Só Mais Um Clichê

By paolabns

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Depois de perder a irmã, algo dentro de Anna Liz mudou. A dor foi capaz de mudá-la exageradamente. Além de se... More

Prefácio e apresentação
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1 - Dear family
Capítulo 2 - Welcome to boarding school
Capítulo 3 - Sombras do passado
Capítulo 5 - Problems in sight
Capítulo 6 - Chocolate quente e confusão
Capítulo 7 - Consequências do passado
Capítulo 8 - Passado
Capítulo 9 - Encrenca
Capítulo 10 - Conte a verdade
Capítulo 11 - Behind the messages
Capítulo 12 - Residência Collins
Capítulo 13 - Sensações
Capítulo 14 - Back to school
Capítulo 15 - Brown eyes
Capítulo 16 - Sobre sentimentos
Capítulo 17 - Fora do meu alcance
Capítulo 18 - Perto das estrelas
-
Capítulo 19 - Broken heart
Capítulo 20 - Opostos
Capítulo 21 - I want you for me
Capítulo 22 - Adore You

Capítulo 4 - O violino, a sapatilha e a garota

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By paolabns

Helena costumava dizer que eu tinha um grande dom para me fazer de sonsa em qualquer situação. Usei isso ao meu favor durante a aula inteira. Evitei olhar para trás e fingi estar totalmente focada nas palavras ditas pelo professor ou em minhas anotações no canto da folha do caderno. Estava focada em qualquer coisa que não fosse Ethan Collins ocupando um dos lugares nas últimas carteiras da sala.

Não perdi tempo em arrastar a Louisa da sala assim que chegou ao fim. Solto o ar aliviada quando não estava mais na presença dele. Que droga! Não fazia idéia do porque, mas estava tão irritada. Talvez seja pelo fato dele ter ido embora sem se dar ao luxo de se despedir. Todos esses anos sem a droga de uma notícia.

— Liz, tá tudo bem? — Louisa pergunta quando bato a porta do armário com força, irritada.

A encaro com um aceno positivo.

— Tá tudo ótimo — minto.

— Sério? Não parece — ela aponta para as pontas dos meus dedos que estavam brancos pela força que eu usava para apertar uma folha de papel em uma das mãos.

— Acho que só estou um pouco ansiosa para o teste da aula de música.

Jogo a folha de papel dentro da lixeira ao lado do meu armário.

— Tenho certeza que você se sairá bem — ela diz com um sorriso bonito tentando me acalmar.

— É difícil acreditar em mim mesma quando já faz anos que não seguro um violino — confesso, ansiosa. — Tenho medo de estragar tudo.

— Fica calma, vai dar tudo certo, eu tenho certeza — ela pega um livro de dentro do armário. — Mas agora precisamos nos apressar, antes que a gente perca a segunda aula — anuo dando de ombros.

Louisa me explicou como chegar na sala de biologia que ficava no final de um dos corredores. A professora baixinha não demorou para entrar na sala, fazendo os alunos pararem de falar enquanto a professora dava início a segunda aula do dia.

Achei que o dia não podia ficar mais surpreendente, mas ficou quando notei Arthur Campbel - meu querido irmão mais velho -, vindo em minha direção, e se sentando no banco da bancada ao meu lado. Ele sorriu em minha direção se debruçando na bancada.

— Tem outros lugares vagos na sala — aponto, irônica. —, se você não notou — continuo com um sorriso debochado em sua direção.

— Ah, mas não vejo problema em me sentar ao lado da minha irmãzinha querida — Arthur se reencosta na bancada com aquele sorriso ridículo na cara. — Estava com saudades, lili? — reviro os olhos abrindo o caderno.

— Assim como sinto falta do meu bode.

— Você não tem um bode — anuo o encarando com um sorriso zombeteiro. — Engraçadinha — ele murmura quando enfim parece entender a piada. — Me conta o que a filhinha perfeita fez para o Carlos se desfazer de você? — até tentei ignorar, mas era muito orgulhosa para deixar o Arthur pensar que podia falar comigo daquela maneira.

— A decisão foi minha em vir pra cá — mentira, mas o mala sentado ao meu lado não precisa saber disso. — Precisava sair um pouco do Brasil e a idéia de vir para cá me veio a cabeça — e vamos de mais mentiras. — Esse lugar é até que bem agradável. Agora entendo porque você não deu chilique para voltar na primeira semana — digo, agora em voz baixa tentando não chamar a atenção da professora.

Arthur pareceu incomodado por alguns segundos, mas logo engoliu em seco e voltou a abrir aquele sorriso ridículo enquanto apoiava os cotovelos na mesa, apoiando o queixo em uma das mãos.

— Ainda não aprendeu a mentir, lili? — tenho vontade de empurrar ele do banco pelo apelido usado apenas pela Sam. — Você nunca foi muito boa nisso, não é mesmo? — resolvi deixá-lo falando sozinho.

Arthur ficou em silêncio, não falou mais nenhuma palavra, o que me deixou contente em não ter que lidar com as suas provocações ridículas.

Meu relacionamento com o Arthur sempre foi assim. Ele e eu somos muito orgulhosos para baixar a guarda, por isso as nossas provocações nunca chegam ao fim. Me lembro de quando ele arrancou a cabeça das minhas bonecas e as pendurou no ventilador de teto, nunca havia sentido tanta raiva como naquele dia. Minha vingança foi bem arquitetada, acho que é impossível esquecer a expressão hilária de Arthur quando troquei o shampoo dele por descolorante.

— Como eles estão? — Arthur pergunta me seguindo para fora da sala de biologia quando o segundo sinal tocou.

— Quem?

— A Samanta e o Carlos né, dãr — Arthur resmunga o óbvio.

— E você se importa? — questiono com uma risada cheia de ironia. — Você não aparece nem no natal. Carlos me contou que você rejeita todas as ligações dele — aponto andando em meio aos vários alunos que saiam das suas salas, enquanto Arthur continua me seguindo.

— Claro — balbucia com um revirar de olhos. —, desculpe não ser tão bom quanto a filhinha perfeitanão respondi, até porque Arthur não me deu chance de dizer nada, já que me deu as costas andando para fora do colégio em direção ao campus.

Seguro meu violino em mãos sentindo meu estômago embrulhar com as várias lembranças que ele me trazia. Tentei prender o ar por alguns segundos como se aquilo reprimisse a ansiedade e o medo que parecia me consumir por dentro. Engulo em seco fechando os olhos e ouvindo - no fundo do meu consciente -, a risada  da minha irmã ou dos meus gritos aterrorizantes no pior dia da minha vida.

Aperto os olhos com força, sentindo aquele mesmo vazio no peito, era como se eu estivesse sendo puxada para dentro do mesmo buraco negro que estive durante todos esses anos, presa e escondida em minha própria bolha.

— A professora Torres já está te esperando na sala de música, Liz — Addie comunica assim que entra no quarto. — Olha, não precisa se preocupar. A Louisa me contou que você não toca a muito tempo, mas tenho certeza que se sairá muito bem — abro um sorriso em sua direção.

— Obrigado, Addie.

Minha colega de quarto dá de ombros com um sorriso pequeno enquanto me preparo para ir até a sala de música.

— Addie, o Walter esta te esperando na biblioteca — Louisa conta assim que abre a porta do quarto com o celular em uma das mãos. — Ele disse que vocês tem assuntos a resolver. O que você está aprontando dessa vez?

Addie faz uma careta.

— Ué, não estou aprontando nada — encolhe os ombros. — A não ser que alguns amassos atrás da escola seja ilegal agora — tive que dar risada pelo tom zombeteiro dela, que não parecia se importar muito com o olhar reprovador de Louisa sobre ela.

— É de Jimmy Walter que estamos falando — diz com um revirar de olhos. — Ele e aquele grupinho idiota de amigos dele é problema na certa.

— Mana, relaxa! — Addie resmunga quando vê a raiva nos olhos da amiga. — Respira, inspira e não surta — pede se levantando da cama e guardando o celular na cintura da saia. — Ele não vai fazer nada contra mim. Eu sei me defender, e temos que concordar que o Walter não é muito parecido com os estupidos dos amigos dele. Só respira, está legal? — estreito os olhos notando que havia algo que elas não estavam me contando.

Louisa bufa parecendo frustrada, mas apenas assente passando por Addie vindo até mim.

— A professora Torres pediu pra mim te acompanhar até sala dela — diz, sorrindo. — Ela não confia muito na Addie, disse que ficou com medo dela ter desviado o caminho, como sempre faz — dou risada antes de pegar o meu violino em mãos junto ao arco.

Respiro fundo tentando me concentrar apenas em coisas boas. Não posso permitir que o passado me prenda para sempre.

— Estou pronta — digo, determinada.

Louisa sorri antes de me puxar pela mão para fora do quarto, acenamos para Addie que sorriu de volta, não parecendo nem um pouco preocupada com o tal garoto que estava esperando por ela na biblioteca.

Tomei a iniciativa de bater na porta da sala quando Louisa e eu paramos lado a lado em frente a sala de música. Uma mulher alta de cabelos ruivos foi quem abriu a porta com um sorriso amigável.

— Senhorita Morfhin — cumprimenta com um aceno de cabeça. — Senhorita Campbel — ela abre um pouco mais a porta nos dando passagem. — Seja muito bem-vinda. Sou Carmem, tenho certeza que logo serei sua professora de música, consigo reconhecer um grande destaque na música quando vejo um — com um gesto de mão ela nos chama para dentro da sala ventilada.

A sala de música estava vazia, chego à conclusão de que eu faria o teste antes da aula começar. Era um ambiente bastante agradável. As paredes eram pintadas de branco, assim como o piso. As cortinas eram beges, quase brancas. No canto da sala estavam os instrumentos, todos juntos e posicionados graciosamente, como peças de arte de algum museu.

— Bem, pedi para que você viesse mais cedo para poder te avaliar, pode ser? — assinto sentindo o ar mais pesado com o receio em voltar a tocar. — Ótimo! Senhorita Morfhin, pode ir para a sua aula agora, obrigado — Louisa acena na minha direção antes de sair da sala me deixando sozinha com a minha futura professora de música. — Hum — ela olha para o relógio em seu pulso. —, temos sete minutos antes do início da aula, você pode começar quando se sentir pronta.

Anuo caminhando para o outro lado da sala em uma espécie de palco, uma parte mais alta. Posiciono o violino tentando me manter concentrada enquanto minhas mãos trêmulas não ajudavam muito. Seguro o arco pensando no som em minha mente antes de reproduzir, assim como a minha Helena me instruiu quando eu era mais nova.

Começo a tocar.

Fecho os olhos tentando me concentrar na melodia, sem dar atenção para nada a minha volta. Me imagino em uma praia deserta em uma tarde de domingo. Penso em algodão doce, em risadas alegres e feições felizes. Aperto os olhos enquanto a melodia tomava o ambiente. Pude sentir a brisa fria e leve do mar. A sensação de estar tocando novamente – depois de todos esses anos –, era incrível, foi como se eu estivesse conectada com as notas novamente, como se voltasse a ser eu mesma depois de anos presa em uma gaiola criada pelos meus pensamentos torturantes.

Paro de tocar.

Solto o ar com calma antes de abrir os olhos e me surpreender ao notar as lágrimas em minha bochecha. Eu havia chorado enquanto tocava. Seco as lagrimas frias com uma das mãos antes de levantar o olhar para a senhorita Torres, mas não foi seu olhar admirado que me deixou surpresa, mas sim Ethan Collins parado na porta da sala com os olhos vidrados em mim com uma admiração surpreendente. Desvio o olhar me sentindo corar violentamente.

Droga.

— Uau... — a professora de música murmura com os olhos arregalados em minha direção. Peço baixinho para que aquele olhar ser um bom sinal.

Pigarreio segurando o violino junto ao arco em apenas uma mão. Pulo do pequeno palco da sala.

— Fui bem?

— Foi fantástica — engulo em seco quando escuto a voz de Ethan, que continuava próximo ao batente da porta.

— O senhor Collins tem razão — a professora aponta chamando a minha atenção. — Foi algo lindo de se ver e de se ouvir. Foi como se a música fizesse parte de você, isso é algo muito raro, senhorita Campbel — sorrio com um aceno de agradecimento.

— Campbel? — a voz de Ethan saiu baixa, ele parecia estar indagando a ele mesmo. — Anna Liz Campbel... — ele arregala os olhos olhando para um ponto indefinido da sala antes voltar a olhar para a professora como se eu não estivesse presente. Babaca. — Acabo de me lembrar que acabei esquecendo a minha palheta no meu quarto. Já volto. — Ethan recua alguns passos antes de sair da sala me deixando – novamente -, sozinha com a senhora Torres.

Agradeço mentalmente. Ainda estava irritada com ele, parecia estar fugindo de mim, como se todos os anos da nossa amizade não significasse nada para ele.

— Bom, seja bem vinda a aula de música, Liz — ela segura a minha mão que estava vaga com um olhar orgulhoso. — Estou muito feliz em ser eu a te guiar pelos caminhos da música.

— Obrigado, senhora Torres.

— Nada de senhora, querida — ela abana com uma das mãos. — Agora você é minha aluna e já te vejo como minha filha. Pode me chamar apenas de Carmem, é mais bonito e menos formal — anuo respirando fundo me sentindo orgulhosa de mim mesma.

Penso em como Susie e Carlos ficarão felizes.

Louisa e Addie insistiram em irmos até o campus do colégio no fim da tarde. Nos juntamos abaixo de uma árvore, conversando sobre coisas aleatórios e nos entupindo de doces.

— Ah, Liz — Louisa começa. —, estou tão feliz por você! Música é sempre uma boa escolha.

— A professora Carmem disse que eu me sai bem — conto mordendo um pedaço da torta de maça. ­— Ela parece ser uma pessoa legal e o espaço é bem agradável. Começo amanhã — revelo limpando os cantos da boca.

— Tenho vontade de seguir com algum instrumento, mas sou um verdadeiro desastre nessa área — Addie diz me fazendo rir. — Tirando o fato de que os alunos dessa aula são uma belezinha — ela se abana com uma das mãos.

— Soube que o Collins faz parte dessa aula — Louisa chama aminha atenção quando menciona o Ethan. — Ele não tem uma reputação muito boa por aqui — diz em tom de segredo, me deixando curiosa. — Ouvi dizer que ele só é muito mimado, mas algumas pessoas dizem que ele é ignorante e meio sem noção, só se importa com o próprio nariz — mordo a parte interna da minha bochecha não conseguindo identificar o Ethan que eu conheci com o mesmo que a minha colega de quarto estava falando.

— Sério? — questiono com uma careta quando o doce da torta começa a escorrer em uma das minhas mãos. — Ele me pareceu bem popular hoje mais cedo na primeira aula.

— Isso que é o mais sem noção — Louisa comenta baixinho não querendo chamar a atenção das garotas sentadas no gramado um pouco mais a frente. —, as pessoas vivem falando mal dele pelos cantos, mas falta lamber o chão por onde ele passa quando ele está por perto.

— Popularidade né, meu amor — Addie diz como se fosse o obvio. — Ethan Collins é um problema, mas um problema muito gostoso. Vocês já viram aquele tanquinho incrível quando ele está jogando? — dou risada enquanto Louisa revira os olhos sem conseguir conter o sorriso.

Noto que as garotas da frente escutaram, pois soltaram uma risada baixa, o que fez Addie rir ainda mais alto, sem se preocupar em parecer uma maluca.

Ficamos boa parte do início da noite no campus, apenas jogando conversa fora e rindo de piadas sem graça. O colégio estava calmo, não se parecia muito com o que eu esperava encontrar, fique feliz por ter me enganado, assim era mais fácil de suportar o resto do ano que vinha pela frente.

Mais tarde entrei em uma chamada de vídeo com a Susie. Ela chorou feito uma criança dizendo que sentia falta do meu mal humor matinal. Depois conversei com Carlos que pareceu estar feliz por mim estar fazendo parte das aulas de música. Samanta me disse que estava com saudades, e perguntou se eu já havia me encontrado com o Arthur. Samanta parecia realmente sentir falta do irmão mala, não a culpo, mas culpo o Arthur por ser um idiota.

— Vou ao banheiro — aviso prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo.

— Quer que eu vá com você? — Addie pergunta.

Nego.

— Acho que sei o caminho — alego, tanto pra ela quanto para mim mesma.

Os corredores estavam vazios, parecia que todos os alunos estavam aproveitando o começo da noite fria em baixo das cobertas tomando chocolate quente.

— Liz! — paro quando escuto meu nome ser chamado logo atrás de mim. Me viro devagar pedindo para que não fosse quem eu estava pensando, mas nunca tive muita sorte. Era ele. — Será que podemos conversar? — respiro fundo cruzando os braços e voltando a caminhar em direção ao banheiro acompanhada por Ethan.

— Não temos nada o que conversar.

— Seis anos de assuntos pendentes parece o bastante para mim — queria gritar com ele e dizer que a decisão em se afastar foi dele, não minha. — Eu entendo você estar zangada...

— Zangada? — indago com uma risada fria. — Eu estou furiosa! — revelo tentando não surtar apenas como fato de estarmos trocando mais de duas palavras depois de seis anos sem uma única notícia. — Prefiro continuar fingindo que não nos conhecemos.

— Porra Anna Liz! Me deixa falar! — ele passa na minha frente e agarra os meus braços me forçando a olhar para ele. — Eu não tive culpa... — murmura pesadamente enquanto eu só conseguia focar em suas mãos em contato com a minha pele.

Engulo em seco me afastando com brutalidade.

— Claro que não teve — devolvo com deboche.

Volto a caminhar, sem ser seguida dessa vez.

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