Quando o amor é pra sempre (R...

By Strange-Boy

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(COMPLETO E REVISADO) No ano de 1989, em Denver, Colorado - Estados Unidos, Harrison é um garoto de 18 anos q... More

Prólogo
1 - Robin
2 - A festa e a academia
3 - Quadrinhos
4 - Como (ou não) se aproximar de alguém
5 - Uma noite peculiar
6 - Go, Tigers!
7 - 1989... 1990!
[nota aos leitores]
[boas notícias!]
8 - Eu vou sentir falta dos anos 80...
9 - Volta às aulas
10 - O último baile colegial
11 - Chuva de verão
12 - É com você que eu quero estar
13 - O adeus
14- Mudanças da vida
15 - Memórias
16 - C'est La Vie!
17 - Há quem acredite em coincidências
19 - O que fazer?
20 - Laços que nunca foram rompidos
21 - Lar?
22 - A luz nas trevas
23 - Se reerguendo aos poucos
24 - Desequilíbrio
25 - Arrependimento
26 - Na saúde e na doença
27 - De coração quebrado
28 - Prova de amor
29 - Coisas que estão além do nosso alcance
30 - Não vou desistir de você
31 - Forte como era antes
32 - O pedido
33 - Como nos velhos tempos
34 - A vida normal
35 - Faça um pedido
36 - (Des)confiança
Epílogo
Continuação: A História de Gael

18 - Decisões, decisões...

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By Strange-Boy

HARRISON

Meu Deus, então Scott acabou ficando com Amanda... Nossa! Eu jamais imaginaria isso. Ela até hoje gosta muito dele, parece... Eu nem esperava que Scott estivesse com alguém, mas... 

Mas estou feliz por ele.

Ele merece ser feliz com alguém que o ame e vice versa.

E Amanda era uma pessoa muito legal e bonita.

— Oi, Amanda! — forcei um sorriso. 

Ela me abraçou forte.

Diferente da adolescência, Amanda já não usava mais o cabelo preso como costumava fazer na maioria das vezes. Ela estava com seus lindos cabelos pretos, cacheados e brilhosos, soltos. Usava um batom básico e um vestido azul. Seu corpo ainda estava em forma mesmo depois de todos esses anos, assim como o de Scott.

— Quantos anos, Harry! — ela desfez o abraço e continuou sorrindo pra mim. — Como você está? Como cresceu. 

— Eu estou bem. Você? — ri. — Todos nós crescemos né. 

— Vem, vamos entrar, gente. — disse Scott, abrindo mais a porta. 

Entramos, então. 

— Sei que nunca fomos amigos íntimos, mas sabe que sempre gostei de você. — ela sentou no sofá de tamanho imenso na sala.

A casa era muito bem decorada e bem espaçosa. Acredito que era de uma classe média-alta. 

— Ah, eu digo o mesmo sobre você. Sempre foi uma pessoa legal. 

— É verdade. — Scott disse, sentando ao lado de Amanda e beijando a sua bochecha. Também passou o braço pelas suas costas e apoiou a mão no seu ombro. 

— Senta, Harry! — Amanda chamou. 

Obedeci. Sentei ao lado de Amanda.

— Espero que não se importem, mas eu trouxe a mala porque vou direto daqui pro aeroporto. Não posso ficar por muito tempo também. — expliquei. 

— Não tem problema, o Scott me contou. Só de visitar a gente já fico feliz. Estou preparando um jantar bem caprichado pra gente. 

— Não precisava... — sorri, sem graça. 

— Você reencontra seu amigo de oito anos atrás e não quer comemorar isso!? — ela se espantou. 

— Claro que sim, mas... Não queria incomodar vocês.

— Para de besteira. — Scott fez uma cara impaciente. — Você é cheio de bobeira, Harry. Não está incomodando ninguém aqui! 

— Ele tem razão, por favor, se sinta em casa! — Amanda insistiu, segurando minha mão. 

— Tudo bem... Desculpa. Agradeço muito, vocês me tratam tão bem que realmente não tem como não se sentir em casa. — ri. 

— Isso! — Scott comemorou e soltou um sorriso. 

— É assim que gosto de ouvir. — Amanda comentou.

— Eu só preciso tomar um banho bem rápido, porque não deu tempo de me preparar completamente pro jantar... — Scott se levantou e se espreguiçou. — Vocês me dão licença só por esse momento?

— Claro que sim, vai lá. — respondi. 

— Só não demora. — Amanda levantou e beijou os lábios dele. 

— Pode deixar. — ele devolveu mais um selinho e se retirou.

— Foi muito legal vocês se unirem assim. — sorri pra Amanda. 

— Eu sempre gostei do Scott... — ela ficou com um sorriso bobo de adolescente apaixonada no seu rosto. — Até que um dia ele acabou gostando de mim de volta... Acho que acabou enxergando o quanto eu gostava dele e o sentimento acabou sendo mútuo, sabe?

— Isso é muito bom, Amanda. 

— Inclusive, temos uma coisa pra te contar, mas no jantar a gente conta. 

— Não fala assim que fico curioso! — brinquei.

— Relaxa, já já contamos! 

— Por falar no jantar, precisa terminar mais alguma coisa?

— Ah, sim, ainda faltam algumas coisas. 

— Então pode deixar que eu ajudo você. 

— Ah, não! Nem pensar! — fez uma expressão brava. — Você é convidado! 

— Por favor, Amanda. Amo cozinhar. 

— Nada disso.

— Morei sozinho por muito tempo, sei me virar bem com isso. Gosto de ajudar, não gosto de ficar parado. 

Ela colocou as mãos na cintura e bufou. 

— Tudo bem... — acabou cedendo um sorriso pra mim. — Vem, vamos pra cozinha. 

A segui para o cômodo que ficava bem ao lado da sala. Logo avistei uma panela grande soltando vapor e ouvi o barulho do borbulhar vindo lá de dentro. 

— Nossa... O cheiro está incrível! — comentei. 

— Consegue adivinhar o que é? 

— Eu já senti esse cheiro em algum lugar... Deixa eu pensar.

— Tem um minuto pra adivinhar. — ela riu. 

Aquele cheiro...

Isso, só podia ser isso. Um colega de quarto na minha universidade adorava culinária asiática e sempre gostava de pedir esse prato. 

— Isso é cheiro de curry! 

— Exatamente! 

— Então você está fazendo algo com curry, hum... É bem gostoso, só é muito picante. 

— Não gosta?

— Gosto, sim! Mas tem gente que não gosta de comida picante. — soltei um riso.

— Que bom que não é o seu caso, afinal, você é o convidado, né? — ela sorriu pra mim e voltou a mexer na panela. — O arroz tá quase pronto, só falta cortar mais alguns legumes pra misturar nesse ensopado do curry aqui. 

— Não tem carne?

— Ah, não... Eu sou vegana. 

— Ah, sim! — disse, surpreso. — E Scott?

— Scott não. — ela riu. — Mas vive comendo coisas veganas comigo e ele adora. Com isso, acabou reduzindo bastante o consumo de carne. 

— Muita gente acredita que esse papo de veganismo e vegetarianismo é bobagem. 

— Você é um deles? — ela perguntou com uma feição preocupada.

— Claro que não! Eu não sou nenhum dos dois, mas... Digamos que eu apoio e quem sabe um dia eu até consiga exercer desse estilo de vida.

— Seria ótimo. — ela sorriu e voltou a mexer na panela.

Observei alguns legumes em cima da tábua de madeira, sobre o balcão da pia.

— Posso te ajudar cortando os legumes, então?

— Claro! Sabe fazer isso bem?

— Sei sim, vou te mostrar. — sorri.

Então eu e Amanda ficamos conversando sobre várias coisas relacionadas a culinária e ao veganismo enquanto eu descascava e cortava os legumes. 

— Pronto. — disse ao jogar os últimos pedaços dentro do ensopado. 

— Acho que já podemos desligar o fogo. Já está bem quente e vai servir, né?

— Sim, também acho. 

— Já que ama ajudar, Harry, posso abusar mais um pouco da sua boa vontade? — ela brincou, rindo.

— Não seria um abuso! Por favor, pode falar. 

— Me ajuda a colocar a mesa pro jantar?

— Claro que sim, por que não disse antes!?

Ajudei então a pegar as panelas, os pratos, talheres, guardanapos, copos e as bebidas pra colocar na mesa, que ficava em uma sala menor dedicada a refeições, ao lado da cozinha.

— Sabe, Scott comprou essa casa depois que saiu da universidade... — ela me contou enquanto arrumávamos a mesa. 

— É mesmo? Foi um ótimo negócio, imagino?

— Sim! E aí ele me chamou pra morar aqui com ele. — sorriu. 

— Isso é ótimo, Amanda. Fico muito feliz por vocês. 

— Obrigada, querido. E você? Me conte sobre você? Já tem uma namorada? — sorriu pra mim. 

Sentamos então, já que havíamos arrumado tudo. Amanda sentou de frente pra mim, do lado oposto. 

— Então, Amanda... Eu namoro sim, mas é com um homem. 

— Ah. — ela ergueu as sobrancelhas. — Escuta, Harry...

— Sim? — perguntei, preocupado com o que ela ia dizer. 

— Não tem nenhum problema nisso. Olha, Scott me contou que ele e os amigos dele na época do colégio já sacanearam muito você. Sei que te caçoavam, te chamavam de nerd e gay... E Harry, eu sinto muito. Você não merecia nada disso. Outra coisa, gay não é uma ofensa. É só uma orientação sexual. — ela levantou as mãos, incrédula, e as bateu na mesa com certa fúria.

— Fico feliz que pense assim. — sorri. 

— Scott era meio babaca naquela época por ter feito essas coisas junto daqueles três. — ela suspirou. — Eu também não deveria ser amiga deles. Só que o tempo passa, a gente evolui...

— Sim, estamos sempre evoluindo, essa é a meta de vida, eu acho. Espero que aqueles garotos também possam evoluir.

— Com certeza, mas eu nunca mais soube deles. Enfim, eu até perguntei por que Scott havia dançado com você naquele baile. 

Engoli seco. O que eu falaria pra ela? 

Felizmente, ela continuou a falar. 

— Mas ele me explicou que queria fazer você se sentir bem e jogar na cara de todo mundo que não tinha problema em dois homens dançarem juntos em um baile. 

— É. — sorri, sem graça. 

De novo Scott contando mentiras pra driblar os outros da verdade... Do que ele tinha tanto medo? Fala sério, Scott. Você já é um homem de vinte e sete anos! 

Enfim, eu não tenho nada a ver com isso. Não quero nem saber, não vou me meter. 

— Posso te perguntar uma coisa?

— Sim. — respondi. 

— Não vai ficar chateado, Harry?

— Não sei, ué. — ri. — Mas por favor, pergunta.

— Então, não que isso importe... É mais curiosidade mesmo. — ela suspirou. — Você gostava do Scott naquela época?

— Gostava. — respondi prontamente, sem medo algum. 

— Eu imaginei... Eu via como você olhava pra ele e...

— Mas isso está no passado, Amanda. Eu não ia dar certo com ele de jeito nenhum. — ri. — A vida passou e hoje estou namorando, está tudo certo. 

— Sim, claro! — ela sorriu. — O Scott gosta muito de você. Sentiu sua falta por todo esse tempo, sempre falou de você. Disse que nunca teve um amigo tão especial como você em toda a vida. 

— Eu também senti falta dele, mas é complicado... Eu e meu pai nos mudamos pra Ohio e nunca mais tive contato com ninguém daqui da cidade, então... — olhei pro lado. 

— É, eu entendo que...

De repente, Scott chegou. 

— Demorei? — sorriu e se sentou ao lado de Amanda, a beijando no rosto de novo.

— Não, imagina. — eu disse a ele.

— Eu e Harry estamos ficando mais amigos do que nunca. — Amanda riu. — Ficamos aqui conversando horrores enquanto você tava no banho. 

— Que bom, amor. — ele sorriu pra ela e depois pra mim. — Obrigado por já terem arrumado a mesa, não precisavam fazer isso antes de mim, eu queria ajudar. 

— Ah, não tem problema, Scott. — respondi. — Não foi nada! 

— Gosta de arroz com curry e vegetais? É uma receita vegana. — ele comentou. 

— Está atrasado, Amanda já me contou tudo. — abri um enorme sorriso no rosto.

SCOTT

— Mas então, meu bem. — Amanda se dirigiu a Harry. — Fala sobre você. Sobre sua vida!

Harry terminou de mastigar por alguns segundos. Os barulhos dos talheres ecoavam na sala de jantar. 

— Aconteceu uma coisa muito ruim. Inclusive não contei pra você, Scott. — ele olhou pra mim. 

Prontamente me senti ansioso e preocupado.

— O que é, Harrison? Fala. — pedi.

— Infelizmente o meu pai teve umas... complicações por causa do fumo excessivo dele. Veio a falecer recentemente. 

— Harry... Eu sinto muito. — estendi minha mão até o seu braço e o apertei, fazendo um carinho.

Amanda segurou a sua outra mão e fez uma cara preocupada.

— Sinto muito, querido. Essa dor só o tempo mesmo pra curar, mas saiba que tem o nosso apoio. Estamos aqui pro que precisar sempre, tá bem? 

— É, estou vivendo e seguindo em frente... Eu agradeço a vocês. — ele respondeu com um sorriso sem graça. 

Mesmo o senhor Richard tendo tirado Harry de mim há oito anos atrás, eu não conseguia sentir ódio por ele ou nada do tipo. A época que vivíamos era ainda pior que a de hoje. As pessoas eram muito confusas com esses assuntos de sexualidade, achavam um tabu. Bom, ainda acham, né... Principalmente por questões morais e religiosas. Grande besteira! 

Então eu jamais me sentiria feliz pela morte dele. Ele era o pai do Harry e embora cometesse erros, como todos os humanos, o amava. E Harry o amava também... 

Fiquei muito triste com a notícia. 

— E eu também fiquei desempregado. — Harry continuou. — Consegui me formar e ser o que eu escolhi, um professor de inglês. 

— Uau! — Amanda exclamou. — Mas você logo logo consegue um emprego fixo. Com certeza merece isso.

— Obrigado, Amanda. Espero que sim. Precisei vender a minha antiga casa aqui em Denver pra conseguir esse dinheiro extra, já que estou sem renda... Por isso precisei voltar na cidade depois desse tempo todo. 

— Eles vão pagar por partes ou à vista? 

— Por partes, já recebi até a primeira, tenho algum dinheiro guardado também de reserva. Como precisava vender logo a casa, não exigi muita coisa.

— Entendo... — comentei. — Você mora de aluguel?

— Moro sim, Scott. Porém pretendo comprar uma casa pequena, simples... Ou até mesmo um apartamento.

— Sim, é necessário ter uma casa própria. — disse a ele.

— Mas o dinheiro que tenho agora não chega perto ainda pra eu conseguir uma. Só depois de um tempo. 

— Escuta, se precisar de dinheiro ou qualquer coisa... — o olhei preocupado.

— Pode deixar. — ele sorriu. — Obrigado de novo pela generosidade de vocês. 

— Tudo bem. 

— Lembre-se... Não pense duas vezes antes de pedir ajuda pra gente caso precise. — Amanda completou.

Voltamos a comer e ficou aquele silêncio chato por alguns segundos. Então, achei que era hora de contar a Harry.

— Harry... Eu e Amanda queremos contar uma coisa a você. — sorri pra ela e segurei a sua mão. 

Ela sorriu de volta pra mim, bela como sempre, e pôs nossas mãos sobre a mesa delicadamente. 

— Não sei se você notou, mas... — ela disse pra Harry.

Harry arregalou os olhos e esboçou um enorme sorriso no rosto ao notar as alianças nos nossos dedos. 

— Ah, meu Deus! Vocês estão... Vocês vão... 

— Estamos noivos! — Amanda exclamou feliz, batendo palmas. 

Sorri para os dois. 

— Nossa, isso é incrível! — Harry riu. — Precisamos comemorar, então! 

— Vamos brindar? — Amanda sugeriu. 

Então, eu servi o vinho nas taças que estavam sobre a mesa e brindamos.

— Viva! 

— Um brinde aos noivos! — disse Harry, ainda com um sorriso no rosto.

Continuamos conversando sobre várias coisas e já havíamos terminados de jantar. Nesse tempo todo, a hora tinha voado. Acredito que já tínhamos passado todo aquele tempo juntos por uma hora e meia. 

— Gente, a conversa está ótima, mas preciso muito descansar. — Amanda fez cara de chateada. — Amanhã acordo muito cedo pro trabalho.

— Amanda, não se preocupe, pode ir descansar. — Harry se levantou da mesa.

— Em dias de semana ela costuma ir se deitar muito cedo... — comentei.

— Eu fico muito cansada pelo o que o trabalho me exige, Harry. Eu sou enfermeira.

— Ah sim, eu imagino... — ele comentou. 

Harry foi até ela e a abraçou forte.

—Foi muito bom te rever, garoto. Pode nos visitar sempre que quiser. A porta estará sempre aberta pra você, vou adorar te receber aqui de novo. — ela sorriu pra ele. 

— Obrigado por tudo, Amanda. Boa noite. — sorriu de volta. 

— Boa noite, Harry. Pode ficar à vontade com Scott e boa viagem de volta. 

— Obrigado, Amanda. Boa noite. 

Ela veio até mim e me deu um beijo na boca. 

— Boa noite, amor. Amanhã nos falamos mais.

— Boa noite, te amo. — respondi com um sorriso frouxo.

— Também te amo. — sorriu e subiu as escadas. 

De novo aquele silêncio chato, então tive que quebrá-lo.

— E então... — bati as palmas das mãos e levantei da mesa. 

— O que? — Harry riu.

— O que achou da nossa casa? 

— É linda, Scott. 

— Obrigado. — sorri. 

Notei Harry pegando as louças, empilhando os pratos, segurando os copos e indo levar pra cozinha.

— O que você está fazendo? — o segui. 

— Vou lavar a louça, ué. — me explicou como se fosse a coisa mais natural.

— Ah, não vai não. — o puxei pelo braço assim que ele deixou as louças dentro da pia. 

— Ei! 

— Deixa elas aí que depois eu que vou lavar. Você é convidado! — arqueei as sobrancelhas. 

— E não posso ajudar?

— Poderia, mas não vai. Já já está na hora de você ir pro aeroporto e quero poder aproveitar mais o tempo que temos juntos. Você não?

— Tudo bem... — ele revirou os olhos com um sorriso. — E o que você quer fazer pra "aproveitarmos mais o tempo juntos"?

— Vem cá. — continuei o puxando pelo braço até a sala e sentei no sofá. — Não notou nada que te chame atenção? 

— Não... — ele sentou no sofá ao meu lado, tentando observar detalhadamente as coisas ao redor da sala. 

— Olha! — apontei pra estante na minha frente. 

— A televisão?

— Ah, nerd, por favor! 

— Ah... — ele finalmente parecia ter notado. — Um PlayStation

— Sim! Sim! — disse animado. — A gente adorava jogar videogame na sua casa! Que desânimo é esse? 

— Ah... — ele riu. — É que não gosto muito mais dessas coisas e tal...

— Harrison, o que houve com você? — franzi o cenho, olhando bem em seu rosto. — Não é mais o nerd que eu conheço! 

— Claro que sou. Só mudei alguns gostos.

— Não! O Harry de antigamente foi abduzido e te substituíram por um clone!

— Não seja ridículo. — ele gargalhou. 

— Você está muito sem graça. — cruzei os braços e fiquei o fitando com uma cara emburrada.

— Ah, vamos. Não fica assim. Coloca algo aí pra gente jogar. 

Levantei e procurei por algum jogo onde duas pessoas pudessem jogar. Achei um de luta. 

— Pronto. esse aqui. — disse ao colocar o jogo e ligar o videogame. 

— Qual você colocou?

Tekken 3.

— Não conheço esse.

— Óbvio! Você está por fora de tudo da cultura nerd hoje em dia. — apoiei os cotovelos nos joelhos, inclinando meu corpo pra frente do sofá, segurando o controle do videogame. 

Harry apoiou sua mão sobre meu ombro e sorriu enquanto se aproximava de mim.

— Vamos, não seja chato. Agora que nos reencontramos você pode me atualizar do "mundo nerd". — ele riu. 

Virei minha cabeça em sua direção apenas pra me deparar com o seu rosto bem próximo do meu. Soltei um riso, pois não aguentaria ficar sério e bravo com ele por muito tempo. 

— Tudo bem, tem muita novidade ainda pra te mostrar. — entreguei o segundo controle a ele. — Aos poucos... Ainda temos a vida toda pela frente. 

HARRISON

"Ainda temos a vida toda pela frente".

Eu já ouvi isso antes.

Ele já tinha me falado isso antes. 

Ficamos conversando o resto do tempo sobre coisas banais enquanto jogávamos. Eu estava ruim no videogame, então perdi a maior parte das lutas para Scott.

— Você perdeu o espírito mesmo! Cadê aquele nerd que sempre ganhava de mim no videogame!? — ele gritava pra mim. 

De repente, comecei a lembrar de Amanda contando sobre os eventos de oito anos atrás. Será que ela ao menos sabia que Scott era bissexual?

— Scott. — o chamei de repente durante uma partida. 

— Fala.

— A Amanda sabe que você é bi?

Ele pausou o jogo e me olhou com uma expressão séria.

— Por que pergunta isso?

— Por curiosidade. 

— Ela não sabe, não. Não contei porque Amanda é ciumenta e enfim... Acho que ela não tem necessidade de saber. A única que sabe é a minha irmã, Nathalia, pelo o que aconteceu com os meus pais...

— O que houve com os seus pais, Scott? perguntei, assustado. 

Ele então respirou fundo e deixou o controle sobre a mesinha que ficava entre o sofá e a televisão. 

— Naquele dia, Harry, há oito anos atrás... Meu pai estava me esperando com um cinto na mão dentro do meu quarto. É muito difícil contar isso... Lembrar de tudo e...

— Olha, por favor. Não precisa contar se não quiser. — o interrompi. 

— Não, não. Eu falo. Ele me espancou com aquele cinto porque Thomas havia ligado pra ele e contado tudo sobre eu e você. Meu pai havia ficado furioso pelo fato do filho estar amando um menino. 

— Thomas ficou sabendo por causa das fotos que eu carregava na mochila, foi culpa minha e...

— Não, não foi! — ele gritou. — Foi tudo minha culpa, Harrison. Mas eu fui lá e bati na cara daquele desgraçado. Ele mereceu. Os ameacei pra que nunca mais chegassem perto de nossas vidas. Depois disso, como te disse, nunca mais vi os três.

— Scott...

— Sim, eu sei. Nathalia viu tudo e também ficou sabendo sobre eu ser bi, inevitavelmente. Depois meu pai contou pra minha mãe e enfim... Ela também não aceitou nem um pouco. Os dois diziam que eu não era mais filho deles. Quando fui pra universidade, não quis mais saber dos meus pais. Me formei, aluguei uma casa, depois consegui comprar essa aqui e realmente nunca mais falei com eles dois. 

— Eu sinto muito, Scott. 

— Hoje em dia a Nathalia também não fala com eles dois. Ficaram contra a ela também por ela me apoiar.

— Nossa... Como ela está hoje em dia? Que bom que ela ficou do seu lado.

— Ah, ela está casada, já, mora com o marido. 

— Legal. 

Coitado do Scott... Ele havia sofrido tanto.

— Eu agradeço. — forçou um sorriso. — Eu me aproximei de Amanda na faculdade. Ela também estudou na universidade de Denver, fazendo enfermagem e eu, como você já sabe, nutrição. A gente começou a namorar, ficamos noivos, então comprei essa casa e a gente veio morar junto.

— Você merece ser feliz, Scott.

— Obrigado, Harry... Você também merece.

— Eu esperei tanto tempo por você. — ele olhou pra TV. — Tantos anos te esperando, achando que você voltaria de alguma forma. Procurei em vários lugares, pensei em vários planos pra te achar, até junto de Robin... Mas tudo parecia impossível. Na verdade, era, pelo jeito. Você estava mesmo decidido a esquecer e deixar tudo pra trás, não é?

— Sim... — admiti, abaixando a cabeça.

— Eu não. Por isso insisti por muito tempo. Anos e... Enfim. Amanda apareceu, não tinha mais o que eu fazer, então... Então tive que seguir em frente com a vida, com tudo. — gesticulava enquanto me explicava. 

— Da mesma forma que eu segui em frente. Às vezes é preciso. — tentei consolar. 

— Sim, eu te entendo e concordo. 

— Desculpa por fazer você esperar esse tempo todo. Não achei que ficaria esperando ou que me procuraria assim e...

— Claro que eu faria, Harrison. Eu fiz. — me falou sério. 

— Sim, vejo isso. Desculpa.

— Tudo bem. 

Olhei no meu relógio de pulso e ainda tinha alguns minutos pra conversar mais com Scott, mas a conversa tinha seguido para um rumo tão desagradável que eu preferi ir embora logo.

— Eu preciso ir agora... — levantei do sofá.

— Ah, tudo bem. — Scott se levantou, se espreguiçando. Pegou os controles e os guardou, desligando o videogame e a TV. 

Caminhei até a minha mala e a segurei. 

— Obrigado por tudo, Scott. Foi bom te reencontrar. 

Scott estava me olhando enquanto vestia um casaco que acabara de pegar em um cabideiro próximo a porta. 

— E onde você acha que vai? — riu. 

— Ora... Vou pro aeroporto. 

— Como?

— Ué, de táxi. 

Scott estalou a língua entre os dentes, me advertindo de forma negativa.

Tsk, tsk, tsk, tsk, tsk

— Eu vou te levar. — afirmou. 

— Você já fez tanto por mim, realmente não...

Ele passou por mim, pegou minha mala e abriu a porta.

— Vamos. — me esperou enquanto mantinha a porta aberta. 

Revirei os olhos, me dado como vencido e obedeci. O segui e entrei no seu carro, no banco do carona, enquanto Scott colocou minha mala no banco de trás.

Ele era muito gentil e prestativo. Eu amava esse jeito dele, mas hoje, sendo praticamente um estranho perante a ele depois de tantos anos longe (e vice-versa), me sentia muito tímido e sem graça com seus atos. 

— Harrison, antes de você ir pro aeroporto, queria saber se posso te levar em um lugar... Queria te mostrar uma coisa.

— O que é? — perguntei, curioso. 

— Seria uma surpresa. 

— Fala, Scott! 

— Não posso. Só te levando lá.

— Não tem como, desculpa. Corro o risco de perder meu voo. — expliquei. 

— Tudo bem, eu entendo. — pressionou os lábios. — Fica pra outro dia. Para o aeroporto então. — sorriu e ligou o carro, dando a partida. 

O que Scott queria me mostrar? Que lugar era esse? Eu não podia me conter de curiosidade, mas... Mas eu realmente não podia arriscar de perder o meu voo! 

Ele começou a puxar assunto comigo sobre o meu curso. Como fui na faculdade, se encontrei com muitos garotos... Contei a ele sobre as dificuldades, sobre as breves amizades que fiz por lá (e que hoje já se desfizeram) e sobre garotos, alguns lances que eu tive, mas nada sério como foi com Jack. 

— Seu namorado não vai implicar ao saber que eu tô te levando pro aeroporto?

— Não. — ri.

— Nem que você foi jantar na minha casa?

— Não. — reafirmei. 

— Então acredito que você não contou pra ele que...

— Que o que?

— Que eu sou seu ex. 

— Não, não contei. Não tem necessidade. 

— Mas contou que nos reencontramos, então?

— Sim. — confirmei. — Disse que você era um amigo.

— Ah, não deixa de ser verdade. — ele riu levemente enquanto dirigia. 

— É. — também ri.

— Então vocês se conheceram na faculdade... — falou em um tom pensativo. 

— Sim.

— Ele te trata bem?

— Sim, ele é muito bom comigo. Nossa relação é ótima. 

— Hm... — murmurou. 

De repente, ficamos calados e sem assunto. Só o som dos carros passando lá fora, cortando o vento. 

— Eu aprendi a dirigir, sabe? — quebrei o gelo.

— Ah, é?

— Sim.

— E aí, o que achou?

— Muito fácil, simples, adoro dirigir hoje em dia.

— Que bom. — ele sorriu.

E assim fomos conversando sobre vários assuntos aleatórios pelo caminho. Scott ligou o rádio e começamos a ouvir várias músicas, até cantamos juntos algumas que gostávamos. 

No aeroporto, não foi diferente. Conversamos mais e mais sobre as várias novidades de nossas vidas. Scott me atualizou um pouco sobre o mundo dos super heróis e os quadrinhos, animes e os videogames. 

— Só vou ficar te devendo os filmes de terror. Sabe que não acompanho...

— Porque tem medo! — ri. 

Ele não discordou, mas riu com expressão de deboche enquanto desviou o olhar. 

Ele pagou um cappuccino pra nós dois, já que o dia estava frio. 

Continuando a conversar bastante, fomos andando até a área de embarque e havia chegado a hora de embarcar. 

— Só mais uma coisa, ainda é fã da Cyndi Lauper? 

— Sim. — respondi.

— Pelo menos de alguma coisa você ainda continuou gostando, né, nerd? 

— É. — ri, mas logo minha expressão ficou séria de novo. — Preciso mesmo ir agora. 

— Tudo bem. — Scott suspirou. — Nos vemos de novo, não é?

Engoli seco. 

Não é? — repetiu a pergunta.  

— Scott... É complicado. Eu quero continuar a falar com você, mas não sei se consigo voltar mais aqui.

— Por que? — ergueu as sobrancelhas. 

— Essa cidade... Os lugares... Tudo aqui, Scott, as memórias, me fazem muito mal. Eu não posso mais ficar aqui. Não posso mais voltar. 

— Harry, precisa superar isso tudo.

— Fala como se fosse fácil. 

— Não. Eu sei que não é fácil. O que estou tentando dizer é que precisa parar de se prender ao passado. Use-o para construir um presente e um futuro melhor. 

— E você já conseguiu fazer isso?

— Sigo tentando o melhor que posso a cada dia.

— Eu também, mas...

— Então! — Scott segurou nas minhas duas mãos. — Eu estou aqui pra você. Te ajudo. Nos ajudamos! Não se esqueça disso. 

Respirei fundo e fechei os olhos. 

— Obrigado, Scott. Obrigado por tudo. — o abracei forte e ele me abraçou de volta. 

Ficamos assim por alguns segundos até o abraço se desfazer automaticamente. 

— Não tem porque agradecer. 

— Te vejo outro dia. — sorri e peguei a mala. 

— Espera. — ele segurou o meu braço.

Fiquei olhando para ele, esperando por uma resposta. 

— Me diz o seu telefone. 

— Eu tenho o seu telefone, Scott. — sorri. — Vou ligar pra você qualquer dia.

— O seu telefone, por favor. Pode me dizer?

— Não confia que eu vou te ligar de novo?

— Não é isso... Sei lá. Tenho medo. — suspirou e soltou o meu braço.

— Medo de que, Scott?

— De te perder de novo. 

— Scott, eu... — tentei me aproximar dele.

— Não posso deixar você partir de novo. Não assim, pra nunca mais voltar. Você saiu da minha vida, achei que fosse pra sempre, mas o universo deu um jeito de te trazer de volta de algum jeito. Eu não posso brincar com a sorte e desperdiçar essa chance mais uma vez. Por favor, Harry.

— Scott, escuta. Eu não vou fazer isso. Não vou sair da sua vida, tá bem? 

Isso parecia tão importante pra ele... Era importante pra mim também. Eu realmente não ia sair da vida dele, mas meu Deus... Eu só estava com um medo enorme de me apaixonar por ele de novo... 

Isso não poderia acontecer. Não, não, não, não... Eu tenho Jack e a gente se ama. A gente se ama muito.

Scott tirou o mesmo bloquinho e lápis do bolso de seu casaco e ficou me olhando. 

— Qual o seu telefone? 

Sorri e disse o meu número a ele. 

— E o endereço?

— Vai me visitar? — arregalei os olhos ainda sorrindo.

— Claro. Algum dia. 

— Tudo bem... — ri. 

Passei a ele meu endereço também. 

— Está mais tranquilo agora? — perguntei, colocando a mão no bolso do meu casaco.

— Não sei. Vai que você mentiu o telefone e o endereço pra mim? — ele riu.

— É uma possibilidade... — brinquei. 

Rimos.

— Agora vai lá... Já está passando da hora. — Scott me olhou com uma cara triste.

O abracei de novo.

— Me promete que nunca mais vai sumir. — ele sussurrou de forma abafada entre o abraço.

— Eu prometo. Vamos conversar pelo telefone e nos vemos de novo. 

— Tudo bem. — ele desfez o abraço e olhou pra mim. 

— Tchau. — sorri pra ele. 

— Tchau. — sussurrou com um sorriso também. 

Caminhei para o embarque e atravessei. Eu não olhei pra trás, mas de alguma forma eu tinha certeza que ele estava lá, em pé, me olhando e com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco dele. 

Eu precisava conferir se minha intuição estava certa, então no último momento, me virei.

E lá estava ele, exatamente do jeito que eu descrevi. 

Imediatamente um sorriso se instalou em seu rosto e ele acenou pra mim com a mão.

Acenei de volta e me virei, continuando a caminhar. 

***

Assim que cheguei em casa, tomei um banho bem quente e liguei pra Jack, avisando que havia feito uma ótima viagem de volta também. O telefone tocou mais uma vez assim que eu desliguei, então atendi de novo.

— Fala, amor, esqueceu de falar alguma coisa? — soltei um riso descontraído. 

— Hã? 

— Alô? — fiquei sério. — Quem é? 

— É o Scott.

— Ah! — ri, nervoso. Senti meu rosto ficar quente. — Desculpa, nossa... Eu achei que fosse o Jack! 

— Seu namorado, né? — ele riu.

— Isso... Isso mesmo. — suspirei. 

— Não tem problema. Só estou ligando pra saber se você chegou bem e... Pra saber se você tinha me passado o telefone certo mesmo.

— Para, Scott. — eu ri.

— Sei lá, né... — riu também. 

— Você continua o mesmo bobão de sempre.

— Antes isso do que deixar de ser aquele nerd legal que eu conhecia.

— Você tá implicando muito com isso, hein.

— Porque é verdade. 

— Ai ai...

— Mas que ótimo então que foi tudo bem. Eu preciso mesmo ir agora, porque tô tão cansado...

— Vai sim. Descansa, amanhã tem que trabalhar cedo, né? 

— Sim. — ele confirmou.

— Obrigado de novo, Scott. 

— De nada. A gente se fala. 

— Boa noite e bom trabalho amanhã também.

— Obrigado, Harry, boa noite, se cuida!

— Se cuida também, tchau. 

Desliguei o telefone e fui dormir.

Que vergonha... Por que fui atender o telefone falando daquele jeito?

***

Nos dias seguintes, voltei a dar aulas particulares para os quatro alunos que me restavam. Com isso, ganhei um pouco mais de dinheiro pra me manter, fazer compras no mercado, pagar contas... Tudo estava indo bem.

Saía com Jack diversas noites. Seja pra algum restaurante, cinema, baile, pra jogar boliche ou até em parques de diversão. Era muito bom estar com ele. Até mesmo em casa ficávamos sossegados vendo algum filme de terror (o que Jack amava, igual a mim). 

Nossa vida sexual seguia muito boa. Sempre que eu estava na casa dele ou vice-versa, acabávamos transando. 

Fora isso, o luto pelo meu pai continuava sendo um processo doloroso, mas menos pior a cada dia que passava, principalmente com a ajuda do meu namorado e até mesmo das ligações de Scott ou até Amanda.

Ele me ligava pra contar sobre alguns acontecimentos de seu dia, jogos novos que comprava, novas HQs que estava lendo... Parecia que éramos tão próximos quanto no ano de 1989 ou 1990. Ele sempre perguntava como eu estava indo, principalmente na busca de um emprego e a resposta infelizmente era a de sempre: "não consegui emprego algum."

"Não desista. Você vai conseguir, eu sei disso". Ele insistia. Scott dizia que nessa época do ano era difícil contratarem professores, que talvez fosse preciso esperar o início do ano que vem. Quem sabe, né? O jeito era esperar.

Já Amanda costumava ligar bem menos, já que eu não era tão próximo dela como de Scott. Ela me contava sobre novas receitas veganas e como Scott as adorava. Eu inclusive peguei algumas com ela pra fazer e amei o resultado. Eu falava pra ela sobre meus passeios com Jack e algumas vezes que discutimos nesses poucos dias. Todo casal tem seus desentendimentos, não é mesmo? Ela, em troca, também compartilhou certas discussões que teve com Scott. 

Apesar de estar triste pela morte de meu pai, estava indo bem no processo de luto. Eu só precisava arranjar um emprego agora pra me estabilizar melhor... Mas uma coisa me preocupava e muito. 

Scott voltou para a minha vida. Ele agora está noivo e eu também estou comprometido com um outro rapaz. Tudo bem, cada um seguiu em frente, mas eu sinto algo estranho... É como se tudo o que eu sentisse por Scott nunca tivesse sido superado, mas sim guardado em uma caixinha que se abriu de novo assim que ele reapareceu pra mim. 

Eu acho que estava reacendendo aquela chama por ele outra vez e... Não, não... meu Deus, Harry, o que você tá falando? Isso não está certo. Isso é impossível e não vai dar em nada! Para de paranoia! 

Então eu decidi fazer uma surpresa e aparecer na casa de Jack. É, isso ajudaria a minha mente a ficar distraída. Hoje era dia de folga no trabalho dele e eu havia acabado de sair de uma das minhas aulas particulares. 

Cheguei em sua casa e bati na porta. 

Toc, toc, toc.

Nada dele aparecer.

Toc, toc, toc.

Será que ele não estava em casa? 

Toc, toc, toc.

Tudo bem, vou embora e...

— Amor! — abriu a porta sorrindo, sem camisa, usando um short. 

— Oi, achei que não estava em casa. — sorri. 

— Desculpa, estava escovando os dentes. 

— Não tem problema. — dei um beijo nele e entrei. — Vim te fazer uma surpresa. É uma má hora? — perguntei, preocupado. 

— Não, imagina. 

— É que você está bem à vontade, parecia estar descansando, aproveitando o dia e sei lá... Talvez eu apareci pra perturbar. — ri. 

— Nunca. — ele me abraçou por trás e deu um beijo no pescoço.

— Tudo bem então. — sorri. — Só preciso ir no banheiro rapidinho porque tô muito apertado...

— Não, não, peraí! — gritou. 

Parei assustado e olhei pra ele com os olhos arregalados. 

— O que houve? — perguntei.

— A porta do banheiro tá emperrada. 

— Você não acabou de dizer que tinha escovado os dentes?

— S-Sim! Do lado de fora do banheiro, é claro. 

Tá. Ele tava muito estranho, gaguejando... Isso não me cheirava bem. 

— Então eu vou tentar desemperrar. — decidi e fui andando até lá. 

— Por favor, amor, é perigoso! 

— Me poupe, Jack. 

Ao chegar na porta, coloquei a mão na maçaneta e girei diversas vezes, mas a porta não abria de jeito nenhum. 

— Viu só? É o que eu te falei, por favor, tenho que esperar vir um cara que chamei amanhã, pra consertar isso. 

Respirei fundo. 

— Tá bom. — comecei a fingir. — Eu vou embora então. 

— Ué, mas não ia ficar? — me perguntou.

— Não. Eu preciso ir no banheiro e já me estressei com essa história. Estou apertado.

— Tá bom, amor, desculpe por isso... Deveria ter te avisado antes.

— Não tem problema. — abri a porta da casa dele pra ir embora.

— Ei.

— O que? — perguntei ao me virar.

— Não vai me dar um beijo de despedida?

Fui até ele e dei um beijo nos seus lábios, forçado. 

— Te amo.

— Também te amo. — respondi seco e saí da casa. 

Fui caminhando pela rua com o coração acelerado, tanto pela tensão do que havia acontecido quanto pelo o que eu ia fazer agora. 

Ele tá achando que eu sou idiota? 

Me virei e voltei a andar na direção da casa dele.

Cheguei perto da janela que havia nos fundos, pequena, mas como eu era magro e não era nenhum brutamontes, conseguia passar por ela facilmente e sem fazer barulho algum. Então subi pela caçamba de lixo e consegui pegar impulso para me pendurar. Atravessei e coloquei os meus pés dentro da casa de Jack sem nenhum problema. 

Estava tudo quieto até que comecei a ouvir um barulho de alguma coisa passando na televisão, conforme eu ia caminhando pela casa. Ao chegar na "porta emperrada", ela estava aberta. 

Caminhei mais um pouco até chegar na porta do quarto de Jack e não sabia se me sentia surpreso ou não. Ele estava beijando outro cara que, vestindo apenas um short igual a ele, esfregava seu corpo no seu e trocava várias carícias. 

— Nossa, que bom que consertou a porta emperrada. — mantive a pose e disse em uma voz debochada, forçando um sorriso no rosto.

Os dois levaram um susto... Gostaria de poder tirar foto da cara deles só pra rir depois. 

— Harrison!?

— O próprio. — cruzei os braços. 

De repente, aconteceu algo que me fez rir. O cara que estava com ele segurou sua camisa rapidamente e correu para abrir a janela do quarto e então pulou por ela, correndo pela rua. Eu gargalhei.

— Olha que típico. 

E foi aí que minha ficha caiu, meu coração estava despedaçado novamente.

Primeiro com Scott e agora com Jack.

Quando acho que tudo na minha vida começa a ir bem, acontece um desastre. Por que, meu Deus? Por que? 

— Harrison, por favor, eu...

— Eu não quero ouvir uma palavra.

— Preciso que...

— Sh! — emiti em alto som. — Você agora vai ficar calado e me escutar, porque nada do que você diga vai me fazer mudar de decisão.

— Que decisão? — disse com a voz trêmula. 

— Tudo entre nós está acabado. Eu não aceito homem que me traia. Você quem perdeu e não eu! — falei furioso e dei as costas, andando até a sala.

— Harrison, para! — gritava. 

Eu o ignorei e abri a porta da sala.

— Harrison! É assim que me agradece!? — gritou de novo com uma voz trêmula.

Apenas virei e ri mais uma vez pra ele. 

— Te agradecer? — me aproximei dele. — Agradecer!? Por você me trair? 

— Não! Pelas outras coisas, por tudo o que fiz por você! 

— Ah, e isso anula a traição? — gargalhei mais. Todo deboche para ele seria pouco.

— Não, mas...

— Você quer um agradecimento? Tudo bem. 

Caminhei mais próximo ainda dele e foquei todo o ódio que sentia na palma da minha mão direita. 

PAF! 

Com toda força que eu possuía, bati a palma da mão em seu rosto. 

— E nunca mais se atreva a me procurar. Nunca mais quero te ver. 

Jack ficou sem palavras e com a mão no rosto esbofetado, me olhando com uma expressão apavorada. Me virei de costas e saí andando da forma mais plena possível daquela casa. Bati a porta principal com força e caminhei pra longe da casa. 

Não, ele não me veria chorando. Eu já passei por isso outra vez, mas estava mais forte agora. Comecei a chorar na rua, onde ele não pudesse me ver mais. O sofrimento era grande. Você ama uma pessoa com todo o respeito e admiração possíveis, pensa em ter um futuro com ela pra chegar um dia e vê-la sorrindo, se esfregando em outra pessoa enquanto a beija. Não, definitivamente não era com essa pessoa que eu queria estar pro resto da minha vida. 

Com o coração quebrado, me sentei atrás de uma árvore na rua, me escondendo de tudo e todos. Chorei tudo o que tinha pra chorar e quando me recompus, levantei e voltei pra casa.

FIM DO CAPÍTULO

Me digam, o Harry é ou não é um homem de atitudes? Abraços e beijos do autor e até o próximo capítulo ♥ 

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