~ Dener ~
Cheguei na casa dos Hurley's, com a ansiedade esvaindo por todos os meus poros. É hoje, é agora que eu vou admitir tudo pra ela, vou finalmente falar o que tentei esconder faz um tempo. Julie me deu toda a coragem que estava faltando, e não posso desperdiçar nada disso. Ela está certa, preciso tentar antes que o Sebastian volte com aquele papinho de estar arrependido e de que finalmente ambos conseguiriam o que queriam. Amber não pode voltar com aquele babaca, e se for para enfiar o meu orgulho no fundo do poço para impedir isso usando os meus próprios sentimentos, que assim seja.
Estacionei a moto e quando tirei o capacete, vi uma garota de braços cruzados andando de um lado para o outro de maneira impaciente no portão. Reconheci o cabelo castanho quando a mesma o prendeu.
- Acho que errou a casa, Jess.
Ela virou na minha direção pelo susto e deu um sorriso ao me ver, que eu sem nem pensar duas vezes retribui. Coloquei o capacete ali em cima e me aproximei, pondo uma mão no bolso.
- Mas você parece que acertou em cheio a casa, não é? - Ergueu uma sobrancelha, com o sorriso de insinuação nos lábios.
- O que faz aqui?
- Amber não responde as minhas mensagens, então vim ver como ela está desde aquela coisa toda com o Sebas e com a Julie, e você?
Dei de ombros, não querendo admitir que realmente estou aqui para dizer que eu estou completamente enfeitiçado pelo maldito canto da sereia mimada que estou tomando conta há uns meses.
Jéssica cruzou os braços, ainda sem tirar o seu olhar de cima de mim. Claro que ela sabe. Ela sempre soube, e suspeito que boa parte das coisas que já fez foi para acabar exatamente aqui onde estamos agora. Seu sorriso me deu essa certeza.
- Você é péssimo em disfarçar, Den. - Rimos em sintonia, com a garota negando com a cabeça. - Então vocês estão...?
- Apaixonados? - Dei um sorriso de lado, surpreso pela minha naturalidade em dizer em voz alta. - A Amber eu não sei, mas eu... - Respirei fundo.
Jéssica riu e aplaudiu em animação. Estava tão óbvio que isso ia acontecer?
- Finalmente! - Ergueu ambos os braços para o céu. - Achei que nunca aconteceria.
E eu também não. Jamais pensei em me apaixonar por uma garota mais nova, que tem a vida quase feita e é mimada, mas que também é frágil, sensível e que não pensa duas vezes antes de se jogar de cabeça em alguma situação. Amber com certeza nunca foi do tipo que me atrairia em outras situações, na real, ela é o tipo de garota que eu sempre fiz questão de me manter bem longe, por não suportar esse temperamento e essa forma absurda de pensar na maioria dos casos. Ela é realmente alguém que em hipótese alguma eu pensaria em me envolver.
Mas, aqui estou eu, pensando em como encarar o meu próprio orgulho e medo de finalmente dizer o que sinto. Talvez a Amber só ria na minha cara, me chamando de emocionado e dizendo que vivemos apenas uma coisa bem casual e bem indiferente, ou então me odeie por sei lá, achar que estou em seu pé. Estou bem nervoso, e espero que mesmo que ela não sinta o mesmo... Ah, não sei nem o que é melhor para fazer nessa situação. Vou preferir que ela me diga? Omita? Aja com naturalidade? Disfarce? Não sei, mas com certeza mentir não é lá uma opção.
Droga, nunca me vi em uma situação dessas. Achei que seria mais fácil, que seria apenas chegar e dizer independente das consequências, só que, eu não quero que ela se afaste. Não quero que Amber pare de usar o seu sarcasmo, deboche, maneira insuportável de ser comigo. Não quero ter que ficar sem observar o movimento do seu cabelo no vento, seus olhos castanhos cheios de raiva e tédio, sua boca que só é aberta para falar besteira ou ofender alguém. Sua revirada de olhos, bater de pé, sinais obscenos com os dedos... Ela é perfeita, e eu vou ficar perdido sem essa garota.
- Ei, não se preocupe - A voz de Jéssica me trouxe de volta a realidade. - Eu sei que ela sente o mesmo.
Meu coração acelerou com essa - quase - certeza.
- Você acha?
- Claro, Den. Conheço a minha melhor amiga
- E o que eu devo fazer?
Não era tão difícil quando ao invés de comunicação, resolviamos as coisas no xingamento, ironia ou nos beijos que se iniciavam após provocações ou discussões sem sentido. Cocei a nuca, sentindo a minha garganta ficar seca.
- Dizer a Amber o que está sentindo por ela, sem medir esforços
Fiquei com o olhar perdido na direção da casa dos Hurley's.
- Jess, a minha vida vai virar completamente de ponta cabeça. O que vai acontecer depois que eu contar?
- Só tem um jeito de saber...
Dei um sorriso de lado, concordando com a cabeça. Sinto que vou vomitar a qualquer momento.
- A pior parte - Murmurei.
- Você acha? - Ela riu. - Achei que ia ser muito mais complicado
Ergui uma sobrancelha em sua direção.
- Você nem ouse desmerecer o meu trabalho, Jess. Foi complicado sim e só eu sei como - Suspirei.
Jéssica riu de novo.
- Okay, garotão. Pelo menos você cumpriu a sua parte
- É, acho que sim... Ainda não acredito que a Amber está apaixonada por mim.
Bom, ao menos é o que a garota ao meu lado disse. Admitir isso, acreditando que pode sim ser verdade faz os meus batimentos acelerarem.
- Mas acredite. A Amber está apaixonada, e você conseguiu cumprir o seu "desafio" - Fez aspas - De fazer isso acontecer. Eu sabia que conseguiria.
Engoli a seco. Não acho que tenha sido uma coisa justa, mas no fundo era apenas eu fazendo o que não tinha coragem de admitir que queria.
- Não foi bem um desafio, Jess. Foi um...
- Desafio? - A voz da Amber me fez quase dar um pulo.
Virei na direção da mesma, que está me encarando com os olhos marejados.
(....)
Apertei as grades frias do portão, observando dolorosamente Amber, a garota que eu jamais imaginei que iria me deixar apaixonado, ir andando na direção de sua casa, me deixando para trás com o desespero e o sentimento de perda. Sentir que tudo o que aconteceu foi em vão me deixa apreensivo, e eu estou sentindo vontade de gritar, implorando para que ela volte. Chamei seu nome duas vezes, mas Amber nem se disponibilizou a olhar para a minha cara derrotada, com seu passos cada vez aumentando mais a velocidade, ficando a cada segundo mais longe de onde estou.
Senti a mão de Jéssica sobre o meu ombro, dizendo coisas que nem me importei em entender. Abaixei a cabeça, apoiando a mesma sobre minhas mãos ainda segurando as grades. Eu errei, inúmeras vezes errei com a Milla, com a minha mãe, talvez com a Hannah. Jéssica? Lúcia? Julie? Não sei, mas com a Amber... Fui babaca o suficiente para ela ter ido embora e não ter ficado comigo? Admitiu que sente o mesmo, mas por que a sensação de fracasso está me rodeando?
Eu nunca quis machuca-la, só que, e se eu fiz isso sem notar? Ela foi embora. Amber foi embora. Ela me deixou, aqui, na porta de entrada da sua casa sem rumo, com o sangue esfriando e a cabeça dando mil voltas sem parar. Errei? E se sim, onde?
- Den, vamos...
Não vou chorar, não vou chorar, não vou chorar.
Respirei fundo tentando não surtar. Como tudo mudou tão drasticamente?
Sem dizer mais nada e rendido ao desespero vendo que a garota já cruzou todo o jardim e fechou a porta atrás de si, me aproximei da minha moto, pondo o capacete e sinalizando com a cabeça para que Jéssica fizesse o mesmo. Seus olhos castanhos me observaram por uns segundos, possivelmente refletindo se vale a pena uma conversa forçada ou se talvez é melhor ir sem dizer nada.
Após notar que realmente não estou mais com cabeça para uma conversa descente que não me destrua mais ainda, ela subiu na garupa, apertando a minha cintura com os braços em volta da mesma. Fomos o caminho todo em silêncio, e eu me aproveitei da viseira levantada para deixar o vento me trazer uma sensação de que sim, eu estou vivo, e isso não foi apenas a porra de um pesadelo. Amber me deixou, e nada que eu faça vai mudar isso.
Deixei Jéssica em casa e fui para a minha. Observei com cuidado as árvores ficando para trás no decorrer das ruas e ruas. Meus olhos se encheram de água umas três vezes, mas eu me mantive forte enquanto as palavras ficaram ecoando na minha mente...
A Amber se foi.
Aquela garota insuportável se foi, admitiu sentir o mesmo, mas foi embora. Ela disse que está quebrada, e eu não sei como ajudar.
Virei o punho, acelerando mais com as batidas do meu coração ecoando pelos meus ouvidos.
Ela me deixou.
Parei quando notei já ter chegado em casa. Respirei freneticamente ainda em cima da moto, tomando coragem o suficiente para entrar em casa e encarar essa realidade no vazio do meu quarto. Fechei os olhos, sentindo o vendo frio rodear os meus cabelos quando tirei o capacete. Preciso beber.
Tomei um último fôlego ao abrir a porta e entrar encarando o chão. Tirei o casaco e o tênis, mordendo o lábio e sentindo um nó gigante na minha garganta. Estou desorientado, espero que os gêmeos não notem e muito menos perguntem como foi, apesar de felizmente não saberem com quem saí.
Ergui o rosto, vendo minha mãe no sofá da sala vazia com um copo transparente de conhaque, e uma camisola de seda lilás. Ela está com a mão esquerda na testa. Franzi as sobrancelhas.
- Mãe? Está tudo bem?
Sem nem abrir os olhos, Rita respirou fundo.
- Dener, senta aqui.
Sua voz áspera me deixou tenso. Não falei nada, apenas me aproximei e sentei ao lado dela, que quando sentiu a aproximação, deu um último gole na bebida e virou o corpo para me encarar.
- Mãe, se foi por eu ter saído sem avisar, saiba que falei para a Hannah e o Harry para onde fui e...
- O James me ligou, disse que viu um vídeo seu e da Amber se beijando no começo da escada, no dia da festa de aniversário da Ana.
Enteabri a boca, sentindo minha mão ficar trêmula.
Só faltava essa.
- M-Mãe, e-eu posso explicar...
- Eles te demitiram, Dener. O James disse que é inaceitável deixar um jovem adulto "pegando" a filha adolescente nos cantos da casa deles - Fez aspas. - E não foi esse termo que ele usou
- Eu só... - Tentei dizer, mas as palavras não saíram.
Demitido.
Se eu estou demitido, então nossa situação acabou de piorar. Estávamos vivendo com mais facilidade desde que arrumei o emprego na casa dos Hurley's, só que, desempregado não da nem para os gêmeos ficarem aqui mais de uma semana por mês. Toda a minha esperança de trazer os dois de volta para cá, para a legítima casa deles, foi para o boeiro. O desespero que voltou a me atingir foi o dobro do anterior, me fazendo agarrar os meus próprios cabelos, com os cotovelos apoiados nos joelhos.
Depois de tudo isso...
- Dener, eu nunca me meti na sua vida pessoal, e nunca te obriguei a me contar absolutamente nada, mas isso é impossível de lidar! - Seu tom de voz aumentou. - Você ficou com a Amber? Com a Amber? O que estava na sua cabeça? Quando achou que ficar com uma menor de idade na casa dos pais dela foi uma boa ideia?!
Mordi o meu lábio inferior.
Notei a irritação de Rita quando a mesma colocou o copo de vidro sobre a mesinha de centro e se levantou. Ergui o olhar para encara-la.
- Você foi demitido a troco de que, Dener? Foi por isso que terminou com a Milla, por que estava traindo ela na cara dura?! - Sua sobrancelhas franzidas me deixaram sem fôlego. Apenas a encarei. - Fala!
Engoli a seco.
- Mãe, eu nunca namorei a Milla. Estávamos prontos para ter um relacionamento mas eu sempre adiei, e terminei tudo no dia da festa
- "Terminou tudo" - Disse negando com a cabeça, andando de um lado para o outro. - Depois de ter feito mil coisas com a filha da Ana não me surpreende.
Após dizer isso, a compreensão ficou presente na mesma. Rita virou na minha direção, hesitante, mas prestes a quebrar cada osso do meu corpo.
- Dener, me diz você não chegou a fazer algo mais com ela nessas férias
Não precisei dizer mais nada, o meu olhar suplicando para que ela entendesse foi o suficiente para a minha mãe surtar.
- Que merda esteve na sua cabeça durante esses meses?! - Gritou. Me encolhi automaticamente. - Ela tem dezessete anos! E para piorar ainda mais, foi pelas costas de todo mundo, Dener. Todo mundo! - Berrou as últimas palavras.
Abaixei a cabeça, deixando a humilhação me atingir. Ela está certa e eu sei disso, e sabia disso desde o primeiro dia que me envolvi nessa merda. Sabia exatamente o que minha mãe diria, só não imaginei que ia descobrir pelos Hurley's, e só de pensar no que a Amber está passando em casa com os pais me deixa preocupado.
- Escuta aqui - Rita se aproximou, erguendo um dedo. - Eu não vou ficar aturando essas palhaçadas. Ou você me diz de uma vez o que está realmente acontecendo, ou saiba que eu não vou ficar te sustentando, Dener Rossi. Nem que vá morar com o seu pai.
Minha garganta fechou e meu olhar começou a embaçar. Estou trêmulo.
- Eu preciso de uma resposta! - Ela gritou.
- Você quer uma resposta? Então eu te dou uma! - Falei alto também, me levantando com os olhos ardendo, deixando algumas lágrimas escorrerem. - Eu achei que gostava da Milla, mas em todo esse tempo apenas confundi as coisas. Nunca achei que ia acabar me envolvendo com a Amber, e o pior, gostando disso... - Engoli a seco, reprimindo um soluço. Passei ambas as mãos nas bochechas molhadas enquanto o olhar de Rita ficou sobre mim. - Eu errei em ter começado isso, mas não consigo me arrepender
- E por que não? Jogou o seu futuro fora e não consegue se arrepender?! - Perguntou com desdém
- Porque eu me apaixonei, mãe. Pela primeira vez na vida, eu me apaixonei de verdade sem confundir as coisas
A mulher em minha frente piscou repetidas vezes, suavizando sua postura. Notei que mesmo que tentasse, não conseguiu parar de me encarar. Pisquei também, tentando expulsar as lágrimas que se aglomeraram nos meus olhos.
- Me desculpa por ter falhado com você e com os meus irmãos, mas em toda a minha vida, eu nunca me senti tão completo - Dei um sorriso triste, negando com a cabeça. - Nunca tinha sentido isso por ninguém, nem pela Milla. De qualquer forma não importa porque a Amber me deixou, mãe. Ela me deixou mas eu não previ nada disso, só que agora que aconteceu, só posso dizer que sinto muito. Eu sinto muito mesmo por ter fodido com tudo, e por ser mais fodido ainda! - Solucei, apertando as unhas contra a palma da mão. - Me perdoa, por favor, me perdoa...
Caí de joelhos sobre o tapete, sentindo o meu corpo pesar com todas as palavras e lembranças de hoje. Estou cansado de sempre esconder o que estou sentindo, seja da minha mãe ou dos outros. Os soluços foram incessantes, se mostrando cada vez mais incontroláveis.
Pode ter sido pela minha visão embaçada, mas vi os olhos da minha mãe ficarem cheios de água também quando a mesma colocou ambas as mãos sobre a boca, surpresa pela minha revelação repentina. Abaixei a cabeça, até sentir os braços da mulher que sempre esteve ao meu lado, que sempre me apoiou ou corrigiu, que sempre fez absolutamente tudo por mim e pelos gêmeos me envolverem. O calor do seu corpo foi o suficiente para fazer o restante do que sobrou de mim mesmo desabar.
Coloquei os braços em volta de sua cintura, enquanto os dela ficaram no meu pescoço. A apertei contra o meu corpo, sentindo o seu perfume familiar e o cheiro leve da bebida me envolverem. Apertei os olhos, soluçando contra o seu ombro. A mão de Rita acariciou o meu cabelo. Ambos ajoelhados no tapete.
- Eu te amo muito filho, e tenho tanto orgulho do homem que se tornou. Por favor, não me esconda mais nada, okay? Eu preciso que me conte para na próxima eu mandar o James e o trabalho dele para o inferno!
Dei uma risada curta entre o choro. A voz embargada da minha mãe me deixou tonto.
- Me promete que sempre vai me dizer tudo, e que sempre vai estar aqui... - Ela sussurrou.
- Eu prometo. - Falei com a voz fraca. - Amo você.
Lhe apertei mais, sabendo que tudo que eu preciso está agora entre os meus braços, me dando todo o apoio necessário, mesmo com raiva e após uma bela discussão.
Ouvi um pequeno barulho vindo da escada e em poucos segundos senti outros dois bracinhos envolverem eu e minha mãe, cada um de um lado, nos rodeando, como se quisesse nos proteger do mundo, como sempre fizemos com eles.
----------------------------------------------
Escrever momento familiar sempre me faz chorar, que droga,_,
Não sei vocês, mas essa família eu vou levar para o coração!!!!!!!
Agora vamos ver como está na casa da Amber porque... Vixi...
E para quem está na dúvida se o Den e a Amber vão acabar juntos, só a Fada Madrinha - vulgo eu - sabe KKK parei
Mas independente disso, prometo dar um final que agrade a maioria. Se eles vão ficar juntos ou não no final, depende da evolução da nossa bela e irritante, porém já mais madura protagonista
Só digo que vai valer a pena, principalmente quando explorarmos o segredo da vó Nathalina. Vai ser interessante KKKKKKK
Enfim, é isto mores
Curtam e comentem.
Amo vocês 💜
Miin.