Lauren POV
O clima estava pesado. Uma mesa silenciosa onde todos se olhavam entre si procurando pelo primeiro que quebraria aquela tensão.
Camila estava com seu olhar fixo no prato, apenas brincando com os vegetais do prato.
- Você não comeu quase nada... – Pontuei tocando em sua mão e a fazendo me olhar com um sorriso de canto sem graça. – Não gostou?
- Não é isso, eu só não estou com fome... Eu só... – Respirou fundo – Desculpe eu só não estou me sentindo bem...
Me partia o coração ver ela daquele jeito. Mas eu iria dar um jeito de colocar as coisas no lugar. Olhei para Renata e com apenas um aceno, fiz um pedido silencioso para que ela ajudasse Camila. O que foi prontamente entendido por ela.
Ao longo dos anos eu tive muitas crises de ansiedade e a Renata sempre me ajudou a controlar de uma forma prática, com exercícios de respiração que me faziam a relaxar.
- Mila, o que acha de tomarmos um ar... Vai te fazer bem. – Renata sorriu e foi se levantando e Camila me olhou meio sem graça.
- Vai lá, linda... Já te encontro, vou só terminar meu jantar. – Beijei sua mão.
Assim que saíram da sala de jantar, Cris, que estava bem tensa depois da nossa pequena guerra fria, agora se mostrava mais firme para falar comigo.
- Lauren você sabe que não concordo com o que quer fazer, né?
- Você nem sabe o que eu vou fazer. – Disse com desdém enquanto bebia meu suco.
- Lauren você não tem motivos para procurar Vero e Lucy! Vocês nem são mais amigas! – Esbravejou enquanto os demais à mesa estavam incrédulos por termos tocado naqueles dois nomes.
- Não pretendo convidá-las para passar o Natal comigo, Cris. Mas preciso ser profissional, você sabe disso.
- Você não precisa fazer isso. Camila tem seus meios de resolver os próprios problemas, você não precisa criar mais um. – Ela tentava tentando se controlar mas estava cada vez mais difícil.
- Elas não serão um problema, acredite. – Continuei a comer.
- Eu não acredito que você está defendendo essas suas vadias, Lauren! Eu preciso te lembrar que elas...
- Você não precisa me lembrar de nada! O que você precisa é entender que é uma decisão minha e eu estou correndo o risco por aqui, então caso ainda não tenha notado, estamos perdendo tempo com essa discussão sem necessidade. Apenas faça o que eu mandei e me avise quando elas estiverem online. – Fui rude e extremamente grosseira, como nunca gostava de ser, mas era necessário.
Me levantei jogando o guardanapo de pano sobre a mesa e saí ouvindo Cris soltar o ar dos pulmões em um gesto nervoso.
Saí para o jardim, que era grande e tinha uma piscina no meio, rodeada por esteiras. A noite estava agradável, não fosse pelas fofocas, claro. Camila estava sentada na ponta de uma das esteiras e à sua frente Renata estava agachada, segurando suas mãos, provavelmente a orientado com alguns exercícios de controle de ansiedade.
Me aproximei sorrindo para a Renatinha que logo se levantou falando mais alguma coisa para Camila que virou seu rosto e me viu chegando.
Sentei atrás dela, com as costas apoiadas no estofado e puxando seu corpo para que encostasse no meu peito, ficando entre minhas pernas. A abracei e depositei um beijo no topo da sua cabeça.
- Se sente melhor? – Perguntei.
- Agora, muito mais... - Sorriu - Mas ainda estou preocupada...
- Eu sei que está. Mas vamos resolver logo logo.
- Como? Como pode ter tanta certeza sempre? – Sua pergunta foi em um tom tão suave e que beirava a inocência.
- Tenho meus meios... – Sorri convencida.
- Assim como em São Francisco?
- Mais ou menos. Mas dessa vez é um pouco diferente. Consertas as coisas é mais difícil que evitar que elas aconteçam.
- Quem são Vero e Lucy? – Camila perguntou enquanto virava o rosto para me olhar nos olhos. – O que você pretende fazer? Porque Cris não gosta delas?
- Uau, muitas perguntas, pequena! – Sorri roubando um selinho.
- Lo...Me fala a verdade. – Pediu manhosamente.
- Não estou mentindo para você, Camz.
- Mas está jogando comigo! Você me pediu para que não fizesse isso com você e agora é a minha vez de te pedir que não jogue comigo. Seja sincera! Eu estou preocupada, não sei o que fazer e sinto que está me escondendo coisas! – Camila praticamente vomitou todas as palavras de uma só vez me pegando de surpresa.
Mas ela estava certa. Ela precisava saber.
- Tudo bem, tudo bem.., não vou jogar com você. Mas é porque as coisas não são tão simples assim.
- E qual o problema?
- Vero e Lucy eram minhas amigas e sócias. – Falei soltando o ar pelos meus pulmões como um desabafo.
- Certo e o que tem de errado nisso? – Questionou confusa.
- Elas me passaram pra trás em isso abalou a nossa relação. Desde então eu não tive contato com elas.
- Passaram pra trás? Como? Elas mentiram pra você? Lo, eu sei que você tem essa coisa com mentiras mas as pessoas mentem umas para as outras, não que eu ache correto mas o fato de uma pessoa mentir para você não precisa ser...
- Elas me roubaram. – Cortei Camila que já começava a divagar. E depois das minhas palavras ela paralisou.
- Elas o que??? – Se virou ficando de lado pra mim, me olhando fixamente com ar incrédulo.
- Me roubaram.
- Roubaram o que? Grana? – Ela estava realmente confusa.
- Também... Me roubaram dinheiro, confiança, felicidade... – Fiz um pausa. – Olha isso não é uma assunto que eu converse. É algo que trabalho há tempos para deixar de lado e que hoje não me afeta tanto.
- Lauren e como você espera que duas pessoas que fizeram isso com você podem nos ajudar a resolver algo dessa proporção? Ou melhor, o que te faz pensar que eu vou aceitar receber ajuda de pessoas tão inescrupulosas assim?
- Porque elas são as melhores. – Respondi sinceramente, sentindo uma pontada de tristeza em lembrar do quanto eu, Vero e Lucy éramos unidas.
- Lauren? – Cris chamou atraindo nossa atenção. – Elas estão prontas.
Entrando na sala de estudos, a conexão já estava estabelecida. Na TV era possível ver Vero e Lucy em um escritório que se bem me lembrava era na casa delas. Sentados à mesa de poker, que agora estava arrumada, estavam Cris, Tom e Greg. Entrei com Camila e logo nos sentamos também.
O semblante das duas era de surpresa. Eu sabia o quanto elas queriam aquele contato. Durante muito tempo eu as evitei, mas sabia do arrependimento de ambas por tudo que aconteceu e assim como elas, eu também sentia falta da nossa amizade.
- Boa noite... – Cumprimentei recebendo o mesmo cumprimento de todos.
- Lauren Jauregui... Devo dizer foi uma honra e também uma surpresa receber a notícias de que você precisava conversar. E a minha surpresa acaba de aumentar agora, porque se bem vejo, Camila Cabello está nessa sala. Estou certa ou é alguma falha da minha conexão?
Camila visivelmente não gostou das duas. E Cris deu um sorrisinho vitorioso pra mim para demonstrar a alegria de Camila pensar como ela.
- Não, você não está vendo errado, sou eu mesma. – Camila respondeu em tom rude.
- Camz... por favor. – Chamei sua atenção tocando em sua mão. O que a fez olhar nos meus olhos e em seguida voltar à olhar para a TV.
- É um prazer. – Concluiu muito a contra gosto.
- Ah, vejo que nosso fã clube só aumenta... Devo agradecer à você Cris? – Vero debochou.
- Vai se fuder Verônica! – Cris esbravejou.
- Chega! – Falei calando a todos enquanto caminhava pela sala de um lado pro outro.
Peguei uma ficha de poker em meu bolso e comecei a girar entre os dedos tentando organizar como seria aquele contato dali pra frente.
- Preciso de ajuda para concertar algo. – Comecei.
- Algo grande pelo visto... – Vero tinha um humor peculiar que eu sabia que estava irritando Cris e Camila cada segundo mais.
Eu sentia falta desse deboche. Mas a minha mágoa ainda era maior que a saudade.
- Vero, por favor, deixa a Lauren falar... – Lucy tocou na mão da esposa e falou com um tom de voz baixo.
- Obrigada Lucy. – Falei.
- Preciso silenciar algumas pessoas que estão espalhando rumores.
Quando falei isso Camila me olhou assustada. O que me fez corrigir instantaneamente a minha frase, notando que ela achou que eu me referia a matar pessoas.
- Preciso que elas parem de espalhar rumores. Preciso mudar o foco. – O olhar de Camila suavizou. E logo em seguida Vero caiu em uma gargalhada.
- Calma Cabello, ela só tem cara de brava, mas não tem esse poder todo pra "silenciar" as pessoas da forma como você imaginou. – Vero continuava a rir e Camila estava com as bochechas vermelhas de vergonha.
- Eu não pensei nada, idiota! – Disse séria.
- Oh! Tudo bem então... vamos pular essa parte que você acha que me engana então. – Vero falou mais próximo da câmera dando uma piscadinha.
- Verônica! Foco. Eu estou tentando encontrar uma solução aqui e por mais que eu não queira admitir, você e Lucy são as únicas que podem me ajudar. – Cortei aquela conversa de comadres com um tom de voz firme. Não tinha tempo para perder.
- Ah sim, claro. E eu posso saber porque Vossa Excelência achou que seria uma boa ideia contar comigo logo agora? Por que se bem me lembro, você me chutou pra longe! Se você está tendo problemas certamente você deve ter procurado por eles, e se eles envolvem a sua namoradinha, eu sinto muito, mas eu nem sou tão fã assim das músicas dela... – Vero soltou todo seu veneno, terminando de falar com desdém enquanto olhava séria, fixamente para a câmera.
Eu estava fervendo de ódio por dentro. Verônica era uma das únicas pessoas que me enfrentava de igual para igual e depois da nossa briga anos atrás cortamos relações totalmente. Mas para conseguir resolver aquele problema com a proporção que estava tomando, só elas poderiam me ajudar.
- Estou falando sério Verônica. Estou passando por cima de tudo que aconteceu para te procurar porque eu infelizmente preciso reconhecer que sozinha eu não vou conseguir. E se você acha que eu preciso de um bom motivo para ir atrás de você, talvez eu realmente não tenha. Mas você tem motivos de sobra para me ajudar. Você me deve isso. – Fui tão rude quanto ela e posso apostar que todos ao nosso redor estavam agradecendo aos céus por aquelas conversa não ser pessoalmente.
- Eu cansei de correr atrás do seu perdão Lauren. Sinto muito, não posso te ajudar.
- Não pode ou não quer? – Questionei
- Não faz diferença. Não mais. Eu também precisei de você e onde você estava? Fechada em um mundo onde eu fui impedida de entrar. Eu quis consertar as coisas entre a gente Lauren mas você não quis! Então não faz a mínima diferença agora. Foda-se você, o seu dinheiro e a porra do seu problema! – Vero tinha muito rancor em sua fala e os olhos fixos na câmera como se pudesse encarar os meus.
- É a sua última palavra? – Perguntei friamente.
- Sim.
- Certo. Sinto muito tê-las incomodado Senhoras Iglesias-Vives. – Falei em um tom sério e desliguei a chamada atraindo um silêncio acompanhado dos olhares chocados de todos.
Caminhei até o bar tranquilamente e servi um dose de whisky ainda sentindo o olhares de todos em mim, aguardando que eu falasse algo.
Não seria necessário falar nada. Eu já sabia o que aconteceria em seguida.
Caminhei até a janela e observei a noite lá fora. Ainda apreciando aquele silêncio. Até que ele foi cortado por Tom
- Lauren você acha que...
O som de uma vídeo chamada sendo recebida inundou a sala, fazendo com que todos olhassem para a TV e me arrancando um sorrisinho vencedor.
Veronica Iglesias is calling.
- Sim, Tom. Ela só precisava de um tempo para entender quem é que manda naquele relacionamento. – Disse enquanto me sentava e encarava a TV que agora tinha uma Verônica com um semblante sério e claramente derrotado e Lucy com um sorriso contido. As coisas não haviam mudado, Lucy ainda tinha a última palavra.
- Mais calma? – Comentei bebendo meu whisky e sorrindo para a câmera.
- Não pense que isso muda algo entre nós, Jauregui.
- Não vai. Meu interesse em te manter por perto é tão nulo quanto o meu interesse em homens. – Arranquei alguns sorrisos de todos.
- E então. O que tem pra mim? – Perguntou cruzando as mãos na sobre a mesa.
- Um caso clássico de Marketing de Relacionamento. – Falei vendo Vero retirar os óculos e coçar os olhos.
- Lauren você implorou a minha ajuda porque não consegue lidar com um relacionamento PR? Sério???
- Não. Eu estou te contratando pra me ajudar a desfazer um PR que está entrando na fase de descredibilização de uma das partes – Falei chamando sua atenção.
- Hum.. tá começando a ficar interessantes... E quem será a pessoa que vai entrar para o não tão seleto grupo de pessoas que me odeiam? – Sorriu debochadamente.
Bebi o restante do meu whisky, colocando o copo vazio sobre a mesa e soltando um sorriso de canto.
- Shawn Mendes.