Richard
Reúno toda a coragem de me humilhar para pedir ajuda à Olívia. A decisão foi tomada após chegar em casa e ver Ruth parada na porta do meu apartamento. Ela basicamente se convidou para entrar, mas consegui barrá-la com a desculpa que minha gata não aceita bem estranhos em casa. O que não deixa de ser verdade.
_ Mas é algo urgente?
_ Ah, não eu pensei apenas que poderíamos tomar um vinho e comer algum queijo também._ Por que sinto que minha mãe mandou essa mulher tomar partida. Recuso, 1, 2, 3 vezes. A padeira é realmente insistente.
Acabo recorrendo à Olívia Baker e aqui estou eu na porta de seu apartamento. Ela disse que gostaria de me ver implorar e mandou a droga de um emoji de diabo. O que isso significa? Encaro a porta do 303, na última vez que estive aqui acabei passando a noite.
Toco a campainha pensando em meu dia. Não acredito que estou batendo em sua porta. A recém contratada não me atende, será que já está dormindo? Olho a hora em meu relógio de pulso é 23 horas. Insisto mais uma vez e escuto algum barulho vindo de dentro do apartamento. A porta se abre e encaro Olívia a analisando.
Seu rosto está mais vermelho que o habitual e seus olhos estão um tanto pesados, conheço isso.. Encostando-se na porta recebo a visão do que veste. Não esperava vê-la com tal roupa. Desvio o olhar de seu corpo encarando sua face.
_ Que porra é essa?
_Você queria me ver implorando, aqui estou eu! _ Seguro o papel em minhas mãos. Isso é ridículo.
_ O que está.. escrito. _ Soluçando a fisioterapeuta ri sozinha. Olívia está bêbeda? _ Ande eu quero comer, Ah!
Vindo bruscamente em minha direção ela me puxa pela camisa e fecha a porta. O que diabos Olívia quer?
_ Você abriu a droga da janela, vamos.. Vamos! _ Empurrando-me em direção da cozinha entro escutando música no ambiente e vejo água fervendo em uma panela.
_ O que, o que você quer? _ Olho por cima dos ombros e a vejo sentada na cadeira abraçando as pernas. Claramente não sabe se comportar bêbada..
_ TAKE MY BREATH AWAY! (Tire o meu fôlego.)
_ Shi, você não pode ficar cantando alto uma hora dessas. _ Puxo a janela fechando-a e paro de frente para a mesa. Olívia tem o queixo apoiado nos joelhos e está com os olhos fechados cantando a música que toca em seu telefone. Ela estica a mão em direção a garrafa de vinho mas a pego antes. Acho que a mulher não está em condições de continuar a beber.
_ HEY! _ Abrindo os olhos ela me encara segurando o vinho. A mulher bebeu isso tudo? Analiso o percentual de álcool da bebida no rótulo.
_ Por que você está bebendo?_ Indago jogando o líquido ralo abaixo.
_ Meu vinho.. _ Choraminga. _ Ah, meu macarrão!
Levantando-se a veja tropeçar na cadeira e vou em sua direção segurando-a pelos ombros. Esse não era meu plano, não tem a menor condição de Olívia Baker escutar o que tenho a dizer.
_ Eu.. Eu faço! _ Digo afastando-me dela.
_ Mas eu quero macarrão com queijo. _ Reclama fazendo biquinho.
_ Farei o macarrão com queijo, apenas.. Apenas coloque uma roupa menos vulgar. _ Pego seu telefone parando a música enquanto ela se levanta rindo.
_ Humm, então estou deixando Richard McBride sem fôlego? _ A mulher realmente enlouqueceu, tirando seu robe a vejo dar uma volta. Encaro a cena, ignore Richard, ela.. ela está altamente alcoolizada.
_ Vista isso de volta! _ Falo abrindo o pacote de macarrão e o coloco na água fervendo.
_ Por que, por acaso estou te deixado excitado? _ Pergunta rindo.
Olho em sua direção perplexo com o que acabo de ouvir. Olívia dá outra volta dando-me a total imagem de seu corpo, consigo ver seus seios marcados na fina camisola. Engulo em seco e abaixo a cabeça pegando um garfo para mexer o macarrão na água. Volte ao seu juízo perfeito Richard, a criatura é idiota demais para perceber o que está fazendo.
_ Sua sorte é que sou eu aqui, que ainda tenho um pouco de juízo. _ Respondo suspirando, sinto-me mais quente que o normal. Pense em coisas ruins seu idiota. _ Se fosse Peter, amanhã estaria arrependida.
_ Eu já estou arrependida. _ Responde vestindo o robe e desanimadamente volta para a cadeira. Olho por cima de ombros e vejo a recém contratada se deita sobre a mesa começando a choramingar. É, eu realmente detesto bêbados.
_ Arrependida do quê? _ Essa é minha chance de saber o que aconteceu naquele barco.
_ Não quero falar sobre isso, quero comer macarrão com queijo! _ Ela fica em silêncio enquanto termino de fazer a comida e até penso que havia dormido mas ao colocar a panela sobre a mesa ela abre os olhos e sorri.
_ Richard, Richard.. _ Por que está repetindo meu nome? Sento-me na cadeira vazia e a encaro pegar o garfo e mexer na panela. _ Vamos, vamos..
Ah certo, ela quer que eu coma também, levanto-me pegando outro garfo.
_ Então Olívia.. _ É muito errado o que farei a seguir mas tenho tantas perguntas e a chance de ter as respostas são grandes. Penso em minha enorme lista mental. Mastigando o macarrão a mulher me encara apoiando o rosto nas mãos.
_ Hum?
_ Ok, lembra quando você começou essa semana e precisou de dinheiro e disse que era para consertar seu aquecedor.
_ Hum?
Ela vai me responder.
_ O que você fez com aquele dinheiro?
_ Comprei um par chuteiras para James. _ James? Isso não faz sentido. Mas na verdade é óbvio já vi a caixa de suas mãos.
_ Por quê?
_ Ele não tinha dinheiro e estava com um mal desempenho por causa da chuteira que usava. _ Então foi apenas isso. _ Cacete isso está bom.
_ Obrigado, eu acho.. _ Nunca a vi xingar tanto. Bocejando ela encosta a cabeça na parede e pisca algumas vezes encarando-me.
_ Você é um filho da mãe comigo..
_ Eu sou?
_ Sim! _ Responde sem a menor vergonha. Isso é bom, uma conversa sincera sem gaguejar.
_ E porque sou um filho da mãe?
_ Por que você está sendo mais legal que Peter.
_ Eu? _ Não esperava ouvir tal confissão. Largo o garfo encarando-a mastigar de olhos fechados. _ Olívia deixe-me perguntar.
É agora, vou conseguir saber o que aconteceu naquela sala na quinta-feira.
_ Quero andar de moto, você me leva para andar de moto? _ Hãm? Ignoro sua pergunta.
_ Naquele dia que você saiu correndo do trabalho chorando, o que aconteceu, o que aconteceu depois que você saiu da piscina?
Olívia desencosta a cabeça da parede e abre os olhos encarando-me, penso que toquei em um assunto delicado já que parece ter recuperado um pouco os sentidos.
_Não quero falar sobre isso, quero andar de moto! _ Não, esse não é o momento para ouvir um bêbado fazer birra.
_ Me conte primeiro que te levo. _ Tento negociar. a vejo suspirar passando a mão pelos cabelos.
_ Eu cortei, Peter não gostou.. _ Diz tristemente. _ Richard foi o único que gostou, você gostou?
Como sempre meu irmão é um babaca com mulheres.
_ Sim Olívia, eu gostei do seu cabelo._ Respondo honestamente. A vejo sorrir enquanto apoia os braços na mesa encarando-me.
_ Eu também gosto muito do seu cabelo, ele é macio.
_ Obrigado.. Eu acho.
_ De nada! _ Droga, ela está se afastando do ocorrido.
_ Então Olívia, o que aconteceu com você depois que saiu da piscina?
_ Eu disse, cortei meu cabelo. AQUELE FILHO DA PUTA! _ Elevando seu tom de voz percebo que parece irritada. Penso em pedir para falar mais baixo mas estamos chegando muito perto._ ELE.. ELE!
A mulher começa a soluçar, droga. ela está chorando!
_ ELE.. Me segurou pelos cabelos, essa foi a segunda vez que me intimida com isso._ Diz esfregando os pulsos no rosto. Levanto-me indo até ela, não consigo ver a cena. Não devia ter tocado no assunto, abaixo-me perto da sua cadeira.
_ Olívia, ele fez algo com você? _ Pergunto me sentindo um tanto aflito, será que a recém contratada foi abusada?
_ Ele tentou tirar minha calça. _ Merda. Engulo seco cerrando os punhos.
_ Olívia quem fez isso? _ Ela balança a cabeça. _ Você pode me dizer o nome dele?
_ Sabe.. Eu andei pensando muito. _Diz ignorando meu pedido. _ Ele, ele deve usar alguma coisa.
_ Como?
_ Ele entrou na sala querendo minha urina. _ Abro a boca tentando assimilar o que estou ouvindo.
_ Quem... Quem queria Olívia?
_ Minha cabeça está doendo! _ Muda de assunto mais uma vez.
Levanto-me do chão e me encosto na parede. Estou frustrado e preciso de um nome. Quero saber quem foi o filho da puta. Olívia se deita sobre a mesa fechando os olhos. Não vou conseguir tirar mais nada dela, a mulher simplesmente apagou. Vejo seu telefone sobre o balcão e até penso em vasculhar, mas não acredito que vou encontrar alguma coisa útil. Tiro a panela da mesa e a coloco sobre o fogão a tampando.
_ Quem pode ser? _ Minha cabeça está martelando com tudo o que acabo de ouvir de uma pessoa completamente bêbada. O que posso julgar ser verdade? Acho que a fisioterapeuta não mentiria nessas condições, não depois do tanto que bebeu. Seco as mãos e encaro a mulher roncando.
Não acredito que vim até aqui na esperança de conseguir convencê-la. Paro perto de seu corpo e dou algumas batidinhas em suas costas. Olívia geme em resposta mas não se levanta.
_Vou te levar para sua cama e não interprete isso mal. _ Puxo sua cadeira e me abaixo pegando-a no colo, é mais pesada do que pensava. Passando os braços por meu pescoço sinto sua respiração próxima a meu ouvido.
Respiro fundo tentando me concentrar, não pense besteiras Richard. Já sabendo o caminho, passo pelo escuro corredor e entro no quarto tropeçando no tapete.
_ Você cheira tão bem. _ Escuto sua voz. Paro perto da cama no cômodo escuro e a coloco deitada. Puxo a coberta cobrindo seu corpo, ainda segurando em meu pescoço encaro seu sorriso.
_ Pode me soltar Olívia! _ Digo ainda abaixado. Tirando as mãos de meu pescoço seus dedos passeiam pelo meu rosto, está escuro demais para conseguir vê-la nitidamente.
_ Eu gosto de sua barba, faz cócegas quando beija. _ Rio de sua revelação e tiro suas mãos de minha face.
_ Certo Olívia, vá dormir.
Saio do quarto fechando a porta, não sei processar tudo o que acaba de acontecer. Mas basicamente vir à Boerum Hill foi uma viagem perdida ou não? Não faz sentido ficar aqui, verifico se o gás está fechado e pego o papel que trouxe jogando no lixo da cozinha. Paro no meio da sala observando o buquê de flores. É, ela não jogou fora, esse é um sinal de que gostou mas a rosa vermelha havia sumido.
_ Ok Richard, é hora de ir embora. _ Abro a porta saindo no corredor e dou de cara com uma mulher destrancando a porta. Ela me encara e olha para dentro do apartamento. Fecho a porta e passo por ela descendo as escadas.
Devo tentar novamente pela manhã, uma dose de humilhação no café combina muito bem.