Escolhida para lutar

By gabsalgayer

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A ameaça está próxima. O rei feiticeiro de Thails pretende comandar todos os reinos do continente de Loxigan... More

Prólogo
Capítulo 1 - 𝑷𝒂𝒓𝒕𝒆 𝒖𝒎
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4 - 𝑷𝒂𝒓𝒕𝒆 𝒅𝒐𝒊𝒔
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7 - 𝑷𝒂𝒓𝒕𝒆 𝒕𝒓𝒆𝒔
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo

Capítulo 24

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By gabsalgayer

Assim que fecho a porta do quarto depois de me despedir de Nadiel, senti a escuridão me envolver. Acendi uma das luzes e fui até o guarda roupa pegando uma camisola simples que ia até metade da coxa.

Antes de vestir o pijama, me encarei no espelho. Meu abdômen tinha dois cortes longos, um cortava minha barriga em forma vertical da esquerda para a direita começando na costela, fiz ela na minha primeira luta na arena, meu oponente usava uma alabarda. No primeiro momento que o vi com aquela arma pensei que ela era grande demais para ele, mas o garoto sabia como usá-la, tão bem que me cortou feio naquele dia. Meu oponente ganhou e eu quase apanhei do meu treinador quando nos encontramos no vestiário, pouco antes de ser levada às pressas até a enfermaria.

O outro corte tinha algumas falhas, mas começava na clavícula direita, ele continuou em uma linha torta e fina até o osso da cintura, tendo uma pequena falha que não abrangia meu peito. Eu recebera essa cicatriz quando tentara matar um alce grande demais com uma arma pequena demais, eu devia ter uns 12 anos. O animal fez a cicatriz de baixo para cima, e sinceramente, todos em Glaviros sabiam, ou achavam, que eu ia morrer.

No começo da minha coxa esquerda eu tinha uma cicatriz pequena, cerca de uns cinco centímetros, mas profunda. Era uma marca bem feia, por muito tempo eu me recusei a tirar a roupa em frente à qualquer pessoa só por causa dela. Foi em outra das minhas lutas na arena quando o meu oponente atravessou minha coxa com uma das adagas que ele usava.

Minhas pernas não tinham muitas cicatrizes, mas tinham. As mais antigas ficavam quase imperceptíveis perante às mais recentes, recebidas em Thails pelo chicote. A maioria eram alguns cortes falhos e finos distribuídos aleatoriamente, já que eu conseguira desviar de alguns golpes.

Ao pensar em me virar e avaliar minhas costas, me detive e vesti a camisola. Caminhei arrastadamente até o banheiro, escovei os dentes e fiz as outras necessidades. Ao ver meu cabelo médio no espelho novamente quase levei um susto... Eu demoraria para me acostumar com essa nova imagem.

Me joguei na cama pronta para cair no sono feito uma pedra. Mas então a voz preocupada de Nick soou em um sussurro em minha mente.

Tudo bem por aí?

Tudo, e aí? - respondo.

Seus irmãos querem saber as novidades...

Estou descobrindo elas ainda. Voltarei antes do prazo do rei para passar alguns dias com eles - digo.

Vou avisá-los. Então... Você encontrou ele?

Sabia que Nick se referia ao meu companheiro.

Encontrei - respondo.

Ash e eu decidimos esperar você voltar para eu rastrear a minha. Prometemos nos ajudar nesse quesito, lembra?

Sim. Agradeço por isso, Nick. Você pode tentar conversar com ela pela conexão de vocês. Vai antecipar e prepará-la para um possível encontro - sugiro.

Vou fazer isso. Talvez ela não seja tão brava quanto você, afinal - ouço sua risada.

Acho difícil - rio e suspiro. - Preciso dormir, pelo menos por algumas horas. Nos falamos.

Claro. Quando precisar conversar, ou quando estiver voltando... me avise. Estarei por aqui - ele diz.

Boa noite, Nick - respondo.

Boa noite, Victória.

Depois de sua despedida, os batimentos dele desaceleraram deixando claro que ele também estava na cama e me chamara antes de dormir.

Passei algumas horas me remexendo na cama sem conseguir pegar no sono. Até perder a paciência e me levantar. Ando pelo quarto à procura de algum livro ou algo para me desentediar.

Acordada? - Ouço Ethan suspirar pela conexão.

Não - respondo irônica e ele ri fracamente.

Tudo bem... - ele suspira entre uma risada. - Tem uma biblioteca à cinquenta passos do seu quarto indo pela direita. Ela é à prova de som, então não precisa andar na ponta do pé ao explorá-la, se quiser.

Depois de eu perceber que ele não falaria mais nada, saio do meu quarto e caminho lentamente contando cada passo, até parar em frente à uma porta de vidro com a gravura em prata escura: biblioteca.

Entro e fecho a porta atrás de mim avaliando a imensidão de prateleiras. Mas naquele momento não foram os livros que me chamaram a atenção... e sim o belo piano de cauda cinza cintilante moscando ali.

Sorri fraco para o nada e caminhei até ele. Só ao me sentar no banquinho que lembrei o quão curta minha camisola era... Ignorei esse fato ao lembrar que estava sozinha e era tarde da noite.

Passei os dedos silenciosamente pelas teclas antes de começar a ler uma partitura invisível da música favorita de Caste. Ele me ensinara a tocar depois que o pianista elfo que ele tinha morrera, dissera que eu deveria trabalhar mais duro para pagar todos mimos que ele me dava...

Ao contrário do que ele gostava, eu não era expressiva o suficiente ao tocar. Ele gostava de uma melodia forte, marcante, e eu adorava algo mais clássico e lento. Caste disse que quebraria dois dos meus dedos se eu não aprendesse a tocar do jeito que ele queria. Então eu aprendi, e não tive nenhum dedo cortado ou quebrado.

A música que eu tocava agora era quase pura brutalidade, meus ombros se moviam com as minhas mãos para acompanhá-las e meus olhos estavam fechados para ter certeza que eu tocava a letra corretamente. Embora Caste gostasse mais quando eu cantava junto ao piano - ele dizia que se completava perfeitamente com o piano - eu preferia manter minha voz separada dele não gostava de como ela saía encantadoramente fina. Caste nunca viu defeito nisso, mas eu via pois todos os oponentes das arenas costumavam gozar comigo dizendo o quão boa esposa eu seria um dia. Já que eram todos meninos, eles normalmente falavam coisas muito machistas, e na medida em que fomos crescendo as piadinhas evoluíam para algo sexista também.

A biblioteca cheirava à livros e era fria como no lado de fora, mas isso me fazia querer viver nela para sempre. Eu sempre gostara de ler, e do frio. Um daqueles chocolates quente de Nick cairia muito bem agora...

Senti estar sendo observada por um momento, mas ignorei isso também. Continuei a deslizar meus dedos habilidosos pelas teclas enquanto cantava mentalmente apenas para mim.

Quando a música favorita de Caste acabou, senti necessidade de tocar algo que eu gostava. Era uma música pop que Ashley ouvia no banho, ela me viciara naquela música e um tempo depois de ouvi-la diariamente, pesquisei como seria a versão dela no piano, li a partitura várias vezes para gravá-la... e então começo com a melodia lenta fluindo pelos meus dedos, me preparando psicologicamente para ouvir minha própria voz.

Mas alguém começou a cantar antes de mim. E James Arthur ficaria invejado com a voz que preenchia a biblioteca...

Não abro os olhos para saber que Ethan estava em pé próximo à mim, ponderando sentar-se ao meu lado.

Abri os olhos quando minha parte começou. E o encarei quando minha voz saiu cantando a parte de Anne-Marie. Ele se sentou ao meu lado ficando próximo o suficiente para nossos joelhos e ombros se tocarem. Ethan me encarava de uma forma completamente diferente das formas que ele costumava me olhar...

All I want is to fly with you

All I want is to fall with you

So just give me all of you

It feels impossible (it's not impossible)

Is it impossible?

Say that it's possible

And how do we rewrite the stars?

Say you were made to be mine

And nothing can keep us apart

'Cause you are the one I was meant to find

It's up to you, and it's up to me

No one could say what we get to be

And why don't we rewrite the stars?

Changing the world to be ours

Nossas vozes se entrelaçavam perfeitamente, por mais que ele houvesse dito que a biblioteca era à prova de som, pensei que toda Ahgnares pudesse nos ouvir.

Fecho os olhos ao cantar a última estrofe e sinto seu olhar ao deixar minhas mãos deslizarem para meu colo e abri-los novamente.

-Por que eu acho que isso nos descreve? - ele pergunta baixo sem me encarar.

-Talvez parte dela descreva - respondo e fico de pé dando a volta no banquinho. Ignorei seu olhar passeando pela camisola e caminho até a porta me detendo na mesma. - Boa noite, Ethan.

Seu maxilar trincou mas ele sorriu.

-Boa noite, Vic - ele diz e eu saio da biblioteca caminhando apressadamente até meu quarto.

Me jogo na cama me cobrindo até o queixo.

Ele não é tão ruim né? - Carli finalmente dá as caras.

Não importa, não sei se consigo perdoá-lo - digo.

Ah, bobinha. Você já o perdoou - ela diz e eu bufo.

Acho que não, então por que parece que vou chorar perto dele? - resmungo.

Porque você ainda foi rejeitada, e está perto dele. A dor intensifica - ela responde em um sussurro.

Durmo com diversas dúvidas em mente, mas a noite foi curta e sem sonhos.

𝔇𝔢 𝔪𝔞𝔫𝔥𝔞

Quando acordo, a primeira coisa que me vem à mente foi o que combinei com Déle: ela falaria com os meninos e se eles gostassem da ideia de me conhecer, eu iria até lá. Caso contrário eu iria embora no dia seguinte, amanhã.

Alguém bate na porta e logo a voz animada de Eve berra do lado de fora.

-Não precisa se cobrir, já vi tudo - ela diz entrando e eu rio saindo de baixo das cobertas.

-Não é como se eu fosse me cobrir - gargalho e ela faz careta rindo.

-Então.. eu passei pela biblioteca ontem - ela começa e eu faço careta. - O que rolou? Eu os ouvi cantar, tão fofos!

-Só cantamos - resmungo e vejo ela se jogar na cama.

-Pareceu bem mais que isso! Ele praticamente se declarou para você, garota! - ela diz e eu rio.

-Claro que não, foi só uma música - digo e ela se apoia nos cotovelos para me encarar.

-Pelas estrelas - ela bate a mão na testa. - Ele não canta desde a rejeição, se serve de consolo - Eve fala e eu resmungo algo que nem eu mesma entendi.

-Preciso de um banho - saio do assunto tão rápido quanto entro no banheiro.

-Argh! - vejo de esguelha ela se jogar na cama novamente.

Me dispo rapidamente por ter apenas duas peças - a camisola e a calcinha - e entro na banheira de água quente.

- O que vai vestir? - Eve pergunta entrando no banheiro segurando dois vestidos muito empetecados para o meu gosto. Notei que ela usava quase o mesmo estilo, mas ao invés das cores neutras que ela me oferecia, Eve usava cores muito vivas, como amarelo e rosa choque. Seu cabelo claro estava preso em um coque perfeito que realçava suas orelhas pontudas e as tatuagens na região do pescoço.

-Calças? - pergunto com uma careta e ela fecha a cara. - Por favor? - sorrio com medo dela explodir com tamanha indignação.

-Calças? - ela reforça com nojo e eu rio assentindo. - Tudo bem! - Eve responde relutante e sai do banheiro indo até o guarda roupa, que eu conseguia visualizar muito bem da banheira.

Saio me enrolando em uma toalha. Ao chegar no quarto vejo que ela escolheu uma calça de couro fosco preta, uma camisa vermelha de seda e um coturno também preto, bem parecido com os que eu costumava usar. Antes que eu me vestisse, Eve faz um penteado prendendo apenas parte do meu cabelo em um coquezinho bagunçado, minha franja cismou que não participaria dele e caiu no meu rosto, apenas bufei e comecei a colocar as roupas.

Me visto rapidamente e assim que termino de amarrar os cadarços alguém bate na porta, Eve corre animada para atender.

Ethan nos encarou com um sorriso quase maior que a cara, algo que me assustou ao primeiro olhar.

-Bom dia - ele diz adentrando o quarto, seu olhar encontra o meu e ele continua sem me deixar responder: - Adelaide disse que os meninos querem lhe conhecer o mais rápido possível - Ethan diz e espera minha reação.

-Bom dia, primeiramente - respondo e eles riem. - Isso significa sem café? - pergunto levando a mão à barriga que doía de fome.

-Não, você pode comer - Ethan gargalha e me oferece a mão que eu seguro, logo ele começa a me arrastar até o salão principal.

-Boa sorte - Eve berra enquanto ficava para trás.

Chegamos no salão e ele estava novamente vazio...

-Ninguém come aqui? - pergunto.

-O rei e a corte, mas ele anda realmente ocupado com os planejamentos do baile de hoje... - ele diz e eu arregalo os olhos batendo a mão na testa.

-O baile! Nossa, como pude esquecer? - Ethan ri da minha possível careta e puxa a cadeira no mesmo lugar de ontem para que eu sente.

-Muita coisa para pensar? - ele pergunta me olhando de soslaio e eu reviro os olhos o que o fez rir.

Um homem começou a me servir enquanto eu imaginava o gosto de cada coisa que estava na mesa, pela Lua o cheiro estava tão bom...

-Você sempre tem insônia? - Ethan pergunta enquanto bebia café.

-Só de vez em sempre - respondo e ele gargalha. - Só às vezes. E você?

-É bem normal que eu passe a noite em claro - ele ri e eu apenas sorrio fraco em sua direção.

Comemos em silêncio depois disso. Pela Lua, eu tinha que roubar a pessoa que cozinhou isso...

-Quem cozinha? - pergunto ao me recostar na cadeira.

-Minha mãe - ele ri e eu suspiro.

-Se ela sumir, eu a roubei - Ethan gargalha alto e eu acompanho.

-Ela bem que gostaria de ir embora - ele responde revirando os olhos. - Ela costuma reclamar que os empregados são lentos demais para ela - Ethan suspira ainda rindo. - E vocês duas têm um gênio forte...

-Isso poderia dar muito bom, ou muito ruim - rimos e ele concorda com a cabeça.

-Então... - Ethan começa. - Vamos?

Assinto com a cabeça e fico de pé. Ele me oferece o braço e eu aceito, assim saímos do castelo.

Ainda era noite. O céu ainda era escuro e cheio de estrelas.

-Foi a melhor ideia decorativa que eu já vi... - digo fascinada e Ethan concorda.

-Eu adoro esse céu. Olhar para ele todos os dias é tudo para mim - ele diz e eu suspiro sorrindo fraco.

Caminhamos em um silêncio familiar até a aldeia. E quando paramos em frente à casa, Ethan sai do meu lado e fica em minha frente para me encarar.

-Eles irão gostar de você. Só... seja a Vic - ele diz e eu rio fraco. - Não fica nervosa, eles também esperaram por isso a vida toda, de certa forma - Ethan ri e eu acompanho. - Vamos lá.

Ethan bate na porta e volta até o meu lado para esperar ela abrir.


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