#PIMENTINHADECABINHO ☀️
Cheguei mais cedo do que esperado moreeeeees, gostaro?
leiam as notas finais!
Boa leitura (VOTEM E COMENTEM PLMMDS)
Caso tenha algum erro comente "‼️"
— Jimin, você já terminou de usar a secadora?
Eu estava sentado na cama estudando sobre "definições filosóficas da arte" quando ouvi Jisoo me gritar. Pois é, nem tudo são cores e flores e eu também tenho aulas teóricas chatérrimas.
— Sim, pode colocar suas roupas se quiser! — Murmurei alto o suficiente para que ela pudesse ouvir do outro cômodo, ainda concentrado no meu notebook.
Depois de uns cinco minutos, ela entrou no quarto com uma toalha enrolada no corpo e outra enrolada nos cabelos.
Eu não consegui não olhar para ela.
Mas não foi com interesse ou desejo algum. Eu tenho total certeza da minha homossexualidade, mas foi a primeira vez que eu vi pessoalmente uma mulher seminua na frente, e eu me senti... muito desconfortável.
Isso está totalmente errado. Tenho certeza que Jisoo jamais ficaria praticamente pelada na frente de um cara que ela conheceu a tão pouco tempo, sendo ele gay ou não — a não ser que ela fosse transar com ele — mas na nossa situação em específico, ela só está tão à vontade assim porque não sabe que eu sou homem.
Pisquei algumas vezes e preguei meus olhos na tela no notebook outra vez.
Isso Jimin, mantenha a sua atenção aí. Somente aí. Se ela não deu permissão para um homem presenciar ela desse jeito, respeite isso.
— E o Jungkook hoje mais cedo, hein? — Notei a presença dela se sentando na sua cama, paralela à minha.
— O que tem ele?
— Aish, Jimin! Não se faça de desentendida. Você sabe muito bem do que eu estou falando. E você pode confiar em mim pra conversar sobre esse tipo de coisa.
Suspirei me dando por vencido e fechei a tela do notebook, colocando ele em cima da mesinha de cabeceira em seguida. Me deitei, cruzei as mãos sobre o peito, e encarei o teto para não ter que olhar para ela.
— Não tem nada acontecendo entre mim e o Jungkook, e nem vai acontecer.
— Jura? Porque vocês pareciam muito íntimos naquele estúdio.
— Não era intimidade. É só que nós nos esbarramos mais uma três vezes depois daquela noite na calourada. Ele até me convidou pra sair.
Ouch!
Resmunguei quando senti um travesseiro me atingir com toda força.
— Você nem pra me contar, cachorra! — Ela riu e eu acabei rindo também.
— Não contei porque não tinha importância.
— Como não tinha importância? Já viu o quanto aquele garoto é lindo? E ele ainda tem uma fama considerável aqui dentro.
— Eu sei, mas isso não importa pra mim. Eu recusei o convite dele de qualquer forma.
— Por um lado eu não te julgo, mas o outro 'tá mandando você parar de ser doida. Ele é um sonho! — Ela suspirou.
— Sai você com ele então. — Eu ri e joguei o travesseiro nela de volta.
— Aish, não tem mais graça 'né. Ele já é seu.
— Meu? — Arqueei as sobrancelhas e gargalhei. — Ai meu Deus. Era só o que me faltava.
— É! Você sabe o que eu quero dizer com isso. Ele está afim é de você, então eu já vou me manter a quilômetros de distância.
— Ele não é meu, Jisoo.
— Não interessa! — Ela gargalhou também. — Tá no manual das amigas. E por mais que eu ache ele lindo, já nem tenho interesse mais. Mas me conta, por que não aceitou sair com ele?
Porque eu tenho um pau e ele está esperando uma buceta.
Não que mulheres não possam ter pênis. Mulheres trans, homens trans e pessoas não-binárias estão aí para provar que gênero não se resume a uma simples genitália, mas eu não diria que Jungkook aparenta ser o melhor tipo de exemplo de mente desconstruída a ponto de compreender isto. Além de que, eu me reconheço, incontestavelmente, como homem, e Jeon Jungkook é hétero.
— Porque eu não estou no mood de me envolver com ninguém agora. — O que não era uma mentira, de certa forma.
— Entendo... Eu estou brincando, implicando com você e tudo mais, mas talvez seja melhor mesmo.
Não consegui evitar e olhei para ela. — Como assim?
— Ah... é que o Jungkook é bonito, talentoso, simpático e desejado por todas, — ela ressaltou bem a conjunção aditiva "e" — mas ele é galinha. Na verdade ele deve ser galinha por causa de todas essas coisas que eu citei. — Ela ficou em silêncio por alguns segundos, e eu voltei a olhar para o teto, pensativo — Não, ele não é galinha, é cachorro. São dois termos completamente diferentes.
— O quê? — Eu ri da dela.
— Pelo que eu fiquei sabendo, ele não é de sair pegando todo mundo, o que seria a definição de galinha. Mas de todas as meninas que ele já ficou, ele nunca quis se envolver seriamente com nenhuma delas, pelo menos não dessa faculdade. Então ninguém sabe se ele já teve algo mais sério com alguém. E se teve, não contou. Ah, e parece que ele nunca saiu com a mesma menina mais de duas vezes, ou seja, ele é a definição perfeita de cachorro.
Eu encarei o fundo branco do teto por quase um minuto enquanto brincava com meus dedos cruzados sobre meu peito. Depois de refletir um pouco cheguei a uma conclusão:
— Bem, de qualquer forma, isso não faz diferença para mim. Eu nunca vou me envolver com ele mesmo.
Mais silêncio.
— Ninguém nunca se envolve com ele de verdade... — Ela disse depois de um tempo, e quando virei minha cabeça para olhá-la, ela estava na mesma posição que eu, deitada e encarando o teto.
— Foi o que você disse.
— Não. Eu não 'tô falando de garotas dessa vez.
— 'Tá falando do quê então?
— Agora que pensei melhor, ele é simpático, sim, conversa com todo mundo, mas os únicos amigos dele de verdade são aqueles dois lá. — Se referiu à Hoseok e Yoongi — Além deles acho que ele não tem nenhum outro amigo próximo, sabe? Ninguém daqui sabe onde ele mora, quem são os pais dele e essas coisas. É como se todo mundo soubesse que é ele, mas ao mesmo tempo não soubessem nada sobre ele.
— Ele só deve ser reservado. — concluí.
— É. Talvez... — Ela se levantou da cama de repente. — Já chega de falar da vida dos outros. Amanhã temos que acordar cedo e a gente precisa dormir.
Se levantou, caminhou até o armário dela e tirou primeiramente a toalha da cabeça. Depois levou a mão para a amarração da toalha que cobria o corpo e começou a desfazê-lo.
E eu me desesperei.
— Jisoo!
Praticamente berrei o nome dela e ela me encarou assustada. Mas pelo menos assim eu a impedi de ficar completamente nua na minha frente.
E agora, o que é que eu falo?
— Desculpa... hm... fui te chamar, mas acabou saindo mais alto do que eu planejei. — Sorri sem graça.
— E o que era?
— O que era o quê?
— Você me chamou, com certeza foi para falar alguma coisa, não?
Eu olhei pro chão. Olhei pra parede. Olhei pra cama. Abri a boca pra falar alguma coisa, mas nada saiu.
— Jimin... você é meio estranha às vezes. — Ela relaxou a expressão e sorriu por fim.
— Eu só me assustei porque o fluxo da minha menstruação está muito intenso. — Saí dali o mais rápido possível. Antes que ela pudesse tentar ficar pelada na minha frente de novo.
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Eu não sei por quanto tempo fiquei rodando igual uma barata tonta pelo prédio da música, mas deve ter sido quase meia hora. Eu queria aproveitar o horário livre que tinha depois do almoço para treinar em algum lugar tranquilo e longe dos olhares das pessoas — me sinto mais confortável ensaiando assim — mas não encontrei nenhum. Todos os auditórios ou estavam tendo aula, ou já estavam ocupados por alguém. Triste.
Desisti de ficar procurando e saí do prédio. Eu caminhei até o extenso gramado onde era comum os alunos passarem seus tempos livres conversando ou comendo, e fiz como a maioria deles: me sentei no chão mesmo.
Tirei o celular da mochila e respondi umas mensagens da minha mãe, depois engatei uma conversa com Taehyung no kakao. Eu prometi para ele que ainda o traria para conhecer a SNU.
Na primeira oportunidade que eu tiver, farei isso.
Eu estava super concentrado na troca de mensagens, até que apareceu um sorvete de casquinha bem na minha frente, me fazendo erguer os olhos para praticamente babar em cima dele.
Vocês não estão entendendo. Estava quase grudado na minha cara.
Eu levanto a cabeça e vejo que o sorvete está sendo suspenso por uma mão, que não pertence a ninguém mais ninguém menos que Jeon Jungkook.
Ele me encarou de um jeito divertido e ergueu uma das sobrancelhas, esperando que eu pegasse a casquinha.
— Isso é golpe baixo. — Declarei frustrado e me rendi, pegando o sorvete. Jungkook sorriu vitorioso e se sentou ao meu lado.
E eu lá sou louco de recusar? Ainda não vou sair com ele, mas, cara! Eu amo sorvete!
— Chocolate com cobertura de marshmallow e pedacinhos de nozes. — Também estava segurando um para ele.
— Você joga muito sujo, Jeon Jungkook... — Eu estava me rendendo a tentação de fechar os olhos para apreciar melhor a sensação do doce derretendo em minha língua junto com os pedacinhos de nozes crocantes estralando entre meus dentes — Mas ainda sim, não mudei de ideia sobre a sua proposta.
— Um homem nem sempre pode ter tudo o que quer. — Riu conformado e se ajeitou para ficar de frente para mim.
— Não mesmo.
— Finalmente conheci alguém que me supera no quesito "ser obcecado por doces".
— Como pode saber que eu sou obcecada por doces?
— Dois dias atrás, na máquina. Você comprou um pacotinho de S'mores com açúcar. Não sei se percebeu, mas quase todos os outros biscoitos já estavam quase no fim, menos esse. — Hm, observador ele... — As pessoas não gostam muito, a não ser que queiram ter uma overdose de glicose. — Não me segurei, tive que rir.
— Isso é verdade. — Pelo menos eu não preciso dividir, já que quase ninguém me pede por ele ser muito enjoativo — Mas você gosta...
— E agora você. — Ele me encarou e aos poucos eu fui parando de rir. Quando dei por mim, já estávamos nos encarando há quase um minuto.
Eu desviei o olhar para a grama, pressionei os lábios e raspei a garganta, um pouco sem graça.
— Sobre a dança, — engoli seco — sempre foi sua primeira opção?
Jungkook encerrou o contato visual comigo e fixou o olhar em ponto aleatório qualquer. Pude perceber que ele ficou desconfortável.
Eu acho que não deveria ter feito essa pergunta. Jisoo me avisou que ele nunca fala sobre sua vida pessoal.
— Não. — Respondeu depois de um tempo, e eu me dei por satisfeito com a resposta curta. Ele não parecia pretender falar mais do que isso, e eu também não ousaria perguntar.
— E pra você, foi? — Jungkook continuou.
— Sempre. — Abracei minhas pernas e apoiei o queixo sobre os joelhos enquanto sustentava um sorriso leve nos lábios. Eu não tinha problema algum para falar sobre a minha paixão pela dança, inclusive me sentia bem sobre o assunto. — Dançar foi a primeira coisa na qual eu tive totalmente certeza na minha vida. Antes mesmo do futuro, sexualidade, outros sonhos, a dança sempre esteve em primeiro lugar.
Jungkook de repente mudou o jeito que me olhava, como se ele estivesse me analisando e refletindo sobre algo. Depois de um tempo ele sorriu fraco.
— É muito bonito o jeito que fala sobre isso, dá pra ver pelo seu olhar a paixão que tem pelo que faz.
— Eu fico rindo feito uma boba, não fico? — Gargalhei soltando os braços das pernas para ajeitar minha mochila como travesseiro e me deitar na grama. Jungkook permaneceu sentado, ainda me analisando daquele jeito estranho — Já me disseram isso.
— Não tem nada de bobo nisso. Você só é transparente demais para conseguir esconder quando gosta muito de alguma coisa... Percebi isso pelo jeito que olhava para aquele sorvete. — Concluiu dando uma risadinha sacana.
— Assustador, 'né? Se ele fosse uma pessoa, certeza que teria corrido de mim.
— Se eu fosse aquele sorvete, a última coisa que eu faria era correr de você.
Okay.
Confesso que o Jungkook tem o dom de mexer com meu psicológico às vezes... só às vezes mesmo. Mas que culpa eu tenho? O olhar dele sobre o meu é muito intenso. E talvez, vergonhosamente, eu tenha corado um pouco.
Para de encarar.
Para de encarar.
Para de encarar.
Parei. — Eu ainda não te agradeci. — Raspei a garganta e finalmente quebrei o contato visual entre nós.
— Pelo quê?
— Pelo sorvete. — Olhei para ele outra vez e sorri de leve. — Obrigada.
— Você estava sentada nesse gramado tão concentrada no celular, fazendo um biquinho tão lindo, que não consegui resistir. A tentação de te ver com os lábios sujos de chocolate foi mais forte que eu.
— Meu Deus. — Sorri envergonhado tampando minha boca com as duas mãos. Se antes eu estava em dúvidas sobre ter corado, agora tinha certeza — Sinto muito se te decepcionei por não ter me sujado com chocolate. Já sou grandinha.
— Não me decepcionou. Você não estava vendo seus lábios, mas eu estava de olho neles o tempo inteiro... — Jungkook devia estar adorando o espetáculo dos vários tons de rosa e vermelho que estão variando no meu rosto. — Teve uma hora que sujou um pouquinho, mas aí você lambeu... não sei se te agradeço ou te condeno por isso.
— Jungkook... não começa.
Porra! Por que ele tinha que me encarar assim?
— Desculpa, prometo me controlar... — Ficou quase meio minuto em silêncio me olhando, mas não durou muito tempo — Só que antes eu preciso falar o quanto você fica linda com as bochechas rosas assim.
— Jungkook!
— 'Tá, parei.
Nós dois devemos ter ficado um bom tempo rindo enquanto olhávamos um para o outro.
Aos poucos ele foi parando de rir e seu rosto foi tomando aquela mesma expressão estranha de momentos antes.
— Posso te perguntar uma coisa? — Disse ele.
— Se não for me chamar para sair de novo, pode.
— Não, não é isso. — Houve silêncio por uns segundos — Você e a Jisoo... vocês têm alguma coisa?
— Alguma coisa? Que tipo de coisa? — Franzi o cenho.
— Quando me disse sobre sua paixão pela dança e que ela foi a primeira coisa na qual teve certeza na vida... você também disse algo sobre sua sexualidade.
Congelei.
— Não! Eu e Jisoo somos apenas amigas e colegas de quarto, só isso.
— Entendi. É que quando falou sobre isso você passou a ideia de ter tido algum tipo de incerteza ou descobrimento a respeito da sua sexualidade, então você...
— Não, Jungkook. Eu não sou... — Parei um pouco e franzi a testa. Se agora me passo por uma menina, eu deveria ser: — ... lésbica?
Céus, minha vida estava virando uma bagunça! Eu e essa minha mania de me meter em confusão sempre!
Jungkook balançou a cabeça em afirmativo.
— Não... Eu só disse aquilo porque eu... porque eu... — quando tenho a oportunidade de ficar quieto, eu insisto em abrir a boca pra foder tudo só mais um pouquinho. De qualquer forma, ele deve estar querendo uma explicação para eu sempre me recusar a sair com ele. Será que se eu dissesse que queria ir pra um convento ele acreditaria? — Eu... eu n-não-
— Você não gosta de caras?
Não, eu gosto muito de caras. Adoro chupar um pau e sou muito bom nisso, inclusive.
Mas eu só balancei a cabeça para cima e para baixo enquanto olhava para ele meio perdido e sem saber o que fazer.
— Sim? — ele perguntou.
Eu continuei balançando, mas ao poucos eu mudei a direção dos movimentos para a negação, balançando de um lado para o outro.
— Não?
Pisquei algumas vezes antes de concordar. — Não. Eu não gosto de nada.
Pronto.
A merda estava feita.
Mas o que eu poderia fazer? Eu não gosto de garotas, muito menos posso aceitar sair com qualquer cara aqui dentro. Pelo menos se ficarem sabendo disso, ninguém vai tentar chegar em mim mais.
— Você é assexual? — Ele perguntou com a expressão neutra.
— S-sim. — Tão errado.
Meu coração parecia que ia sair pela boca.
Merda! Só mentiras e mais mentiras! Não estou me sentindo bem com isso, não mesmo.
Mas quer saber? Que diferença isso faz? Minha vida já virou uma mentira mesmo. Estou mentindo para todo mundo que se tornou importante para mim aqui dentro.
Eu queria sair correndo agora.
Jungkook ainda me olhava com aquela expressão neutra, sua íris indo minimamente de um lado para o outro, analisando meu rosto.
— Entendi. — Ele engoliu seco. Parecia decepcionado.
— E-eu preciso ir embora. Já está anoitecendo e combinei de me encontrar com Jisoo agora. — Me sentei super constrangido e peguei minha mochila para me levantar de vez, antes de dar algumas batidinhas para tirar qualquer sujeira ou grama da minha roupa.
Jungkook me imitou e se levantou também.
— Bem, eu já vou indo então... Obrigada mais uma vez pelo sorvete.
Ele apenas sorriu fraco e não disse mais nada.
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No dia seguinte, como o de costume, eu e Jisoo nos levantamos bem cedo para enfrentarmos três horas de aula da professora Han. Hashtag é difícil ser eu, como dizia a famosa pensadora contemporânea Mia Colucci.
Durante toda a noite eu pensei várias vezes sobre a conversa que tive com Jungkook. Minha consciência martelava minha cabeça por causa de mais uma mentira e eu me sentia cada vez pior em relação à isso.
Queria tanto estar vivendo esse sonho e aproveitando toda essa oportunidade sendo apenas quem eu sou de verdade, sem toda essa mentira, sem toda essa falsidade... tudo estaria sendo tão diferente.
Pelo menos nessa aula eu espero me sentir melhor comigo mesmo. Quando danço é o único momento em que os problemas desaparecem para mim.
— Bom dia. — Professora Han nos cumprimentou, séria como sempre. Ela nunca sorria. — Não sei quanto ao conhecimento de todos vocês em relação a meus projetos e métodos de avaliação, mas quero abordá-los o quanto antes sobre esse tema, assim terão mais tempo para se prepararem. — Ela caminhava lentamente passando por cada fileira bem organizada de alunos com seus pés descalços, fazendo sua saia preta e longa voar sobre a legging grudada ao corpo. — No final do semestre, vocês irão se apresentar no auditório principal, a público aberto, e essa apresentação valerá cinquenta por cento da nota total. Como precisam de no mínimo sessenta por cento para passarem, creio que será impossível se não se dedicarem muito à essa apresentação. O tema que escolhi não será muito complexo, mas é melhor não blefarem comigo quanto à avaliação porque adianto que não vou pegar leve.
Tremi.
Eu e Jisoo nos entreolhamos disfarçadamente e vi que ela parecia tão desesperada quanto eu.
— Qual é a proposta então, senhorita Han?
— Eu ainda não concedi licença para perguntas. — Ela encarou o aluno que fez a pergunta com um olhar tão mortal, que mesmo não sendo para mim, me deu medo. — Vocês terão que deixar sua zona de conforto em dois aspectos: primeiro, quero que acrescentem outro estilo de dança à suas coreografias; segundo, vocês são bailarinos solos, portanto, eu quero um dueto.
Puta merda.
O queixo de praticamente todos os alunos caiu ao ouvir a última parte, inclusive o meu. Dá pra notar que quase todo mundo aqui não conhece quase nada que vá além do balé, e ainda tinha o dueto... Fodeu. Eu nunca fiz um dueto antes.
— Não se esqueçam do nome da matéria que vocês têm comigo, do que lhes ensino todos os dias. Estão aprendendo expressão corporal e facial, a arte de transmitir um diálogo, história e sentimentos através dos seus corpos, portanto, no dueto deve haver conexão entre ambos do par. Deve ser convincente. Transmitir um sentimento real e de forma original.
Já posso começar a chorar agora?
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— E agora? O que a gente vai fazer? — Bufei frustrado, apoiando os ombros na mesa do refeitório e segurando as bochechas entre as mãos. Tenho quase certeza que também 'tô fazendo biquinho.
— Eu já tive aulas de Jazz quando era mais nova, mas nada que seja bom o suficiente para esse trabalho. — Eu e Jisoo decidimos fazer o dueto juntos. A questão é que nenhum de nós dois tem conhecimento aprofundado sobre outros estilos.
— Por que não pedem ajuda às turmas dos outros estilos de dança? Eles podem monitorar vocês duas de alguma forma. — Namjoon hyung deu a ideia.
— Nós já pensamos nisso, mas por que eles nos ajudariam? Eles já têm suas próprias ocupações, com suas próprias apresentações, provas e trabalhos. Além do mais, eles não ganhariam nada com isso.
— Jimin, se eles te ajudarem como monitor, vão ganhar sim. — Senti uma pitadinha de esperança com essa fala do Jin hyung. — Vocês só precisariam avisar aos superiores do colegiado, aí a participação dele iria contar como atividade extracurricular. Já fiz isso com uns calouros uma vez e não me arrependo. Qualquer coisa que aumente a grade de disciplina é bem vindo.
Talvez seja mesmo uma boa ideia... Eu e Jisoo não temos muitas opções de qualquer forma.
— Jimin, isso é perfeito! — Ela olhou para mim empolgada e sorridente.
— 'Tá. Mas quem a gente poderia chamar? — Finalmente levantei a cabeça e me desencostei da mesa — Eu não conheço quase ninguém daqui ainda. Você pelo menos já tem alguma ideia?
— Não...
E lá se foi a empolgação dela.
— Eu poderia olhar com algumas pessoas que conheço da dança. Estou há mais tempo aqui do que vocês duas. Conheço mais gente.
— Você faria isso por nós, Namjoon oppa? — E os olhinhos dela brilharam novamente.
— Claro.
— Sabe o que seria interessante também? — Olhei para Jin e murmurei um "Hm?", esperando que ele terminasse. — Ao invés de fazerem o dueto juntas, vocês duas poderiam encontrar outro parceiro ou parceira de outra turma.
— Eu não descarto a ideia, mas se já vai ser difícil encontrar um monitor, imagina um parceiro? — Ser monitor exigiria algumas horas na semana de acompanhamento e tutoria, apenas. Mas um parceiro teria que tirar horas do seu dia para treinar pesado e se dedicar durante meses para, no final, ainda se apresentar para uma platéia enorme e ainda passar pelo julgamento de uma professora extremamente rígida e crítica. E tudo isso para contar apenas como atividade extracurricular? Só um louco aceitaria.
— Acho difícil. — Namjoon respondeu para o namorado. — Mas seria massa se elas conseguissem.
— Melhor eu e a Jimin fazermos isso sozinhas mesmo. — Eu concordei com a cabeça e pressionei os lábios — Nós vamos encontrar um monitor e vamos montar um dueto juntas. Vamos conseguir. — Sorri para ela e segurei suas mãos demonstrando apoio.
Nós tínhamos que conseguir. E eu não estou disposto a bombar nessa matéria. Não mesmo!
— Mudando totalmente de assunto, — a voz do hyung me fez soltar Jisoo e olhar para ele — amanhã é sábado e nós vamos voltar para casa. Então como uma comemoração pela nossa primeira semana juntos e pela nossa Jiminie que agora também faz parte do grupo, eu queria convidar as duas para irem ao nosso dormitório, meu e do Joonie hoje à noite. Vou preparar algumas coisas para comermos e assistirmos a algum filme depois.
— Primeira vez que vou provar a comida do hy... oppa! — foi por pouco — Nem sei se tenho roupa pra isso.
— Jiminie, se prepare pra comer a melhor comida que já provou na vida! — Jisoo bateu palminhas de empolgação.
— Deixa só a minha mãe ouvir isso. — Eu ri e todos na mesa riram também. — Senhora Park surta.
— Umas oito, hein? Não se atrasem para a gente aproveitar mais. Se vocês forem vistas perambulando no dormitório masculino depois das dez, vai dar um problemão. — Jin finalizou e nós dois concordamos.
— Jimin, já deu nossa hora. Vamos pra aula?
"Fisiologia Básica". Uma maravilha de aula teórica...
Quero fugir.
Eu assenti sem ânimo algum e nos despedimos de Jin e Namjoon.
Me levantei da mesa e apertei uma única alça da mochila nos ombros, e quando estava caminhando para fora do refeitório tive aquela sensação estranha de sentir o olhar de alguém sobre mim.
Quando olhei para o lado, vi aquele par de orbes negros me observando de longe. Jeon Jungkook estava sentado do outro lado do salão em uma mesa junto com Yoongi e Hoseok.
Eu sempre costumava trocar alguns olhares sutis com ele nesse horário, mas dessa vez tinha algo diferente. Não sei se era a culpa me consumindo por ter mentido daquela forma para ele ontem, ou se era o jeito dele de me olhar que estava diferente. E isso me incomodou.
Talvez ele tivesse perdido o interesse em mim agora que pensa que sou assexual.
Não deveria me incomodar, não é?
Era para eu estar aliviado por ter dado a ele uma razão para desistir de mim e nunca mais me procurar, mas alívio não era exatamente o que eu estava sentindo.
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Faltavam uns dez minutos para as oito quando eu e Jisoo deixamos nosso quarto para irmos até o dormitório masculino encontrar com Jin e Namjoon hyung.
Eu estava usando um vestido branco de florzinhas na cor vermelha, bem solto, e com um cinto fino trançado de couro marrom marcando a cintura. Do lado de fora, no gramado, estava tão fresco que às vezes eu sentia uma brisa entrando por baixo da abertura do vestido. Eu não curto cross-dressing¹, mas até que usar uma saia tem lá as suas vantagens. É muito refrescante e libertador a sensação do vento batendo nas suas bol...
— Jiminie?
— Hm?
— Aquele lá não é o Jungkook? — Jisoo parou de andar e indicou com o olhar.
Na sacada do terceiro andar do dormitório dos meninos, dava pra ver de longe uma figura com o rosto escondido atrás do que parecia ser uma pequena luneta sobre um tripé, mas aqueles cabelos meio bagunçados e as roupas pretas não deixavam dúvidas de que sim, era Jeon Jungkook.
—É ele... — Confirmei baixinho.
— Que bonitinho, jamais diria que ele pudesse gostar de astronomia.
Eu não disse nada e continuei o observando na pequena sacada de cercado branco e vidro. Ele parecia tão concentrado no que estava fazendo, levando os dedos para a regulagem do instrumento de vez em quando, e eu nem sei o porquê de eu ter ficado tão hipnotizado no que ele estava fazendo.
De repente ele parou de olhar pelo visor da luneta e percebeu a nossa presença. Nesse horário não tinha praticamente ninguém no gramado, e ver duas pessoas paradas, à noite, te encarando, parecendo suas assombrações não deve ser nada legal.
Pela pouca luz e a sombra de algumas árvores, ele deve ter demorado um pouco para notar que éramos eu e Jisoo, mas eu tive certeza do exato momento em que ele nos reconheceu. Foi quando ele pousou o olhar em mim e não tirou mais.
— Jimin, a gente 'tá parecendo duas psicopatas paradas aqui encarando ele. Vamos agir naturalmente e continuar andando. — Ela agarrou a minha mão e começou a me puxar igual tão desajeitada quanto um boneco de posto, como se isso fosse agir naturalmente.
Eu tentei ignorar a presença de Jungkook e abaixei a cabeça seguindo ela para dentro do prédio afora.
continua....
CROSS-DRESSING¹: Prática de se vestir e atuar de maneira tradicionalmente associada ao sexo oposto como um espetáculo.
O QUE ACHARAMMMM????
Primeiro eu e a sarah estamos MUITO agradecidas com o tanto de view que esse livro está tendo, queria agradecer uma garota que lê a fanfic e falou super bem dela no twitter também, @Chimmyllifluous você tem nosso coração! Obrigada pelo carinho e pela recomendação que você deu à suas amigas!
falando em twitter, VOCÊ JÁ SEGUIU JIMIN E JUNGKOOK NO TWITTER??? VOCÊ JÁ SEGUIRAM A AUTORA?
Jimin: eleocjimin
Jungkook: eleocjeon
Meu: _wastmeliss
Autora: sarahlolipop_
pergunta do dia né moreh: do que vocês tem medo?
link do grupo no zap lá na bio!!!
Até a próxima!
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