Escolhida para lutar

By gabsalgayer

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A ameaça está próxima. O rei feiticeiro de Thails pretende comandar todos os reinos do continente de Loxigan... More

Prólogo
Capítulo 1 - 𝑷𝒂𝒓𝒕𝒆 𝒖𝒎
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4 - 𝑷𝒂𝒓𝒕𝒆 𝒅𝒐𝒊𝒔
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7 - 𝑷𝒂𝒓𝒕𝒆 𝒕𝒓𝒆𝒔
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo

Capítulo 27

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By gabsalgayer

Quando abro os olhos a claridade me deixa cega. Fecho os olhos novamente e depois de alguns segundos retorno a abri-los.

-Vic? - ouço Ethan me chamar. Eu o sentia ao meu lado, segurando minha mão delicadamente, mas a voz dele parecia muito distante. - Você está bem? - ele pergunta e eu o encaro com os olhos ainda doloridos pela luz.

-Estou - respondo baixo. - Achei ter visto... alguém familiar - digo incerta e ele suspira.

-Suponho que achou ter me visto - o ouço.

Aquela voz. Aquela maldita voz. 

Direciono meu olhar para o outro lado do lugar onde eu estava, e lá estava ele, tão bonito quanto eu me lembrava. 

Cubro meu rosto com as mãos, apoiando meus cotovelos nos joelhos, não querendo o encarar.

-Podemos ficar a sós, Majestade? - ele pergunta e abro uma fresta na minha cortina de mãos para ver o que Ethan falaria, e como reagiria.

Mas ele apenas engoliu seco desconfortavelmente confuso e se levantou.

-Estarei na cozinha, jantando com minha família - Ethan avisa e sai fechando a porta azul de algum lugar do castelo onde eu nunca estivera, supus ser a enfermaria.

-Por onde esteve? - a voz dele soava mais gélida do que eu me lembrava. Ou ele só estava zangado.

-Importa? - sussurro e o ouço suspirar. Seus passos se aproximam e ele senta na poltrona em minha frente, descubro meu rosto e ele me avalia, mas não diz nada.

-Importa - ele responde. - Você me abandonou aqui, sozinho. Com ela

-É, abandonei. Mas que ela? - pergunto confusa e ele bufa com um humor falso.

-Vai fingir que não a conhece? Que não sabe dela? - o loiro fica de pé novamente demonstrando sua inquietação e esfrega o cabelo encaracolado, que diversas vezes eu mesma cortei.

-Do que você está falando, Adam? - pergunto ficando de pé também.

-Isso é baixo até para você! Onde esteve!? - ele esbraveja.

-Em Loxigan! Desde que me lembro, sua mãe berrou comigo e disse que você tinha um futuro brilhante se não fosse a mestiça. Ela me mandou embora, e eu fui - respondo no mesmo tom.

-Não - ele resmunga. - Minha mãe amava você como uma filha.

-Ah, é. Eu reparei - digo irônica. 

-Victória - ele prende meu olhar no seu. - Você anda falando com Carli?

Ah, pela Lua! Saia desse lugar de uma vez! - a ouço praguejar. 

-Por que? - rosno.

-O que você lembra daquele tempo? - Adam questiona com o cenho franzido, o mesmo desde que me lembrava, com as marcas de expressão apenas um pouco mais aparentes.

-De tudo, por que não lembraria? - pergunto de volta e ele resmunga algo que não entendi.

-Qual o nome do meu pai? - Adam pergunta desconfiado.

-Caleb - respondo rápido. - O que você tem? 

-Errado, é Calum - ele diz impaciente. - É bom ter um papo com a sua loba. Não é o tipo de coisa que a minha Vic esqueceria - Adam se joga na poltrona ainda com os olhos grudados em mim entupidos de mágoa.

Ignorei o pronome possessivo e chamei Carli.

Do que ele está falando? - pergunto e ela bufa, quase ouço ela revirar os olhos também.

Nada com nada, é um louco que não superou um fora.

-Não vai querer saber o que ela disse - falo e ele suspira.

-Não lembra de nada que tenha acontecido três dias antes de ter ido embora? - ele pergunta bravo, não sabia se era comigo, com Carli ou com ele mesmo.

-Será que dá para desembuchar? Eu quero ir para casa - resmungo e ele me encara.

-A cidade inteira lembra - Adam fala. - Eu não entendo.

-Vai mesmo ficar brincando de mistério? Qual é o problema, Adam!? - xingo e ele bufa coçando a nuca.

-Você deu a luz a nossa filha, Victória! - ele diz no mesmo tom, mas incrédulo, de certa forma.

Talvez eu saiba algo sobre isso... - Carli murmura.

Fale - exijo bufando e voltando a sentar.

Você deveria me agradecer. E nunca deveria tê-la deixado entrar nesse continente. Esse humano nojento só ia nos rebaixar cada vez mais! - ela se defende.

Fale, Carli - rosno novamente.

Era Lua cheia, não dava para ver mas eu sabia - Carli começa. - Você entrou em trabalho de parto mais cedo que o esperado. Estávamos com muita dor, você estava morrendo. Eu assumi o controle para fazer o trabalho de parto para você não morrer, seu corpo em forma humana não ia aguentar, mas o meu ia - ela conta. - Quando ela nasceu... eu entrei em pânico. Ela não nasceu na forma lupina, e eu sabia que seria um fardo ter não só um marido como uma filha humana! Então três dias depois eu assumi o controle novamente, você estava fraca demais para andar ou até mesmo para se manter acordada, e nos levei de volta até Malvon que concordou comigo me ajudando a plantar memórias falsas dos seus últimos dias com essas pessoas. E eu escondi essas memórias de você para que nunca soubesse dessa...desgraça e...

Cale a boca, já falou o suficiente - resmungo.

Apesar de não ter notado, eu começara a chorar. E chorava descontroladamente como eu nunca havia feito em frente à ninguém. Adam apenas me olhava, agora com um pouco de tranquilidade no olhar.

O encaro tentando encontrar palavras com o significado que eu queria mas nada parecia suficiente para tamanha dor que eu sentia.

-Ela escondeu isso de você, não é? - ele pergunta, parecia prestes a chorar também. Apenas assinto com a cabeça. - Sinto muito ter gritado com você, eu não tinha esse direito.

Faço exatamente o mesmo movimento de antes, então desvio o olhar cobrindo a boca com as costas do punho fechado.

-Eu preciso de um tempo - minha voz sai horrível. Rouca e esganiçada, como se eu tivesse gritado por horas. - Sozinha.

Adam assente e sai porta a fora sem dizer nada.

Me deito na cama macia encarando o teto com perguntas as quais eu não sabia se queria a resposta.

Uma filha.

Eu tenho uma filha.

Eu nunca quis filhos.

Como isso aconteceu? - quero dizer, eu sei como... - mas como?

Respiro fundo, uma...duas...três... várias vezes. Mas eu estranhei as coisas que passavam pela minha cabeça.

A Victória de um ano atrás estaria fazendo as malas para fugir de qualquer responsabilidade que poderia vir à tona. 

Mas os meus principais pensamentos e questionamentos só giravam em torno dessa criança: o que ela gosta de comer? Como passa o tempo? Com quem ela fica que não está com Adam? Ela tem alguém que chama de mãe?

Essa última de doeu tanto quanto pensar que eu perdi os primeiro passos, o primeiro sorriso, a primeira palavra e tudo que envolve "primeiro" na vida da minha primeira e única filha. 

Carli, espero que você saiba que não vai sair por um bom tempo... - resmungo, mas ela me ignora.

Antes que eu pudesse começar a pensar em mais coisas, alguém bate na porta.

-Eu quero ficar sozinha, se não seria pedir demais - resmungo alto o suficiente para que quem quer que seja, ouça.

-Vim ver se vai tomar café conosco - ouço a voz de Ethan, soou magoada e um pouco melosa, mas nada que eu pudesse realmente me importar no momento.

-Eu estou bem - digo confusa pelo fato de que passei a noite em claro. - Obrigada.

Pude ouvi-lo suspirar duas vezes antes de voltar a falar.

-Adam está aqui, ele quer conversar - Ethan avisa e pude ouvi-lo se afastar. Mas uma das sombras permaneceu no vão inferior da porta.

-Posso entrar? - ouço a voz familiarmente delicada.

-Tá - resmungo e a porta se abre, ele entra e a fecha novamente.

-Como está? - Adam pergunta me encarando com certa preocupação.

-Como estou? - pergunto de volta.

-Parece cansada. E parece a minha mãe nos primeiros meses da nossa filha - ele resmunga e eu viro o rosto para a parede tentando evitar qualquer lágrima.

Quando não respondi, ele prosseguiu:

-Suponho que queira conhecê-la. Ela quer muito - Adam diz.

-Ela já sabe falar coisas assim? - pergunto com medo da resposta.

-Ela grita todas as noites até dormir pedindo pela mãe. Eu tive apenas uma namorada depois de você, e ela nem chegava perto da moça - Adam suspira. - Me admiro que ela deixe minha mãe tocá-la. 

-Como está sua mãe? - pergunto.

-Gostou de saber que está na cidade - ele diz sentando na mesma poltrona de ontem e eu engulo seco. - Vai conhecer nossa filha, não vai? - Adam pergunta. - Você vai amá-la, ela é incrível...

-Eu não posso - resmungo sentindo um buraco negro que sugava o ar dos meus pulmões se abrir dentro de mim quando ele me encarou.

- O que? -  a voz de Adam falha.

-Eu... Adam, daqui um alguns dias eu vou lutar na arena contra o homem mais poderoso do meu continente - começo e posso ouvi-lo prender a respiração, como sempre faz antes de receber uma notícia da qual não tem certeza de que vá gostar. - Até a morte - finalizo e ele engasga.

-Não pode - Adam fica de pé. - Não pode fazer isso com ela.

-Não mesmo. Não posso ir até ela, mostrar que estou aqui e que a quero, e então um mês depois fazê-la lidar com o luto. Ela está melhor sem mim, Adam - digo e ele coça a nuca em sinal de nervosismo.

-Não - ele repete. - Ela estaria melhor com a mãe dela do lado dela. 

-Eu não posso fazer isso com ela...

-Faça por ela - Adam sussurra.

-Qual o nome dela? - pergunto tentando mudar de assunto.

-Lembra daquela noite... a nossa última noite antes de você engravidar? - ele pergunta e eu espremo os olhos. - Estávamos deitados no antigo galpão de peixaria do vovô, em um monte de pele de animal e feno, você brincava com os meus dedos enquanto nossas mãos estavam entrelaçadas - ele continua e eu me remexo na cama. - Eu perguntei que nome você daria para uma criança, se estivesse grávida - Adam me encara e solta um pequeno sorriso de canto. - Você simplesmente disse que não estava - ele diz e abaixa a cabeça rindo. - Eu insisti até que você me deu um nome...

- Heike - falamos em uníssono e ele sorri. - É um nome muito bonito - digo e ele concorda.

-Quando ela descobriu que foi você que escolheu, ela esbugalhou os olhos na minha direção quase implorando a história de como você era - Adam conta com o olhar distante.- Ela sempre foi apaixonada por histórias, principalmente as que envolviam a mãe dela.

- Quantos anos ela tem? 

-Quase três - ele responde e eu suspiro. - Ela faz aniversário em dois meses.

- Suponho que ela tenha Ahgnares no sobrenome - resmungo e ele assente.

-Ahgnares e Glaviros - Adam fala e eu ergo a cabeça para encará-lo. - Você sempre foi e sempre vai ser a mãe dela, precisam compartilhar o mesmo nome já que não vai se casar comigo - ele diz e por um momento pensei ver decepção em seus olhos, mas ela logo se foi.

-Ethan é o meu companheiro - digo baixinho.

Em um movimento rápido, Adam ficou de pé com a coluna ereta.

-O que está fazendo? - pergunto confusa.

-Se está com seu companheiro e ele é o rei, suponho que um dia virão a se casar, se casar com o rei automaticamente você se torna uma rainha...

-Adam - começo mas ele me interrompe.

-Eu lhe devo respeito, não estamos mais juntos e você está sujeita à realeza...

-Nós temos uma filha, e um passado - digo com os dentes cerrados. - Se fosse para começar com essa droga de regras de etiqueta já teria começado desde que nos conhecemos porque, caso não saiba, fui adotada pelos reis de Sargenis e fui nomeada princesa há quase cinco anos sendo a terceira na linha de sucessão ao trono - xingo e encaro seu rosto pálido.  

-Por que nunca me contou? - ele pergunta.

-Você iria me tratar diferente, e eu estava cansada da realeza - respondo e ele assente devagar voltando a sentar. 

-Cansada da realeza... - ele começa com um tom irônico. - Significa que não vai casar com ele? Não vai se tornar rainha? 

-Não significa nada. Eu perdoei ele, temos uma boa relação - digo, mas ele ainda me encarava com esperança no olhar.

 - Vai casar com ele, ou não? - Adam pergunta.

-Eu não sei nem se estarei viva até o mês que vem - respondo ríspida e ele endireita a coluna sentindo a frieza na frase como se eu o tivesse esfaqueado.

-Não foi o que eu perguntei - Adam suspira.

-Não tenho resposta para o que perguntou - respondo.

-Então tem uma possibilidade tanto de casar-se com ele quanto comigo? - ele pergunta e eu engasgo com ar.

-Está me pedindo em casamento? 

-É o que parece? - ele resmunga sarcasticamente e eu bufo.

-Não vou me casar - respondo e Adam bufa. - Não até que eu sinta necessidade. Eu tenho um bom título e não precisei me casar para isso, nem sequer ligo para títulos. E supondo que eu sobreviva à Thails, não vou precisar estar casada com você para ver minha filha, vou? - pergunto e Adam parece pensar.

-Se eu disser que sim você vai vê-la igual... - ele resmunga consigo mesmo e eu concordo. - E minha mãe com certeza vai ficar do seu lado, então obviamente você não precisa se  casar comigo para ver Heike.

-Quem é Heike? - Ethan fala depois de abrir a porta e entrar.

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