Destiny Choices

By Mariipporto

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Camila sempre foi uma mulher centrada e dedicada em seus sonhos e em seu crescimento profissional, motivo no... More

REINÍCIO
EU NUNCA
RAINHA DO JOGO
SINAL VERMELHO
APENAS FLASHBACKS
LOUCURA
NEGAÇÃO
LIGAÇÕES PERDIDAS
COVARDE
CONTROLE ILUSÓRIO
PONTOS
INESPERADAMENTE
COMPLETAMENTE LOUCA
PRIMEIRA VEZ
A CONVERSA
NÃO ME TOCA
JOGO DO QUARTO
FALTA DE SORTE OU DESTINO
EFEITO COLATERAL
MALDITAMENTE
CIÚMES
TRÉGUA
A VERDADE
ESCOLHA
NÃO FALA NADA
SUA
A VIAGEM
ME BEIJE PESADO
DESEJO INSANO
PARA AS ESTRELAS
LUZ DE VELAS
SURPRESA
PESADELO REAL
A INAUGURAÇÃO - PARTE I
A INAUGURAÇÃO - PARTE II
JULGAMENTOS
PREPARADA
REAPRENDER A VIVER
DESTINY CHOICES

PRECISAMOS CONVERSAR

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By Mariipporto

CAMILA

Estava ali, encarando meus próprios olhos através do espelho embaçado do banheiro depois de um longo banho quente, passando a mão em meu pescoço, arqueando levemente minha cabeça, pensando em como eu esconderia aquele hematoma vermelho ocasionando pelos chupões de Lauren da noite passada.

Logo depois do ocorrido, onde eu fui simplesmente deixada para trás depois de sentir, literalmente, na pele as consequências de meus atos, fui para o quarto que foi destinado a mim nessa viagem, fisicamente acabada e emocionalmente frustrada. Nunca havia pensado que minhas palavras e meus desejos encubados seriam usados contra mim daquela maneira.

Tudo o que Lauren fez foi extremamente calculado para me provar que aquilo tinha sido escolha minha. Eu apenas não esperava conhecer aquele seu lado, ainda mais depois de ser incentivada a acreditar em sua entrega física e emocional, assim como eu estava entregue a ela.

Tenho que assumir que sua atitude mexeu comigo da pior maneira possível.

Engoli, mais uma vez, o choro que tentava teimosamente subir por minha garganta, o prendendo abaixo do nó que estava entalado em mim. O segurei durante toda noite e não o deixaria cair agora.

Me iludi acreditando em suas inverdades feitas de aparências de que estava tudo certo entre nós. Deveria ter desconfiado de suas reações, já que ela estava agindo estranhamente bem demais comigo ainda mais depois de tudo o que havia a dito.

Ainda estava acordada quando Taylor chegou ontem à noite. A vi entrando no quarto de visitas a minha procura enquanto eu fingia estar em um sono pesado para não ter que a encarar. Não queria conversar com ninguém naquele momento, não me sentia capaz de abrir a boca sem fraquejar na decisão de não chorar.

Apesar de seus passos leves e sua voz baixa para não me acordar de meu sono mentiroso, pude ver minha melhor amiga caminhar até o quarto de Lauren para a perguntar sobre os medicamentos que eu fiquei responsável de a fazer tomar. Aparentemente e diferente do que eu estava tentando mostrar, ela ainda estava acordada, pois fui capaz de ouvir a sua voz mesmo de longe, o que fez o nó em minha garganta se fechar ainda mais e minhas mãos se apertarem no cobertor em que estava enrolada, pressionando o tecido contra meu rosto em uma tentativa falha de controle.

Não demorou muito para Taylor voltar, já que dormiríamos as duas no mesmo quarto, se arrumar, apagar as luzes e também ir dormir, deixando o silêncio reinar novamente naquele apartamento que hoje me parecia mais frio e vazio do que o normal.

Abri o zíper de minha nécessaire, procurando minha base de maquiagem afim de diminuir a vermelhidão exposta em meu pescoço, passando por cima dela o espesso liquido gelado que tem o mesmo tom de minha pele.

Olhei novamente para meus olhos no espelho, treinando minha feição, deixando-a mais dura e visivelmente equilibrada, para não permitir transparecer sentimento algum ao as encarar assim que sair desse cômodo. Eu precisava me manter nessa personagem apenas por mais algumas horas, já logo eu estaria voltando para o conforto de minha própria casa, onde eu tenho perfeito controle de mim e das coisas que eu sinto.

Talvez ter feito essa viagem, mesmo que rápida, tenha sido um equívoco.

Me certifiquei, mais uma vez, de que a marca de chupão em meu pescoço estava suficientemente escondida, tomando coragem e fôlego para sair do banheiro.

Havia levantado cedo, resultado de uma noite muito mal dormida. Não consegui desviar Lauren de meus pensamentos um segundo e no pouco tempo em que consegui pegar no sono, ela apareceu em meus sonhos para me perturbar.

Ninguém ainda havia acordado além de mim e eu aproveitei esse tempo para organizar minha mala, agachada defronte a ela, que estava em um canto do quarto, perto dos pés da cama em que Taylor dormia, afim de a deixar pronta para poder ir embora, silenciosamente.

- Parece que está com pressa de partir. – Minha melhor amiga balbuciou atrás de mim, com uma voz embargada de sono, sentada sobre o colchão.

- Que susto. Quer me matar? – Elevei minha mão a apoiando em meu peito, sentindo meu coração bater acelerado.

- Dormiu cedo ontem à noite. Senti falta de nossa conversa. – Engatinhou em minha direção, envolvendo meu pescoço em um abraço afável.

- Estava me sentindo bem cansada, fora que também havia bebido. Você sabe que sou fraca para isso. – Menti parcialmente, focando meus olhos e minha atenção em minha mala aberta, redobrando uma peça de roupa já arrumada para ter motivos para não a encarar.

- Vem baby Ca, vamos acordar a Lauren para tomarmos café. – Se levantou em um pulo, se desvencilhando de nosso abraço, me estendendo a mão para que eu a segurasse.

- Será que podemos fazer isso sozinhas hoje? Só eu e você? Melhores amigas? – Penetrei meu olhar no seu, tentando a coagir da maneira mais adorável que eu conseguia. – Deixe a Lauren dormir. Ela está em casa e sabe muito bem onde encontrar comida. – Fui seca em minhas palavras, dando de ombros.

- Tudo bem, mas só porque eu estou cansada de tentar aproximar vocês duas e de perguntar o que aconteceu de novo entre vocês. – Se fez de vencida, depois de alguns longos segundos me avaliando com um olhar crítico. – Termine de arrumar suas coisas. Irei preparando o café enquanto isso. - Respirei fundo, em completo alivio ao ver Taylor sair do quarto sem discutir sobre o meu pedido.

Demorei mais alguns minutos para recompor minha coragem, fechando minha mala depois de arrumada e me levantando para sair do quarto a procura de minha melhor amiga. A encontrei, ainda de pijamas, mas com sua higiene matinal visivelmente feita, na cozinha, preparando alguma coisa para comermos. Caminhei rapidamente em sua direção para a ajudar, parando ao seu lado.

Sem demorar muito, fizemos algumas torradas, suco de laranja natural e lavamos algumas frutas. Carregamos tudo até a mesa, conversando e rindo baixo para não perturbar o silêncio do apartamento, nos sentando nas cadeiras para comer.

Estava totalmente distraída quando senti meu corpo se congelar por um breve momento e um frio repentino fazer meu pelos se arrepiarem por antecipação ao a sentir chegar.

- Tomando café sem mim? – Sua voz rouca inundou meus ouvidos como uma torrencial tempestade.

Relutei a encarar, focando meu olhar em minhas próprias mãos que repousavam sobre a mesa, receosa por me deparar com sua feição vitoriosa, mas sua aproximação, parando ao meu lado, me fez levantar meus olhos até ela, a assistindo se curvar para dar um beijo no topo da cabeça de Taylor carinhosamente.

Diferente do que esperava ver, Lauren aparentava estar péssima, tanto quanto eu ou até mesmo pior. O claro extremo de sua pele acentuava suas olheiras que se viam de longe. Estava visivelmente esgotada, com uma feição séria.

Estava crente que a encontraria com seu sorriso sarcástico no rosto, com uma feição esplêndida, e a ver assim tão abatida me aperta o peito de uma maneira tão sufocadora que me faz preferir aguentar seu ego do que ter consciência de suas dores.

A ver assim só me prova que ela dormiu tão mal quanto eu e tudo o que aconteceu na noite passada entre nós não incomodou e machucou exclusivamente a mim.

- Nossa Lauren, foi atropelada enquanto dormia? – A dona dos olhos verdes bufou ao ouvir a brincadeira de Taylor, caminhando com dificuldade em direção ao armário para buscar uma xícara para si. – Está se sentindo bem? Está com dor? – Sua voz agora estava embargada de preocupação.

Nossa melhor amiga repousou o alimento de suas mãos rapidamente sobre o pequeno prato em sua frente, se levantando da mesa em visível aflição, arrastando a cadeira para trás, fazendo soar um barulho irritante, indo em direção a Lauren. A alcançou passando as costas de suas mãos por seu rosto, dando a entender que tentava avaliar sua temperatura corporal com o tato.

- Bom dia para você também. – Lauren arquejou, segurando os braços de Taylor, a impedindo de continuar a tocar. – Eu estou bem. Não se preocupe.

- Deve estar doente, porque além de estar com essa cara de derrota, levantou cedo em pleno domingo sem ninguém te acordar. – Taylor passou um dos braços em volta de seu corpo, afim de a dar apoio para andar ao notar sua dificuldade para tal. Ela aparentava estar com dor física em seus ferimentos.

- Bom dia, Camila. – Me cumprimentou ao se aproximar novamente da mesa, sem me olhar, enquanto se sentava em uma das cadeiras que a foi oferecida.

- Bom dia. – Retribui seu cumprimento da mesma maneira, sem olhares, porém um pouco mais ríspida.

- Eu preciso resolver algumas coisas hoje, então espero que me perdoe por não poder te acompanhar até o aeroporto. – Seus olhos se focavam em seus próprios movimentos ao se servir uma xicara de café.

Não conseguia ler sua feição, o que me deixava completamente confusa, mas eu já esperava por sua desculpa para evitar nossa aproximação por muito mais tempo. Talvez a noite passada tenha a afetado tanto quanto a mim ou talvez não, só o fez para me provar que eu estava errada.

- Onde você pensa que vai sozinha, Lauren? – Taylor bufou inquieta, se remexendo em sua cadeira, a encarando. Seu senso de proteção ficou muito mais aguçado do que o normal desde o acidente.

- Como eu sei que se despedir adequadamente de Camila é importante para você, não quis te lembrar que minha consulta de avaliação com o fisioterapeuta é hoje. – Respondeu calmamente a pergunta direcionada a ela, fitando, com a imensidão de seus olhos verdes em um tom mais claro, amigavelmente, a única pessoa naquela mesa além de mim. Ela ainda fazia questão de não me encarar.

- Meu Deus, eu esqueci completamente. – Nossa melhor amiga elevou suas duas mãos até sua cabeça, sobressaltada, com seus olhos arregalados.

- Está tudo bem. Ele é um médico particular e atende em casa. Nem vou precisar sair. Além disso, é só uma avaliação. – Se inclinou na direção de Taylor, apoiando sua mão sobre a dela, encostando suas cabeças e fechando seus olhos com o contato. – Você já tem feito tanto por mim. Nunca saberei como te agradecer. O mínimo que eu posso fazer é te liberar de passar um dia tedioso cuidando de minha pessoa para ficar com sua melhor amiga que te causa tantas saudades quando longe.

- Oh Lauren, você também é minha melhor amiga. – Elas se abraçavam ternamente e eu podia jurar que os olhos de Taylor estavam marejados. – E é maravilhosa as vezes, mas só as vezes. – Riram juntas. Até eu esbocei um sorriso de canto de boca.

Lauren puxou uma torrada do prato de Taylor, lhe lançando uma piscadela, assim que se desvencilharam, mordiscando o alimento e bebendo o resto do café em sua xícara. Afastou sua cadeira lentamente e com cuidado, negando ajuda, já se pondo de pé.

- Bom, vou ir arrumar algumas coisas que o médico me pediu e Camila... – Essa foi a única vez, desde ontem à noite, em que ela me olhou. – Boa viagem de volta. – Foi apenas o que me disse e antes que eu pudesse responder qualquer coisa, ela iniciou seu caminhar para se retirar.

Seu olhar me parecia tão perdido.

O verde de seus olhos estavam extremamente claros e eu podia jurar que, mesmo que ela, propositalmente, não tenha me dado tempo o suficiente para os avaliar bem, estavam um pouco vermelhos e inchados.

A vendo assim dessa maneira, ela me parece ser alguém extremamente frágil, que precisa ser cuidada, mesmo que não admita e faça de tudo para se mostrar inabalável o tempo inteiro, criando suas barreiras de proteção para se mostrar forte.

A acompanhei se afastar com o olhar, sentindo uma absurda vontade de a abraçar, mas mesmo que eu tentasse buscar essa coragem em mim, ela já havia batido a porta de seu quarto atrás de suas costas, diria até que com uma força desnecessária.

- Baby Ca? – Me despertei de meus pensamentos, me dispersando de meu foco ao ouvir Taylor me chamando. Virei em sua direção, encontrando seu olhar desconfiado e suas sobrancelhas arqueadas. – Você quer me contar alguma coisa?

- Eu? Não. Porque teria algo para te contar? – Quase gaguejei.

- Porque eu conheço ambas de vocês muito bem e fazia muito tempo que eu não via Lauren tão abalada, assim como você também está. Não adianta me esconder ou disfarçar, pois eu sei que, de alguma maneira, foi você quem causou isso a ela, seja lá o que você tenha a feito ou falado.

- Eu? – Tentei me fazer surpresa e desentendida.

- Camila, ela mal conseguiu te olhar e isso para alguém como ela, custa muito. E aliás, para que você está tentando fazer essa pose ridícula de superioridade perto dela? – Balançou sua cabeça negativamente, me repreendendo. – Você devia parar de negar seus sentimentos, porque se não, só vai se tornar mais uma pessoa tão amargurada que vive machucando os outros. Se é que já não se tornou uma. - Taylor se levantou de solavanco, me fitando seriamente irritada, com um olhar repressor.

Suas palavras me doeram como um tapa.

Meu olhos se encheram de água, mas não deixei as lágrimas caírem. As engoli, outra vez, perdendo as contas de quantas já foram minhas lutas contra elas desde ontem.

Permaneci ali, imóvel, sozinha, perdida em meus pensamentos, mantendo meus olhos desfocados sobre qualquer objeto insignificante a minha frente. Não sei quanto tempo se passou, talvez tempo demais, pois apenas voltei a me despertar quando ouvi a voz de minha melhor amiga, ainda retraída, voltar a preencher o ambiente.

- Camila, está na hora. Melhor irmos saindo. – Voltei meu olhar cabisbaixo para ela, apenas confirmando com a cabeça. Me levantei, me direcionando até o quarto para buscar minha bolsa, enquanto minha melhor amiga estava na sala, pegando as chaves do carro, já me esperando para sairmos.

Passei a alça grossa em meu ombro, saindo daquele cômodo. Me permiti encarar a direção em que Lauren se encontrava antes de ir embora dali. A porta de seu quarto estava aberta em um pequeno vão e eu, impulsivamente, me permiti chegar perto o suficiente para a olhar uma última vez.

Ela estava deitada, com os olhos fechados e pelo movimentar calmo de seu peito que subia e descia em uma respiração tranquila, deduzi que ela dormia. Ao lado de sua cama, ao chão, tinha uma mochila e alguns objetos que julgo ser para sua consulta de fisioterapia.

Em uma ideia precipitada e insana, voltei para o quarto de visitas, vasculhando meu olhar em direção à mesa de cabeceira onde me lembrava de ter visto uma agenda da Corporação Kordei no dia anterior. Tomei o objeto em minhas mãos, o abrindo cuidadosamente.

O logotipo da empresa estava desenhado em todas as páginas num papel amarelado. Arranquei uma das folhas, puxando a caneta que estava presa na lateral da mesma e escrevi as exatas palavras que eu queria que Lauren soubesse, mas ao mesmo tempo, relutante em a deixar saber de tudo isso, guardei este papel já escrito com um pequeno texto sincero, em meu bolso e arranquei uma nova folha em branco, onde eu apenas escrevi:

"Me desculpe."

Voltei a agarrar meus dedos na alça de minha mala e antes de ir embora, adentrei silenciosamente seu quarto e coloquei o pequeno papel em cima do móvel ao lado de sua cama.

* * *

Estava deitada toda torta, quase jogada, sobre o sofá de minha casa. Mesmo que tentasse, a todo custo, não conseguia realinhar meus sentimentos e os colocar em ordem. A única coisa que eu conseguia pensar era sobre como Lauren mexia com todos meus instintos, dos melhores até os piores deles.

PLAY NA MÚSICA – NO WAY – FIFTH HARMONY

Tudo o que aconteceu entre nós não passa de uma loucura mais do que insana e eu não posso me permitir sentir o mínimo que seja por ela, mesmo que isso me invada sem autorização alguma. Perto dela, me sinto à mercê de sua presença, de seu toque, até mesmo de seu cheiro que me inebria centímetro por centímetro. Perco o controle de minhas razões e a negar exige de mim muito mais do que posso suportar.

Me torno avassaladoramente fraca ao seu lado, de uma maneira inexplicável, que foge de todos os meus níveis de compreensão.

Deixei as lágrimas, que tanto segurei, finalmente caírem, queimando minha face em gotas que incineravam meu peito. A minha não resistência a ela me torna incapaz de a negar, mas mesmo assim, insisto em o fazer, machucando a mim mesma e a ela também.

Estávamos sendo apenas mais duas sofrendo os efeitos colaterais de desejos infundados e que não podem ser sucumbidos.

A melhor solução para tudo isso é apenas não nos encontrarmos mais, mesmo que minha alma escandalosamente grite para eu não ir adiante com essa ideia repleta de um desespero que não condiz com meus reais desejos, já que tudo em mim contava os minutos para a encontrar novamente.

Aspirei o ar pesadamente, repousando a mão sobre meu cenho franzido, apertando minha têmpora.

Preciso dissipar todo esse sentimento infindável, para isso, necessito me focar em outra pessoa, mesmo que tal atitude apenas sirva para os disfarçar, os esconder profundamente e me enganar de alguma maneira, tentando provar para mim mesma que aquilo, que ela, realmente não significam nada.

Preciso provar para mim mesma ou apenas me fazer acreditar que o fato de eu falar que não quero nada com ela, não é só da boca pra fora.

Deslizava as mãos por meu rosto, secando as lágrimas que ainda insistiam em cair, sentindo alguns soluços ficarem presos em minha garganta.

O visor de meu aparelho celular acesso, emitindo uma luz forte seguindo de um barulho audível da vibração do mesmo contra o vidro de minha mesa de centro, me fizeram prender o olhar no objeto.

Relutei em sentar, mas assim o fiz, com muito esforço, me esticando para o pegar em minhas mãos e acessar a notificação recebida após desbloquear a tela.

Mensagem de Lauren.

Meu coração parou de bater por uma fração de segundo, fazendo o ar se tornar escasso em meus pulmões.

"Acabei de encontrar um bilhete em meu quarto. Como eu sei que não é a letra de Taylor, acredito que seja seu."

Nada respondi, mas permaneci online com sua conversa, que sinalizava que Lauren ainda estava digitando mais alguma coisa, aberta.

"Quer tentar me explicar o motivo de suas desculpas?"

Meus dedos comicharam para a responder, mas aquelas não passaram de apenas mais meras mensagens que eu apenas visualizei, dessa vez, por saber que para a explicar o motivo daquele bilhete eu teria que assumir alguns sentimentos dos quais eu não estava pronta pra aceitar e nem ela estava pronta para os descobrir. Talvez nunca estaremos.

Segurava o celular com a tela apagada em minhas mãos, o apertando em minha palma, sentada encurvada, apoiando meus cotovelos sobre minhas coxas, cabisbaixa. Me assustei quando um o som estridente de toque soou vindo do objeto.

O nome de Shawn apareceu na tela.

- Alô? – Atendi mantendo minha voz firme.

- Cami, está em casa? Preciso da sua opinião em uma coisa. – Sua voz parecia alarmada e um pouco afastada, com ruídos, indicando que estava no viva-voz.

- Estou sim. Aconteceu algo?

- Estou dirigindo e próximo a sua casa. Chego ai em alguns minutos.

E foi exatamente o que aconteceu. Sem muita demora, seu carro estacionou em frente à minha casa e recebi uma mensagem sua avisando que havia chegado, me fazendo cruzar o quintal para o recepcionar, mesmo que ele e Dinah já tivessem a liberdade de entrarem ali sem a necessidade de eu ir os buscar no portão.

O abracei em cumprimento, o fazendo sinal para entrar, já franzindo meu cenho por observar sua feição seriamente confusa.

- O que houve? Não me assuste.

- Oh, não se preocupe achando que algo terrível aconteceu, é apenas que... – Se aproximou, segurando ambas de minhas mãos nas suas, parando de frente para mim. - A gerente de uma das principais lojas que a empresa onde trabalho abastece, me chamou para conversar hoje e me convidou para trabalhar como analista para eles. Um cargo bem acima do meu atual. – Fez silêncio por alguns segundos, apenas me olhando. Eu sabia que ele ainda não havia terminado de me contar o que precisava, então o incentivei a continuar. – Porém, terei que trabalhar com o carro integralmente, viajando o estado inteiro. O problema é que, provavelmente, terei que abrir mão da faculdade. – Sua feição se fechou completamente. – Tenho que escolher entre meus estudos ou minha chance de alcançar uma boa posição profissional.

- Você sabe que sair da faculdade é um grande passo, não sabe? – Me senti ligeiramente triste por avaliar a possibilidade de seu afastamento tão constante, e minha feição, já antes abatida, o permitiu perceber com transparência minha verdadeira opinião.

- Eu sei. Eles tem uma vaga para o mesmo serviço para regiões e viagens menos distante, mas eles apenas me querem para realizar as longas. Indiquei a Dinah para essa outra vaga.

- Dinah também vai sair da faculdade? – Retruquei quase em pânico, atropelando minhas próprias palavras.

- Não, calma. – Suas mãos se apertaram mais nas minhas e seus olhos receosos, avaliavam minhas reações. - Em viagens curtas ela consegue chegar a tempo para a aula, mas as minhas já não me permitem isso. Eu teria que sair.

- Shawn, essa é uma decisão muito importante e por saber, sinceramente, que sentirei sua falta, talvez eu não seja a melhor pessoa pra te aconselhar nisso. – Fui honesta, entortando meus lábios em um sorriso amarelo.

- Prometo que passo pra ver vocês sempre que eu puder. – Eram muitas coisas acontecendo simultaneamente, me deixando completamente sensível e eu não era mais capaz de não deixar transparecer em meu olhar o quanto aquilo estava a me afetar. Me sentia estranhamente abalável. - Ca, esse é o emprego dos meus sonhos. Estava estudando justamente para o alcançar e eu o consegui antes mesmo de me formar.

- Parece que sua decisão já está tomada. Pode não parecer, mas eu estou feliz por você, muito, só é difícil pensar na hipótese de não te ver todo dia já que isso virou um costume, uma rotina. – Acariciei sua mão afetuosamente com meu polegar, o demonstrando meu apoio.

- Pode não ser todos os dias, mas vamos nos encontrar constantemente. É uma promessa. – Sorriu fraternalmente enquanto encaixava seu abraço no meu.

Me encolhi em seus braços, apoiando minha cabeça contra seu peito, me sentindo acolhida em seu calor, diferente da maneira que estava antes de ele chegar e me socorrer de minha tormenta silenciosa. Ele me apertava em seus fortes braços, repousando seu queixo sobre o topo de minha cabeça, me abrigando ao me apertar cada vez mais contra seu corpo. Ficamos longos minutos envoltos, sendo separados apenas quando seu celular começou a vibrar em seu bolso.

Se desvencilhou de mim com apenas uma mão, ainda me segurando com a outra, se afastando o suficiente apenas para pegar o aparelho.

- É a Dinah. Está me mandando várias mensagens para dizer que conseguiu a vaga que a indiquei. – Se endireitou, me olhando nos olhos, apoiando suas mãos em meus ombros. – Escuta, esse emprego vai ser cansativo pra ela, muito. Vai precisar que alguém a apoie e a cuide. Vou ter que te dar essa missão já que eu não estarei perto o tempo todo. – Voltou a me abraçar assim que me viu assentir sem demora a seu pedido.

- Não precisa nem pedir. – Minha voz soou abafada contra em seu peito. – Dinah é uma irmã pra mim, então qualquer coisa na qual ela precisar, eu estarei aqui por ela. – Minha posição não me permitia o ver, mas eu sabia que ele sorria. Depositou um beijo de leve no topo de cabeça.

- Você é uma mulher maravilhosa, Camila. - Se afastou, repousando suas mãos em volta de meu rosto, o segurando, acariciando minhas maçãs com os polegares. Seus olhos, em um tom claro, penetravam os meus.

* * *

Ambos de meus amigos já haviam começado a trabalhar no novo serviço. Dinah me mandava mensagem quase o dia inteiro me enviando fotos, vídeos e áudios sobre os lugares e cidades em que ela passava, completamente empolgada com toda a sua nova rotina. Shawn fazia o mesmo, numa menor intensidade, pois passava grande parte do seu tempo dirigindo, já que viajava para cidades mais distantes.

Como Dinah ainda estava em mês de treinamento, realizava suas viagens com uma outra mulher, esta que já trabalhava na empresa antes dela, para a apresentar suas novas funções.

O único problema sobre esse assunto, que tem tirado meu juízo constantemente, é o fato de pensar em ambos na estrada o dia inteiro, dirigindo cansados. Isso me preocupava todos os dias e em todos os momentos por sempre existir a possibilidade de o sono e a exaustão serem mais forte e os levar a dormir ao volante.

Enfrentávamos a primeira semana sem Shawn na universidade. Não que eu estivesse com ele o tempo todo antes, pois éramos de turmas diferentes, mas estava sentindo falta de o encontrar no início das aulas, no intervalo e de também ir embora com ele, já que essa havia se tornado uma prática rotineira. Agora quem me dava carona para casa era Dinah, que passou a ir para a universidade todos os dias com seu carro, emendando o fim de seu horário apertado de serviço com o início das aulas, indo direto de um percurso ao outro.

Mesmo que ainda nos primeiros dias no novo trabalho, apesar de sua empolgação ao me contar e recontar todo seu itinerário, passei a notar Dinah aparentemente mais cansada e indisposta a estudar devido a sua exaustão, o que a levou a começar a dormir, involuntariamente, durante as aulas, cochilando nos momentos em que eram programados para estudar.

Conforme os dias foram passando, sua capacidade de conciliar o serviço com os estudos foram decaindo progressivamente. Preocupada e afim de tentar amenizar os danos, passei a estudar por horas dobradas no meu tempo livre, para poder achar maneiras facilitadas de entender a matéria e a ensinar depois, a explicando tudo sem complicações, para diminuir um pouco a carga pesada que era se encontrar em meio a uma nova matéria difícil. Tentava ao máximo encontrar soluções que não exigissem tanto dela.

- Dinah, como vai dirigir até sua casa se está dormindo ao volante e nem saímos do estacionamento ainda? – Meus olhos a observava cochilar com a cabeça apoiada no encosto do banco, lutando para manter os olhos abertos em pesadas pescadas. Não me preocupei em a repreender pois ela sabia que meu sermão era de preocupação, tentando a conscientizar de que ela precisava dormir melhor, descansando o suficiente, para poder dirigir durante dia seguinte inteiro. – Vem, eu dirijo. Pode ir dormindo até chegarmos na minha casa, depois a gente vê o que faz. – A puxei pelo braço cuidadosamente enquanto abria a porta do passageiro para saltar do veículo, a fazendo passar de um banco para o outro antes de eu a prender no cinto, voltar a fechar a porta e contornar o carro para tomar posse do volante.

A cada semáforo que parava, olhava para o lado para observá-la. Eu não podia a deixar ir embora nesse estado. A probabilidade de ela dormir ao dirigir a caminho de sua casa, que ficava 20 minutos de distância da minha, era muito alta.

- Amiga, chegamos na minha casa. Acorda. Você acha que vai conseguir dirigir? – O cuidado com seu bem estar e a preocupação que sentia por a ver dessa maneira, me inundava. Esperei por sua reação, mas ela nem se mexeu. Soltei meu cinto de segurança, soltando, lentamente, o dela também. Me curvei em sua direção, apoiando minhas mãos em seus ombros, a dando um leve chacoalho. Nada. Deslizei meus dedos em seu cabelo, os tirando de seu rosto, afetuosamente, a observando dormir pesadamente, o que me deixava mais aflita ainda, já me inquietando ao pensar sobre o dia seguinte por já ser tarde e ela não descansar devidamente antes de voltar a trabalhar.

Revirei um dos bolsos de minha mochila que estava no banco traseiro, me esticando pelo pequeno e único vão que me dava acesso a ele, buscando o controle do portão automático de minha garagem. Pressionei seu botão, o segurando entre meus dedos, esperando o grande metal se abrir para que eu pudesse adentrar com o carro de Dinah e o estacionar ali. Sai do mesmo silenciosamente, sem bater à porta com força para não a assustar, dando a volta para tentar a acordar o suficiente para a fazer andar.

- Hey, vem comigo. – Seus olhos se abriram vagamente ao me sentir passar uma de minhas mãos em volta de sua cintura para a segurar, sustentando seu peso em meu braço, a puxando para fora. A levei, com muita dificuldade, até meu quarto, cruzando os cômodos escuros, com pressa de a deitar. E assim o fiz, a ajudando se repousar sobre minha cama, a olhando se ajeitar entre o lençol, sem pestanejar.

- Mande uma mensagem pra sua mãe a avisando que vai dormir aqui, para que ela não se preocupe com o fato de você não chegar em casa. Te acordo quando eu for sair para trabalhar, assim dá tempo de você se arrumar antes de ir embora. – Pedi calmamente, em um tom tão baixo que pareceu quase não soar. - Quer comer alguma coisa? – Apenas balançou a cabeça negativamente, o suficiente para se mostrar consciente e ouvinte de minhas palavras. – Boa noite. – Sussurrei, me encurvando suavemente sobre ela. Passei novamente as mãos em seus cabelos, lhe dei um beijo na testa e deitei ao seu lado em lentidão para não a despertar. Puxei meu celular de meu bolso para não o quebrar, me esticando para o colocar sobre a mesa de cabeceira, assim como fiz com o dela, o pegando sem que ela percebesse.

- Obrigada por tudo. – Se remexeu, se aproximando um pouco mais do meu corpo, repousando sua mão sobre a minha, a segurando em busca de conforto. - Te amo amiga. – A apertei em resposta, já ouvindo sua respiração pesada em meio ao silêncio, que acusava o seu sono, antes mesmo que eu pudesse falar mais alguma coisa.

Me permiti fechar os olhos por um breve momento e quando o voltei os abrir, o visor de meu celular clareava o quarto escuro, vibrando enlouquecidamente sobre a madeira, emitindo um barulho incomodo.

Olhei rapidamente para o lado, notando que Dinah dormia profundamente, agora virada de costas para mim, me dando a ideia de que dormi muito mais tempo do que parecia. Me estiquei para alcançar o aparelho, apertando meus olhos contra a claridade que os invadiu diretamente, quase me cegando.

Havia diversas notificações de mensagens da mãe de Dinah perguntando se sabia onde ela estava, assim como várias ligações perdidas. A respondi rapidamente, imaginando sua grande preocupação e o sono que deve ter perdido por falta de notícias da filha. A pedi desculpas na mensagem em que a enviei, a dizendo que Dinah havia passado a noite em minha casa pois estava com muito sono e não tinha condições para dirigir e esqueceu de a avisar.

Repousei ambas de minhas mãos na cabeça, bagunçando meus próprios cabelos após largar meu celular no colchão ao meu lado. Estava quase na hora de levantar para trabalhar, mas ainda não me permitiria o fazer antecipadamente para não acordar minha amiga que dormia tão calma e que necessitava desse descanso.

Daria a ela e a mim mesma mais alguns minutos de paz antes de voltarmos para a realidade dessa loucura que chamamos de vida.

* * *

Batia meus pés incansavelmente no chão, ansiosa, sentada em minha cadeira de costume, olhando para a porta da sala de aula de maneira repetitiva, ao mesmo tempo em que intercalava meus olhos para o visor de meu celular, que não me mostrava nenhuma nova notificação. O professor já havia chego e eu encarava seus movimentos de arrumação com os materiais preparados, desejando o retardo dos mesmos, para conseguir tempo de fazer Dinah aparecer com a força dos meus pensamentos.

Desbloqueei a tela de meu aparelho, digitando uma mensagem rapidamente para a enviar.

"Amiga, onde você está?"

Meus olhos fixos naquele objeto faziam com que os segundos que ela demorou para responder demandassem bem mais do que a realidade.

"Ca, desculpe. Houve um problema inesperado e eu ainda estou presa no serviço. Queria poder ir, mas vou perder a aula de hoje. Nos vemos amanhã."

Suspirei decepcionada, antes de guardar o objeto que estava em minhas mãos, me ajeitar em meu assento e abrir meu caderno para tentar me focar na aula que já havia iniciado. Era sempre desanimador quando Dinah não comparecia, pois ela, agora também sem Shawn, era minha única companhia ali.

Pensar em meus amigos e no fato de eu me sentir sozinha sem eles, remeteu minha a memória a Taylor. Talvez eu esteja evitando um pouco minha melhor amiga, já que ela estava obviamente chateada comigo por eu ter deixado as coisas do jeito que deixei em minha última ida ao Rio de Janeiro, e mesmo que não houvesse sentido algum, pensar nela me fazia lembrar de Lauren e eu queria evitar isso, a todo custo.

Mas isso tudo é apenas insanidade. Preciso aprender a desassociar as duas, até porque, mais do que nunca, preciso de minha melhor amiga para me aconselhar e apoiar. Ela é a única pessoa na face da terra que sabe tudo sobre mim, inclusive o que já havia acontecido entre Lauren e eu e sendo esse fato uma das coisas que mais tem me atormentado nas últimas semanas, eu não pretendo contar para mais ninguém além dela.

Não pretendo e não contarei.

Lauren.

Seria loucura demais eu falar que penso nela todos os dias, mesmo que ainda permaneça dura e centrada em minha decisão de me afastar de tudo o que ela me fez sentir desde o dia em que nos conhecemos?

Insisti tanto em nossa não necessidade de conversar que ela pareceu, finalmente me entender, pois não me procurou mais depois de eu ter ignorado novamente suas mensagens.

Me desfiz de todos os pensamentos quando percebi que eu estava atrasada na cópia da matéria que já estava posta na lousa, quase cheia.

Como é possível uma única pessoa me levar para tão longe de mim mesma dessa maneira, indo contra a todas minhas, até então, percepções sobre minha própria vida?

Me forcei a me atentar na explicação do professor, este que não se demorou na mesma, liberando toda a turma alguns poucos minutos antes do horário oficial.

Meu celular começou a vibrar em cima da mesa, enquanto eu guardava meus matérias na mochila. Apenas alonguei meu pescoço para ler a notificação que havia acabado de chegar, exposta em sua tela iluminada.

Mensagem de Shawn.

"Dinah me falou que hoje não foi a aula, então resolvi vir te fazer um pouco de companhia. Estou com o carro estacionado no lugar de sempre, esperando para te levar para casa."

Não precisei o responder nada. Ele parecia saber que eu ainda estava ali e que eu não negaria sua presença. Passei apenas uma das alças de minha mochila pelo ombro, cruzando a universidade até a saída secundaria, que era o local que Shawn sempre costumava deixar seu carro. Não precisei de muito para o avistar encostado em seu veículo, de pernas e braços cruzados, olhando para o portão, à minha espera. Quando me viu, escancarou um sorriso largo, me fazendo, instantaneamente, acelerar meus passos em sua direção.

Me recepcionou de braços abertos ao me aproximar, me envolvendo em seu abraço acolhedor, de uma maneira que era exclusivamente dele. Abriu a porta do passageiro para que eu entrasse assim que se desvencilhou de mim, carinhosamente.

Fomos o caminho inteiro da faculdade até minha casa intercalando nossas conversas com a cantorias que preenchiam o ambiente, já que, como Dinah, agora eu também já tinha intimidade o suficiente com ele para mexer em seu aparelho de som, pulando de uma estação de rádio a outra para encontrar as músicas que me agradavam.

Nós tínhamos tanto para conversar devido esse tempo sem nos ver, que a conversa se perdurou mesmo ao termos chegado em nosso destino, nos fazendo perder a noção do tempo estacionados em frente à minha casa, empolgados em nosso assunto ainda sentados dentro do carro, de lado, cada um em seus respectivos bancos, afim de ficarmos frente a frente.

Fui trazida para minha consciência do tardar da noite, assim como o alertando sobre o quão rápido o tempo havia passado, quando em meu celular começou a chegar um torrencial de mensagens de Taylor que já estava preocupada com o meu sumiço, já que todos os dias eu a aviso assim que chego dentro de casa e hoje ainda não havia o feito.

- Vai Shawn, você precisa descansar para trabalhar amanhã, mas obrigada pela carona e principalmente, pela companhia. Tente não sumir por muito tempo. – Me inclinei em sua direção, depositando um beijo afetuoso em seu rosto em forma de despedida. Ele se ajeitou em seu banco, me segurando pelo braço assim que fiz menção de sair do carro, me puxando para um abraço. – Dirija sempre com cuidado. – Enrosquei meus dedos na maçaneta interna, abrindo a porta para sair, o olhando por cima do ombro a tempo de o ver sorrir para mim.

Me esperou destrancar o portão de me casa e entrar, para somente depois de se certificar que me deixava segura, ligar o motor e sair de onde estava estacionado. Assisti seu carro se afastar por uma pequena fresta.

Vai com Deus.

Taylor parecia estar descontrolada com o meu sumiço e não me deu o mínimo de tempo, nem mesmo para conseguir alcançar o primeiro cômodo de minha casa, antes de fazer meu celular começar a tocar escandalosamente.

- Já estou em casa amiga, esqueci de avisar. – Já a atendi me explicando para não levar uma bronca dela, prendendo o aparelho no ouvido com o meu ombro levantado, usando minhas mãos para destrancar a porta de entrada.

- Camila, vá checar suas mensagens. – Seu tom aparentava estar animado e eu a conheço o suficiente para saber que ela aprontava alguma coisa. Apenas desligou, sem me dar espaço para responder ou a questionar qualquer coisa.

Bati o dedo no interruptor da luz assim que adentrei, trazendo claridade para o ambiente, colocando meu molho de chaves em seu devido lugar e repousando minha mochila sobre o sofá, onde me sentei, focada em acessar meu aplicativo de conversas, em plena curiosidade, onde me deparei com várias mensagens de minha melhor amiga.

Logo na primeira delas, encontrei uma foto com a palavra "Surpresa" escrita na legenda. Abri a imagem que, até então, estava embaçada e não me permitia a reconhecer.

Um largo sorriso brotou em meu rosto, me preenchendo de entusiasmos quando meus olhos entenderam que aquelas eram a confirmação de suas passagens de avião já compradas, indicadas para a próxima quinzena.

Taylor virá para São Paulo me ver.

Me levantei exasperada, andando de um lado para o outro, inundada por uma animação irreprimível, tentando me controlar para ser capaz de retornar sua ligação e a dizer o quanto aquela surpresa havia me deixado feliz.

Encontrei o seu contato, mas não tão rápido quanto a nova notificação recebida.

Mensagem de Lauren.

Meu coração errou as batidas, me fazendo paralisar exatamente onde eu estava. Sentia a circulação fugir de meu rosto, me fazendo trêmula, pálida e gelada.

Desci a barra de notificação, tentando identificar o que ela me falava sem a necessidade de abrir sua conversa, mas como havia me enviado uma imagem, fui impossibilitada de descobrir o que era nessa minha prática de a burlar para que ela não visse meu desespero em saber, já que faziam apenas poucos segundos que havia me enviado tal mensagem. Fui guiada por meu misto de ansiedade e curiosidade, não me importando de parecer sedenta por aquele contato.

Abri sua conversa, me deparando com a mesma imagem que Taylor havia acabado de me enviar.

Lauren também tinha passagens aéreas com destino a São Paulo em seu nome, na mesma data e no mesmo voo que minha melhor amiga.

"Talvez pessoalmente você pare de me ignorar. Nos vemos daqui uma quinzena, Camz."

Me esperou visualizar e estar com sua conversa aberta para completar sua fala. Ela obviamente queria me provocar.

Repeti tanto para mim que nós não tínhamos nada para conversar, tentando me fazer firme, mas naquele momento, nada fazia sentido. Apenas uma mensagem sua, inesperada, anunciando nosso encontro em poucos dias, foi o suficiente para me desestruturar completamente.

Tomei fôlego e por alguns segundos de coragem, digitei, incapaz de pensar, de raciocinar e de levantar minhas barreiras tão abaláveis e fracas contra ela.

"Eu estou esperando vocês. Nós duas precisamos conversar."

Te vejo em breve.

Twitter: mariipporto

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