Quando o amor é pra sempre (R...

By Strange-Boy

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(COMPLETO E REVISADO) No ano de 1989, em Denver, Colorado - Estados Unidos, Harrison é um garoto de 18 anos q... More

Prólogo
1 - Robin
2 - A festa e a academia
3 - Quadrinhos
4 - Como (ou não) se aproximar de alguém
5 - Uma noite peculiar
6 - Go, Tigers!
7 - 1989... 1990!
[nota aos leitores]
[boas notícias!]
8 - Eu vou sentir falta dos anos 80...
9 - Volta às aulas
10 - O último baile colegial
11 - Chuva de verão
12 - É com você que eu quero estar
13 - O adeus
14- Mudanças da vida
15 - Memórias
16 - C'est La Vie!
17 - Há quem acredite em coincidências
18 - Decisões, decisões...
19 - O que fazer?
20 - Laços que nunca foram rompidos
22 - A luz nas trevas
23 - Se reerguendo aos poucos
24 - Desequilíbrio
25 - Arrependimento
26 - Na saúde e na doença
27 - De coração quebrado
28 - Prova de amor
29 - Coisas que estão além do nosso alcance
30 - Não vou desistir de você
31 - Forte como era antes
32 - O pedido
33 - Como nos velhos tempos
34 - A vida normal
35 - Faça um pedido
36 - (Des)confiança
Epílogo
Continuação: A História de Gael

21 - Lar?

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By Strange-Boy

SCOTT

Estava estático. Por um momento o tempo parecia ter parado, mas na verdade estava passando mais rápido do que nunca. Era questão de poucos segundos. Aquele caminhão enorme estava avançando contra nós em alta velocidade, buzinando sem parar para que saíssemos do caminho de alguma forma, já que um veículo tão bruto e imenso daqueles jamais poderia frear ou desviar do meu carro à tempo. 

Eu estava como uma estátua, apenas no aguardo da tragédia que ia acontecer. Não tinha reação. Não conseguia reagir de forma alguma. 

Eu não conseguia tomar uma atitude sequer.

Estava apavorado.

Não fiz nada.

Harrison inclinou seu corpo em minha direção e pôs as duas mãos sobre o volante, rapidamente direcionando o carro para a esquerda, o que fez com que nós saíssemos da estrada. 

O som ensurdecedor da buzina passou por nós, junto com alguns xingamentos gritados pelo motorista. 

Com o baque que o carro deu em uma aparente pedra em meio ao gramado, tive reação e soltei o pé do acelerador, freando o carro. 

Nossos corpos balançaram bruscamente com a parada.

Meu coração parecia que ia sair pela boca. Estava suando frio.

Olhei para Harry e ele estava com a respiração ofegante, assim como eu. 

Segurei nos seus braços com as duas mãos, assustado.

— Você está bem? — forcei minha voz, baixa e ríspida. 

Ele olhou pra mim com os olhos arregalados e acenou rapidamente com a cabeça. 

Respirei fundo e fechei os olhos, deitando a cabeça pra trás no encosto superior do banco. 

— Se não estivesse com o cinto de segurança... — murmurei. 

— Eu estou. Está tudo bem. 

— Ainda bem que sim... — abri os olhos e olhei pra ele de novo.

Harry tirou o cinto e abriu a porta para sair do carro, caminhou um pouco pra longe e abaixou no chão. 

Tirei o cinto e saí do carro também, indo atrás dele. Parei de caminhar em sua direção quando percebi que ele estava vomitando. 

Olhei em direção contrária e observei que o carro tinha sim, batido em uma pequena pedra. Causou um amassado minúsculo que não seria difícil de consertar depois. Estávamos vivos e o carro estava praticamente inteiro. Graças a Deus. 

Respirei fundo e esfreguei os olhos. Fiquei andando de um lado pro outro, respirando fundo até conseguir me acalmar mais. 

De repente, Harry se aproximou de mim.

— Harry, está tudo bem? O que houve?

— Tá tudo bem, não se preocupe, eu só fiquei muito nervoso, meu estômago embrulhou e...

— É mais do que compreensível. — coloquei as mãos no quadril e franzi o cenho por conta da luz do sol. 

— Ainda estou um pouco assustado, mas tá passando. A gente poderia ter morrido...

— Mas graças a Deus e a você que não morremos.

— Mas não se brinca com a sorte! — ele cruzou os braços. — Eu falei pra você que precisava dormir, Scott, mas você não quis me escutar! 

— Perdão, Harrison. — respirei fundo, olhando pra baixo. — Você tinha razão. Eu jamais imaginei que algo assim pudesse acontecer e eu fiquei parado, não tive reação... Se não fosse você...

— Tá tudo bem. — ele me consolou, apoiando a mão sobre meu ombro. — Só nunca mais dirija com sono assim, tá bem? 

— Tá bem. — voltei a olhar pra ele. — Prometo.

— E ficar estático é uma reação comum diante de uma situação como essas... Não se culpe. Pelo menos você não estava sozinho, Scott. Eu consegui te ajudar... Nos ajudar. 

— É sim. — falei e de repente o abracei forte. Muito forte.

— Ora. — ele riu e me abraçou de volta. — O que é isso agora, hein?

— Um abraço. Porque estou feliz por estarmos vivos, pelo livramento.

— Eu também, Scott... Temos que estar muito gratos. — ele deu algumas batidinhas nas minhas costas. 

— Eu nem consigo imaginar se... — desfiz do abraço, com as mãos apoiadas em seus ombros, ainda. — Se algo acontecesse a você...

— Mas não aconteceu. — ele sorriu. — Não precisa imaginar essas coisas. Vamos?

— Vamos. 

— Ah, espera. Eu só preciso escovar os dentes, depois de... Você sabe. — fez uma cara de nojo.

— Tudo bem. — eu ri. 

— Você, enquanto isso, trate já de sentar no banco do carona.

— Claro, você tem razão... Mas está bem para dirigir, Harry?

— Sim, estou muito bem descansado, não se preocupe. — ele me assegurou.

— E por acaso dirige bem? — brinquei enquanto cerrei os olhos e cruzei os braços. 

— Melhor que você. — Harry riu. 

HARRISON

Scott sempre me acalmava.

Sempre.

Desde que saímos de Ohio, essa viagem com ele tem feito com que eu me reaproximasse dele de um jeito inexplicável. Achei que tivesse te superado, Scott... Mas certamente não superei. Sou loucamente apaixonado por você e isso não está certo, você está noivo agora, não é? A vida é assim mesmo. Infelizmente... 

Jack? Quem foi Jack?

Não pude deixar de rir sozinho enquanto pensava nessa pergunta retórica, escovando os dentes. 

Faz quase um mês que eu e ele terminamos e já não sinto mais falta nenhuma dele, principalmente depois que você veio me buscar, pra me levar pra sua casa e me acolher...

Scott, o que aconteceria se eu nunca tivesse saído de Denver?

Suspirei e cuspi toda a espuma na grama. Peguei um pouco de água da garrafa e bochechei até enxaguar toda minha boca.

Pelo menos, poderei ser seu amigo e participar da sua vida. Preciso superar esse amor que nunca vamos poder viver. Eu vou encontrar alguém, uma boa pessoa, pra poder seguir em frente. Mesmo assim, vou te querer por perto como um grande amigo. 

Eu não queria que essa viagem acabasse nunca. Me sinto tão triste porque logo você vai voltar pros braços de Amanda e eu... Bem... Você me superou. 

Voltei ao carro e Scott estava dormindo profundamente no banco do carona. Sorri, mas logo fiquei preocupado ao vê-lo arrepiado e tremendo um pouco. Estava muito encolhido e fazia muito frio naquela hora. Ele estava usando calças e apenas uma camisa de malha fina e mangas curtas. 

Fui até o banco de trás e abri minha mala. Coloquei o meu óculos, pois precisava dele pra dirigir. Guardei a escova de dentes e a pasta. Por último, peguei o casaco mais quente e confortável que eu tinha. Usei ele para cobrir Scott como se fosse um manto e em poucos segundos ele relaxou, se aconchegando na peça de roupa. Certifiquei que o cinto dele estava devidamente colocado e então estávamos prontos pra voltar pra estrada.

Antes disso, deixei um beijo na testa dele e fechei a porta do carro, dando a volta pra me sentar no banco do motorista. 

Fechei a porta e liguei o carro. Scott não acordava por nada. Ele precisava muito dormir.

Eu estava muito mais calmo agora. Dei ré e depois que a estrada havia dado trégua nos carros que vinham de ambas direções, consegui entrar com o carro na pista e estávamos a caminho de Denver mais uma vez. 

***

— Scott. — acariciei seu braço pela terceira vez. 

— Hã? — ele acordou em um pequeno pulo, olhando pra mim.

— Chegamos. Estou estacionado em frente a garagem da sua casa. — sorri. 

— Ah, que alívio. — ele se espreguiçou, emitindo um grunhido alto. 

— Você podia dublar alguns animais nesses filmes e desenhos que fazem... Bem, grunhidos. — eu ri. 

— Ha-ha. Que engraçado! — debochou de mim, bagunçando meu cabelo. 

— Para! — dei um tapa de leve em sua mão. 

— Nossa... Eu apaguei por tanto tempo assim? Já está até de noite... — ele tirou o cinto e abriu a porta do carro, saindo.

— Você precisava. — o confortei. 

Scott abriu o portão de garagem e fez sinal com a mão para que eu pudesse entrar com o carro. Então, eu o fiz. Ao estacionar, tirei o cinto e saí do veículo, entregando as chaves na mão dele. 

— Olha, por favor, não conta nada pra Amanda sobre o acidente que quase sofremos. — ele me pediu enquanto fechava o portão da garagem.

— Por que? — fiz expressão curiosa enquanto fui ao banco de trás pegar a minha mala.

— Ela vai ficar muito preocupada com a possibilidade disso poder ocorrer outras vezes e vai encher o meu saco. — explicou e trancou o carro.

— Ah... Pode deixar, não vou dizer nada. — assegurei.

— Vem, vamos entrar. — me chamou e foi até a porta que dava para a parte de dentro da casa. 

Caminhei segurando a bagagem e seguindo Scott. Estava ouvindo barulhos vindos da cozinha. Parece que Amanda estava cozinhando o jantar. 

Ao chegar na porta, a vi cortando legumes sobre a tábua de madeira, em cima da pia. Scott caminhou lentamente e a abraçou por trás. Isso fez com que Amanda pulasse de susto.

— Que droga, Scott! Que susto! — ela riu.

Scott sorriu de volta pra ela e segurando o seu rosto com as duas mãos, a beijou lenta e apaixonadamente. 

Pela primeira vez, vê-lo beijando Amanda machucou meu coração. Antes eu não estava incomodado, mas depois dessa viagem que fizemos até aqui, depois de me aproximar dele de novo... 

Depois de me dar conta que eu o amo...

É muito dolorido.

 Muito mesmo, mas eu vou aguentar. 

Qualquer ato de carinho entre eles dois vai ser como uma facada, mas o que eu posso fazer?

— Senti tanto a sua falta... — ela disse, dando um selinho nos lábios dele depois do beijo. 

— Também senti muito a sua. — Scott respondeu, se afastando do abraço.

Amanda me viu e seu sorriso se desfez.

— Harry? — perguntou e depois olhou pra Scott. — Scott, por que não me avisou que o Harry estava aqui? 

Ela caminhou apressadamente até mim e me abraçou forte.

— Querido, eu sinto muito... Fiquei sabendo o que houve, sinto muito pelo o que aconteceu, de verdade... 

— Obrigado, Amanda. — fechei os olhos e abracei de volta.

Ela podia estar com o homem que eu amo, mas que culpa ela tinha?

Era uma pessoa tão boa, incrível...  Merecia ser feliz assim como Scott. Sempre me tratou bem. Eu jamais poderia odiá-la. Pelo contrário, eu gostava dela. 

— Eu não sabia que você estava aqui esperando na porta da cozinha. Mil perdões. — olhou pra mim depois do abraço. — Por que esse lerdo do seu amigo não te mostrou o banheiro pra que você pudesse tomar um banho ou o seu quarto pra você descansar logo?

— Amanda, que isso, não tem problema... — ri, sem graça.

— Claro que tem! Você deve estar muito cansado. Vem comigo. 

Olhei pra Scott e ele deu de ombros. 

Segui Amanda, subindo as escadas. Ela foi até o final do corredor e abriu uma porta, entrando em um cômodo.

— Pode vir, fica à vontade. 

Entrei. 

O quarto era pequeno, mas muito confortável, limpo e cheiroso. Do lado direito, tinha uma cama de solteiro encostada na parede. Do lado esquerdo, um guarda roupa bem pequeno ao lado de uma cômoda de madeira. Havia um ventilador de teto e algumas prateleiras com decorações. 

— O quarto é simples, mas eu espero muito, Harry, que ao menos atenda às suas necessidades. — ela me disse com uma certa preocupação.

— Tá brincando, Amanda? Eu durmo feliz até no sofá da sala. Eu sou muito, muito grato, vocês não tem noção!

Scott entrou no quarto e abraçou Amanda de lado, olhando pra mim com um sorriso.

— Eu e Amanda conversamos muito. — ele contou. — Concordamos mesmo que não tem problema, Harry, pode ficar aqui o quanto quiser.

— O quarto é de hóspedes, mas você é nosso amigo, ficaremos mais do que contentes em poder te ajudar nesse momento difícil, Harry. — Amanda entrelaçou as mãos e sorriu levemente pra mim.

— Muito obrigado. — fui até ela e a abracei forte. 

— De nada, meu bem... — ela respondeu. 

— E a você também. — abracei Scott. 

— Não precisa agradecer. Faria o mesmo por nós. — Scott respondeu. 

— Agora deixa a sua mala aí, depois pode colocar as suas coisas no guarda roupa e na cômoda, mas quero te mostrar o banheiro que você pode usar sempre, o de visitas. Vem cá. — ela saiu do quarto e a segui. 

***

 Amanda então me mostrou o restante da casa. Ao lado do quarto de hóspedes, ficava o quarto dela e de Scott, que era na verdade uma suíte. Finalmente conheci o banheiro de visitas no corredor do segundo andar e também do primeiro andar. Este, por sua vez, tinha apenas o vaso sanitário e uma pia. 

A cozinha, a sala de estar e a sala de jantar eu já conhecia. 

— Eu preciso mesmo ir descansar agora. — falei prestes a entrar pro quarto de hóspedes.

— Claro, eu também preciso. A viagem foi longa... — Scott comentou.

— É, eu imagino, meninos. — Amanda acariciou a mão de Scott. — Fora a situação toda, né...

— Pois é. — comentei. — Mas não precisam se preocupar. Amanhã mesmo vou levantar cedo pra distribuir meus currículos. Logo arranjo dinheiro pra pagar um aluguel por aqui e está tudo certo.

— Meu bem, não se preocupe nem um pouco! Não tenha pressa. Ouviu bem? — Amanda assegurou.

— Ela tem razão. — Scott concordou.

— Tudo bem, mas mesmo assim, dou minha palavra que não vou demorar. — sorri. 

Amanda bufou e olhou pra Scott, que riu pra ela.

— Ele é assim mesmo, teimoso

Amanda olhou pra mim e riu.

— Boa noite, Harry. Bom descanso.

— Obrigado, Amanda. Boa noite pra vocês também. — sorri.

— Boa noite. — Scott respondeu. 

Entrei no quarto e peguei um pijama na minha mala. Eu arrumaria essas coisas no guarda roupa amanhã. Hoje estava realmente muito cansado. Fui até o banheiro, tomei banho e voltei para o quarto. Ao sentar na cama, ouvi batidas na porta.

— Pode entrar. — avisei.

De repente, Scott abre a porta e coloca apenas a parte de cima do seu corpo à mostra.

— Com licença... Foi aqui que pediram um macarrão ao molho de tomate? 

— Ah, não é possível. — ri. 

Scott também riu e entrou segurando uma bandeja.

— Gente, o que é isso!? — perguntei, impressionado.

— Cortesia da casa. Quase me esqueci que você precisa jantar. — fechou a porta com a perna.

— Ah, Scott, eu nem estava com tanta fome assim... 

— Mas precisa comer. — colocou a bandeja na cama.

Havia o macarrão, um copo de suco e um brownie de chocolate.

— Amanda fez isso tudo? — perguntei.

— Até o brownie e é tudo vegano.

— Ela deveria cozinhar profissionalmente... — sorri. — Obrigado. Muito obrigado a vocês dois. Não sei o que faria sem vocês...

— Não precisa imaginar o que faria sem nós, porque tem a nós. — ele sorriu pra mim e sentou-se na cama com a bandeja entre nós. 

— Scott... — disse ao fitar aqueles troféus em cima das prateleiras. Levantei e caminhei até lá. — Posso ver?

— Claro. São os troféus que ganhei no Eagles.  

Eagles? O seu time novo de futebol? — virei pra ele enquanto pegava um troféu. 

— Isso mesmo. E o melhor de tudo é que são banhados à ouro. — ele se levantou, vindo atrás de mim. 

— Olha só, que chique...

Decidi então pregar uma peça em Scott. De repente, soltei um som de surpresa enquanto fingi que o troféu ia cair da minha mão. 

Scott pulou de susto e logo depois de perceber que era uma brincadeira, levou as mãos ao rosto. 

Eu não conseguia parar de rir.

— Você é um sem-vergonha. — me disse, apontando o dedo indicador e finalmente se rendendo a risada também. 

 — Talvez. — coloquei o troféu de volta a prateleira enquanto tentava me recompor dos risos.

Aparentemente Scott não guardava nenhuma lembrança dos Tigers... Ele quis deixar mesmo essa equipe pra trás. 

Em outras prateleiras, notei muitos livros e revistas. 

— O que são esses? — apontei.

— Livros de todos os gostos. Eu amo ler. — ele colocou as mãos nos bolsos da calça enquanto olhava pra cima e analisava sua coleção na prateleira. — Poesia, ficção, romance, aventura... Tem também vários livros sobre nutrição e é claro, Harry, HQs. 

— Ah, as HQs... Não poderiam faltar. — sorri.

— Claro que não. Reconhece essas? — passou os dedos entre muitas. 

— Olhando assim é meio difícil... — confessei.

Então ele puxou brevemente algumas delas. Dava pra ver a Mulher Maravilha nas capas.

— Meu Deus! Você... Ainda guarda a coleção que eu te dei? — perguntei boquiaberto e de olhos arregalados. 

— Harry. — se virou pra mim com uma expressão incrédula no rosto. — Que tipo de pessoa acha que eu sou? É óbvio que eu guardei! 

— Desculpa. — eu ri. — É que faz muito tempo.

— E é um tesouro pra mim, ok?

— Engraçado... Há nove anos você me disse em uma loja de quadrinhos que a Mulher Maravilha era apenas pra garotas. — ri. 

— É... Aquele Scott aprendeu muita coisa com alguém chamado Harrison. — ele me deu um leve empurrão no ombro enquanto sorriu de lado. 

Fiquei olhando mais algumas HQs. Eram muitas, muitas mesmo. 

— Sua comida vai esfriar.

— Não muito. Está muito quente ainda, dá pra ver a fumaça saindo até agora. — comentei enquanto olhei pra bandeja. — Vou esperar só mais um pouco. 

— Eu queria te mostrar uma coisa. 

Olhei pra ele. 

Scott subiu na cadeira e pegou uma caixa em cima do guarda roupa. Levou até a cômoda e pôs em cima. 

— O que é isso? — perguntei, mas não obtive resposta.

Scott abriu a caixa e tirou alguns envelopes grandes de papel. Havia vários títulos como "Aniversário de 1994" e "Casamento da Nathalia". O restante ele folheou tão rapidamente que não consegui ler.

— Ah, aqui. 

 A pasta que ele segurava estava escrito "1989" 

Aquilo embrulhou o meu estômago. Era demais pra mim. O que estava dentro daquele papel? Queria protestar pra que ele não abrisse, mas ele o fez. 

Várias fotos polaroid caíram sobre a cômoda. 

— Scott...

— Eu guardei pra você. São suas fotos. 

Eu não podia acreditar no que estava vendo. Eram as fotos polaroid que eu tirei com a câmera que Scott havia me dado de presente naquele ano.

Mas se aqueles garotos destruíram todas elas junto com as minhas coisas... Como era possível? Elas estavam intactas! 

— Como isso é possível, Scott? — olhei pra ele boquiaberto. — Essas fotos foram destruídas. 

— Você nunca soube... — ele riu. — Mas naquele ano, em um dia, peguei todas essas fotos sem que você percebesse, pra levar em uma loja que realizava fotocópias. 

— Meu Deus. — balancei a cabeça, finalmente encostando em algumas fotos. — Como...

— Acredite, Harry. — ele riu.

— Você guardou até hoje...

— Guardei sim.

— Naquela época fazer cópia de fotos era muito mais caro... — olhei pra ele de novo.

— Não tem a mínima importância. Valeu a pena. 

— Você é doido. — eu ri.

"Doido por você", ele me respondeu naquele dia chuvoso, há tanto tempo atrás...

Mas tudo o que ele respondeu agora foi uma breve risada. 

— São suas. 

— Não tem como te agradecer... Isso faz tudo parte do meu passado... Do nosso, também. 

— Não precisa agradecer.

Ao passar pelas fotos, revivi os mais diversos dias. Dias na minha casa, o meu aniversário, o aniversário de Scott, de Robbie... E... 

E...

— Scott.

— O que?

— O que é isso? — mostrei pra ele as fotos de quando estávamos juntos, nos beijando. 

— Ué. — ele deu de ombros. — Nossas fotos. Nos beijando. 

— Mas... — me deu um frio imenso na barriga. — E se Amanda ver isso? Ela não sabe que fomos namorados no passado. 

— Ela não vai saber a menos que você a mostre. — ele riu. — Mas... Enfim, você pode jogar elas fora, se quiser. Eu não sabia o que você ia fazer com elas, então guardei junto...

Eu não sabia o que responder, então rapidamente juntei todas as fotos e as guardei no envelope de novo.

— Bom, obrigado. — pigarreei. 

— De nada, Harry. — ele voltou a por as mãos nos bolsos. 

Abri a mala e guardei o envelope lá. 

— Agora sim vou jantar. — sorri, tentando disfarçar o incômodo. 

— Bom apetite. — Scott sorriu imensamente e caminhou pra porta, abrindo-a. 

— Obrigado por tudo mais uma vez, Scott. A você e Amanda.

— E de novo eu digo: Por nada... — Scott soltou um riso nasal. — Boa noite.

— Boa noite.

Ele fechou a porta e eu soltei um suspiro pelo alívio daquele clima ter passado. 

O que eu faço com aquelas fotos da gente se beijando, meu Deus?

Eu ainda não vou ter coragem de jogar fora, mas... Mas um dia vai ser preciso fazer isso.

***

— Obrigado pela carona, Scott, não sabe o quanto vai me ajudar.

— Nada, não tem problema. — ele respondeu assim que estava saindo com o carro.

— Você não vai chegar tarde no trabalho?

— Não, não esquenta!

— Você vai me ajudar muito me levando ao centro da cidade. Tomara que algum lugar goste do meu currículo...

— Ah, vai gostar sim. — ele me confortou. — As escolas que não te chamaram é porque provavelmente já tem professores de inglês demais. Não é que você seja ruim.

— Acho que por eu ter pouca experiência, acaba influenciando também.

— É, pode ser, mas experiência você vai ganhando aos poucos mesmo, ao longo da vida. Isso é normal, essa fase difícil de achar emprego vai passar, Harry, você vai ver. 

— Tomara, Scott...

— E agora você está em novos ares! — ele sorriu. — Está de volta a Denver, outra cidade totalmente diferente de Ohio.

— É, vamos ver se eu tenho sorte aqui...

Continuamos conversando até Scott parar com o carro em uma rua cheia de residências.

— Não estou entendendo. — olhei pra ele. 

— Vem comigo. — ele tirou o cinto e saiu do carro.

Sem ter a mínima ideia do que ele estava tramando, obedeci. 

— Naquele dia, antes de irmos para o aeroporto, lembra que eu te disse que queria te mostrar uma coisa? — ele me falou enquanto o vento batia no seu cabelo. 

— Sim... — caminhei até a calçada, atrás dele. 

— Vá até aquela porta. — ele apontou pra porta principal da casa que estava em frente a nós. 

— O que? — franzi o cenho. — De quem é essa casa?

— Vá. 

— Scott, eu...

— O centro da cidade fica a dois minutos caminhando daqui. Você chega lá depois numa boa. — cruzou os braços e encostou no carro. 

— Tudo bem, mas o que tem...

— Harry, só vá. — olhou fundo nos meus olhos de uma forma tão insistente e profunda que me convenceu. 

— Tudo bem... — suspirei e caminhei até a porta daquela casa misteriosa. 

Era alguma surpresa que ele tinha feito pra mim? O que ele queria? Eu estava até com medo.

Toquei a campainha e senti o meu estômago revirar.

Olhei para trás e Scott ainda estava de braços cruzados, encostado no carro e me olhando com um sorriso no rosto.

Eu não fazia ideia do que estava me esperando, mas...

De repente, a porta abriu. 

Me virei pra olhar.

Aqueles olhos azuis se arregalaram e eu senti como se o tempo e o mundo parassem naquele segundo.

— Robbie...?

FIM DO CAPITULO 

UM CANTINHO ESPECIAL PRA FALAR COM VOCÊS AQUI AGORA <3

Gente, eu mal pude acreditar, mas vocês não sabem o QUANTO eu fico feliz com o carinho de vocês! Recebi uma fan-art dos meus personagens??????? Eu tô no chão até agora. Amei demais. Preciso compartilhar com vocês, muito incrível, apenas! 

Créditos: as páginas do autor estão no canto superior esquerdo da foto, mas aqui no Wattpad ele é conhecido como @AmrlFiss

Obrigado mais uma vez por essa arte incrível!  <3 <3 <3 

E gente, por favor, qualquer fan-art, desenho, o que for que vocês fizerem em homenagem a minha história, por favor, me mostrem por mensagem aqui no wattpad mesmo que eu vejo!! Simplesmente estou amando esse amor de vocês pela história.

Eu amei escrever todos os meus livros, mas confesso que até então esse é o que mais estou amando escrever. Obrigado ao carinho de vocês, porque sem isso, eu certamente nem estaria continuando essa estória. 

<3

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