Signore Peccato

By misskabral

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Ashley Jones é uma jovem sonhadora do pequeno estado de Wyoming, que é atormentada por fantasmas do passado... More

Benvenuto
BOOK TRAILER
Lista de personagens
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1 | A entrevista
Capítulo 2 | O 1° dia
Capítulo 3 | O elevador
Capítulo 4 | A carona
Capítulo 5 | O beijo
Capítulo 7 | O segundo encontro

Capítulo 6 | O jantar

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By misskabral

A noite passada foi turbulenta, e estranha. Os pesadelos que eu tenho todas as noites e que envolvem o meu pai, pela primeira vez em muito tempo não me atormentaram. Mas minha consciência está pesada. Eu beijei o meu chefe, e ele está em um relacionamento sério. Aonde eu fui me meter? É muito provável que a gente se esbarre pelos corredores da empresa, e minha vontade é de ficar trancada em casa até eu e ele nos esquecermos do que aconteceu ontem. Eu poderia usar a desculpa do "eu estava bêbada, e não sabia o que estava fazendo". Mas pelo contrário, eu sabia exatamente o que estava fazendo quando retribui aquele beijo, e o deixei me agarrar. Se tudo isso fosse em circunstâncias diferentes, eu imagino o quão feliz eu poderia ser. Mas então eu lembro do dia em que o mesmo homem que me disse coisas bonitas ontem, falou que estava apenas brincando comigo.

Na manhã de hoje, sábado, levei uma agressiva surra de lembranças da noite passada. Eu bebendo. Dançando. Comendo. Reclamando com a Megan. Entrando no carro com o Giaccomo. Gritando com o Giaccomo. Beijando o Giaccomo. E fugindo dele. Só consigo pensar no que será de mim agora. Depois de ter gritado com o dono da empresa, o que me resta é ser demitida de uma vez por todas.

Lembrei que minha moto ficou na garagem da Megan, e de tarde eu liguei para ela. Aproveitei para me desculpar por ter dado vexame, e reclamado com ela. Eu que nunca devia ter ido para aquela festa. Ela só queria se divertir com o namorado. Megan me buscou de carro na minha casa, e me levou até a casa dela. De lá, eu vim na Beth. Meggie se sentiu mal por mim, por eu ter ficado sozinha. Mas eu não falei nada sobre o que aconteceu depois que ela saiu.

Segunda feira, 23 de setembro.

Me arrumei cedo, como todos os dias, mas dessa vez com um semblante triste, e a cabeça com um turbilhão de pensamentos negativos. O que aconteceu com o Sorrentino, pode arruinar de vez todos os planos, e sonhos. Não posso perder esse emprego.

Por obra do destino, ao chegar no estacionamento para guardar a minha moto, Giaccomo estava saindo do carro dele, que fica na vaga de "CEO". Preciso ter coragem para ir lá me desculpar, mesmo que a culpa de eu ter gritado com ele, seja do mesmo.

Estacionei a Beth, e coloquei o capacete no retrovisor. O vi de longe, pegar uma pasta preta no banco do passageiro, e abrir a porta. Conferi se não havia mais ninguém e andei em passou largos, com determinação, para que a coragem não se vá.

— Senhor Sorrentino? — Chamei, ainda de longe. E a minha voz fez eco. Ele saiu do carro, e o travou.

— Sim?

Me aproximei.

— É... Eu... Gostaria de me desculpar pela forma que eu me comportei ontem. Me arrependo de tudo, e espero que o Senhor entenda que eu não estava bem, e esqueça o que aconteceu.

Giaccomo passou a mão nos cabelos, e umideceu os lábios.

— Não.

Fiquei surpresa.

— Como assim, "não"?

— Não. Eu não vou esquecer. Na verdade, eu não quero esquecer o que aconteceu. Porque eu gostei.

Meu olhos se arregalaram, e eu engoli em seco. Não sei o que dizer. Ele se aproximou de mim lentamente, e encostou a mão quente em meu rosto.

— Não se preocupe. Eu não vou demitir você por ter me dito a verdade. Eu gosto disso em você. Mesmo que estivesse bêbada na noite passada, tudo que disse que foi verdade. E o que eu disse também.

Toquei sua mão, ainda no meu rosto, e fui novamente hipnotizada por aqueles lindos olhos azuis. Devo mesmo acreditar nisso? Não! Não devo. Se eu acreditar, seria o mesmo que acreditar em conto de fadas. É impossível.

Tirei sua mão do meu rosto, e desviei o olhar.

— Por favor, pare com isso. Eu não estou gostando nada desse jogo.

— Mas não é um jogo.

Pôs a mão novamente em meu rosto, e meu corpo estremeceu com o contato.

— Por favor...

— Jante comigo. Amanhã.

Olhei-o com estranheza. Ele acha que eu serei uma amante, ou algo do tipo? Nunca!

— Não.

Tirei novamente sua mão, e me afastei.

Per favore. — Disse com desdém. — Por que não? O que te impede?

— A mim, nada. Mas você tem uma namorada.

— Ah, a Kristin? — Afirmei. — Nós terminamos. Na verdade, eu terminei. No dia do meu aniversário.

Surpresa com a revelação, lancei-o um olhar de dúvida, e ele continuou.

— Ela não gostava de mim. — Passou a mão novamente no cabelo. — Não que isso fosse um problema no início. Mas depois de um tempo, eu queria mais. Você me entende?

— Não. Eu não entendo. Se tem uma coisa que eu não entendo, é você.

— Você também é muito complicada.

— Eu sou complicada? — Perguntei espantada.

— Sim, você. Aquele dia no meu carro, quando eu te beijei, você retribuiu. — Senti minhas bochechas corarem. — Mas depois saiu correndo como uma louca. No elevador, disse uma das coisas mais excitantes que eu já ouvi na minha vida, e logo depois sumiu. Você é muito complicada.

— E... E o que você queria que eu fizesse, no dia do elevador? Te agarrasse? Você tinha namorada.

— E desde quando isso impediu duas pessoas que se atraem, de se beijarem?

Essa me pegou de surpresa, e as palavras sumiram da minha boca. O que ele quer que eu diga?

— Ok, Senhorita Jones. Já que você não tem interesse, eu preciso ir.

Giaccomo saiu, e me deixou ali parada. Encontrei fôlego e respirei fundo. Subi para a minha sala, e encontrei o Sr. Black na porta da mesma.

— Aconteceu alguma coisa, Senhorita Jones? Você nunca se atrasa.

Olhei o relógio no meu pulso, e vi que aquela conversa tomou 15 minutos do meu tempo.

— Ah, sim. Eu tive um problema, mas já resolvi. Eu acho! Me desculpe, isso não vai mais acontecer.

O Sr. Black engoliu a minha conversa sobre o atraso, e me desculpou. Logo depois passou 40 minutos comigo na minha sala, falando sobre alguns contratos, e me explicando sobre a nova plataforma em que vamos trabalhar. Ao terminar todo o trabalho, tive um tempo livre, então peguei livro A divina comédia de Dante. No mesmo instante, me lembrei de Giaccomo, e nas coisas que me falou. Será se era tudo verdade? Será se ele estava realmente disposto a me levar para jantar? Perguntas que só serão respondidas se eu tomar uma atitude.

Guardei o livro de volta na bolsa, e peguei meu celular. Busquei o último número desconhecido que me mandou mensagem, e abri a conversa. Minha curiosidade foi novamente atiçada ao reler a mensagem que ele me enviou aquela noite.

Agendei seu número como "Sr. Sorrentino", e me preparei para escrever uma mensagem. Pensei e repensei, até que escrevi:

Olá senhor Sorrentino. Eu gostaria de saber se o convite para o jantar ainda está de pé.

Ashley Jones.

08:03

Esperei por alguns minutos, e nada de resposta. É claro que ele não vai me responder na hora. Ele tem mais o que fazer. E nesse momento, deve estar me achando uma idiota. Larguei o celular em cima da mesa, e fiquei o encarando da cadeira.

Vibrou.

Fui ligeira até o celular e abri a notificação o mais rápido que pude. Logo o celular vibrou novamente. Mais uma mensagem dele. Meu coração acelerou, e senti todo o meu corpo estremecer.

Sr. Sorrentino: Esteja pronta amanhã, ás 21:00.

08:11

Senhor Sorrentino: E eu espero que tenha salvo o meu contato como Giaccomo. >:(

08:14

Sorri pela carinha brava que ele enviou, e ao ver o seu contato "Sr. Sorrentino", sorri novamente. Ok, Ashy. Amanhã você tem um encontro com Giaccomo Sorrentino. Nada demais!

Chegou o horário de almoço, e eu me sentei como de costume com a Linda, e a Megan.

— Desculpa novamente. — Megan se desculpou pela milésima vez, por ter me deixado sozinha na festa. Por mais que eu a dissesse que está tudo bem.

Até agora eu estava pensando se contaria ou não as meninas sobre o que aconteceu com Sorrentino Filho, mas eu decidi que devo contar. Se as considero realmente como minhas amigas, não posso esconder nada.

— Mas então, quem te levou para casa aquela noite? — Questionou Linda, e eu aproveitei a deixa perfeita para contar tudo.

— Giaccomo Sorrentino. E nós nos beijamos. — Soltei. E elas ficaram pasmas.

— O quê?

Confirmei a pergunta retórica da minha amiga.

— Desde quando você é "íntima" assim do nosso chefe? — Perguntou Megan, mais surpresa que Linda.

— Eu não sei. — Respondi.

— Eu sabia! — Gritou Linda. E ao ver a minha cara, ela repetiu mais baixo: — Eu sabia. Eu disse que ele estava afim de você, desde que me contou da carona.

Megan me olhou ainda mais surpresa.

— Que carona?

Contei tudo para elas. Desde o elevador, até os planos do jantar de amanhã. Passamos o horário do almoço inteiro falando sobre isso. Respondi cada pergunta, e a cada resposta, as meninas se surpreendiam. Elas também me alertaram para ter cuidado com o Giaccomo, pois ele tem a fama de galinha, e pode estar apenas brincando comigo. Ficarei atenta! Sei que é arriscado, mas eu preciso disso. Preciso me sentir viva novamente. Posso me arrepender depois? Com certeza. Mas o desejo de sair com ele e ouvir o que Giaccomo tem a me dizer, é maior do que tudo.

Não encontrei mais o Sorrentino na empresa, e Linda me disse que ele passou o dia ocupado resolvendo vários problemas muito importantes. Parece que estão tentando tirá-lo da presidência.

No caminho de volta, passei no mercado e fiz algumas compras. Também aproveitei para passar no banco e transferir o dinheiro que prometi para minha mãe. Chegando em casa depois de mais um dia cansativo, vi que Thom estava cochilando no sofá. Tive pena de acordá-lo, então o chamei apenas para comer, e o mandei ir dormir. Fiquei até tarde guardando as compras, e limpando a casa.

Hoje é terça. O dia do jantar.

Li e reli as mensagens curtas e diretas da conversa com o Sorrentino a noite toda, e ainda não acredito que vamos sair hoje. Me arrumei para o trabalho como de costume, mas dessa vez eu senti uma enorme necessidade de estar bem arrumada. Tomei um banho demorado, e passei um hidratante delicioso que comprei quando cheguei aqui. Peguei minha saia preta no armário, e me arrependi por não ter a levado ainda para concertar. Vesti minha melhor calça jeans, que fica justa e confortável na medida certa, além de que realça as minhas curvas. Minhas bochechas ardem só de pensar nas minhas intenções impróprias.

Vesti uma blusa bege de mangas compridas, pois o dia está um pouco frio, e completei com as sapatilhas de sempre. Cobri as olheiras e algumas manchinhas com corretivo, e passei um gloss que realça os meus lábios. Sinto borboletas no meu estômago ao pensar se Giaccomo me achará bonita. Mas acima de tudo, o importante é que eu gosto do que vejo.

Chegando na empresa, passei 10 minutos conversando com Linda na recepção. Ela me contou que não dormiu nada com o filhinho mais novo doente. Disse a ela que entendo bem o que é, pois eu passei maus bocados sozinha com o Thom doente. Fico feliz por ela ter um companheiro nesses momentos.

Também contei sobre o encontro, e Linda foi a loucura. Ela me xingou, por eu não ter aceitado logo de primeira, mas voltou a me lembrar de ficar atenta com o Giaccomo. Ele pode não ser confiável.

Sentada na minha sala, lutando contra a nova plataforma online da empresa, vi o Sorrentino passar pelo corredor, ao lado do amigo, Dr. Collins. Ele olhou de lado e piscou para mim. Senti um calor entre as minhas pernas, e soltei um suspiro. Como pode alguém mexer tanto comigo?

Passado o dia, voltei para casa, mais ansiosa do que nunca, e me questionando se é errado eu estar feliz por ter um encontro com um cara que acabou de terminar um relacionamento.

— Chegueei! — Gritei ao fechar a porta da entrada.

Olhei pela sala e cozinha, e estranhei por não ver Thom assistindo o programa preferido dele. Coloquei o capacete e a bolsa no quarto.

— Thomas? — Chamei no banheiro, e nada.

Vi a porta do seu quarto entreaberta, e entrei devagar. Ele está no telefone.

— Tudo bem. Sexta às 16:00h. Até mais, Evie.

— Te chamei várias vezes. Achei que tivesse sido sequestrado. — Deitei em sua cama, e joguei as sapatilhas longe.

— Essas coisas só acontecem com ricos, Ashy. E eu estava falando com a Evie. A garota que te falei outro dia.

— Ah, sim. Chamou ela para cá? Eu posso fazer o pavê da mamãe, e te envergonhar fazendo aquela piada do "pavê ou pra comer?".

— Na verdade, ela que me chamou para sair. — Não consegui conter o sorriso de felicidade. Essa Evie parece gostar muito do Thom. E eu fico feliz por ele ter uma amiga.

— E então, vocês vão para onde? — Perguntei, curiosa.

— Sexta vai passar um novo filme de zumbis do George Ramsey, naquele cinema perto da Biblioteca Central, às 18:00h. Então nós pensamos em passar na sorveteria antes, e tomar um sorvete.

— Que ótimo. Depois me lembra de te dar o dinheiro.

— Tá tudo bem mesmo pra você, Ashy? Eu sei que a gente não tem muito dinheiro sobrando, pra gastar com futilidades. Se quiser eu desmarco com a Evie.

— Não, não, não. De jeito nenhum. Sua diversão não é futilidade. — Segurei sua mão. — E não precisa se preocupar com nossas finanças, porque eu vou cuidar disso, tá bom?

— Obrigada. — Sorriu.

O sorriso no rosto de Thom é tudo o que eu preciso nesse momento.

Pensei muito se devia ou não contar ao meu irmão com que eu vou sair hoje, e resolvi que por enquanto não vou dizer que é o Giaccomo, o meu chefe. Não quero que Thomas crie esperanças ou se apegue demais e depois se decepcione, como foi com o Nick.

— Está linda. — Comentou Thom ao entrar no banheiro, enquanto eu seco o cabelo com o meu mini secador.

Sorri.

— Você pode comer aquelas almondegas com arroz.

— Tudo bem, eu faço um sanduíche com geleia.

— Não. Come as almondegas com o arroz. É mais nutritivo que pão e geleia.

— Desliguei o secador.

— Tá bom, Ashy. Mas acho melhor você correr, porque já são 20:40h.

Arregalei os olhos assustada, e corri para o quarto. Coloquei um colar que ganhei de presente do Nick, no último Natal, e os brincos dourados da minha mãe. Calcei a sandália de salto preta, e encarei a minha imagem no espelho. O tecido do vestido preto e justo contorna perfeitamente as minhas curvas, e junto com a sandália de salto, me fez sentir uma mulher. Uma mulher linda e sexy.

Uma mensagem me tirou a atenção do espelho. É ele. E eu logo respondi:

Sr. Sorrentino: Estou chegando.

20:51

Por favor, me espere em frente ao prédio.

20:53

Sr. Sorrentino: Estou aqui.

20:56

Peguei minha bolsa, a mesma que usei na festa desastrosa – ou nem tanto assim – com o meu celular e a carteira de documentos.

— Tchau Thomas. — Me despedi e desci.

Estou nervosa! E fiquei ainda mais nervosa ao ver Giaccomo ao lado daquele lindo carro, vestido em um terno azul claro. Ele está lindo. Ele é lindo. Será se eu estou a altura?

— Boa noite, Senhorita Jones. — Estendeu a mão, e eu o concedi.

— Boa noite, Senhor Sorrentino. — Sorri.

Giaccomo me acompanhou até o carro, e abriu a porta para mim. Que cavalheiro! Ele entrou no lado do motorista, e colocou o sinto. Eu fiz o mesmo.

— Então, porque pediu para eu esperar você em frente ao prédio?

— Ah, é que... Eu ainda não contei para o meu irmão sobre... Você.

— Oh! Então eu não sou importante o suficiente para ser apresentado ao seu irmão?

Fiquei surpresa. Isso é serio? Agora estou em uma saia justa.

— Não... Não foi isso que eu quis dizer, é que...

— Eu estou brincando. —Disse sorridente, e eu suspirei aliviada.

Passamos algum tempo em silêncio, e ele parou no sinal vermelho.

— Para onde vamos? — Questionei.

— Para o Louis Madyson.

Concordei com um sorriso forçado. Minha nossa, esse lugar é muito chique e exclusivo. Não sei nem como devo me comportar em um lugar como esse.

Uma música calma e romântica tomou conta do carro, e eu percebi que Giaccomo ficou incomodado. Acho que assim como eu, ele pensa que é cedo demais. Vi sua mão indo ao aparelho de som e mudando para outra música. Dessa vez, uma mais animada: All this love, de Robin Schulz.

O caminho até o restaurante foi silencioso, e isso me deixou desconfortável. Chegando ao restaurante, um rapaz pegou as chaves do carro e o levou para estacionar. Giaccomo me ofereceu o braço e eu o segurei, com muita vergonha, me acompanhou até a entrada. Nessa altura minha bochecha deve estar tão vermelha quanto um tomate.

— Reserva em nome de Giaccomo Sorrentino. — Avisou a uma mulher na recepção.

— Por aqui Sr. Sorrentino. — Ela sorriu de um jeito malicioso para ele, e eu me senti incomodada. No primeiro encontro, e eu já estou com ciúmes. Que maravilha!

A moça de cabelos escuros no levou até a mesa, e não pude parar de apreciar a beleza do lugar. Que restaurante incrível! Os preços daqui devem ser tão altos quanto o lustre de cristais que tem no salão.

Giaccomo puxou a cadeira para eu sentar, e assim o fiz.

— Você está muito linda. — Disse ao meu ouvido, e todo o meu corpo ficou arrepiado.

Ele pegou o cardápio, e eu fiz o mesmo. Não faço a mínima ideia do que pedir. A única coisa que eu conheço do cardápio inteiro é "água". Tentei disfarçar o meu desespero para que o Sorrentino não pense que eu sou uma caipira sem classe, mas não foi o suficiente.

— Eu posso pedir para nós dois.

Concordei com a cabeça.

— Você gosta de camarão?

— Sim. E pelo visto, você também? — Sorri ao lembrar do episódio da festa.

— Eu adoro. Se pudesse, comeria todos os dias.

Um garçom apareceu na mesa e serviu vinho para nós dois. Giaccomo aproveitou para pedir um prato refinado de camarão.

— Então, está gostando de trabalhar na Sorrentino's?

— Muito. Lá é um ótimo lugar, e tem uma bela equipe.

— Mesmo se não gostasse, não diria na cara do dono, não é mesmo?

Sorri.

— Não. Eu sou sincera. Não gosto de mentiras. — Bebi um pouco do vinho, e só consegui pensar no quão bom ele é. Não bebo vinho a séculos.

— Já que é sincera, me diga uma coisa Senhorita Jones: por que uma moça tão bela como você está sozinha?

Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, e respondi um pouco nervosa.

— Pode me chamar Ashy. Se quiser.

Sempre que me dirijo a ele, tenho a sensação de estar pisando em ovos. Sempre com muita cautela e cuidado. Não consigo me sentir totalmente confortável, e isso é esquisito.

— Ok, "Ashy". — Sorri. Meu nome soa tão bem em sua boca. — Por que você está sozinha?

Me arrumei na cadeira. Ele tomou o vinho.

— Relacionamentos são complicados. E a minha vida já é complicada demais.

— Entendo.

— Sério?

— Sim. Por que a surpresa?

Nossos pratos chegaram, e parecem muito saborosos.

— Não pensei que caras como você tivessem vidas amorosas complicadas.

— Caras como eu? Sério?

— É... Me desculpe. Não quis te ofender. — Dei uma garfada na comida, para me calar logo. Eu só faço besteira.

Ficamos em silêncio enquanto comemos, e Giaccomo só fez um comentário sobre a comida que eu concordei. Um clima pesado tomou conta do ambiente.

Eu queria conversar e ver aquele Giaccomo espontâneo da festa de aniversário que comeu muito camarão e sujou a boca com croquete. Me sinto desconfortável, e acho que ele também. O Sorrentino limpou a boca com um guardanapo e se levantou.

— Me concede essa dança? — Me estendeu a mão.

Olhei para os lados.

— Mas não tem ninguém dançando.

— Tem música, um salão e alguém precisa começar. — Insistiu.

Segurei sua mão e ele me acompanhou até o centro do salão. Giaccomo segurou minha cintura e pus a mão em seu ombro. Assim, ao som da linda música Heaven do Bryan Adams, dançamos em meio ao enorme salão.

Todos ao nosso redor ficaram nos olhando, e de tanta vergonha, eu coloquei instintivamente a cabeça no peito dele. Ao perceber isso, levantei a cabeça rapidamente.

— Pode continuar. — Disse baixinho ao meu ouvido.

Sorri e deitei a cabeça novamente. Seu cheiro é tão bom.

Giaccomo parece um príncipe. Muito diferente dos boatos que eu ouvi na empresa. Não entendo porque Linda me alertou tanto sobre ele.

Ao fim da música, mais dois casais estavam dançando ao nosso lado, e as pessoas aplaudiram, e nós fizemos uma reverência desengonçada. Nos sentamos novamente na mesa.

— Isso foi... — Procurei uma palavra para descrever, e Giaccomo completou.

— Incrível?

— Sim. — Sorri abobalhada.

— Vai querer a sobremesa? Eles servem uma torta holandesa ótima aqui.

— Claro.

Giaccomo chamou novamente o garçom e pediu a sobremesa. Enquanto esperamos, conferi o celular para ver se Thom me mandou alguma mensagem.

— Você não me respondeu.

Tirei a atenção do telefone, e voltei a ele.

— O quê? — Questionei sem entender.

— Quando eu falei por mensagem como você salvou o meu contato.

— Ah! — Sorri.

— E então?

— Então o quê?

— Como você salvou?

Abri a conversa com ele no meu celular e o mostrei.

— Sr. Sorrentino? Que ousadia. — Disse em tom zombeteiro.

Gargalhei.

Ele tirou o celular do bolso, e o colocou em frente ao meu rosto.

— O que foi isso?

— Uma foto para o seu contato. — Disse enquanto mexia no celular.

— Ai minha nossa, eu devo estar horrível. — Pus a mão no rosto.

— Claro que não, você está linda. Você é linda, Jones.

Sorri envergonhada, e ele me mostrou a foto.

— Agora é a minha vez.

Abri a câmera, e posicionei em frente ao seu rosto. Ele olhou para câmera, e eu fiquei o admirando por trás da tela. O flash estava ligado, e todos ao nosso redor nos olharam sem entender nada.

— Posso ver? — Perguntou.

Dei o celular em sua mão, mas ele começou a mexer em alguma coisa.

— No que está mexendo?

— Pronto. — Entregou o celular, e eu sorri ao ver a arte que ele fez.

— Que espertinho.

Giaccomo soltou uma risada convencida.

Nossas sobremesas chegaram, e nos deliciamos com a maravilhosa torta holandesa. Ao fim do nosso jantar, Giaccomo me chamou para mais uma dança, mas eu recusei. Acho que uma vez foi o suficiente.

— Então, vamos?

— Vamos. — Respondi desanimada.

Eu queria que tivesse durado mais, ou que tivesse sido mais animado. Imaginei que Giaccomo Sorrentino fosse intenso, mas me enganei.

Nos levantamos, e ele me acompanhou até a saída.

— Você odiou não foi?

Olhei-o assustada.

— Não, não. Eu gostei. — Sorri.

Paramos na calçada do restaurante, para aguardar o carro.

— Você disse que é sincera, então seja sincera comigo.

Suspirei.

— Tá bom. Olha, eu não me senti muito confortável em um lugar chique como esse. Eu não sabia nem o que pedir, você que escolheu. E no prato principal, eu não sabia qual dos seis talheres usar.

Cazzo*, eu sou um idiota. Queria fazer tudo certo, mas acabei estragando tudo.

— Não se culpe. Eu que sou uma caipira que não sabe nem se comportar em um lugar como esse.

Giaccomo tocou o meu rosto com a palma de suas mãos macias.

Per favore**, você é incrível Ashley. Não precisa de nada disso para ser.

Sorri envergonhada. Vê-lo tão perto assim de mim, faz meu coração acelerar descompassado.

O carro chegou, e um rapaz alto entregou-lhe as chaves. Nós entramos no carro, e dessa vez Giaccomo deixou uma música calma e romântica tomar conta do espaço. Alguns minutos em silêncio e cogitando a ideia de falar, o questiono:

— Por que eu?

Ele olhou com estranheza.

— Por que você, o quê?

— Por que me beijar, me elogiar e me levar para jantar? Por que eu?

Ele ficou em silêncio, e eu entendi o recado.

— Tudo bem, eu já entendi. Não tenho nada de especial e você só estava entediado.

— Não fale isso.

Giaccomo colocou a mão em minha perna, e todo meu corpo acendeu.

— Então me diga. — Insisti encarando seus olhos azuis que estão concentrados no trânsito.

— Você... Desde o dia em que você bateu no meu carro, eu pude ver o quão forte e destemida você é. Foi tirar satisfações comigo sem medo algum. Além de que, você é sexy pra caramba.

Sua risada safada me fez sorrir envergonhada. Coloquei a mão sob a sua.

— Finalmente eu consegui ao menos uma resposta. — Disse em um tom de divertimento.

— Você faz perguntas demais.

— E quando eu conseguirei mais respostas?

Me sinto ousada ao perguntar isso, mas me arrependo depois de ver Giaccomo retirando sua mão da minha perna.

— Chegamos.

Olhei pela janela e vi o meu prédio. O tempo passou muito rápido.

Pensei no que falar para não deixar o clima tão chato, mas não consegui pensar em nada. Giaccomo continua encostado no banco do motorista, e agora olha para mim. Ele deve me achar tão inconveniente e intrometida que nunca mais vai falar comigo, e irá esquecer meu nome.

— Então... Obrigada pelo jantar. Foi muito... Agradável.

Que patética que eu sou. Estraguei tudo. Mas está tudo bem, no fundo eu já sabia que isso não daria em nada.

Tirei o cinto e abri a porta.

— Espere.

Voltei no mesmo instante. Nesse momento ele deve achar que eu estou desesperada.

— Sim?

— Não esqueceu de algo?

Franzi a testa, e pensei por alguns segundos.

— O quê?

Giaccomo se aproximou e beijou o canto da minha boca. Surpresa, fiquei paralisada sem saber o que fazer. Ele sorriu rente ao meu rosto e continuou. Beijou o outro lado, e acariciou o meu ombro. Fechei os olhos e aproveitei as carícias. Apressada e talvez um pouco desesperada por seu contato, selei nossos lábios. Giaccomo se arrumou no banco e logo correspondeu. Minhas mãos passam por entre os seus cabelos macios, e Giaccomo pressiona a minha cintura com fervor. Quando uma de suas mãos sobem a barra do meu vestido, eu a seguro com força.

— É melhor eu entrar. — Digo próximo aos seus lábios.

— Fica mais um pouco.

Continuamos nos beijando, até que eu tomo a triste decisão de que já deu.

— É melhor eu ir agora. — Me desvencilho de seus braços. Quando na verdade o meu corpo pede mais.

— Tudo bem. Na próxima nós aproveitamos mais.

Olhei-o surpresa.

— Vai ter uma próxima?

Arrumo as alças do meu vestido que caíram sobre os ombros.

— Claro. Você não quer?

— Eu... Acho que sim. — Respondi confusa.

— Ótimo.

— Ótimo.

Saí do carro e subi pelo elevador. Aproveitei para arrumar o cabelo bagunçado através do espelho do elevador. Uau! O que foi isso? As memórias da noite em que nos beijamos pela primeira vez estavam um pouco apagadas por conta do efeito da bebida, mas confesso que é muito melhor do que eu me lembrava. Mas o que mais me deixou surpresa foi saber que ele quer mais. E eu também.

*Caralho

**Por favor

Atualizado: 20/10/2020

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