Sempre sua Garota [✓]

Por ars_amanda

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🏆 OBRA VENCEDORA DO WATTYS 2021🏆 A vida de Lennon Clarke tomou um rumo inesperado ao ser traída por seu fut... Más

SEMPRE SUA GAROTA
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prólogo
parte única| sua garota
01| antes | ele
02| agora | não volte
03| antes | nós e mais dois
04| agora | lar doce lar
05| antes | elas
06 | agora | feridas
07 | antes | quase
08 | agora | medos
09 | antes | idiota
11 | antes | aposte em nós
12 | agora | minta por amor
13 | antes | sem arrependimentos
14 | agora | as coisas que ignoramos
15 | antes | estamos bem
16 | agora | em colisão
17 | antes | estou bem
18 | agora | vida nova
19 | antes | não estou bem
20 | agora | verdades nunca ditas
21 | antes |é melhor assim
22 | agora | últimas palavras

10 | agora | em queda

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Por ars_amanda

BOSTON, USA
METADE DO OUTONO

— Esse Red Sox é um lixo — uma voz masculina se sobressaia entre as demais que murmuram em um cenário a que dou as costas.

Meu indicador contorna a larga abertura do curto copo cheio de liquido maltado e alguns pedaços de gelo quebrado, que faziam o vidro suar escorregadio entre meus dedos. Despretensiosos meu indicador e polegar pegam o copo, misturando o liquido com água, antes de levar até meus lábios.

Minhas papilas gustativas adormecidas não sentem nada, mas meu estômago reclama a queimação que o liquido produz em contato com o meu suco gástrico.

Equilibro meu corpo no alto banco de madeira, enquanto meus antebraços repousam sobre a encerada bancada de madeira, a proteção do jovem – literalmente jovem, na casa dos seus 19 anos – que de forma atrapalhada tentava atender aos clientes e manter a ordem com a ausência de qualquer um dos Harpers, naquela noite.

Agradeço o rápido efeito do remédio diário que estava se tornando aquelas doses de bebidas, me ajudavam a dormir, me ajudavam a esquecer, me ajudavam a esquece-la. A esquecer Lennon Clarke.

Lennon

A simples lembrança daquele nome, que trazia consigo uma inapropriada imagem de uma cabeleira castanha, olhos castanhos e brilhantes, pele clara com aroma de rosas fresca, que me obrigam a virar o liquido do copo direto na minha garganta, como se algumas ml de uísque fossem capazes de ter o efeito de uma enxurrada no meu interior.

O baque seco do vidro com a madeira alcança meus tímpanos, enquanto sinto amortecer meu interior e as feridas físicas do meu corpo. Aperto as pálpebras.

— Tom — em um chamado seco e preciso tento chamar a atenção do jovem magrelo, de cabeleira negra e pele morena, na outra extremidade servindo a outro cliente.

Seus olhos negros me encaram atentos, enquanto meu dedo indicador apontado para o copo vazio resumindo todas as minhas palavras. Ele assente se aproximando em passos largos com uma garrafa de uísque nas mãos.

— Pode encher — ordeno, não tendo a petulância de pedir para ele deixar a garrafa.

— O mesmo para mim — aquele pedido soa próximo e produzido por um tom familiar.

Irritantemente familiar, que nem ouso trabalhar meu preguiçoso pescoço para encontrar a figura miserável de Henry Bufton, que sem convite aloja seu corpo no banco vazio ao meu lado.

O ignoro. Bebo mais goles que minha garganta é capaz de mandar para meu estômago, só para sentir o rápido efeito do álcool que amortecia tudo.

— Andou brigando? — tento não prestar atenção naquele questionamento.

Mas de soslaio meus olhos acompanham os seus, sobre minha mão que envolvia o largo copo, contudo não era ao vidro a que seus lábios faziam referência, mas sim a atadura branca em torno dos nós da minha mão.

Definitivamente socar um espelho não tinha sido uma ideia sensata, não que tivesse pensado para fazer, apenas precisava descontar minha raiva e frustração em algum lugar.

Mantenho meus lábios comprimidos, em um silencioso protesto. Levo o copo até meus lábios, bebericando o liquido, que brinca com a minha língua antes de ser digerido.

— Ainda irritado comigo? — não ignoro aquele questionamento dirigido em minha direção.

Sem vontade elevo os ombros, que permanecem por alguns minutos assim, enquanto mantenho meus lábios ocupados.

— Por você me chamar de idiota ou por ter razão? — rebato com outro questionamento.

Giro meu pescoço, encontrando a figura de cabelos loiros e alinhados, barba feita, camisa com os primeiros botões abertos e sem gravata de Bufton, meu amigo. Aquele tipo de amigo que ninguém quer, mas todos precisam e acabam tendo, um amigo que fala as verdades inconvenientes.

— Filho da puta — aquele xingamento se sobressai entre as demais vozes que balbuciam pelo enorme salão.

Em um movimento coordenado, Bufto e eu encaramos em direção a mesa de sinuca a peculiar cena sobre os ombros: um homem de camiseta e jeans, com o boné virado para trás, um taco de madeira fino em uma das mãos e uma garrafa de cerveja na outra.

Brevemente, nós entreolhamos, em uma velada e silenciosa conclusão de que não escapa por entre nossos lábios, mas fica contida em nossos pensamentos: que idiota.

Eu bebo. Ele bebe. Preferimos manter nossos lábios ocupados por alguns incontáveis minutos nada silenciosos.

— Sinto muito — aquelas duas palavras voltam a dar início ao nosso diálogo.

Ele fixa seu olhar no fundo do copo. Balanço o copo em sua direção, em um convite silencioso para um brinde que não acontece, pois Bufton mantem suas mãos e seu copo apoiado no balcão.

— Você tinha razão — o parabenizo — Ela não me merece — levo o recipiente de vidro, quase vazio, até os meus lábios — Ela me traiu. Foi embora com outro. E está feliz.

As palavras saem por entre meus lábios mais amarguradas do que gostaria, apesar que se pudesse sangra-las com uma faca, certamente faria.

— Me felicite Bufton — o incentivo, girando o mínimo possível meu corpo no banco.

Os ombros largos do homem ao meu lado murcham, enquanto seu cenho se arqueia em alguma dúvida que ignorava.

— O rapaz — aquele chamado passa entre mim e o homem no banco ao lado, ambos encaramos a muitos passos de distância um homem tagarela de outrora, segurando o taco de sinuca do lado do seu corpo — Isso você — seu dedo dança em direção ao jovem atrás do balcão — Traz uma bebida, rápido.

O jovem atrás do balcão balança a cabeça, agitado, enquanto seu corpo parece tremular de temor. Meus olhos se cruzam com os familiares olhos claros, que não escondem sua reprovação.

— Babaca — Henry rosna entre seus lábios, vocalizando nosso pensamento inicial.

Volto a apoiar minhas mãos sobre o balcão. Inalando o ar cheio de bebida alcoólica, nicotina e um misto enjoativo de perfumes, bebo o restante do liquido esquecido no copo, em silêncio o homem amigável faz o mesmo ao meu lado.

Ele poderia me tripudiar, dançar na minha miserável figura patética que tinha se iludido, mas por consideração, pena ou amizade, não o faz, apenas bebe em silêncio.

— Ei — aquelas vogais soam próximas, quase em nossas orelhas.

Voltamos a encarar sobre os ombros a figura do homem outrora distante com um taco, agora estático praticamente ao nosso lado, com seus dedos repousados no ombro de Bufton, que reage ao seu toque, girando o corpo.

— Do que você me chamou? — mesmo o meu hálito estando alcoólico, minhas narinas não ignoram o aroma de cerveja que escapa dos lábios do homem alto, magro, mas musculoso.

Henry apenas vaga seu olhar para a figura ameaçadora parada em sua frente. Não ignoro seu tremular de lábios, mas sentindo meus músculos fracos para tentar segurar a enorme figura de Bufton, toco no seu bíceps, tentando chamar sua atenção.

— Não entra na onda dele — sussurro em sua direção, girando o corpo e ficando de frente para o homem desconhecido — Ele não disse nada, está bem?

O desconhecido empertiga o corpo, seu pomo de adão se move de maneira ameaçadora quando sua saliva é tragada, juntamente com seu queixo, contornado por alguns fiapos de pelo, empinado em nossa direção. Seus braços se cruzam, enquanto seus olhos repousam na figura calada ao meu lado.

Mais dois homens se aproximam, silenciosos, apenas espectadores, ou não.

— E então? — suas palavras são direcionadas a Bufton.

Henry pisca algumas vezes, antes de manear positivamente a cabeça.

— Não disse nada — e seus lábios finalmente concordam comigo.

Seguidos por uma risada que explode em nossas caras, o homem diante de nós gargalha efusivamente, arqueando a cabeça em uma encenação ridícula de humor exagerado. Seus braços se descruzam, só para permitir que as palmas de suas mãos se esfreguem.

— Que bonitinho — suas palavras saem em tom sarcástico — Vai obedecer a namoradinha.

Droga.

De soslaio, meus olhos não ignoram o ranger de dentes de Henry, que empertiga seu corpo, fechando os punhos na lateral do seu quadril.

— Está bem — meu amigo murmura, balançando suavemente a cabeça — Quer saber do que eu o chamei? — seus lábios se curvam ardilosamente.

O desconhecido encrenqueiro, acompanhado de mais dois, arqueia o cenho, assentindo.

Bufto mostra seus dentes brancos, assim que salta seu corpo do estreito banco, dando dois passos em direção a figura ameaçadora, com o punho fechado, estende apenas seu indicador que choca-se sem temor algum contra o peitoral revestido do seu rival.

— De babaca — as palavras saem enfatizadas de seus lábios, em um silabar lento.

O encrenqueiro maneia lentamente sua cabeça na estrutura do pescoço, deixando escapar uma suave risada humorada. Jogando as mãos no alto, gira o pescoço para os lados, fitando as duas figuras masculinas a sua escolta.

— Não falei — sua mão aberta dança em direção de Bufton — Ele acha que eu sou um babaca — aquela constatação é dirigida a um dos seus conhecidos.

Uma risada forçada é produzida pelos lábios do homem ao meu lado, como se a situação tivesse se resolvido com o simples proferir daquela ofensa e sentaríamos todos em uma mesa e beberíamos.

Ou não.

Meus olhos mão conseguem acompanhar o punho fechado do homem magrelo e musculoso que vai de encontro ao olho direito de Henry, cambaleando se corpo alguns passos para trás, chocando-se contra o banco de madeira que acaba no chão.

Porra

Rosno mentalmente, quando a última coisa que queria acontece. E antes que pudesse pensar meu corpo choca-se contra o agressor, agarrando suas costelas e levando nós dois contra o gélido piso de cimento queimando.

Meu punho cerrado colide contra o duro osso logo abaixo do olho do homem estirado sob mim. Bato. Soco. Não conseguindo ignorar uma fúria em meu interior que alimenta os movimentos repetitivos do meu braço, que o agride quase de forma mecânica, abrindo uma ferida na parte inferior do seu olho.

Focado em meus movimentos, ignorando os murmúrios atrás de mim, apenas uma extensão daquela confusão. Fico atordoado, quando a testa do homem abaixo de mim choca-se no osso do meu nariz, irradiando um ardor capaz de me fazer gritar.

Porém sem tempo, sinto nossos corpos inverterem de posição, e sem reação, é o meu corpo que choca-se contra o solo, enquanto repetidos socos atingem meu olho, queixo e lábios, irradiando uma dor amortecida. Enquanto meus braços sem sucesso tentam tira-lo de cima de mim.

Um ensurdecedor barulho ecoa entra as grossas parede do Maurice's, paralisando a todos, inclusive meu agressor que para seu punho fechado no meio do caminho. Sem forças, consigo erguer um pouco a cabeça e encontrar a figura de Don Harper – pai de Nicolá – com uma velha escopeta nas mãos, revelando a origem daquele barulho paralisante.

Agradeço quando sinto o pesado corpo do homem ser tirado de sobre o meu, podendo finalmente respirar, apesar de tudo doer.

— Aqui no meu bar não — o homem de cabelos grisalhos e na casa dos sessenta anos grita firmemente.

Estiro meu corpo dolorido sobre o familiar banco de concreto, não conseguindo ignorar cada reclamar das minhas fibras musculares, comprimo minhas pálpebras, tentando respirar através de um dos tufos de algodão alojado na abertura da minha narina que ainda teimava em expelir sangue, enquanto meus dedos comprimem a nova atadura nos nós dos meus dedos.

Não estava nos meus planos acabar a noite, trancado em uma cela e com mais uma acusação de agressão em minha ficha. Talvez teria preferido terminar sozinho na minha cama remoendo algum pensamento inapropriado, ou no apartamento da Billy, com a cabeça afundada em seu pescoço e suas pernas em volta da minha cintura.

Certamente entrar naquela briga não tinha sido uma escolha sensata, bater e apanhar muito menos. Mas tudo piorou quando descobrimos que o encrenqueiro era primo do capitão da delegacia local, primo de algum grau distante, mas suficientemente próximo para aceitar as palavras do seu parente de que nós começamos tudo.

Tudo bem que seu rosto arrebentado não era um ponto ao nosso favor. Porém foi um ponto suficiente para ele acabar em um pronto atendimento local, para tratar seu ombro dolorido, que parecia bom o bastante para manter seu punho colidindo em meu rosto.

Enquanto a Bufton e a mim restou acabar a noite juntos.

Droga. Acabar a noite com Henry Bufton.

Concluo que definitivamente tinha descido ao nível mais baixo da minha vida.

O ranger das metálicas dobradiças da cela queimam em meus tímpanos, tremulando minhas pálpebras que não ousam se abrir, já tendo a certeza que era a figura loira e babaca do meu amigo voltando do seu telefonema.

Normalmente Bufton me tiraria daquela situação, como advogado era brilhante, mas naquela noite ele não estava com sorte, nem eu.

— Já liguei para alguém vir nos ajudar — sua voz permeia pelo pequeno ambiente de paredes vazadas.

Mantenho meu corpo imóvel no banco de concreto. Enquanto minha mente desperta uma dúvida.

— Quem? — questiono com dificuldade, por meus lábios inchados.

Silêncio.

O único homem que dividia aquela espaço comigo permanece em silêncio, me obrigando a entreabrir minhas pálpebras, não tão bem a do olho direito, por que estava com um volume maior que o normal. Encaro o homem sentado no banco, do mesmo material do sob meu corpo, bem no meu campo de visão, na parede ao lado.

— Logo você vai descobrir — o desgosto é latente em suas palavras — Mas isso vai me custar caro — aquele murmúrio é mais para seus próprios ouvidos do que para os meus, que fingem não terem captado nada. Seus olhos, um com o supercílio cortado passeiam sobre minha figura derrotada — Você está horrível.

Uma risada resfolega em minhas narinas, enquanto cruzo meus braços doloridos. Girando a cabeça o suficiente para fita-lo.

— Você não está muito diferente — murmuro em sua direção, analisando sua figura grande, com uma mancha de sangue seco na camisa, lábios inchados e já assumindo um tom arroxado, observo suas mãos apoiadas no banco, apenas para constatar que os nós dos seus dedos não estavam muito diferente dos meus — Acredite.

— Fazia tempo que não brigava assim — revela, passando a mão por entre suas madeixas claras desalinhadas, antes de alisar suas mãos uma contra a outra, como se tentasse apagar alguma sensação — Estou ficando velho para isso.

Sopro o ar entre minhas narinas, relutando em aceitar aquela ideia. O tempo não parecia ter passado, parecia que tinha saído ontem da faculdade, arrumado meu primeiro emprego, brigado pela milésima vez, preso pela décima e ainda assim conseguia estar de pé no dia seguinte, pronto para próxima.

Remexo meu corpo sobre o concreto, sentindo um enorme desconforto na região das minhas costas e lombar.

— Estou todo dolorido — resmungo feito um velho sem força.

— Acho que amanhã estaremos pior — abaixando as sobrancelhas, ele conclui.

Nos entreolhamos, cada um analisando a figura patética e arrebentada do outro, apenas para chegarmos a uma velada conclusão de que o tempo tinha passado a nosso contragosto.

Uma risada explode por entre meus lábios, convulsionando meu abdômen que reclama irradiando dor.

Paramos de rir, ele desvia o olhar, eu encaro o teto, sem realmente vê-lo, tentando ignorar cada fração do meu corpo que latejava, apoio minhas mãos sobre as minhas doloridas costelas, batucando meus polegares contra meu peito, uma pequena distração de alguém inquieto que necessitava ficar quieto.

— Desculpa pelo outro dia, Avery — aquelas palavras caminham em minha direção, volto a girar a cabeça, encontrando, como poucas vezes, um olhar sincero do advogado implacável e insensível — Porra, cara — aquele resmungo, é acompanhado de sua mão que coça sua nunca, sem realmente parecer coçar — É um bosta sofrer por amor.

Meus lábios simulam uma curvatura limitada devido ao inchaço.

— Nem me fale — pela primeira vez sinto simpatia vindo daquele homem normalmente pouco amigável — Estou tão cansado — revelo, sentindo minhas pálpebras realmente pesadas.

Estava exausto de correr, lutar, esperar e principalmente amar. Cada centelha do meu ser doía, e aquelas dores pareciam não passar com o tempo, nem com descanso ou remédio. Não queria ama-la, mas não conseguia evitar. Não queria ficar esperando por ela, mas passava a noite ansioso. Queria poder esquece-la, mas sonhava com ela, com seu cheiro, seu toque, sua voz, com cada parte do seu ser.

E nos últimos dias, depois do nosso último encontrou – ou primeiro reencontro - minha cabeça girava e girava, revirando o passado atrás de respostas, erros ou qualquer sinal de que ela estava me traindo.

Droga. Eu tinha que perceber. Eu teria percebido.

Mas não percebi.

— Eu sei como você está se sentindo —aquela frase afasta meus pensamentos — Já passei por dois divórcios — seus lábios recordam, acompanhados de uma risada anasalada — E cara, é exaustivo sentir que tudo escapa por entre seus dedos — seus olhos claros me encaram, enquanto sua cabeça se remexe contra a parede de apoio — Que quando você olha para ela e percebe que ainda sente tudo, como no primeiro dia — seus globos oculares dançam dentro da orbe, vagando até o insignificante piso sob seus sapatos de couro marrom, sua boca parece tragar algo amargo — Que quando vocês chegam no fim, quando tem papéis de um ridículo divorcio para assinar, a única coisa que você quer é rasgar tudo e recomeçar — aquele homem nunca tinha me revelado aquilo, mas por uma fração de segundos sento um enorme alivio ao me deparar com alguém capaz de me compreender — Mas não tem mais volta — Bufton volta a me encarar — Porque vocês dois já se machucaram demais com palavras e atos que não podem ser apagados — ele fecha as pálpebras, passando a mão pelo seu rosto — Droga.

Seu rosnar de frustração é sincero. Henry não era de falar do passado, principalmente de relacionamentos passados, poderia comentar sobre algum caso do presente, mas jamais sobre o passado. E naquele momento eu compreendi o porquê, o entendia, simplesmente porque comigo passava a mesma coisa.

Antes da Lennon voltar e virar tudo de ponta cabeça evitava falar sobre ela, pensar no passado e em tudo que ficou para trás, como se fosse um mundo paralelo que teria passagem livre.

— Eu entendo — meus lábios balbuciam aquelas palavras que doem mais do que os ferimentos pelo meu corpo — Ela confessou que me traiu — aquela verdade quase fica presa em minha garganta — E juro que fico revivendo nossos últimos dias juntos em busca de qualquer coisa — passo meus dedos por entre os fios do meu cabelo suado, repousando meus pulsos sobre a minha testa — E não encontro nada.

Nada.

Nosso último dia tinha sido como outro qualquer. Ela trabalhando. Eu trabalhando. Ela chegou tarde em casa, não quis que fosse busca-la. Eu estava dormindo. Ela afundou seu corpo na nossa cama. Eu despertei e envolvi seu corpo em meus braços. Seus lábios provocativos tocaram meu pescoço, no meio da escuridão. E fizemos amor preguiçoso e silencioso. E na manhã seguinte.

— Eu sinto muito — aquele consolo me arranca do passado.

Abro os lábios, para proferir algum som, mas volto a fecha-los. Encontro os olhos atentos e curiosos de Bufton, sentado relaxado sobre um banco desconfortável.

— Ela me amava —balbucio tendo a certeza que proferi aquelas palavras mais para mim mesmo do que para o meu ouvinte — Eu não entendo uma coisa, se ela me traiu, porque foi embora?

Estreito meus olhos curiosos em direção ao homem que deveria saber de relacionamentos mais do que eu.

— Culpa? — seus ombros se elevam para acentuar seu tom de uma dúvida que também parecia compartilhar.

Culpa

Pondero aquela resposta, passando a mão sobre meus olhos cansados. Sentindo cada musculatura do meu corpo ranger de dor, balanço meu corpo, o sentando sobre o gélido banco, inclino meu corpo para frente, apoiando meus braços nos joelhos, encaro minhas botas de amarrar com algumas gotas de sangue no bico.

— Tudo bem — pondero — Você já fez merda, eu já fiz merda, mas nem por isso fugimos — dou voz as dúvidas dominantes em minha mente — Não fomos para outro país por culpa.

Bufton balança a sua cabeça para os lados, como se considerasse meus argumentos.

— Já tive vontade — revela, esticando os braços para cima alongando seus músculos, antes de voltar a cruzar seus braços — Mas você tem razão, não era para tanto.

— Exato — o ar resfolega em minhas narinas — Ela poderia ter ficado, me contado tudo, teríamos brigado e talvez resolvido tudo — a frustração toma meu interior — Droga cara, eu não entendo — quase enfio minha cabeça por entre minhas pernas, enquanto espalmo minhas mãos em minhas madeixas.

— Medo de você odiá-la? — aquela consideração invade meus pensamentos.

Pode ser.

Mas algo ainda não se encaixava, Lennon não era do tipo de fugir de uma batalha. A garota que tinha sido presa por tentar derrubar a porta do noivo só porque ele a traiu. Definitivamente fugir não era a cara da Lennon Clarke que conhecia.

— E se ela deixou de te amar? — ergo a cabeça, acenando negativamente a cabeça.

— Não — a resposta é rápida — Nós fizemos amor na manhã antes de eu viajar.

Bufto eleva os ombros tentando soar casual.

— Sexo é sexo meu amigo.

— Não — rebato — Eu sei a diferença.

Seus lábios se contorcem derrotados, ele joga as mãos no ar impotente.

— Então não sei.

— Nem eu — balbucio para mim mesmo.

Meus dedos coçam minha grossa barba, um estimulo ao meu pensamento que vaga mais longe, em dias mais distantes do que o último.

A não ser que

A ruidosa porta de metal espanta meus pensamentos que se perdem no esquecimento. Elevo meus olhos para o estreito corredor entre as celas, apenas para contemplar a figura imponente de uma mulher com saltos altos, um belo vestido preto sob um casaco da mesma cor, sustentando uma bolsa de alguma marca importante em seu pulso. Lisbon Taner, a melhor amiga da Lennon.

Maneando meus lábios desentendidos, encaro a figura murcha do homem ao meu lado.

— Ela? — sussurro entre os dentes.

— Olá babacas — ela nós saúda.

Os ombros, outrora firmes e vigorosos de Henry, se murcham impotentes, uma resposta silenciosa.

— Oi — sem vontade alguma o outro homem naquela cela murmura.

Os ardilosos lábios, da advogada do outro lado da cela, se curvam, com seus olhos repousados na figura do meu amigo.

— Achei que ficaria mais feliz em me ver, Bufton — o sarcasmo impera em seu tom.

E uma relação que desconhecia se vislumbra diante dos meus olhos, aguçando minha curiosidade.Os globos oculares do meu amigo giram na orbe contrariados.

— Está bem — ela espalma sua mão em nossa direção — Não precisam agradecer, mas — seus lábios acentuam a última palavra adversativa, com seus olhos pousando na minha figura — Vocês vão sair daqui, mas você — seu cenho eleva, enquanto seu indicador dança em minha direção — Vai ter que comparecer em uma reunião com a minha cliente, para discutirmos o divórcio.

Roço meus dentes, contrariado, buscando a figura do meu auxiliar jurídico, que me fita quase com suplica para que aceitasse.

— Sério? — sopro em sua direção.

Bufton eleva sua mão até o lado da sua boca, ocultando seus lábios dos olhos castanhos da mulher fora daquele espaço.

— É só uma reunião — seus lábios apenas silabam as palavras sem produzir um som audível.

Aperto minhas pálpebras, comprimindo meus lábios ao bufar uma frustrante derrota.

— Está bem — concordo.

Minhas palavras delineiam um sorriso nos lábios da mulher de cabelos castanhos soltos.

— Perfeito — elacantarola — Nós encontramos daqui dois dias — anuncia decidida, girando oscalcanhares em direção a porta — Você saem daqui até as 8 horas da manhã, foi omelhor que consegui — ela anuncia sobre os ombros, antes de partir.

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