(Abram a imagem)
~ Amber ~
Eles me olharam de olhos arregalados, ainda sem dizer mais uma única palavra. Dener deu um passo para trás, mas Jéssica permaneceu intacta no mesmo lugar, visivelmente apreensiva. Notei as mãos trêmulas da garota, enquanto o meu coração quase abandonou o meu corpo durante esse pequeno meio tempo. A sensação de enjôo que me atingiu foi impossível de ignorar, e confesso que senti o chão girando em baixo dos meus pés, quase que me arremessando para o outro lado da rua.
Enquanto o silêncio permaneceu no meio de nós três, mal tive tempo de raciocinar ou fazer qualquer coisa. Olhei para a porta automática e pude sentir a chave da mesma no meu bolso. Chega de jogar copos, de machucar fisicamente, de sempre me comportar como uma garota problemática e incontrolável, eu preciso passar por cima da minha parte rebelde como prometi fazer com os meus pais! Fui na direção da porta, não querendo agir igual uma louca pela milésima vez.
Estou cansada disso. Tenho que mudar.
Senti as mãos quentes e robustas do garoto segurarem o meu braço e virei meu rosto na direção dele. Se Dener não vai dizer nada, por que eu ficaria aqui?
- Amber, por favor, escuta... - Jéssica se aproximou.
Puxei o meu braço de volta, dando dois passos para trás e negando com a cabeça.
- É mais complexo do que você pensa, eu juro! - Minha (talvez) melhor amiga disse.
Engoli o choro que se formou na minha garganta e encarei os olhos azuis do garoto que está apenas a alguns centímetros de distância. Raiva está explícita na minha cara.
- O que você fez? - Falei quase como um sussurro.
Silêncio.
- O que você fez?! - Gritei enfurecida, exigindo uma resposta.
Parecendo cair em si, Dener piscou repetidas vezes e engoliu a seco. Seu olhar mostrou medo e... Arrependimento? Não me diz que...
- Apostou que ia fazer eu me apaixonar por você? - Perguntei, sentindo o nojo se aflorar no meu estômago.
- Não. Não foi isso e nem uma aposta - Ouvir a voz dele me deu calafrios. - E-Era...
- A idéia foi minha, Amber - Jéssica atraiu a minha atenção. - Eu pedi que ele te conquistasse para esquecer do Sebastian. Vi como estava sofrendo com tudo isso e falei que ele seria a melhor opção para te fazer deixar aquele babaca de uma vez por todas - Falou rapidamente.
As palavras se embaralharam na minha cabeça como cartas de tarô. Tudo ficou mais escuro e minha cabeça começou a latejar. Os meus batimentos aceleram tanto que achei que poderia cair de joelhos a qualquer momento em busca de ar. Ideia da Jéssica. Foi tudo ideia da Jéssica para me fazer esquecer do Sebastian.
- Concordou com isso? - Franzi as sobrancelhas na direção do Dener.
- Sim, mas eu mudei os planos ao invés de fazer você se apaixonar, eu só...
- Enquanto dizia pra mim que ia ficar com a Milla?! - Gritei. Ele se encolheu. Voltei a olhar para a garota. - E quando eu me apaixonasse? O que ia acontecer?
Os dois se entreolharam por alguns segundos, sem me deixar decifrar o que isso quis dizer. Minha frustração só aumentou.
Jéssica me encarou com pena.
- Seria melhor você gostar do Dener do que continuar nessa com o Sebastian. O Dener ia ser sincero e você poderia...
Não deixei que terminasse, apenas dei uma risada amarga. Senti os pedaços pequenos de dor que se formaram no meu peito, me deixando tonta. Meu estômago embrulhou e meu sangue começou a esquentar mais com a ideia de me descabelar.
- Então seria mais fácil juntar os cacos do meu coração pela segunda vez depois do Sebastian ter partido na primeira, não é? Ia ser mais tranquilo sofrer uma bela desilusão e rejeição com o Dener do que com o Sebastian?
- Ele não foi sincero com você. Eu ia ser - O garoto deu um passo para frente. Neguei com a cabeça. - Fora que, a ideia não era te deixar apaixonada, Amber. Eu só queria te deixar longe dele
- Você estava planejando um futuro com a Milla. Qual seria a sua diferença para o Sebastian? Você ia me descartar no fim, como isso pode ser diferente?!
- Não, não - Ele fez menção em segurar a minha mão, mas rejeitei o toque. O mesmo ficou inquieto. - Isso foi antes de eu realmente me apaixonar por você. Não teve aposta, não teve acordo! Te tirar de casa, daquela casa sempre foi a ideia e não o que a gente viveu.
Por um segundo, um único segundo, eu senti o meu interior se degustar em emoção e ansiedade com essa declaração, mas no seguinte, me lembrando do porquê eu estou aqui, posso sentir todo esse sentimento doce se esvaindo, deixando um gosto amargo na minha boca. No início não ia acabar assim, eu sei que não. A ideia era me rejeitar de uma maneira melhor para que eu pudesse finalmente seguir em frente, mas, a que preço? Com os meus sentimentos sendo pisoteados uma segunda vez por outra pessoa?
Tudo que eu precisava era de ar, não de alguém forçando toques, olhares e até sentimentos para me deixar apaixonada e depois ir embora. Eu não quero a pena deles, não quero me apaixonar por um outro alguém para esquecer do anterior de propósito.
Não dessa forma doentia. Não sendo algo forçado.
Não assim.
- Eu não quero os seus sentimentos por pena, Dener - Falei, vendo a minha visão ficar embaçada. - Nunca pedi que forçasse as coisas
- Amber, por favor me escuta. Não forcei nada disso, nunca me obriguei a retribuir o que eu queria que você criasse, só queria que você ficasse longe dele, e nessas horas quando estávamos juntos...
As lembranças me atingiram com tudo e a compreensão também. Sem ar, eu fiquei sem ar nesse exato momento. Tudo que aconteceu entre a gente...
- V-Você... - As lágrimas caíram. - Me levou para a praia no ano novo, dançou e transou comigo... Por pena?
Os olhos de Dener se arregalaram e eu pus a mão na boca, evitando um soluço. Forcei os olhos, sentindo o meu mundo desabar. Os momentos que tivemos, as coisas que ele fez... Ir ao shopping comigo para escolher as roupas, os elogios, os beijos, toques, olhares, conversas, provocações... Tudo para me deixar apaixonada e depois ele ir embora com a Milla?
Tudo para...
- Não, não. Não fiz nada disso para fazer você se apaixonar! Talvez eu tenha me convencido de te deixar mais próxima de mim do que dele no começo para fazer as coisas que eu mesmo queria e não tinha coragem, mas nunca foi só para te iludir ou para criar um sentimento. Eu prometo que não
- Ele está certo, Amber. Eu vi o jeito que os dois estavam se olhando, por isso comecei isso tudo. No fundo eu sabia que vocês iam retribuir os sentimentos. - Voz da Jéssica.
"Retribuir"
Ergui o rosto, vendo o par de olhos azuis e castanhos sobre mim. Pena, pena explícita estampada na porra do rosto deles.
- Dener, a Milla... - Neguei com a cabeça.
- Eu terminei tudo com ela. Eu terminei depois que a gente se beijou na escada. Vi que estava louco por você e não pude continuar enganando ela dessa forma.
- E quanto a Julie? - Tive forças para perguntar.
O garoto ficou pálido no mesmo instante e arregalou os olhos. Jéssica por outro lado franziu as sobrancelhas e encarou o Dener com confusão, como se quisesse saber do que eu estou falando. Talvez ele ainda não tenha dito para ninguém, sabe se lá o porquê.
- Responde! - Falei mais alto.
- Você viu? - Murmurou.
Apertei minhas unhas contra a palma da minha mão com a frustração que subiu pela minha garganta.
- O que aconteceu? - Ela perguntou.
- Eles se beijaram na praça hoje.
Jéssica entreabriu a boca, fechando logo em seguida, se impedindo de dizer algo.
- E você... - Não olhei para o mesmo. - Ainda tem a coragem de me dizer que se apaixonou por mim?
- Amber, ela me beijou! Ainda me encorajou a vir pra cá depois, na esperança que eu me declarasse. A Jess já estava aqui quando cheguei.
Lembrei de hoje mais cedo, de como eu estava me corroendo por dentro por não ter recebido uma mensagem ou uma ligação dele. Fiquei tão apreensiva, tão ansiosa que fiz a puta burrada de ir atrás e ver o que ele diz que não foi exatamente o que aconteceu e nem como aconteceu? Disse que estava retribuindo o sentimento que sabia que eu estava criando e que veio aqui para isso, quando tudo começou com a ideia de apenas me deixar apaixonada?
Dener pode ter realmente sentido a mesma coisa que eu no fim de tudo isso, mas não começou dessa forma. Começou de um jeito forçado em que ele tentou me afastar do Sebastian. Ele se forçou a ficar perto de mim para que eu deixasse o outro. Essa merda não pode ser verdade, não quero que seja...
Tirei a chave do bolso e me aproximei da porta automática. Girei e sem esperar mais fiz menção em entrar, mas novamente as mãos quentes de Dener seguraram o meu braço com leveza. Não recuei.
- Amber, não faz isso. Eu terminei com a Milla, larguei tudo para vir atrás de você e dizer na sua frente que estou completamente louco pela garota insuportável que desde o primeiro dia pega no meu pé. Não fiz nada daquilo por pena, muito menos para aumentar o meu ego. Sei que errei, fiz errado em aceitar e esperar que as coisas dessem certo com você mais perto de mim, só que... Eu não esperava realmente sentir algo - Apertei o ferro da porta com força. - Faz o que sempre fez; me xinga, me bate, joga um copo de vidro em mim. Joga mil copos! Mas por favor, por favor, não vai embora, não me deixa aqui sem você
As lágrimas que tinham cessado voltaram a escorrer e eu permaneci sem encara-lo. Preciso ser forte, preciso encontrar a mim mesma no meio dessa raiva e desse sentimento amargo. Preciso de ar...
- Eu nunca senti pela Milla o que estou sentindo por você, e talvez seja por isso que não conseguia dar o primeiro passo como estou fazendo agora. Entre esses meses, aturar o seu deboche, suas ironias, sua maneira chata e insistente de ser foi a melhor coisa que já me pagaram para fazer. Erramos de muitas formas, mas eu não me arrependo de ter dito a Julie sobre você e o Sebastian e nem de ter retribuído o beijo dela, porque além de ter tirado duas garotas incríveis das mãos de um completo filho da puta, ainda descobri e pude me fazer aceitar que no fundo eu me encantei com você desde o primeiro momento, desde a primeira briga. Beijar a Julie me fez sentir falta dos seus lábios, e foi lá que tive coragem de finalmente admitir tudo isso
Seja forte... Seja forte...
- Me desculpe por não ter notado isso antes, mas precisei quebrar a cara diversas vezes para saber que Amber, sempre foi você. Desde o primeiro beijo, foi você! Eu sinto muito por ter te machucado, e a Milla também, mas não consigo me arrepender. Tudo isso me fez estar aqui agora, e eu não voltaria atrás. Só por favor, me diz que sente o mesmo, me diz que também quer isso...
Olhei para Dener cujo o olhar brilhava como mil estrelas, e senti o seu coração batendo rápido. Tão rápido quanto o meu. Meu coração tropeçou nas próprias batidas com essa declaração.
Eu o quero de tantas formas...
Durante todos esses anos, eu não apreciei a verdade sobre um amor recíproco. Sempre foi platônico e agora eu vejo, só que, ainda estou quebrada e incompleta comigo mesma. Não preciso de uma alma gêmea agora, preciso de mim! Esse tempo que gastei com o Sebastian, onde entrei nisso? Quando pensei no que sou, e não no que estou sentindo? Qual foi o último momento que eu pude agir na intenção de me concertar, e não me desdobrar por quem meu coração mais bate?
Quando, Amber?
A ideia de ter o Dener em meus braços e em meus lábios me deixa aquecida, mas não é essas chamas. As minhas chamas. Não quero ninguém para me completar e nem acrescentar, quero alguém para me amar enquanto estou inteira.
Justamente como não estou agora.
- Den, eu sinto o mesmo por você... - Mordi o lábio com força, e deixei o choro preso na minha garganta sair quando ergui o olhar para encarar seus olhos azuis. Neguei com a cabeça calmamente. - Mas não posso continuar quebrada. Não posso. - Sussurrei a última parte antes de empurrar a porta e passar por ela.
Não precisei fecha-la, por ser automática a mesma se fechou sozinha. Pude ouvir o Dener me chamando desesperadamente enquanto Jéssica dizia que era melhor ambos irem embora, enquanto permaneci sem olhar para trás uma última vez.
Parecia que cada passo meu era sobre brasas que estavam me levando para longe do meu destino, da pessoa que ia me salvar, só que, eu sei que é melhor dessa forma. Não quero ser salva, não posso ser salva. Tenho que subir para a superfície sozinha, sem ajuda. Permaneci cega e dependente por tempo demais para deixar isso continuar acontecendo...
Me apressei, correndo pelo meu próprio quintal na esperança de chegar em casa e subir disparadamente para o meu quarto. Não quero que ninguém me veja assim, e espero que os meus avós ainda não tenham chegado.
Abri a porta com a última coragem da noite que me restou, entrando na sala e indo na direção da escada conforme fui limpando as lágrimas. Senti o alívio na hora que coloquei o meu pé esquerdo no degrau, até a voz do meu pai me atrair.
- Amber.
Fechei os olhos e respirei fundo antes de por uma expressão neutra no rosto. Posso dizer que os meus olhos inchados é resfriado, eles não precisam saber do que se trata, e mesmo se precisassem, dia não poderia dizer...
Me virei, vendo o mesmo no sofá com seu moletom de dormir e minha mãe sentada sobre o braço do mesmo. O rosto dela mostra preocupação, e o de James está totalmente indecifrável. Franzi as sobrancelhas me aproximando com cautela.
- O que foi?
- Me explica isso. - Ele virou o celular na minha direção com uma foto um pouco computadorizada. Me aproximei e quando ela ficou nítida, meu sangue gelou. Uma foto minha e do Dener se beijando na escada, no aniversário da minha mãe.
Pisquei repetidas vezes, sem acreditar. Meu peito ardeu e eu senti a minha pressão cair rapidamente. Não, não não.
Não agora!
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É, amores, eu deixo vocês me matarem...
Quem esperava um final feliz instantâneo por favor me perdoa, mas eu realmente não acredito que as dores internas de alguém sejam todas resolvidas com uma paixão intensa e recíproca.
A intenção de fazer a Amber desse jeito, foi justamente mostrar uma adolescente mimada e infantil, que acha que o mundo gira em torno de si, e que ela pode ter tudo quando e como quiser. Ela precisou quebrar muito a cara no decorrer da história para ver que as coisas não são assim
Minha intenção é amadurece-la!
Por isso pedi para que não usassem comentários machistas, porque além de ser completamente RIDÍCULO, é porque ela vai aprender sim da pior maneira que as coisas não vão acontecer de forma que ela quer que aconteça
Não é assim que o mundo age, e eu prezo muito a ideia de que sim, todos podem mudar, melhorar, amadurecer. Dêem uma chance a Amber, mesmo que não gostem da mesma
Todo mundo já errou na adolescência ou ainda está errado, tenham empatia com quem quer mudar.
Então é isto, meus amores. Espero que tenham gostado aaa
Curtam e comentem.
Amo vocês 💜
Miin.