ditas
21 | antes |é melhor assim
22 | agora | últimas palavras

14 | agora | as coisas que ignoramos

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By ars_amanda

BOSTON, USA
METADE DO OUTONO

Meus lábios sabem o que fazer, os movimentos exatos, minha língua sabe os pontos que devem tocar daquela familiar boca, e é o que faz. Minha língua acaricia pontos sensíveis da sua boca e dança com a língua da mulher deitada com as pernas em torno do meu corpo. Minha boca engole seus gemidos. Seus dedos abrem caminho em minhas madeixas. Porém o sangue continua a correr normalmente pelo meu corpo, ou não, pois parece irrigar com mais intensidade meus neurônios que não paravam de trabalhar, causando uma aguda dor em minhas têmporas.

Meus dedos se afundam contra o fino tecido que revestia do corpo da mulher deitada embaixo de mim. Meus lábios beijavam os seus, minhas narinas estavam impregnadas por seu perfume, mas minha cabeça ignorava todas as características daquela mulher de cabelos negros e cacheados, pele morena e cheirosa, apenas para dar espaço a uma cabeleira de fogo que queimava em meus pensamentos.

Sua vagina roçava o membro contido na calça jeans. Mas nada, não estava sentindo nada naquela noite. Sabia que deveria beija-la, tirar nossas roupas, excita-la o suficiente em uma longa a atenciosa preliminar, para depois possui-la arrancando gemidos que ecoariam pelas paredes do pequeno quarto.

Mas só de pensar naquele roteiro, toda minha vontade se esvai. E o sangue que deveria estar concentrado no meu membro, preferiu ficar circulando nas veias da minha cabeça.

Desvencilho meus lábios dos de Billy.

— Não posso — suspiro.

Seus olhos com a pupila dilatada são uma clara evidencia de que ela não compartilhava da minha falta de desejo naquela noite, assim como seu peito que subia e descia visivelmente e suas bochechas com um suave tom rosado.

— O que? — seus globos oculares dançam em minha direção confusos.

Aceno negativamente a cabeça, ficando meus dedos já afundados no colchão de molas, impulsiono com a ajuda do meu joelho meu corpo para trás, para fora daquele leito, seus braços não relutam em prender meu corpo que prontamente é sustentado em pé, diante de uma visão que me deveria ser tentadora: uma mulher esparramada e excitada em uma cama, trajando apenas uma calça jeans e um sutiã preto rendado, que sustentava seus salientes seios.

Passo a mão entre minhas madeixas desalinhadas, buscando um pouco da minha sanidade que parecia ter se esvaído a alguns dias. Fecho minhas pálpebras, como se buscasse um pouco de privacidade.

Giro meus calcanhares, chocando a dobra dos meus joelhos no colchão, sento meu corpo que se reclina, os dedos das minhas mãos se entrelaçam, meus antebraços se apoiam em meus joelhos, enquanto minhas narinas se dedicam a diária tarefa de sugar um ar que parecia insuficiente a meus pulmões.

E pareciam ter força insuficiente para afastar as lembranças, os pensamentos e aquela desconfortável sensação de que tudo estava errado. Trago uma amarga saliva.

— Minha esposa voltou — balbucio sem forças aquela informação.

Apesar dos meus olhos estarem fechados, não consigo ignorar os movimentos das molas em torno de mim.

— O que? — aquele questionamento é soprado próximo a minha orelha.

Abro minhas pálpebras, giro o pescoço só para esbarrar na figura feminina sentada ao meu lado, com o corpo empertigado e as pernas cruzadas.

Meus lábios se curvam sem humor, quando percebo que pela primeira vez revelava a aquela mulher de que em minha vida – presente ou não -, já existia outra figura feminina, com um papel de protagonista.

A ponta da minha língua umedece meus lábios secos.

— Eu sou casado — revelo diante do seu atento olhar, que fixa em mim — E minha esposa está de volta.

Suas pálpebras piscam algumas incontáveis vezes.

— Então você é casado? — não tenho a certeza se aquelas palavras são dirigidas a mim ou a ela.

Mas de qualquer forma, aceno positivamente. Desvencilho meus dedos um dos outros, os roço em minha barba, impulsiono meus joelhos que empertigam-se sem dificuldade, sustentando meu corpo nas minhas botas de couro.

— A história é longa — murmuro enquanto caminho em direção a uma cômoda do lado aposto, recosto meu corpo nela, como se precisasse de espaço — Há três anos atrás me apaixonei, me casei, vivemos juntos durante alguns meses e ela foi embora há dois anos atrás — resumo a minha história em poucas palavras.

Billy acena, com seu corpo repousado na cama, seus olhos fixos no chão não demoram em alcançar os meus, enquanto sua mente parecia processar meu sucinto resumo.

— Então ela voltou? — seus lábios questionam uma informação já ciente — Há quanto tempo?

Elevo os ombros em desdém, para alguém que contava os dias, não tinha me ocupado a tarefa de marcar no calendário a quantos dias Lennon Clarke estava de volta naquela cidade e na minha vida, apenas sabia o nosso número de reencontros: 3.

— Um pouco mais de uma semana — deduzo.

Sua cabeça maneia positivamente, seus olhos vagueiam distantes, pensativos, antes de voltarem a encarar-me.

— Por isso você estava transtornado naquele dia?

E é a minha vez de acenar positivamente.

— Por ela? — conclui em um tom distinto, um tom que nunca tinha ouvido ser proferido por seus lábios que sempre expeliam sons de prazer ou animados.

Uma dolorosa culpa recai sobre o meu ser, meus dedos passeiam por minhas madeixas ainda desalinhadas, enquanto meus olhos vagueiam pelo piso daquele cômodo em busca da única peça de roupa que havia sido arrancada do meu corpo, minha camiseta azul escura.

— Não sei o que dizer — aquelas palavras soam sinceras e confusas.

E com a mesma sinceridade, meus lábios balbuciam:

— Desculpa ter omitido essa informação — a encaro, sem reação — Não imaginei que ela voltaria.

Jamais imaginei voltar a ver Lennon.

Era uma dolorosa verdade que queimava em meu interior. Sabe quando você parece ter esperanças, esperar e dizer que ela vai voltar e todos ao seu redor acreditam? Eu agia assim, quando o assunto era ela, mas em meu interior uma voz deprimente ecoava, desestimulava minhas esperanças e trazia a certeza que jamais voltaria a encarar seus belos olhos castanhos, cabelo de fogo e pele de pêssego. Jamais.

Mas o dia que meu otimismo sempre pregou chegou, afogando meu pessimismo.

— E você quer correr para ela? — aquelas palavras chegam afiadas em minha direção.

E quando queria negar, dizer que não, não consigo, pois os olhos negros de Billy parecem desnudar a pele que envolvia meu corpo, e a casca que guardava meus pensamentos.

Meus lábios tremulam um sorriso delator, acompanhado de um fungar das minhas narinas que sopram o ar sem humor algum.

O que responder?

Sim?

Sim. Quero, mas ela não me quer.

Não?

Não. Não quero, apenas a presença dela me desconcentra, desconcerta e perturba.

— Você sabe que não temos nada sério, Avery — os lábios morenos da mulher sentada diante de mim se antecipam aos meus pensamentos — Apenas nos divertimos juntos.

Aquilo deveria ser uma carta branca, para que agarrasse minha camiseta jogada no pé da cama e passasse por aquela porta como um pequeno tufão, e alcançasse o único destino que queria, apenas para ela me rejeitar.

— Eu sei — balbucio com certa culpa por mentir por tanto tempo.

— Vocês? — o restante da pergunta fica no ar, como se fosse compreensível para mim.

Estreito meus olhos em sua direção, apoiando minhas mãos na cômoda de madeira que apoiava meu corpo.

— Nós? — questiono confuso.

Seus ombros dançam acentuando algo que parecia incerto.

— Ela quer voltar para você? — a pergunta é certeira.

Meus lábios se curvam sem humor, não conseguindo ocultar a melancolia do meu anterior, por a resposta a aquele questionamento ser negativa. Se, e tão somente se, Lennon Clarke me quisesse de novo, estaria rendido aos seus pés, ignorando tudo o que tinha acontecido nos últimos anos e esquecendo tudo.

As vezes sentia-me um idiota por amar com tamanha devoção, veneração, mas amava, e justamente por amar daquele forma é que estava sendo destruído. Porém o que me perturbava naquela noite e nós últimos dias não era o amor devoto, mas a mesma fagulha que vi queimar naqueles olhos castanhos.

Lennon não disse nada, não me beijou, nem me tocou, mas seus olhos e seu corpo não rejeitaram as minhas caricias, não se opuseram as minhas palavras e não repudiaram meu toque, ao contrário, ele tremeu, como nos velhos tempos.

— Não — e ignorando tudo que fervilhava em minha mente, balbucio.

— Não? — seu tom é cheio de desentendimento, tanto que seus lábios ficam entre abertos e confusos.

Maneio negativamente a cabeça.

— Ela me deixou — danço meus ombros no ar, para acentuar o ar de lógica em minha resposta — Foi ela quem me deixou.

As narinas de Billy se expandem, suas mãos passeiam por suas madeixas, como se buscasse afastar alguns fios incômodos que pinicavam sua pele.

— Agora estou confusa — seus olhos voltam em direção aos meus — O que você pretende fazer?

Cruzou meus braços, confortável com aquela conversa.

— Nada

— Nada? — a ponta da sua língua roça em seus dentes.

— Nada — enfatizo minha negativa.

Afinal, o que eu poderia fazer? Correr em sua direção, enquanto ela corria de mim? Não.

— Você a ama? — o interrogatório continua.

Como no primeiro dia.

— Amo — aquelas palavras se afundam como uma faca em meu peito.

Billy descruza as pernas, as dobrando esticadas em direção ao chão, parecendo não se incomodar com seu tronco parcialmente desnudo.

— Você deveria lutar por ela — e seus lábios expelem o último conselho que esperava ouvir.

Aceno, em um suave movimento de ponderação, absorvendo aquele conselho que era em partes adepto, mas como lutaria por alguém que não queria? Nos últimos dias apenas demos voltas, como se tivéssemos dançando tango, eu dava um passo para frente e ela dois para trás.

— É complicado Billy — profiro a única resposta que saberia dizer — Ela foi embora, não quer me contar o motivo, voltou com outro e — descruzo meus braços, jogando minhas mãos no ar — E foge de mim.

Seus lábios se curvam para o lado, como se eu fosse um bobo ou cego.

— Se ela não sentisse nada por você, não fugiria.

— Você acha? — estreito meus olhos em sua direção.

Somente um dos seus ombros se eleva em um ângulo perpendicular.

— Nós mulheres somos claras e precisas — revela, enquanto suas pernas balançam calmamente sem que seus pés tocassem o piso — Quando não queremos dizemos não — um ar humorado resfólega em suas narinas — E quando duvidamos dizemos talvez, principalmente quando sentimos medo.

Aquela informação queima meus neurônios cansados em trabalhar em busca de causas, motivos, consequências, soluções e porquês. Mas mesmo assim absorvo aquelas palavras.

—Então a Billy te dispensou? — aquele questionamento vem da mulher alta, magra e cabelos negros do outro lado do balcão — Assim? Fácil?

Uma mediana garrafa de vidro marrom é deslizada em minha direção sobre a bancada de madeira encerada. Meus dedos não rejeitam o pedido, levando o circular e pequeno bico do recipiente até os lábios, deixando o amargor da cevada queimar minhas papilas gustativas.

— Não assim — pondero, repousando o recipiente contra a madeira — Mas acho que é difícil voltarmos a nos relacionar depois de tudo.

Depois de tudo que revelei. Digamos que após a conversa que tivemos na noite passada, nós não terminamos na cama, nem com um caloroso beijo, ou abraço amigável, pela primeira vez tivemos um momento constrangedor, em que não tínhamos muitas palavras a serem trocadas.

— Pelo menos você foi sincero com ela  —Nicolá tenta resumir a situação de uma forma bela.

Curvo os lábios agradecidos. Um agradecimento que não chega até a  atenção dos seus olhos, que vagueiam distantes, em direção a um cliente que recosta sua barriga no balcão e solicita alguma bebida.

Beberico mais um gole da cerveja quente posicionada entre meus dedos, meus olhos passeiam pelo ambiente pouco movimentado, quase vazio, um fato que permitia Don Harper tirar folga e deixar Nicolá em seu lugar, no seu segundo turno, como barman.

Poucas mesas estavam ocupadas. Duas com casais, outras três com grupos de amigos e a mesa de sinuca era usada por um trio de homens que jogava animadamente e falantes, simples constatações que me fizeram ter a certeza que naquela noite não sairia preso, ou acabaria em briga.

Ou não

Meu olhar resvala em uma figura, prende-se em uma alta figura masculina, cabelos loiros, olhos claros, musculoso, estreito a musculatura dos meus olhos em sua direção, como se pudesse dar a função de zoom aos meus olhos, que pouca diferença conseguiram com aquele forçar.

Eu o conheço

Aquele pensamento inquieta minha mente que começa a enumerar lugares cotidianos em que poderia ter esbarrado naquela figura pouco familiar.

— E o que você pretende fazer agora? — aquele questionamento assusta minha curiosidade.

Abro e fecho minhas pálpebras alguns vezes diante da figura recostada do outro lado do balcão, tentando processar seu questionamento.

— Sobre o que? — busco a parte essencial daquela pergunta.

Os dedos de Nicolá coçam a sua nuca, enquanto seu cotovelo apoia-se na superfície de madeira.

— Sobre a Billy? — seus cenhos dançam sugestivos, crispando sua testa — Sobre a Lennon?

Lennon?

Meus ligeiros olhos voltam para a figura esquecida na mesa de sinuca, encontrando apenas dois homens, o procuro pelo ambiente, encontrando quase uma sombra da sua presença em direção aos banheiros.

É ele?

— Avery? — ignoro aquele chamado distante.

Ignoro a figura amigável e próxima, meus dedos abandonam a garrafa de cerveja, finco meus coturnos no piso de cimento queimado, não o sigo, mas o acompanho e seu destino final. Enquanto obrigo minha mente a refazer aquele dia, o fatídico dia do meu reencontro com Lennon.

Empurro a porta de madeira, meus olhos vasculham o ambiente com uma enorme pia de granito, com três torneiras, três mictórios e duas cabines, meus tímpanos não ignoram o familiar som da descarga vindo de uma das cabines.

Demora

Recosto meu corpo na parede ao lado da porta, cruzo meus braços contra meu tórax, o destravar da porta é audível, assim como as dobradiças que rangem dando passagem para o alto corpo do homem de olhos claros que dança seus lábios em um sorriso gentil assim que depara-se com a minha figura estática ali.

— Já está desocupado — e aleatório a tudo, seus lábios murmuram.

Seu corpo alcança a pia, deixando a gélida água acariciar sua pele, seus olhos repousam no meu reflexo do espelho, seus lábios assumem uma linha reta, seus ombros assumem certa tensão.

Analiso toda a sua figura, permitindo que a minha mente encaixasse aquela figura nos fragmentos de lembranças que tinha guardado daquele dia.

— Você sabe quem eu sou? — buscando ter certeza, profiro a única pergunta que soava lógica.

Seus ombros dançam em desdém, seus olhos fixam-se no meu reflexo, sobem e descem, em busca de alguma informação adicional, capaz de ajudá-lo.

— Deveria? — delineando um sorriso gentil, seu questionamento retorico chega até a mim — Nós conhecemos em que lugar?

Aparentemente ele não conhecia a minha figura, a minha imagem. Aquele fato não me causou estranheza, afinal Lennon não carregaria fotos minhas por ai, principalmente as esfregarias na cara do seu amante. Certamente Lennon o tratava como eu a Billy, uma relação em que mantínhamos nosso passado de fora. Se era certo ou errado não sabia, mas era necessário para não ter-se um fantasma no meio de duas pessoas.

— Sou, John Avery — profiro meu nome de batismo, como se aquilo fosse capaz de dizer tudo.

E visivelmente a musculatura sob sua camisa cinza se enrijece, suas mãos paralisaram a simples tarefa de lavar-se, o reflexo do seu pomo- de- adão mexendo-se é visível a meus olhos desprovidos dos meus óculos para longe.

— Vejo que sabe quem eu sou — balbucio.

Minhas palavras o arrancam de um transe. Sua cabeça acena positivamente e como se o mundo fosse pequeno e Boston menor ainda, nossos destinos estavam parados no mesmo ponto. Ele desliga a torneira, me dá as costas para pegar alguns papéis baratos e de pouca absorção para seca a água sobre a superfície da sua pele.

— O que você quer? — suas mãos se ocupam a amassar o papel barato e seus olhos em acertar a lixeira.

Seu tom civilizado e inabalável não afeta a minha necessidade de fechar meu punho e esmurrar a sua patética face. Mas não o faço, nem fecho meu punho, apenas o observo.

— Como é estar com uma mulher casada? — o provoco, delineando um sorriso sem humor nos meus lábios.

Enquanto os seus lábios permanecem estáticos em uma linha reta. Suas narinas se limitam a captar o oxigênio do pequeno espaço.

— Ela só é uma mulher casada, ainda — sua língua acentua a última palavra, quase em um cantarolar — Porque você não quer assinar o divórcio.

Ele poderia não me conhecer, mas não estava a margem da situação, bem como da minha constante recusa em permitir que aquela mulher deixasse o posto de minha esposa.

— Como é para você? — curvo apenas uma das laterais dos meus lábios, empertigando meus ombros com os braços cruzados — É excitante estar com alguém que não te pertence? — retribuo a alfinetada.

Sua cabeça maneia, processando minha ofensa que parece não atingi-lo. Seus lábios tremulam um sorriso gentil e compreensível.

— Eu entendo que você esteja chateado e magoado — seu tom é cordial, até amigável — Mas tem que entender que acabou.

Suas palavras me atingem, enquanto sua postura amigável aguaça a irritação do meu interior, descruzo meus braços, deixando-os que caísse ao lado do meu corpo com o punho fechado.

— E você não teve nada haver com isso? — silabo meu questionamento, dando um passo para frente.

Minhas unhas ficam-se nas palmas da minha mão, um dos meus pés dá apenas um passo para frente, enquanto o corpo do homem diante de mim permanece imóvel e intacto, como se meu movimento não fosse uma ameaça.

— Ela me procurou — suas palavras são precisas e calma — Ela escolheu vir comigo.

E como se tivesse sido o vencedor, que não quisesse tripudiar o perdedor, seus olhos repousam com certa compaixão sobre mim.

— E você aceitou — curvo os lábios sem humor — Simples assim.

Diminuo nossa distancia com mais dois passos. Ele permanece imóvel, soberbo e cheio de razão, como se eu fosse o maluco.

— Eu não sei o que você quer que eu diga? — balbucia, como se quisesse acabar logo com algo que já tinha terminado — Que sinto muito por seu casamento não ter dado certo? — suas mãos dançam no ar acentuando a casualidade das suas palavras e parecendo querer me trazer calma — Eu sinto — suas palavras abstém sua culpa  — Que sinto muito por ela querer mais do que você poderia dar? — e lá estava, um desconhecido, atribuindo o fracasso do meu casamento a mim — Eu sinto muito — suas palavras tentam assumir sinceridade, que não me são crédulas — Mas eu não sinto por ela ter me escolhido.

Ranjo meus dentes uns contra os outros, os nós dos meus dedos doem tensos, meus pés voam em sua direção e antes que pudesse me controlar, minha respiração bufante esta chocando contra o homem a um passo de distância de mim.

Puxo meu punho fechado em direção a aquela expressão cheia de razão e inabalável. Mas ele não chega até o destino final, obrigando meus olhos a tombarem nos dedos que envolviam meu pulso, subo meus olhos sobre o braço com algumas tatuagem, encontrando a figura imponente de Nicolá .

— Não Avery — seus lábios balbuciam assim que nossos olhos se esbarram — Não faz isso, por você.

Seus dedos continuam me detendo. E mesmo querendo me desvencilhar dos seus dedos, talvez empurra-la, mas não o faço. Apenas aperto minhas pálpebras, trago minha amarga saliva, soprando o ar entre meus lábios.

Balanço a cabeça, não em algum gesto especifico, apenas a balanço.Nicolá solta meu pulso, permitindo que meus dedos penteassem minhas madeixas.

Giro os calcanhares, tentando me afastar daquela situação e da mulher que certamente me impediria de bater em meu rival.

— Ela não ama você — sem poder acerta-lo com meus punhos, tento faze-lo com as minhas palavras.

— Como pode ter certeza? — suas palavras são controladas.

Uma risada explode por entre meus lábios, o encaro, rindo, como se tivesse ouvido uma piada.

— Se você acha que ela o ama — minhas palavras são precisas em sua direção — É porque não a conhece — crispo meu nariz em direção a testa, só para acentuar a razão das palavras proferidas pelos meus lábios.

Seus ombros dança em desdém. Suas mãos enfiam-se no bolso da sua calça de alfaiataria. Seu queixo maneia como se não tivesse o atingido.

— Ou talvez — seus lábios suspende aquelas palavras no ar — Seja você quem não a conheça — aquela insinuação me atinge, como um soco certeiro no meu rosto ainda cicatrizando — Aceite que acabou e poupe mais sofrimento para vocês dois — ignoro aquele conselho — Ela não merece isso, ela merece ser feliz.

Meu abdômen oscila a risada que escapa da minha garganta. Meus dentes mordem meu lábios inferior. Supro a nossa distância, mas o braço de Nicolá é mais rápido em circuncidar meu corpo, detendo meus pés a poucos centímetros de distância daquele homem.

— E ela é feliz com você? — mas minha amiga não consegue deter a minha língua — Ela sorri enquanto dorme? — sua feição permanece inabalável — Ela dança sozinha quando não tem ninguém por perto? Ela cantarola alguma canção em francês enquanto toma banho ou cozinha? — à medida que meus questionamentos saem, seus ombros murcham e murcham, satisfazendo meu ego interior — Ela escreve na tua pele com a ponta do dedo? Suas bochechas ficam rosadas quando você diz alguma sacanagem no pé do seu ouvido? — o queixo do homem estático diante de mim se empina, como se quisesse retomar sua postura inabalável — Ela faz isso com você?

Seus lábios se colam, os meus se curvam vitoriosos.

— Foi o que eu imaginei — vitorioso declaro.

Encaro a figura da minha amiga detendo-me. Jogo meus braços no ar rendido, pois tinha alcançado meu objetivo e deixado meu adversário derrotado no chão.

— Está tudo bem, Nicolá— murmuro em sua direção — Eu já terminei aqui.

E deixando aquelas palavras suspensas no ar, giro meus calcanhares, refazendo meus passos até a saída daquele lugar. Sem deixar de saborear a momentânea satisfação de que Lennon Clarke continuava sendo a minha garota.

Então meninas, gostaram desse encontro?
Chegamos no capítulo 14, e agradeço tanto carinho e atenção com a história.

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