~ Amber ~
Tic tac, tic tac, tic tac, tic tac...
O relógio ficou zombando do meu rosto ansioso e do meu coração acelerado. Minhas mãos continuaram suando em volta das cartas de baralho, enquanto o nervosismo permaneceu entalado na porra da minha garganta desde o aniversário da minha mãe, quando soube que o garoto saiu para ser sincero com a Milla sobre tudo que está acontecendo e não me deu mais notícias. Uma sinceridade que eu sempre esperei do Sebastian, mas nunca aconteceu.
Porém, agora está mesmo acontecendo, só que, com outra pessoa. Ao menos espero que sim, porque estou olhando para esse celular a cada dois minutos na esperança de ao menos uma mensagem do Dener dizendo que quer conversar, que vai vir, que sente a mesma coisa, que me odeia. Qualquer mensagem seria suficiente para calar os meus pensamentos torturantes e melosos que não param de gritar dentro da minha cabeça uma, duas e três vezes. Os mesmos pensamentos.
Jeffrey já deve estar impaciente pela minha demora fora do normal enquanto jogamos buraco no tapete da sala de estar. Estamos nessa há uma hora e meia, só que, como vou me concentrar se a minha mente não está me deixando respirar direito? Toda vez que o celular acende, eu sinto um nervoso extremamente irritante me atingindo junto com a esperança de ser ele. Jéssica me mandou umas três mensagens, porém, ainda não estou pronta para conversar sobre o que aconteceu na casa dos meus avós.
Estou tentando resolver as situações mais recentes para finalmente sentir coragem para lembrar das antigas. Estou tão aérea...
- Ganhei de novo! - Meu avô sorriu com satisfação. Talvez ele não tenha notado minha falta de concentração durante todo esse tempo.
Joguei as cartas sobre o tapete e revirei os olhos.
- Parece que ainda estou em boa forma com as cartas
- Vai sonhando - Dei um sorriso. - Eu nem mostrei do que sou capaz ainda - Ergui uma sobrancelha.
Ela retribuiu o sorriso, soando desafiador.
- Então manda ver, mocinha
- Pode deixar!
- Exatamente, pode deixar para depois - Helena entrou na sala com um vestido turquesa, ajeitando a sua bolsa de alça. - Vou dar uma volta com o seu avô e já era para ele estar pronto! - Olhou feio para o mesmo que se fez de desentendido.
Sempre que os dois vem aqui, eles dão um passeio pela grande cidade movimentada. Por morarem em um lugar mais afastado e tranquilo, é normal quererem sair um pouco da própria rotina. O problema é que ela sempre pega a gente nos piores momentos. Justamente quando estamos querendo ganhar uma disputa.
Nunca conheci ninguém mais competitivo quanto o meu avô Jeffrey.
- Ah, vó. Só mais uma - Choraminguei mesmo sabendo que não vou prestar atenção como nas outras partidas.
- Outra hora, querida. Agora precisamos ir.
Suspirei.
- Depois a gente continua. - Meu avô piscou pra mim e saiu, indo na direção do quarto para pegar sua roupa.
Peguei todas as cartas e juntei as mesmas, arrumando dentro da pequena caixinha. Me levantei do tapete e encarei mais uma vez o celular, sentindo vontade de quebrar o mesmo.
(...)
- Por favor! - Implorei.
Eles se olharam em desconfiança e descrença.
Diana cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha na minha direção. Reprimi os lábios tentando não parecer extremamente desesperada e muito menos suspeita. Preciso disso.
- Qual é, já faz muito tempo. Vocês não acham que eu mudei?
- A ponto de confiarmos em você com o seu carro de novo? - Meu pai perguntou, já mostrando no tom de voz que não está nenhum pouco satisfeito com a situação, afrouxando a gravata em seguida.
Meus avós foram dar uma volta na cidade, e eu estou aqui querendo o meu carro de volta para fazer o que deveria ter feito há semanas. Não os culpo por ainda estarem com o pé atrás, só que, eu sinto que mudei. Não me acho mais uma garota que na primeira oportunidade vai fazer merda no volante ou algo do tipo. Preciso que confiem em mim pelo menos uma vez novamente, para eu provar que de uma vez por todas as coisas não vão ser as mesmas.
Eu sei que não.
- Amber, a gente está notando a sua mudança, mas ainda não acho que é o suficiente. Seu carro já foi quase rebocado, e não vamos mais intervir nisso se voltar a acontecer - Diana falou.
- Nem eu quero que façam isso. Por favor, só peço que me dêem mais um voto de confiança. Sei que já errei muito, mas eu estou pedindo uma nova chance
- A que preço? - James cruzou os braços volumosos com seu olhar escuro sobre mim. - Se as coisas voltarem a acontecer, eu e sua mãe vamos nos prejudicar, não só você. Estou sempre limpando a sua bagunça, Amber
- Deixa eu mostrar que não tem mais bagunça a ser limpa - Respirei fundo, pondo uma mecha do meu cabelo para atrás da orelha. - Só por essa noite.
- E se você por acaso sair da linha?
- Pai, isso não vai acontecer - Assegurei.
O mesmo encostou com as costas no sofá, não parecendo nenhum pouquinho convencido com o meu pedido. Eles chegaram do trabalho tem apenas alguns minutos.
- Essa é a sua palavra contra a nossa.
- Quebra o meu celular - Dei de ombros. - O computador, o carro, minhas coisas. Me põe para morar com os meus avós ou qualquer coisa nesse nível
- Ai, meu Deus - Diana colocou a mão na testa, suspirando. - Tudo isso por um veículo.
Minha mãe sempre foi bem indiferente em questão aos carros dessa casa. Não me surpreende ela sempre preferir chamar um carro particular quando sai sozinha. A mesma odeia dirigir.
- Não é nem a pior coisa do mundo. Só quero o meu carro de volta
- Que tiramos de você por um bom motivo. - James ergueu uma sobrancelha, fazendo questão de me lembrar. Revirei os olhos. - Tirar novamente vai ser muito fácil
- Então faz algo pior! - Exclamei, começando a me irritar. Se isso não vai dar em nada, prefiro encerrar por aqui ao ficar gastando saliva. - Olha, se vocês não vão deixar o meu carro comigo de novo, então digam "não" de uma vez que eu paro de insistir.
Meus pais se olharam uma última vez, tentando decidir qual decisão tomar. Meu pai não quis ceder, eu vi pela forma que seu maxilar ficou rígido quando os olhos da minha mãe se suavizaram, e ela piscou meigamente concordando com a cabeça. Sabendo que seu marido permaneceu contra a sua escolha, Diana me encarou com um sorriso de lado.
- Tudo bem, filha. Estamos confiando em você, e espero que não nos decepcione. Já sabe onde está a chave do seu carro.
(...)
Depois de explicar por quase meia hora que vou sair rapidinho para ir na casa da Jéssica - nem lembro qual desculpa que usei - liguei para o Andy e pedi o endereço da casa do Dener. Se ele não vai se comunicar e prefere que eu dê o primeiro passo, então vai ser assim. Não sei o que vou dizer, o que fazer e muito menos como reagir, mas preciso estar de frente para esses olhos azuis mais uma vez antes de me despedir, ou dar boas vindas para uma nova parte da minha vida.
Minha mão está suando de nervoso enquanto estou apertando o volante até as pontas dos meus dedos estarem brancos, tentando reprimir a ansiedade e o medo de uma talvez rejeição. Minha única certeza de agora é: eu preciso de um caminho, qualquer um. Minha vida ficou bagunçada por muito tempo para eu continuar sem respostas e sem qualquer direção. Não é assim que as coisas tem que ser. Não mais.
Quando avistei a casa média com uma cor desbotada, quase que meu coração saiu para fora e as incertezas vieram mais fortes do que nunca. Volto? Vou? Continuo? Paro? Não! Se eu vim até aqui, vou continuar custe o que custar. Estou apostando todas as fichas mesmo, então que seja para valer a pena.
Saí do carro e senti o vento frio me percorrer, fazendo o meu cabelo castanho se debater fortemente. Estou com uma calça legging e uma blusinha roxa. Devia ter trazido um casaco.
Me aproximei da porta e apertei a campainha com um nó na minha garganta. Quando a mesma abriu eu quase caí para trás achando ser o Dener, mas a figura de um garoto com o cabelo para o lado me deixou aliviada. As bochechas dele coraram na mesma hora.
- Posso ajudar? - Perguntou tão baixo que mal pude ouvir.
- Oi, Harry. Sou a Amber, nos vimos na festa. Sou a filha da Diana
- Eu lembro de você
- Então, o Dener está?
Harry abriu a boca para responder, mas uma garota de camisola e cabelo em trança apareceu ao lado do mesmo, envolvendo o pescoço dele com o braço. Ela sorriu abertamente ao me ver e não pensou duas vezes em sair de perto do gêmeo que aproveitou a deixa para entrar. Hannah me abraçou com força.
- Que surpresa! - Disse em animação.
- Sim! - Dei uma risada. A mesma se afastou. - Seu irmão está ai? Preciso falar com ele.
Hannah sorriu mais ainda com a minha declaração, e pareceu aliviada pelas minhas palavras.
- Por mais que eu adore esse meu trabalho como cupido e coisa e tal, não posso chamar ele
Franzi as sobrancelhas.
- Por que?
- Porque ele não está. - Deu de ombros. - Saiu faz um tempinho.
Ah, não. Não vim aqui atoa, e sei que se eu voltar, não vou mais ter essa coragem para vir de novo e finalmente dizer tudo que está entalado na minha garganta. Precisa ser hoje!
- Sabe onde ele foi? É muito importante
- O Dener disse que ia para uma praça aqui por perto. Não sei qual, mas é por aqui
Acho que consigo me virar.
- Obrigada, Hannah. - Dei um beijo na bochecha da mesma. - Tenho que ir. - Virei as costas e fui correndo até o meu carro.
Meu sangue está fervendo. Preciso fazer isso, preciso fazer isso...
- Espera! - A mesma gritou quando fiz menção em abrir a porta do motorista. - Amber, o que vai fazer?
- Uma coisa que eu já devia ter feito... - Falei mais pra mim do que para ela.
Não pensei duas vezes em sentar no acento ainda quente. Girei a chave na ignição e fui igual uma psicopata pelas praças que tem por aqui.
O barulho dos meus batimentos cardíacos quase me deixaram surda por todo o trajeto. Estou fazendo uma loucura que seria absurda para a "eu" de três meses atrás. Desde quando as coisas mudaram tão drasticamente? Parece até coisa de desenho. Não consigo lembrar do momento exato que tudo ficou tão confuso e estranho pra mim, mas aqui estou eu, indo atrás de alguém que me deu pouquíssimas pistas sobre realmente querer alguma coisa. Minha cabeça está rodando...
Passei pela praça mais movimentada desse bairro e não achei. Pela mais perigosa e - felizmente - também não achei. Comecei a perder as esperanças, e quando estava indo para a quarta que é um pouco mais distante do que as anteriores, fiquei sem fôlego por ver a moto do Dener estacionada. Minhas mãos começaram a tremer e eu tiver que respirar fundo diversas vezes. Olhei para a tela do meu celular, vendo que são quase onze horas.
Tudo bem, vai dar tudo certo...
Saí do carro que estacionei há duas esquinas de distância e abracei os meus próprios braços pelo frio que me atingiu instantaneamente. Dei alguns passos na direção da moto dele, até a voz do mesmo me atingir. Demorei uns segundos para identificar o loiro no banco bem perto dali com uma garota ao seu lado.
Entreabri a boca ao notar que não é qualquer garota.
Julie.
Meu corpo cambaleou para trás algumas vezes, completamente chocado com a situação. Notei a jaqueta do garoto por cima do corpo dela e meus olhos se encheram d'água. Isso é coisa da minha cabeça, tem que ser coisa da minha cabeça. Não, não pode ser verdade. Não é verdade.
Eles nunca...
Não importa, eu vim aqui e vou fazer o que preciso fazer. Mesmo que seja uma puta humilhação, a minha parte eu fiz!
Me apressei e estava praticamente correndo quando tropecei e quase caí. Olhei para o chão vendo que o tênis não deixou eu me machucar, mas quando ergui o rosto novamente, parei.
Parei de andar, de respirar, de segurar todas as pontas que venho aguentando esses meses.
Parei absolutamente tudo quando vi o beijo dos dois e a forma que Dener ficou entretido no mesmo. Meu coração errou as batidas e as lágrimas foram mais rápidas do que o processamento da minha cabeça. Meus lábios se entreabriram e eu senti vontade de gritar, chorar igual maluca, cair no chão e me debater. Senti vontade de fazer tudo e mais um pouco, mas prometi que as coisas iam ser diferentes.
Continuei parada entre uma esquina e outra, chocada demais para conseguir desviar o olhar deles.
Engoli o choro que se alojou na minha garganta. Meu cabelo continuou se debatendo enquanto eu virei as costas e voltei para o meu carro correndo mais rápido do que antes, sentindo o meu corpo pesar e minha visão ficar turva com o vento frio batendo contra o meu rosto. Respirei fundo, certa de não fazer uma cena no meio da rua.
Me apressei em me aproximar do meu veículo, abrindo a porta e praticamente me jogando sobre o banco. O espaço se tornou extremamente pequeno e meu corpo mais pesado do que nunca. Pus uma mão sobre a minha boca, abafando os soluços desesperados e a dor imensurável que me atingiu como tijolos. Apertei o volante com a outra, sentindo a adrenalina me percorrer.
Soltei um pequeno grito abafado e dei um soco no volante, fazendo a buzina ecoar. Pus a testa sobre o mesmo, me sentindo derrotada, cansada, como a mesma garota patética que implorou por anos pelo mesmo garoto comprometido que na real, nunca teve o menor amor por mim. Estou sentindo nojo do meu próprio reflexo.
Ergui o olhar cansado e destruído, vendo que não adianta eu continuar aqui, não adianta achar que essa dor filha da puta que estou sentindo fará alguma diferença nessa situação. Nunca fez, por que agora vai ser diferente?
Girei a chave na ignição com as mãos trêmulas e não olhei na direção deles novamente, apenas fiz uma curva e fui para casa.
(...)
Como se o dia não estivesse cansado de me foder o suficiente, lembrei que meu carro estava com pouquíssima gasolina quando meus pais deixaram o mesmo na garagem por meses. A gasolina acabou completamente há dois quarteirões da minha casa. Suspirei, tentando não surtar.
Não vai adiantar ligar para James, porque já sei que ele vai deixar tudo para amanhã. Que porra de dia.
Pus meu celular no bolso, saí do carro, bati a porta e tranquei o mesmo. Cruzei os braços na intenção de espantar um pouco do frio que está me cercando desde o maldito momento que deixei a minha casa para fazer algo impossível e maluco essa noite. Se eu tivesse recebido a porra de um sinal, certamente teria ficado em casa e não ia arriscar nada. Estava tão bem jogando buraco com o meu avô no tapete da sala.
Por que meus pais me devolveram o carro? Que mania chata de serem ótimos pais.
Fui o mais rápido que consegui para casa pelos cantos sem que ninguém me visse. A última coisa que preciso é ser roubada ou até sequestrada. Meus pais vão me matar se souberem que eu voltei sozinha no meio da noite, sabendo que a hora está passando mais rápido do que nunca e que daqui a pouco vai dar meia noite. Maldito dia.
Continuei indo pelo canto até me aproximar da minha casa. Suspirei de alívio quando ouvi duas vozes conhecidas. Franzi as sobrancelhas.
-...Achei que ia ser muito mais complicado - Voz da Jéssica.
O que ela está fazendo aqui?
- Você nem ouse desmerecer o meu trabalho, Jess. Foi complicado sim e só eu sei como. - Dener suspirou.
O que ele está fazendo aqui?
Ambos ainda não me viram. Me escondi atrás da moita que é triplamente o meu tamanho. Não quero que eles vejam a minha cara de choro, e muito menos quero ver o Dener agora. Estou me sentindo arrasada.
A garota riu.
- Okay, garotão. Pelo menos você cumpriu a sua parte
"Parte"?
- É, acho que sim... Ainda não acredito que a Amber está apaixonada por mim e esqueceu aquele babaca.
Ele sabe...
- Mas acredite. A Amber está apaixonada, e você conseguiu cumprir o seu "desafio" de fazer isso acontecer. Eu sabia que conseguiria
- Não foi bem um desafio, Jess. Eu só...
Desafio...
Eu me apaixonar pelo Dener foi... Um plano deles?
Coloquei a mão na parede com rapidez, tentando ter apoio para não cair. Ambos ouviram o barulho das folhas e olharam na mesma hora. Não pensei duas vezes em sair dali com o coração pesado e lágrimas me deixando quase cega. Eles arregalaram os olhos e Jéssica deu um passo para trás.
- Desafio? - Sussurrei, me sentindo derrotada.
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OIEEEEEEEE
Meu Deus, é porrada atrás de porrada. Sei de nada não
Não era essa verdade que vocês estavam esperando, né? Me perdoem KKKK
Talvez as coisas se resolvam a partir disso, ou talvez só venha mais complicações. Hmmmm
Rindo de nervoso KKKKKKKK
É isto, amores. Próximo capítulo vai sair rápido, prometo.
Me desculpem a demora para postar esse
Curtam e comentem.
Amo vocês 💜
Miin.