No Compasso das Estrelas | ⚢

By girlfromcv

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Para uns, Porto Baixo não passava de uma cidadezinha praiana esquecida num canto qualquer da Costa Este e ass... More

Nascer do sol
DREAMCAST
Epígrafe
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Epílogo
Especial de Fim de Ano
Tem alguém aí?

Capítulo 5

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By girlfromcv


      — Victória! — a exclamação de Lena, sustentando uma mistura de desespero, aflição e susto, preencheu a galeria, sendo seguido por um silêncio sepulcral.

Mariana, que cantarolava baixinho — à medida que coloria um desenho recém-feito —, parou ambas as atividades e olhou ao redor, assustada. Ao seu lado, Yara fez o mesmo, alternando o olhar entre a tia e a mais velha das irmãs, que apertava sua bola de futebol contra o peito, os olhos levemente arregalados, à espera de uma reação da mãe, depois de quasei ter derrubado uma escultura ao tentar um truque com a sua bola.

Lena respirou fundo ao constatar que por pouco a obra de arte permanecera no lugar, sem arranhão algum, posteriormente voltando as atenções para a filha mais velha e respirando fundo, enquanto massageava as têmporas com as pontas dos dedos.

      — Pelo amor de Deus, Victória, vai sentar ali antes que eu perca a paciência e queime essa coisa. — apesar do tom relativamente baixo e suave, a menina não deixou de notar que havia uma ordem implícita ali; reforçada pelo seu olhar cortante.

Pediu desculpas em um tom baixo, ao passo que seguia na direção que ela apontava, indo juntar-se ä irmã, que tinha voltado a dedicar atenção ao seu desenho — ao perceber que não era nada de muito grave a acontecer — e partido para uma outra canção, este que aprendera logo no primeiro dia de aulas.

Yara observou a prima tomar lugar à sua frente, debruçando-se para ver o que a irmã desenhava, e depois puxando um papel que pôs-se a rabiscar coisas aleatórias, soltando suspiros entediados, vez ou outra.

Desejava fazer alguma coisa que a animasse e fizesse a sombra de aborrecimento em seu rosto se dissipar, mas não sabia o quê, então optou por regressar à atividade anterior, tentando buscar a concentração que se fora com o grito da tia.

Após cerca de um minuto, com um suspiro longo e frustrado, fechou o caderno e jogou o lápis dentro do estojo, desistindo de responder àquela questão que nada mais fazia do que dar um nó em seu cérebro, sendo a resposta ainda uma incógnita para si. Portanto, fez uma nota mental para mais tarde pedir ajuda à tia, quando ela estivesse livre.

Transportou os materiais para a mochila e ergueu-se da cadeira, puxando um pouco as calças para cima, bem como a borda da blusa para que cobrisse o cós. Depois conferiu o relógio por cima da entrada, que marcava duas e vinte e cinco da tarde; um aviso silencioso de que já estava na sua hora e, se demorasse mais um pouco, chegaria atrasada à reunião do clube, o que não queria. Por vergonha, já bastava o atraso de segunda-feira.

      — Meninas, já estou indo, tá? — anunciou, apoiando as mãos por cima do encosto da cadeira.

Como se apenas esperasse um sinal, Mariana pescou de dentro do caderno um papel colorido e levemente amarrotado nas pontas, desceu da cadeira num pulo e contornou a mesa para chegar até a mais velha, entregando-lhe o desenho em que trabalhara com tanto empenho no dia anterior.

      — Toma, é pra te dar sorte. — Yara sorriu; o olhar saltitando entre a prima e o desenho que dela recebera, derretida com sua fofura e o sorriso que deixava em evidência a covinha do lado direito do seu rosto. — Aqui sou eu, na outra ponta é a mana, mamãe ao meu lado e, junto com ela, você.

À medida que ia explicando, apontava para os bonequinhos de palito representados na folha, metidos em roupas multicolores e, na sua maioria, cheias de estampinhas fofas que não saberia dizer se eram figuras geométricas que deram errado ou mesmo coisinhas aleatórias que vieram à cabeça e ela transferiu para o papel.

Na parte de cima, um "Boa Sorte!" destacava-se em cores vivas de feltro, com uma caligrafia desajeitada e claramente de alguém que ainda estava nos seus primórdios, fazendo com que seu sorriso se alargasse ainda mais e, consequentemente, contagiasse Mariana.

Madalena, alguns metros mais adiante, observava a cena, também sorridente. Piscou e fez um joinha à filha mais nova, quando ela lhe fitou, em um agradecimento silencioso pela ajuda com a escrita.

      — Obrigada, pequena. — depositou um beijo terno na testa dela e agachou-se para ficar da sua altura e aceitar seu abraço apertado. — Eu adorei, mesmo.

Depois de algumas outras palavrinhas de agradecimento, voltou-se para Victória que, assim que o olhar da prima recaiu sobre si, meteu as mãos no bolso dianteiro do short, tirou de lá um papel dobrado e lhe estendeu, cruzando os braços e escorrando-se na mesa logo de seguida.

      — Não ficou tão boa quanto à original, mas acho que dá pro gasto. — Yara ouviu suas explicações, enquanto analisava um esboço da capa de "Noventa e nove", um de seus livros preferidos. — É só pra transmitir energias positivas e tal. — coçou o queixo, soltando um risinho nervoso. Ela não era de fazer aquele tipo de coisa e, nas raras vezes que acontecia, sempre ficava sem saber bem o que dizer. — Enfim, não precisa ficar nervosa, OK? Vai dar tudo certo.

Yara deixou escapar uma risada curta e esticou uma das mãos em punho para que ela tocasse, e assim fez, abrindo um sorriso de canto, igualzinho ao da mãe.

     — Eu amei, Vi. — declarou, mantendo o sorriso sem jeito no final. — Ficou muito legal! Obrigada, tá? De coração.

Visivelmente satisfeita por ter alcançado seu objetivo, Victória alargou o sorriso, devolvendo a mão ao lugar de antes, e encolheu brevemente os ombros.

A adolescente ajeitou as alças da mochila nos ombros, totalmente sem jeito e um tanto nervosa. Não que não estivesse feliz com aqueles presentes. Não era aquela a questão. O problema estava em não se julgar merecedora de tudo o que vinham fazendo por si, ainda que quisesse, ainda que Lena tentasse fazê-la acreditar que era, ou que Mariana, com seu jeitinho meigo e carinhoso fizesse parecer que sim e, mesmo Victória, de maneiras mais reservadas e escassas demonstrações de afeto, não deixava de mostrar seus gestos — mesmo que mínimos e por vezes quase imperceptíveis por residir nos detalhes microscópicos — quando tinha oportunidade.

Ela não era tudo aquilo, não merecia tanto assim e estava longe do que elas faziam parecer. Pessoas do tipo não faziam o que ela fizera, elas não destruiam tudo quanto tocavam, elas não...

Foi obrigada a empurrar tais pensamentos para o mais fundo da sua mente — onde também habitavam coisas que, se dependesse de si, ficariam para sempre e nunca traria à superfície, porque sem o fazer já doía, e não queria imaginar se o fizesse — quando sentiu as mãos da tia sobre seus ombros e a voz desta perto de si, chamando atenção para as horas que avançavam, pois senão acabaria por chegar atrasada.

      — Eu realmente queria levar você, Yara, mas eu tô mesmo lotada de trabalho e a Yumi nem tá aqui pra me ajudar. — Lena disse, quando alcançaram a saída.

       — Fica tranquila, tia, está tudo certo. — abriu um sorriso pequeno, tentando tranquilizá-la. — Eu entendo. Vou de autocarro, sem problema nenhum.

       — Tudo bem. — passou umas mechas dos cabelos da sobrinha para trás da orelha e beijou sua bochecha com ternura. — Quando eu fechar aqui, vou te buscar, tá?

Assentiu, acenando uma última vez para ela e, em seguida, substituindo o ar fresco do interior, pelos escaldantes raios solares que recaíam intensamente sobre a cidade.

Mal dobrou a rua para chegar ao ponto, sentiu sua pele formiga, devido ao celular que vibrava no bolso dianteiro das calças. Pegou-o rapidamente, imaginando ser a tia com algum recado ou talvez apenas uma última recomendação para que lhe ligasse, caso acontecesse algo.

Assim que aumentou a luminosidade do aparelho — por causa do sol —, sentiu seu peito apertar, como tantas outras vezes nas últimas três semanas, sempre que via o número de Clarisse no visor, anunciando uma ligação sua ou uma mensagem recebida, estas que nunca eram atendidas ou sequer tinham retorno.

A menina Lacerda sentia-se imensuravelmente culpada por estar fazendo aquilo com a mulher que, até semanas atrás, cuidava de si — desde que sua mãe se fora —, mas sentia vergonha, por tudo que a fizera passar quando com ela estivera, e temia que tocasse em pontos que não desejava e cutucar assuntos nos quais não queria remexer, pois, se chegassem a acordar, o estrago com certeza seria enorme.

Entretanto, enquanto pensava em ignorar e colocar o celular longe da sua vista por um tempo — como tantas vezes fazia —, lembrou-se do que a tia lhe dissera dias atrás, depois de falar com a outra pelo telefone — nas ligações que fazia sempre que a menina Lacerda recusava as suas —, frisando que a solarense só estava preocupada e desejava saber como ela estava.

Talvez atender não fosse tão má ideia; talvez Clarisse só quisesse saber mesmo como ela estava e não fosse tocar em assuntos indesejados; talvez a conversa pudesse até ser agradável; talvez...

      — Alô. — disse, assim que encostou o aparelho ao ouvido, esperando ansiosamente que a pessoa do outro lado respondesse.

      — Yara?! — pelo tom de voz e as circunstâncias, podia concluir que ela estava surpresa ou até mesmo incrédula, por finalmente ter sido atendida.

      — Sim, sou eu. — chutou uma pedrinha com o bico do tênis e prendeu o lábio inferior com os dentes.

      — Nossa! Eu até pensei que não fosse at...não, quer dizer, eu só... — Clarisse se atrapalhava nas palavras; as emoções iniciais ainda marcando presença dentro de si e querendo, a todo custo, sair. — Enfim, isso não vem ao caso agora, não é mesmo? — riu, sem graça. — Não sabe o quão feliz eu estou por ouvir sua voz de novo, minha querida!

Yara soltou uma risada quase inaudível, não porque via alguma piada naquilo, mas simplesmente por não saber o que dizer, fora que sentia muito e nunca quisera que ela sofresse, o mínimo que fosse, por sua causa.

      — Então, como você está?

      — Bem. — respondeu, automaticamente; sua resposta sendo seguida de um silêncio que ambas sabiam o significado, mas nenhuma delas ousava dizer uma só palavra sobre, talvez por medo que aquela pequena evolução pós-mudança virasse pó e voltassem à estaca zero.

Assim como Clarisse sabia que sua resposta não correspondia à verdade, ela mesma tinha plena consciência de tal, entretanto, aquele era uma espécie de assunto proibido desde algum tempo, mesmo que nunca tivessem explicitado em palavras.

      — Me conta, como é Porto Baixo? — quis saber, em tom animado. — Sempre quis conhecer. Dizem que é um paraíso.

      — E têm razão. É bem legal. — fez uma breve pausa, em busca do que dizer sobre a cidade, sendo que mal conhecia, apesar de ser relativamente pequena e somado quase um mês de estadia. — Na verdade, ainda não tive oportunidade de conhecer muito. Mas o pôr-do-sol da Praia Dourada é um espectáculo. Certeza que você ia amar. - contou, a voz cheia de admiração.

Definitivamente, aquela paisagem tinha um efeito enorme e inexplicável sobre si.

      — Pela maneira como falou, deve ser lindo mesmo. Quem sabe um dia eu apareça por aí. — comentou, contagiada pela energia dela.

      — É, quem sabe. — seu tom não era doa mais animados. Vê-la novamente era uma das coisas para as quais achava que não estaria preparada tão cedo.

      — E a escola? Está gostando de lá? Fez algum amigo?

      — Também não posso falar muito sobre. É minha primeira semana, então... — encolheu os ombros, como se completasse a fala em silêncio, mesmo que a mulher não pudesse ver. —
Mas parece legal, pelo pouco que já conheci.

Assim que fechou a boca, repreendeu-se por não encontrar nada mais do que "legal" no seu vocabulário pra responder a tudo, fracassando totalmente na sua tentativa de convencer a mulher do outro lado, de que estava tudo certo consigo e andava se adaptando bem.

Era notória a sua escassa empolgação e a maneira como vinha aceitando tudo sem muito questionamento, desde que fugisse pelo máximo de tempo e para mais longe possível de tudo o que remetia aos acontecimentos de meses antes.

Assistiu o transporte parar à sua frente e entrou depois de um velhinho, enquanto escutava Clarisse falar qualquer coisa sobre Maurício, seu filho, estar gostando de estudar o primeiro ano, também morrendo de saudades dela e fazendo uma data de planos para quando lhes fosse visitar.

Não prolongou mais a conversa e nem comentou muito sobre visitá-los, o que implicava voltar a pisar em Solar, limitando-se apenas a mandar um beijo e um abraço para o menino, prometendo que ligaria depois para falar com ele.

Ela não estava tão certa se aquela ligação aconteceria, mas, enquanto ia se aproximando da escola, chegava à conclusão de que falar com Clarisse não havia sido tão ruim assim e talvez devesse tê-lo feito antes ou poderia passar a atender seus telefonemas com alguma frequência, bem como responder às suas mensagens.

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