"Então, antes que você vá
Havia algo que eu poderia ter dito para fazer seu coração bater melhor?
Havia algo que eu poderia ter dito para fazer parar de doer?
A maneira como a sua mente te faz se sentir sem valor me mata.
Então, antes que você vá"
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Flashback on
- Não! Você não pode fazer isso! - Ray implorava freneticamente. - Você tem que ficar, Norman!
O moreno estava agarrado às roupas do albino, tentando segura-lo o máximo que podia. Não podia deixá-lo ir. De jeito algum.
- Ray, entenda, não temos escolha - Norman sorriu, tentando reconfortar o outro, mesmo que estivesse com medo por dentro. - Eu já me decidi. Irei fazer isso.
Ray estava perplexo, sabia que nada do que dissesse poderia adiantar. Quando Norman se decidia, nada mudava sua mente.
- Por favor...
O moreno tentou uma última vez, dessa vez com lágrimas caindo de seus olhos, deixando seu rosto vermelho e molhado.
- Sinto muito, Ray.
Foi a única coisa que o albino conseguiu dizer.
Ray se forçou a engolir o choro, soluçando algumas vezes antes de deixar sua expressão séria voltar a seu rosto.
- Eu sei que você quer fazer isso... - Começou. - Então, não vou tentar te impedir.
Norman sorriu, dando um breve selinho em seu namorado. Agradecia mentalmente por ter encontrado alguém tão compreensivo.
- Não fique triste... - O albino envolveu o namorado em um abraço. - É algo necessário.
- Por que? - Ray fungou antes de continuar. - Por que você tem que ir...? Eu posso ir no seu lugar.
Ray se aconchegava no abraço cada vez mais.
- Eu tenho que fazer isso. Não você, seu trabalho é viver. Viver por mim e todos que vieram antes.
- E o que eu posso dizer para te fazer ficar?
- Nada. Não há nada que você possa fazer. Me desculpe.
Flashback off
As crianças conseguiram fugir, e agora, longe e aliviadas, estavam montando um acampamento para passarem a noite.
E nessa noite em específico, Ray estava deprimido e todos haviam percebido isso.
Ele estava sentado em um tronco de árvore, a expressão fria e distante estava estampada em seu rosto.
De repente, todos foram até ele para perguntar o que ele tinha.
- Ray, tem certeza de que você está bem? - A ruiva perguntou, brandindo preocupação.
- Não, Emma, não estou.
- É por causa dele...? - Emma tentou perguntar da forma mais sensível que pudera pensar. Infelizmente a garota não era tão boa nisso.
- É sempre por ele! Sempre... por causa dele.
Ninguém estava entendendo sobre o que Ray estava falando, a não ser Gilda, Don e Emma, que fugiram semanas atrás. Todos ainda eram pequenos, eles não conheciam Norman... e nem a história do Ray com ele.
- Por que será que ele tinha esse complexo de herói? - Ray questionou. - Que coisa mais estúpida. Não acredito que ele quis fazer isso por vontade própria.
- Ray...
Emma estranhou seu próprio amigo, mas decidiu deixá-lo sozinho, levando as outras crianças consigo.
Decidiu fazer uma fogueira para distrair os menores, mas só aumentou a curiosidade deles.
- Mas...quem é esse de quem estão falando? - Uma das crianças perguntou.
- O namorado do Ray - Gilda respondeu com um semblante triste. - Seu nome era Norman.
As crianças ficaram surpresas, quase todas gritando ao mesmo tempo: "NAMORADO!?"
- Sim. Foi o Norman que nos ajudou a escapar mas...
Don começou a explicar, porém quem terminou sua frase foi Emma.
- Ele teve que se sacrificar por isso. Ele é um verdadeiro herói!
- Então é por isso que o Ray está tão triste... Eu não fazia idéia disso.... - Uma das crianças disse.
- Mas pense bem, perder a pessoa que você ama não deve ser nada fácil, né? - Outra criança respondeu.
- Sim, não é. O Ray e o Norman eram muito apegados um ao outro. Eu lembro que no dia em que o Norman foi enviado, o Ray gritou, ele gritou para que Norman ficasse, mas ele não deu ouvidos.
- Eles estavam sempre juntos.
Lembrou Gilda.
- Não importava a ocasião!
Dom completou.
Ray começou a se aproximar da fogueira, os olhos marejados e o nariz fungando.
- Você... está bem Ray? - Um dos garotinhos perguntou, recebendo olhares repreensíveis.
- Meu namorado morreu... Obviamente não estou bem.
Foi o que o moreno respondeu.
Todos ficaram quietos e apenas comeram em silêncio, a fala de Ray havia deixado um clima pesado e constrangedor no local, por mais que não fosse sua intenção.