Lauren POV
Estava deitada na esteira em frente a piscina com uma perna estirada e uma dobrada. Uma de minhas mãos estava apoiada no meu joelho brincando com uma filha de poker entre os meus dedos, como sempre fazia quando precisava pensar.
Na verdade tudo que eu fazia, há cerca de uma semana, era pensar e tentar anotar a placa do caminhão que me atropelou.
Na minha mente, reconstruía tudo que aconteceu, tudo que foi dito, da mesma forma que analiso as decisões de cada jogador em uma mesa.
Em um jogo de poker eu analiso cada movimento de um jogador: o seu tempo de reação, seus olhares, suas feições, suas mãos, respiração... Isso era o suficiente para saber exatamente o que pensavam, o que fariam e principalmente se estariam ou não mentindo para mim.
Em relação a Camila eu fiz essa mesma análise, mas não chegava a conclusão alguma.
Estávamos bem, seus movimentos eram leves, ela estava feliz, estava à vontade. Sua reação aos meus toques eram receptivos, não ultrapassei nenhum de seus limites, havia respeito. Ela me olhava com uma intensidade que podia tomar tudo de mim, duas esferas castanhas que me renderam sem esforço. Suas feições eram não lindas, ela queria estar ali. Eu sentia isso. Suas mãos eram macias e firmes, seu toque era carregado com um carinho que desconhecia, era como se quisesse descobrir cada centímetro que percorria e a sua respiração não escondia o quanto ela estava entregue de corpo e alma em cada sensação.
Como ela poderia simplesmente dizer que não queria continuar com aquilo?
Não me levem a mal, não é que eu não saiba levar um não. Mas a negativa dela não foi para mim, foi uma negativa o que ela sentia.
E é isso que eu não entendo: Porque ela fez isso?
Eu disse que não tínhamos nada e por mais que possa ter soado rude, isso não era forte o suficiente para ela me dizer tudo que disse. Poderia ter mentido pra mim? Era o mais provável. Mas então voltamos ao mesmo questionamento: Porque ela fez isso?
Tinha algo a mais. Tinha que ter!
Aquilo me atingiu com tanta força que eu perdi todo o foco e concentração no meu trabalho. Meu desempenho durante a semana que estive em São Francisco foi o pior de toda a minha carreira, amarguei cerca de 400 mil dólares de prejuízo. E sim, isso é muito.
Pelas projeções do meu staff, não vou recuperar isso em menos de 6 meses. Ainda assim, para isso ser possível eu preciso me reerguer.
E essa está sendo a parte mais difícil. Me reerguer.
Cris me convenceu a antecipar a vinda para Las Vegas e aqui estou, confinada. Alugamos uma casa grande e confortável que será nossa residência pelo próximo mês.
Toda minha equipe está preocupada comigo. Entramos em um acordo que preciso de espaço, e pelo menos nos últimos 2 dias eu não tenho me exercitado, estudado, jogado... Apenas faço minhas refeições e me isolo em algum lugar para fazer o melhor que posso fazer agora: pensar.
Cris foi até Miami para visitar a Halsey, que se tornou uma amiga próxima de todos nós depois que terminamos o nosso caso. Eu gostaria muito de ter ido, ela merecia um abraço e acredito que eu também. Conversar com ela me faria bem, mas como Cris me alertou, as chances de encontrar com Camila seriam de 800% na pior das hipóteses.
Encontrar Camila.
Queria muito que isso fosse possível, mas não. Ela foi clara quando demonstrou que não devíamos ter contato.
Eu queria falar com ela. Eu queria ouvir o que ela teria pra me dizer. Eu queria entender o que deu errado. Pode parecer loucura essa tensão toda para duas pessoas que tiveram um breve contato, mas eu não sei explicar o que sinto, só posso dizer que sei que ela sentia o mesmo.
O que me leva de volta à grande pergunta: Porque ela fez isso?
De todas as reflexões possíveis que fiz, uma em especial tem rondado minha mente. Camila, por sua pouca idade ainda não sabe lidar bem com seus próprios sentimentos. E isso não é um julgamento, é uma constatação.
É natural das pessoas de 20 e poucos anos serem voláteis, pois estão em constante estágio de troca de experiências. Em outras palavras, ela está vivendo o melhor da sua vida agora, ela precisa curtir.
E trazendo isso para a realidade, é completamente aceitável que ela mude de ideia do dia pra noite e hora termine com seu namorado, hora viaje para São Francisco para viver uma aventura.
Por outro lado eu já passei dessa fazer e vivo a fase dos 30. Onde a intensidade é maior e o medo de passos em falso é quase inexistente, porque eu já quebrei demais a cara nos meus momentos voláteis dos 20 e poucos.
Talvez essa seja a resposta: a sua volatilidade contra a minha intensidade. Uma equação impossível de ser resolvida sem que um dos lados saia bastante machucado.
Ainda presa nos meus pensamentos, vejo uma notificação no meu celular.
@ Camila_Cabello curtiu sua foto.
Sempre ela...
Alguns minutos depois recebo uma DM dela, bagunçando ainda mais tudo que eu achava já ter compreendido a seu respeito.
@ Camila_Cabello
Oi, tudo bom?
Sério? Isso só pode ser um trote, uma brincadeira. Alguém pegou o telefone dela... Foi ela quem me dispensou, quem disse que não queria contato agora está aqui me mandando mensagem. Isso não é mais ser volátil. É ser confusa. É bipolaridade.
A mais bela confusão que eu já desejei na vida.
Mas sejamos práticos e realistas: eu não posso simplesmente esquecer o que ela me disse. O que me garante que ela não vai fazer de novo? Então se ela quer conversar, vamos aguardar para entender o quanto ela realmente está disposta a isso.
Não respondi e continuei ali, girando aquela ficha entre os dedos por mais algum tempo antes de entrar e subir para tomar um banho.
Depois de um longo banho relaxante, resolvi assistir um filme qualquer até o sono chegar. Passei pelas minhas redes sociais interagindo com algumas pessoas... E foi impossível não notar a quantidade de postagens sobre a premiação em Miami, tendo como um dos holofotes Camila e Shawn que pareciam muito bem para um casal que teria terminado.
E como era de se esperar, o bonitão lá ganhou, celebrando com um beijo na sua amada antes de buscar a estatueta... lindo!
Bloqueei meu celular e desci para tomar uma água. Precisava esfriar a mente.
Aquela menina estava acabando com a minha sanidade e eu preciso retomar o meu trabalho.
Subi de volta e me deitei, totalmente sem sono, virando na cama, de um lado para outro até adormecer.
Acordei com a minha mente cansada de lutar contra os pesadelos. E principalmente com o som do meu telefone ao meu lado na cama.
Um número desconhecido.
- Alô?
- Hey...
Aquela voz. Eu não acredito que ela AGORA resolveu que queria meu número. Porra ela só me confunde cada vez mais!
- Sou eu, Camila... – Disse com receio frente ao meu silêncio.
- Eu sei que é. – Antes eu estava chateada, mas agora eu estava me sentindo quebrada e com raiva. Porque ela fez tudo aquilo e em uma semana voltar a me procurar?
- Eu espero que não se importe, peguei seu telefone com a Cris. Encontrei com ela depois do evento de ontem.
- Teria sido mais fácil se tivéssemos trocado telefone. Ah não, espera! É mesmo, você disse que achava melhor não termos mais contato algum. – Disse ironicamente me lembrando das suas palavras.
Silêncio.
- Porque me ligou Camila?
- Eu queria falar com você...Sinto sua falta. Mas agora eu também não sei o que falar. Pensei em tanta coisa e agora simplesmente não consigo. – Disse entre suspiros, com tom de desabafo.
- E porque só agora? Brigou com seu namorado? Está pensando em se aventurar mais uma vez? Sinto te informar mas eu não tenho interesse em ser brinquedo particular de celebridade nenhuma. – Por mais que meu tom tenha sido rude e repleto de deboche, eu realmente pensava tudo aquilo.
Não me entrava na cabeça que ela teria feito tudo aquilo, estado com o namorado há algumas horas trocando demonstrações públicas de afeto e na manhã seguinte, estava me ligando como se fosse a coisa mais natural do mundo. Não, eu nunca me prestaria a esse papel.
- Lauren por favor, eu realmente queria conversar sobre o que aconteceu.
- E o que aconteceu Camila? Me conta porque eu também não entendi.
- Eu sinto muito por tudo Laur, de verdade, eu não queria que as coisas tivessem sido dessa forma. Por favor não pense que eu não quis estar com você, eu quis e quis muito! Na verdade eu ainda quero...
Permaneci em silêncio para que ela continuasse. Aquilo não era o suficiente, eu precisava de mais.
- O que você disse me magoou, mas não ao ponto de eu simplesmente abandonar tudo assim. O problema é que as coisas na minha vida estão virando uma bola de neve, estou recebendo pressão de todos os lados, o que me obriga a não sair dessa maldita bolha que me sufoca dia após dia.
Mantive meu silêncio. Ainda precisava de mais.
- Lauren, eu terminei com o Shawn. Estamos juntos apenas publicamente como uma forma de gentileza até que ele conclua o álbum...
- Gentileza??? – Perguntei incrédula.
- Por favor Lauren, me deixa concluir... – Pediu em um fio de voz.
- Minha mãe não entende nem aceita meu interesse por mulheres e ela é uma das principais responsáveis pela minha carreira. Então tanto ela quanto a minha gestão têm me pressionado para que eu finalize meu álbum, inicie minha turnê e me afaste dos rumores que podem afetar as minhas vendas. Eu sei que isso é muito sujo e podre, mas é a verdade e eu não sei o que fazer, por onde começar...
- Porque não começa sendo honesta com você mesma? – Rebati.
- É por isso que estou te ligando. Eu preciso de você Laur.
- Bom, sinto muito mas eu meio que me aposentei da minha carreira de Relações Públicas. – Zombei.
Ouvi um risinho sem graça do outro lado da linha.
- Bem que Cris disse que eu deveria estar preparada para as suas verdades... Elas machucam mesmo.
- Camila onde você quer chegar com essa ligação? Só estamos dando voltar em uma discussão que não vai levar a nada. E eu não tenho tempo a perder.
- Eu quero uma nova chance. Eu quero poder fazer as coisas certas, dentro das minhas limitações e com você ao meu lado. É isso que eu quero.
Eu realmente não esperava por aquilo.
Aquela reação, aquelas palavras...Eu queria muito tentar de novo, mas eu agora me via em uma posição que eu não queria assumir pra ela: de que estava rendida.
- E você Laur? Quer tentar novamente?
Merda! Perguntas de múltipla escolha...
- Camila você sabe qual a minha resposta. Mas sabe também que precisamos conversar. Conversar de verdade.
- Sim eu sei. Mas por favor, me deixa ouvir da sua boca. Quer tentar novamente?
Droga...Sem escape.
- Sim. Mas não sem antes conversarmos.
Eu sentia um misto de alegria e tristeza, porque aquilo era tudo que eu queria e era ela quem estava tomando a decisão de tentar novamente. Mas eu estava sendo fraca e cedendo rápido demais. Não podia negar que sentia que não seria assim tão fácil...
- Estou indo para Las Vegas amanhã cedo. E eu não quero que interfira em nada. Deixa o que tiver que acontecer, acontecer. Até amanhã. Beijo.
Por essa eu realmente não esperava. Aquela Camila definitivamente não era a mesma das últimas semanas e quer saber de uma coisa?
Essa nova versão dela me agradava muito mais...