~ Amber ~
O resto da noite se resultou em: eu dormi no meu quarto assim como o Dener. Sebastian e Julie foram para os deles, e Max, Jéssica, Andy e Lúcia ficaram assistindo filme na sala com os colchões e cobertores. Pelo menos os quatro se divertiram no fim das contas.
O que mais me irrita nisso tudo são as manias em geral. Do Sebastian por achar que as coisas são do jeito dele. Do Dener por achar que conhece absolutamente todo mundo que cruza o seu caminho, o que fez toda essa merda começar. Não sei se eu sou um monstro, mas não senti a menor pena do Sebastian pela surra que levou.
Fala sério, ele forçou algo totalmente impossível nesse caso.
Foi a primeira vez? Acho que não. Tentaram evitar esse assunto, como se já tivessem visto isso - quase - acontecer antes.
Fiquei tão bêbada naquela noite ao ponto de perder essa história? Que merda.
Acordei sem a menor perspectiva de fazer algo hoje. Francamente eu só quero ficar no quarto e fingir que não existo depois de tudo que aconteceu nos últimos dias. Preciso mesmo fazer uma puta nota mental sobre os principais tópicos sem ter vontade de surtar.
Tirei o cobertor de cima do meu corpo e fechei os olhos, respirando fundo e tomando coragem para encarar o pessoal dessa casa. O rosto daqueles dois deve estar horrível.
Antes que eu pudesse começar a cogitar em sair da cama e do quarto, bateram na porta.
- Entra - Falei alto o suficiente para abrirem a mesma.
Lúcia apareceu na porta, junto com Jéssica ao seu lado. Elas me olharam com cautela, e após receberem um sorriso meu sem mostrar os dentes, elas sorriram de volta, vindo na minha direção.
Minha melhor amiga fechou a porta atrás de si, e eu observei as duas sentando ao meu lado na cama. Fiz a mesma coisa.
- Como você está depois dos seus dois amantes terem feito uma imitação de jogos mortais na sua frente? - Lúcia perguntou, recebendo um tapa fraco de Jéssica em seguida.
Ri negando com a cabeça.
- Dener não é meu amante - Ergui uma sobrancelha.
- Fala sério, você está pegando os dois - Minha melhor amiga sorriu em animação. - Eu sei que você acha o Sebas atraente e coisa e tal, só que, fala sério, é o Dener. Nem ouse comparar ou desmerecer ele.
Revirei os olhos, me lembrando da nossa discussão de ontem a noite após aquela briga ridícula dos dois.
- Eu e ele brigamos ontem
- Que novidade - Jéssica disse em ironia com cara de tédio. - Vocês são igual cão e gato. Quando não estão com a língua na garganta do outro, estão fazendo joguinhos ou se matando pelos cantos.
- Não tenho culpa dele ter uma personalidade irritante - Falei.
- Olha só quem fala, Amber. Você tem uma personalidade bem forte, e não apenas com qualidades, okay? Querendo ou não vocês se batem não se batendo. Isso é estranho e específico - Lúcia pareceu pensar. - Se vocês namorarem, pelo amor de Deus, vão para a terapia.
Peguei meu travesseiro e joguei na mesma. Essas garotas são absurdas quando se trata de imaginação. Parece que tiraram o dia apenas para implicar comigo.
Eu e Dener namorando em algum momento da vida. Piada isso.
- O Sebastian já está acordado, e a cara dele está detonada - A loira continuou falando. - O Dener fez um belo estrago ontem.
Por que não me surpreende?
- Ah, ele mereceu - Dei de ombros.
Jéssica ergueu uma sobrancelha na minha direção.
- Você falando isso?
- Sei que eu defendo algumas coisas do Sebas, mas esse foi o auge. Ele insinuou que o Dener tentou se aproveitar de mim
- Insinuou não. Amiga, ele afirmou - Minha melhor amiga disse, negando com a cabeça em seguida. - Foi ridículo ele ter feito isso de novo.
De novo.
- Ele já tinha feito antes? - Perguntei.
As duas se entreolharam por uns segundos, até Lúcia se ajeitar na cama e se virar pra mim.
- Quando você estava bem bêbada e tentou ficar com o Dener no banheiro, ou melhor, no chuveiro, ele se molhou todo. Estávamos vendo um filme na sala e quando ele apareceu todo encharcado ninguém entendeu nada, só que, ao mesmo tempo ninguém suspeitou de alguma coisa desse tipo
- A Lu subiu para te ajudar e o Sebastian foi cheio de si confrontar o Dener por você estar bêbada e no banho, além dele ter ficado todo molhado também. Sei que realmente é importante suspeitar e tentar entender, mas o Dener já tinha esclarecido tudo. Se o Sebastian tivesse tão preocupado, teria te perguntado no canto e não na frente de todo mundo igual fez da segunda vez, principalmente depois do Den já ter o ameaçado. - Jéssica disse, seguido de um suspiro. - Foi como se...
- ...Ele tivesse pedido por isso. - Completei, entendendo a história.
Não me passa pela cabeça que apanhar do Dener foi algo proposital, mas se ele já tinha uma grande noção do que ia acontecer, por que pagou para ver assim? Apesar de que, se Sebastian quisesse pagar apenas de vítima não teria acertado o garoto com a garrafa, principalmente no rosto, deixando totalmente visível.
Essa história ainda está bem incompleta e estranha. A questão é que Sebastian não tem mais quinze anos de idade. Já está mais do que na hora de aprender a agir como alguém responsável, e não só um adolescente facilmente manipulado e guiado por hormônios. Isso é totalmente ridículo da parte dele.
- E você Amber - Minha prima atraiu minha atenção, me tirando dos meus pensamentos. - Está bem com isso?
- Indiferente - Dei de ombros. - Claro que eu preferia algo diferente para nossa noite, sem tanta porrada, sangue, gritos e tals...
- Falando assim parece até um filme de terror macabro. - Jéssica sorriu.
- ...Só que, aconteceu, e eu estou de saco cheio de pensar sobre isso.
Respirei fundo, tentando expulsar meus pensamentos chatos e insistentes. Não quero mesmo criar teorias e pensar sobre isso de novo nesse momento.
- Vamos para a piscina? Quero esfriar a cabeça. - Falei. Elas assentiram e foram buscar seus biquínis.
Olhei para o meu celular, vendo que são quase duas da tarde, e eu nem mesmo almocei ainda.
Separei meu biquíni de ontem vendo o mesmo já seco e vesti, pondo um vestido florido por cima. Fiz um rabo de cavalo no cabelo e guardei metade das coisas que estavam espalhadas pelo meu quarto. Vamos embora amanhã e eu não tenho nem noção da hora que meu pai vai chegar.
Pelo menos assim não fica tudo para cima da hora.
Já pronta, passei no quarto das garotas e descemos juntas. Enquanto as duas foram direto para a piscina, passei na cozinha e comecei a comer um pedaço de bolo com refrigerante. Se for para morrer que pelo menos seja feliz.
Ouvi um barulho vindo da sala e preferi nem virar. Estou de costas para a porta da cozinha, e quando adentraram, pude sentir seu perfume que eu ia perfeitamente ignorar e fingir que nem é comigo. Dener foi até a geladeira e eu nem o olhei, apenas foquei no meu pedaço de bolo.
Senti seu olhar sobre mim umas duas vezes e na terceira vez, sua voz ecoou.
- Você vai mesmo me ignorar assim? - Encostou na pia com os braços cruzados, me encarando sério.
Pude notar ressentimento nos seus olhos.
Já com o prato vazio, levantei da cadeira e fui andando na direção do garoto que pareceu ter perdido um pouco a compostura. Ao me aproximar o suficiente, ficando cara a cara com ele, dei um último gole no meu refrigerante, com o olhar fixo nesse par de olhos azuis. Quando acabei, pus o copo e o prato na pia, lhe lançando uma última olhada antes de virar as costas e ir para a piscina.
(...)
- Para ser sincero, eu não sei o que fazer quando as aulas voltarem. Vai ser nosso último ano na escola. Espero que a gente consiga entrar em uma boa faculdade - Max disse, mostrando sua apreensão.
Fiquei dentro da água, apoiada com os braços sobre o colo do garoto. Jéssica está ao lado de Max também e Lúcia com apenas metade do corpo na piscina. O resto do pessoal está dentro da casa.
- Também espero. Mesmo que seja uma mediana - Falei. - Minhas notas não são tão boas, mas também não são as piores
- Amber, para você não é tão preocupante assim. Seus pais trabalham em ótimas empresas, e além de conseguirem te colocar lá, você ainda pode pagar uma faculdade.
Minha melhor amiga está mais do que certa. Não é como se eu dependesse totalmente de bolsa para garantir o meu futuro em geral, só que, eu realmente não quero depender dos meus pais para isso. Não sei nem o que cursar, mas caso eu pense em algo, que seja ao menos com o meu próprio esforço.
- Não quero depender dos meus pais. Não é porque eles podem fazer isso que eu não vou me esforçar. - Falei me sentindo determinada.
A verdade é que eu não tenho a menor ideia de como fazer isso. Não é apenas estudar, as universidades daqui também estão atrás de pessoas diferentes, excepcionais e inspiradoras. Para ser sincera, não tenho ideia de como começar a ser assim.
Na escola eu fiquei um ano e meio como líder de torcida e um semestre na aula de teatro até acabar as aulas. Agora que elas vão voltar, preciso achar algo que dure pelo menos um semestre inteiro, ou o ano todo. Pode parecer chato - principalmente sabendo que não tenho a menor ideia do que fazer - mas isso vai garantir uma boa vaga pra mim seja onde for.
- É uma boa você pensar assim - Lúcia disse colocando seu cabelo para trás após um mergulho. - Essa coisa do seus pais pagarem sua faculdade não vai ser legal. Sabe como eles vão ficar quanto à isso
Suspirei.
- Eu sei...
- Já tem uma noção do que fazer? - Max me perguntou. - Ainda temos um tempo para pensar, mas é sempre bom ter uma idéia em mente
- Acho que podemos falar disso uma outra outra. Vamos curtir nosso último dia aqui. - Minha melhor amiga disse após notar que estou realmente ficando desconfortável e apreensiva com o assunto.
Lhe lancei um olhar de agradecimento, recebendo um sorriso compreensivo em seguida.
Nesse instante, eu tirei os braços do colo de Max e me levantei. Avisei que ia ir na cozinha e depois de tirar o excesso de água da minha cintura para baixo, fui andando até a mesma de biquíni. Passei pela porta de vidro e quando estava prestes a entrar, ouvi duas vozes que me fizeram parar e ficar atrás da parede escutando.
-...Eu não quis fazer aquilo, Julie. Não sou mais um adolescente, porém, tem limite para tudo.
Julie e Dener.
- Você deixou o rosto do Sebastian irreconhecível! - Ela disse, soando irritada e magoada.
- Depois dele ter insinuado que eu me aproveitei da Amber o que você queria que eu fizesse? Não agi por conta própria, seu namorado praticamente me forçou a fazer isso.
Ouvi ela suspirando e passos, como se Dener tivesse chegando perto da mesma.
- Me desculpa por isso. Tomara que não aconteça de novo
- Não vai - Julie disse com confiança.
- Espero mesmo que não. Eu só prefiro que ele fique longe de mim o máximo possível. Pode fazer isso?
A garota ficou em silêncio por uns minutos e meu estômago revirou, junto com meus olhos.
Após uns segundos hesitando, ela pareceu ter concordado com a cabeça.
- Ótimo - Notei o sorriso em seu jeito de falar. - Obrigado.
- O que não ando fazendo por você, Den? - Julie também sorriu.
"Fazendo por você"
Estou perdendo alguma coisa?
- Me diz você - Dener riu. - O que não anda fazendo por mim?
Fechei o punho e franzi as sobrancelhas. Meu sangue ferveu.
Estou mesmo perdendo alguma coisa.
Tantas pessoas e justo ela...
Decidindo não ouvir mais nada, apenas virei as costas e voltei para o pessoal ainda na piscina. Coloquei um sorriso no rosto ao me aproximar, mesmo que essa seja a última coisa que quero mesmo fazer.
- Será que ainda tem alguma bebida alcoólica ai depois do Sebas ter quebrado o rum na cara do Dener? - Max perguntou.
- Você não presta. - Jéssica negou com a cabeça. - Como ele não rasgou o rosto?
- Pelo mesmo motivo que o Sebastian está vivo. Sorte - O garoto deu de ombros.
Eles se calaram após notar Dener se aproximando com uma das mãos no bolso de sua bermuda curta e rosa, com um óculos redondo e meio azulado nos olhos. Seu cabelo desgrenhado como sempre, e apenas com alguns cortes no rosto. Na mão direita, um copo grande de seja lá o que for.
- Den, ainda tem alguma bebida lá dentro? - Lúcia perguntou.
O garoto colocou o óculos na cabeça, revelando seus olhos bem azuis.
- Tem uma garrafa e meia lá. Se quiser eu posso pegar
Ela negou com a cabeça.
- Relaxa - Disse já ficando de pé. - Alguém mais quer?
Max, Jéssica e eu assentimos. Após a loira ir para a cozinha, minha melhor amiga soltou um suspiro e encarou Dener.
- Como está o seu rosto?
- Bem melhor que o do outro, isso eu garanto - Andy falou com um sorriso no rosto, parando ao lado de seu amigo. - Dormiram bem?
- Teria dormido melhor se todo mundo tivesse dormido junto na sala assistindo filme com a gente, né - Max disse com desgosto.
- Mas tirando a imitação de Karatê Kid de ontem, aconteceu mais alguma coisa? - Andy perguntou.
Os olhos de Dener rapidamente atingiram os meus, e ele ergueu uma sobrancelha. Virei o olhar, ignorando o seu completamente. Eu mereço isso?
No momento eu só quero ignorar a existência dele sem precisar desse trabalho todo. Estou tão cansada mentalmente que prefiro só aproveitar a piscina e os meus amigos. Ele que se cuide sozinho, ou com a Julie também. Pra mim, sinceramente tanto faz.
- Bom, eu vou entrando - Dener falou após dar um gole na sua bebida. - Quando vocês forem almoçar me chamem. Vou estar no quarto. - Disse por fim antes de virar as costas.
Sebastian apareceu no mesmo momento, na porta de vidro entre a sala e o quintal. Arregalei os olhos quando vi o seu rosto. Ele está com vários hematomas roxos, inclusive nas bochechas e no olho esquerdo. Sua boca está machucada e seu nariz bem inchado. O rostinho bonito dele foi totalmente para o ralo depois dessa briga. Meu Deus.
Dener não alterou a postura após ver o mesmo, ao contrário do outro que engoliu a seco, só que, não recuou. Dener passou ao seu lado e parou, dando outro gole na bebida e lhe encarando antes de voltar a andar, negando com a cabeça. Abaixei a mesma e mordi o lábio, evitando o constrangimento.
Que puta climão.
- Bem... - Jéssica forçou a garganta e deu um soco no braço de Andy que começou a rir com sua forma debochada de ser. - Alguém quer comer?
- Eu quero - Max ficou de pé ao lado dela e se virou pra mim. - Amber?
- Não, valeu. Estou bem - Dei um sorriso sem mostrar os dentes.
Os três saíram de perto, me deixando sozinha dentro da piscina. Encarei a água, sentindo meu estômago ficar com um nó. Estou mesmo enlouquecendo com essa merda toda.
Sebastian sentou na borda, chamando minha atenção. Olhei para o garoto sem mostrar qualquer tipo de emoção ou sentimento.
- O que foi? - Ergui uma sobrancelha.
- Podemos conversar?
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