Senti meu braço ser balançado por alguém. O peso do corpo de Frisk ainda estava sobre mim. Ainda estávamos vivos. É, parece que subestimara a erva.
Abri meus olhos, lentamente, e Frisk tentava me acordar, com seu braço que não estava machucado.
Olhei ao redor, ainda sonolento, e ela sorriu pra mim.
-Yay acordou!
Flowey se aproximou.
-Finalmente, hein? Nenhum guarda passou por perto, até agora.
-Valeu, erva.
Frisk me abraçou, meio que de repente, mas a abracei de volta.
-Obrigada.
-Não se preocupa com isso, kiddo. Seu ombro está melhor?
Ela assentiu.
-Ainda dói, mas minha alma tem regeneração rápida, então acho que podemos continuar andando.
Ela se levantou, pegou Flowey no braço, e sua mochila que estava conosco, eu a trouxera, mas usei como um apoio, atrás de mim.
Peguei-a e a dei para Frisk, que colocou em apenas um ombro.
Seu rosto ainda manchado de sangue seco, o que grudava os seus olhos.
-Vai lavar isso em waterfall, né?
-Eu mal consigo abrir o olho -ela riu.- tenho escolha?
Eu ri, peguei o machado que carregava e começamos a andar. A coloquei para andar perto, caso algo acontecesse.
O som das águas caindo eram relaxantes, Frisk sentia isso, pois sua expressão era serena.
-Aqui é gostoso.
"Aqui é gostoso"
Olhamos na direção da voz e era uma eco flower, umas das poucas que voltaram com a magia fraca do lugar. Frisk soltou uma risada, o que involuntariamente me fez sorrir.
Quando terminamos de passar pelas pontes, Frisk se ajoelhou ao lado da água corrente, e deixou sua mochila e Flowey comigo. Ela começou a lavar o rosto, e de vez em quando soltava uns gemidos de dor, por conta dos machucados.
-Você acha que eu não percebi, né? -Flowey me perguntou, me deixando confuso.
-O quê?
-O jeito que você fica, quando tá perto dela.
-Não sei do que tá falando.
-Você sempre foi um assassino cruel, que não tinha mais razão nenhuma pra viver, e olhos sedentos por sangue e carne. Quando ela voltou, você mudou. Tem sorriso mais, de um jeito bom.
Fiquei em silêncio por um momento.
-E como você sabe disso, erva?
-Porque eu já senti isso, uma vez. Faz muito tempo.
Soltei uma gargalhada.
-Você? Você é bobão que foi a causa dessa destruição, pra início de conversa.
-Eu já te expliquei o porquê, não vou falar de novo.
Hesitei, mas ele tava certo.
-Sabe que ocultamos parte da história real pra Frisk, deveríamos contar pra ela.
Fiquei em silêncio, ví-lo olhar para mim.
-Não vai falar nada?
-O que eu falaria? Não contei nem pra Aliza sobre o que aconteceu com a Undyne e o subsolo direito.
-Mas é da Frisk que estamos falando, ela tá literalmente aqui pra salvar a gente, ela precisa saber de tudo.
Frisk voltou até nós com o rosto molhado, deu pra ver o corte em sua cabeça, mas ele ficava coberto por sua franja. Ela sorriu para nós e pegou a mochila do meu ombro.
-Vamos?
Ela começou a andar, um pouco desastrada, mas isso sempre fora dela. A segui, com Flowey em meu ombro.
Continuamos a andar, até ela parar na frente de uma eco flower. Ela se ajoelhou e colocou suas mãos ao lado da boca, para que eu não ouvisse no que ela sussurrava pra flor.
Fiquei curioso, quando ela parou de falar e sinalizou pra nos aproximarmos. Me ajoelhei ao lado dela e encarei a flor.
"sou a legendary fart master."
Frisk segurou sua risada. Lembro daquela piada, era um de nossos códigos secretos. Não pude conter um sorriso baixo.
Frisk pov
Vê-lo sorrir fez meu coração se aquecer. O que eu mais queria era poder vê-lo feliz.
Me sentei na grama.
-Ei, Frisk. -Sans me chamou.
-Diga?
-Tem... -ele hesitou.- hum..
-Tem algo que a gente precisa te contar sobre o que realmente aconteceu no subsolo.
Meu coração acelerou.
-Ah... tudo bem? Podem falar.
Sans arrumou a coluna dele.
-Tá, eu sinto que a erva aqui já te contou sobre algumas coisas do que aconteceu, mas acho que muitas coisas foram omitidas. Erva, o que contou pra ela?
-Ele me falou que você ficou em coma e...
-Eu fiquei em coma?? -Ele olhou incrédulo para Flowey.
-O QUE QUE VOCÊ ACHA QUE ELA PENSARIA SE EU FALASSE QUE ACONTECEU PIOR??
-Aconteceu pior?? -perguntei, confusa.
Sans suspirou.
-Eu vou contar do início. Depois que você saiu, a Undyne ficou putassa comigo, e a gente brigou, mas eu não fiquei em coma -ele olhou feio para Flowey, que engoliu a seco- a gente teve uma briga, mas depois passou um tempo e as coisas começaram a piorar. O Core, a nossa fonte de magia, entrou em colapso, o que fez a nossa magia se esgotar, e com isso nossa fonte de abastecimento e comida. Inúmeros monstros morreram, lugares perderam seu poder, foi um apocalipse.
Ouvia aquela história bem concentrada.
-Undyne me chamou para ajudar em uma maneira pra concertar o Core, isso demorou e muito mais monstros morreram com isso. Alphys então pensou que uma fonte de magia poderosa seria o quê? -ele apontou para seu olho.
-Seu olho mágico...
Ele assentiu.
-A fonte do meu poder, eu e Undyne lutamos até que ela fez essa rachadura no meu crânio e tirou a por... a droga do meu olho.
-O que é esse glóbulo vermelho no seu...
-Não queira saber.
Assenti, compreendendo.
-Depois dessa luta, eu fiz algo com Alphys que.. -ele riu, só de lembrar- é melhor eu não dizer.
Engoli a seco.
-Tá, humm... depois disso, Undyne implantou a merda daquela regra. Ela disse que acharíamos um jeito de sair daqui sem a ajuda da alma de um humano, e todos aqueles humanos que caíssem serviriam de carne, pois alimento era algo que já estava fora de alcance. Mas eu recusei.
-Passou 8 anos sem comer?
Ele assentiu.
-Dói? Dói, mas isso tá longe de algo que eu faria. Você tem sorte de não ter passado pelo Grillby's e os outros monstros de snowdin, como Aliza passou. A coitada quase morreu.
Abaixei a cabeça, me senti ainda mais culpada por tudo aquilo que estava acontecendo. Era pra eu ter superado? Óbvio, mas eu não conseguia, cada vez coisas piores me engoliam e o pior era o fato de ter sido minha culpa.
-Frisk, a culpa não é sua. O Core ter quebrado não foi sua culpa, você não fazia ideia de que isso aconteceria, então não fica assim.
Ele se levantou e estendeu sua mão pra mim, sorrindo o mais suave possível.
-Vem, temos um caminho a seguir.
Segurei sua mão, e ele me puxou. O abracei forte, segurando algumas lágrimas que pediam passagem.
Senti seus braços me envolverem delicadamente, e ficamos ali por um tempinho (eles gostam de abraços 😔)
Nos afastamos e seguimos na nossa jornada, foi bom pois não encontramos quase nenhum monstro em boa parte do caminho, o que de certo jeito me deixou preocupada.
Mas como eu disse lá atrás, nada que é bom dura muito, não é?