~ Dener ~
Depois do meu pequeno descontrole no banheiro eu fiquei lá com a testa contra o ladrilho enquanto o barulho da porta ecoou, indicando que sim, a Amber me deixou sozinho ali dentro e simplesmente saiu. Fechei os olhos e o punho, mas não pude evitar o sorriso de descrença. Logo ela que sempre cedeu na mesma facilidade que eu sempre cedi aos seus impulsos momentâneos. Agora as coisas estão... Diferentes? Não sei dizer, a questão é que foi o bastante para deixar essa dúvida martelando na minha cabeça pelos vinte minutos que fiquei no banheiro, tentando me organizar mentalmente.
Tentei fazer as batidas do meu coração ficarem menos descontroladas respirando fundo, mas o perfume da Amber está tão vivo nesse cômodo que faz as batidas tropeçarem nelas mesmas. Mordi o lábio com força, fazendo um gosto metálico atingir minha língua... Não, isso tem que parar. Isso precisa parar. Eu não sou o Sebastian. Não posso ficar agindo como tal e achar que está tudo bem.
Lavei o rosto na pia e coloquei a camisa com rapidez. Ajeitei meu pingente e saí do banheiro, vendo as luzes do quintal apagadas e todos cantando em sintonia. A hora do parabéns. Pus uma mão no bolso e com a outra joguei o meu cabelo para trás. Me apressei em ir para a mesa da minha mãe, vendo os gêmeos e a Milla ali, mas sem sinal da mesma. Tem poucas pessoas nas mesas ao redor da nossa. A maioria está no grande tumulto em volta da mesa do bolo, com flash e risadas sobre a aniversariante e a sua família.
A família que me contratou para cuidar da primogênita deles. Da única filha deles. Acho que não estou fazendo esse trabalho tão bem quanto eles pensam...
- Demorou, Den - Harry disse, atraindo a minha atenção. Notei que seu celular está no bolso.
Ele parece ocupado demais olhando em volta e conversando com a sua irmã para voltar a jogar. Ou a bateria só tenha acabado mesmo.
- Deixa ele. Ao contrário de nós dois, o Den tem assuntos pendentes para resolver - Hannah falou, dando um gole no champanhe.
Lhe lancei um olhar de alerta para ela tomar cuidado com o que diz e me aproximei, tirando a bebida de suas mãos.
- Álcool só para maiores de dezoito.
A garota cruzou os braços e franziu as sobrancelhas na minha direção, com indignação e descrença. Dei de ombros, bebendo em seu lugar.
- Como se esse fosse o problema do momento. - Murmurou. Revirei os olhos.
Milla estava me encarando com cautela. Por um segundo meu sangue gelou, com o medo dela sequer imaginar o que aconteceu nessa casa hoje - e desde o dia que comecei a trabalhar aqui -. Só que, a ruiva apenas sorriu, fazendo um sentimento pior vir a tona. Não um de medo de ser pego, mas de arrependimento e culpa. Sei que o que estou fazendo é errado, mesmo que não tenhamos nada a garota ainda espera que sim.
Esse sempre foi o nosso plano.
E eu aqui, nas escuras com a mesma adolescente que estava sendo amante por anos. Julgando o comportamento dela e daquele canalha, mas fazendo quase a mesma coisa. Isso não é justo e não posso continuar com essa farsa. Não com a Mila. No fundo sempre soube que ela merecia mais, muito mais do que eu poderia dar. Negligenciei até o último momento e aqui estou eu, com esse sentimento amargo me percorrendo até me dar náuseas.
Eu me recuso a continuar sendo assim. Não com ela. Não mais.
- Vocês viram a nossa mãe? - Perguntei aos gêmeos de repente.
- Estava conversando com um amigo dela na sala. - Harry deu de ombros, levando um salgadinho a boca. Franzi as sobrancelhas.
Apalpei o meu bolso, lembrando que a chave do carro ficou com o pessoal da portaria. Talvez os gêmeos e a Rita possam voltar para casa com um aplicativo. Tenho coisas mais importantes para fazer. Coisas que já devia ter feito há um tempo.
Me virei para a ruiva.
- Podemos dar uma volta?
Os olhos da garota brilharam quando ela apenas concordou com a cabeça. Dei um sorriso sem mostrar os dentes e olhei para o centro do quintal, vendo que o parabéns já tinha cessado. Diana estava conversando com algumas pessoas enquanto eu me aproximava com cautela, sem querer alarmar ou chamar muita atenção pra cima de mim.
Parei ao lado da mesma e toquei o seu ombro. A mulher alta se virou e deu um sorriso ao me olhar, mas com dúvidas estampadas em seu rosto.
- Dener querido. O que houve? - Inclinou um pouco a cabeça.
- Ana, a festa está ótima mas eu preciso tratar de um assunto agora. Tudo bem se eu sair?
- Claro que sim, eu entendo. - Sorriu sem mostrar os dentes. - Pede para a sua mãe vir se despedir de mim, tenho que entregar uma coisa a ela
Respirei fundo, tentando não mostrar minha própria confusão.
- Não, é... Quero dizer, ela não vai. Minha mãe vai ficar aqui com os gêmeos. Preciso dar uma saída e vou aproveitar para deixar a Milla em casa.
Diana franziu as sobrancelhas e sua dúvida ficou maior. Claro que isso tudo é confuso. Principalmente por ser algo tão repentino. Espero que ela não faça perguntas que eu tenha que responder. Não acho que minha mente vai processar uma resposta rápida e eficaz. Principalmente para quem sempre me tratou como filho. Vou ter que mentir de qualquer jeito.
Como se estivesse lendo a minha mente, Diana não disse uma palavra, apenas me puxou para um abraço apertado. Não sei se isso foi um aperto de despedida casual ou se no fundo ela apenas quis dizer "boa sorte" com as batalhas internas que ela sabe que estão acontecendo. Está tudo tão evidente assim? Minha cara não deve ser das melhores...
- Foi ótimo te-lo aqui, Den. Cuidado e qualquer coisa entre em contato, okay? - Seu sorriso compreensivo me fez sorrir também. Concordei com a cabeça. - Pode ir, eu aviso ao James e a Amber que você está ocupado. Não se preocupe.
Sem dizer mais nada, eu me aproximei da mesa novamente e fiz sinal com a cabeça para a porta, fazendo Milla concordar. Ela sorriu para os gêmeos e chegou perto, colocando o seu braço em volta do meu. Olhei para os meus irmãos e Harry parecia tranquilo, sem entender a situação. Hannah por outro lado me lançou um olhar triste e compreensivo também. Ela sabe o que vem a seguir, e apenas concordou com a cabeça. Sorri de canto, assentindo também.
Fui com a ruiva ao meu lado para a saída da casa enquanto nos aproximamos do carro da minha mãe. Peguei a chave com o manobrista e escorreguei para o banco em silêncio. A garota ao meu lado também não disse nada. Liguei o carro e fui indo pelas ruas nem tão vazias assim, pensando em onde leva-la para isso. Depois de um tempinho decidindo, me lembrei do drive-thru onde eu e Andy sempre vamos conversar no decorrer da madrugada, em um bairro parado e calmo.
Levei alguns minutos para chegar lá, com nenhum barulho dentro do carro, exceto pelo som baixo do motor e do vento que estava me rodeando, me dando a devida coragem que eu já devia ter tido há muito tempo. A verdade que eu sempre soube, mas tive que esperar um outro alguém aparecer na minha vida para me fazer finalmente admitir isso.
Sou a porra de um covarde, porém isso acaba agora. Espero que ela me perdoe, mas não vou lhe culpar se me odiar. Até eu me odiaria.
Dei ré, parando com a frente na direção da rua. Respirei fundo antes de sair do carro e dar a volta, abrindo a porta para a garota no banco do carona. O vento soprou fortemente, fazendo a trança de Milla soltar alguns fios de cabelo. Apreciei a bela coloração do seu cabelo vermelho vinho pela - talvez - última vez. A saia rosa da mesma foi para trás e começou a se debater. Seus olhos verdes me esquadrinharam, mas seus lábios não pronunciaram nada.
Me aproximei do capô e sentei ali, sentindo ela fazer o mesmo ao meu lado.
Pensei em repetidas palavras, frases e jeitos de amenizar a situação, mas não é justo com ela. Não vou dizer menos do que a verdade. Eu sei que vai doer, só que, ela merece saber. Sempre mereceu.
- Milla - Pronunciei seu nome com um certo desconforto. Um nó se formou na minha garganta. - Eu sei que você sempre esperou o melhor de mim. O melhor da gente, na verdade, mas de um tempo pra cá as coisas estão mudando e por mais que isso me assuste, sei que você merece saber de tudo... - Seus olhos verdes permaneceram calmos e fixos. - Eu sempre vou estar aqui pra você, só que...
- Só que - Ela me cortou, dessa vez desviando o olhar e encarando a rua deserta. - Você não quer mais nada.
Entreabri a boca, surpreso pela sua dedução. A ruiva sempre foi inteligente, mas algumas coisas que achei ter disfarçado bem... Eu não devia te-la subestimado.
Abaixei a cabeça, sentindo o vento frio me percorrer e me abraçar. O peso dessa conversa me deixa mal, mas eu sei que mereço passar por isso. As coisas aconteceram por minha causa, e eu preciso enfrentar da mesma forma que não pensei duas vezes em entrar nisso tudo. As consequências sempre ficaram evidentes, eu apenas tentei evitar elas o máximo.
Chega de evitar, de tentar diminuir o impacto, de fugir das responsabilidades. Eu não sou o Sebastian.
- Você sabia? - Perguntei em um sussurro. Ambos com o olhar distante.
Milla suspirou, pegando sua trança e a soltando. Seu cabelo marcado começou a se debater para trás, alvoroçado, como se tivesse vida própria.
- Desde o dia que você voltou da viagem eu notei, Den. - Ela me encarou com seus olhos verdes marejados. - Acha que não percebi você tentando me evitar? Não mandando mensagem? Não ligando? Apenas dando pequenas desculpas e fugindo das conversas? - Milla riu fraco, olhando para longe. Vi de relance lágrimas escorrendo pela sua bochecha. - Eu percebi como você ficou quando me viu na cozinha com a sua mãe. Nunca te vi tão ruborizado assim. Na hora eu senti uma dor horrível, mas soube disfarçar. Ia esperar que me contasse quando chegasse a hora
- Eu estava mentindo pra mim mesmo, Milla. Só que... - Suspirei pesadamente. - Isso acabou fazendo com que eu mentisse para você também. Nunca vou me perdoar por isso.
A garota se virou pra mim, secando o rosto com a palma da mão.
- A cima de tudo, sempre deixei claro que sou sua melhor amiga. Estou aqui, Dener - Milla segurou a minha mão, apertando firmemente a mesma. - Estou aqui!
Engoli a seco. Minha visão começou a embaçar.
- Se for para não se perdoar, que seja por não ter sido sincero comigo, e não por não ter retribuído o sentimento. Eu te esperei por tanto tempo, Den. Tanto tempo... - As lágrimas saíram dos meus olhos mais rápido do que eu pude conter. - Não me arrependo de nada disso, mas sinto que em um momento desses, eu perdi a pessoa que mais confiava. Perdi o meu melhor amigo
Olhei para baixo com ódio. Ódio de mim mesmo. Não me permito sentir pena de mim, não depois dessas palavras. Ela sempre percebeu, sempre soube da verdade e sempre soube me ler mais do que eu sabia lê-la. Só esperava o momento, o meu momento de ser sincero. Momento que chegou muito mais tarde do que deveria.
Ver a dor da Milla estampada no rosto dela me quebra por dentro. É tudo culpa minha e eu sei disso. Talvez os dois só fossem ótimos mentirosos, o suficiente para mentirmos para nós mesmos. Eu, achando que poderia levar isso até onde conseguisse e ela, achando que eu não seria covarde o suficiente para não contar. Isso tudo está acontecendo apenas porque eu fui idiota o suficiente para...
- Me perdoa, Milla - Foi a única coisa que consegui dizer. - Me perdoa pelas negligências, por sempre fazer isso. Era mais fácil esconder de todo mundo do que admitir pra mim mesmo toda essa verdade.
Olhei para a ruiva que estava sorrindo de uma maneira triste. Seus olhos já vermelhos não deixaram as lágrimas cessarem.
- Você está apaixonado por ela, não está?
Abri a boca para responde-la, mas as palavras não saíram, me fazendo fechar de novo. Foi toda a resposta que ela precisava.
- Espero que seja feliz, Dener. Eu não te odeio, só preciso de um tempo. Um tempo comigo mesma...
Concordei com a cabeça e puxei a garota para um abraço. Solucei contra o seu pescoço, sentindo as mãos dela pararem no meio das minhas costas. Mesmo após tudo, ela está aqui me acudindo, quando eu que precisava fazer isso por ela. No final, era sempre a Milla que estava aqui por mim, e nunca o contrário. Sei bem que ela está mais quebrada do que eu, porém, não estou com forças para pensar sobre isso. Me sinto péssimo com a situação, mas aliviado pela dádiva de ter a ruiva comigo.
Mesmo que eu seja um otário egoísta.
Quando a chuva começou a cair e a molhar nossa pele exposta, Milla chorou no meu ombro de uma vez. Não sei se foi por desespero, ou pelo alívio de sentir tudo isso sendo descarregado dos nossos ombros. Dos ombros dela. Talvez um pouco dos dois. Apenas a apertei mais forte, desejando não ter que solta-la. Não importa o que aconteça, a ruiva sempre foi minha melhor amiga, e agora eu preciso agir como tal. Ela merece as melhores coisas, e eu vou tentar fazer pelo menos o mínimo possível.
Mesmo ensopados, Milla pegou seu celular no carro e fez questão de chamar um carro particular para leva-la embora. Eu tentei me oferecer, mas ela negou, não por educação, mas por querer esse tempo pra si. O tempo que com certeza vai começar a partir de agora. Apenas concordei, e quando vi a saia rosa da mesma voando e se debatendo junto com seu cabelo molhado, com as mãos apoiadas na porta aberta do carro que chegou em poucos minutos e seus olhos verdes e marejados me encarando com um sorriso triste e simples nos lábios, não pude segurar as lágrimas que novamente embaçaram a minha visão.
Mila entrou e foi no automóvel pela rua deserta, vazia e quase totalmente escura do drive-thru. Deitei no capô gelado do carro, fechando os olhos e deixando a chuva terminar de me molhar completamente.
Nunca me senti tão pesado, mas ao mesmo tempo, tão leve quanto agora.
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Acho que as coisas estão de fato se acertando hmmmm
(Ou será que não? K)
Só posso dizer que estamos chegando na rota final dessa história que conquistou o meu coração sz
Não sei quantos mais capítulos vamos ter, porém, não serão tantos quanto eu achei:(
Mas não fiquem tristes, okay? Eu espero dar o meu melhor para que tudo acabe de um jeito ótimo, mesmo que decepcione algumas pessoas ain
Espero que tenham gostado, meus amoreees
Ainda tem mais coisa para acontecer aaaa
Curtam e comentem.
Amo vocês 💜
Miin.