INVERNO ARDENTE | Bucky Barne...

By DixBarchester

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Guerra. Hidra. Assassinatos. Pronto para obedecer... O mundo de James Buchanan Barnes estava congelado em vio... More

✎ INTRO
▶ MÍDIA
❝EPÍGRAFE❞
01. SOZINHO
02. SAVANNAH
03. JAMES
04. VIZINHOS
05. SAM
06. CELULAR
07. STEVE
08. ALPINE
09. ABBY
10. QUEBRA-CABEÇAS
11. GUS
12. SOLDIER'S
13. MÚSICA
14. VERDADES
15. AMIGOS
16. JOALHERIA
17. PESADELO
18. MUDANÇAS
19. CONVERSAS
20. ADEUS
21. RECONCILIAÇÃO
22. AMOR
23. IMPREVISTO
24. LUCIA
25. BEVERLY
26. PRISIONEIROS
27. FOGO
28. ARDENTE
29. TREINAMENTO
31. PEDIDO
32. COMPENSAÇÃO
33. FIM

30. HERÓIS

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By DixBarchester

Hello! Pois é aqui estou, com o maior capitulo que eu já escrevi nessa vida, são 17 mil palavras de ação. Eu espero de verdade que não fique massante, mas leiam da forma como preferirem, um pouco por dia talvez... 

É importante dizer que estamos trabalhando com vários núcleos, então tem muitos cortes de cena e algumas delas se passam ao mesmo tempo, mas durante a leitura vai ficar fácil saber quais são. Tem imagem no comentário logo depois do * de novo, só pra vocês saberem.

Se eu puder indicar uma música pra esse capitulo, ela se chama "Walk Through The Fire", está na mídia ali em cima, e na playlist da fic.

Boa sorte e boa leitura!

Nós caminhamos através do fogo
Existe alguma saída?
Existe uma saída?
Walk Through The Fire - Zayde Wolf

✪ ✪ ✪ ✪ ✪

— Sam? Está me ouvindo? — A voz nervosa de James passava a urgência que batia no coração de Savannah — Sam?

Modelos de Vida Artificiais e uma bomba com cristais da terrigênesis. Era isso que Wilson havia explicado rapidamente antes que seu comunicador parasse de responder.

Uma emergência absoluta.

Savannah e James estavam parados há uma quadra de sua localização alvo, o prédio em construção podia ser visto dali, não chegava a destoar totalmente do restante da cidade, porque Manhattan estava sempre em constante expansão.

— Isso não é bom... — James meneou a cabeça e respirou fundo. Savannah podia sentir a frustração que emanava dele.

O Sargento estava se culpando, certamente. Tinha deixado que Sam fosse sozinho, se algo acontecesse James nunca se perdoaria e Savannah sabia bem disso.

Ele respirou fundo, como se estivesse raciocinando sobre suas opções, e então decidiu rápido demais.

— Novokov. Está me ouvindo? — Perguntou através do comunicador e Savannah ligou o próprio aparelho para poder ouvir a conversa dos dois.

— Auto e claro, Chefe Rabugento. — A voz de Nik veio logo, limpa, carregada de seu sotaque e bom-humor habitual.

Savannah pode ver o alivio encher o peitoral de James.

— Diz que não encontrou nada... — O pedido dele era mais uma prece do que qualquer outra coisa

— Parecer vazio... mas... — O russo hesitou por um momento.

— Mas o que Nik? — Savannah questionou impaciente e só então percebeu que também estava muito tensa.

Odiava pensar que qualquer um deles podia estar em perigo sem ninguém por perto para ajudar.

— Ter lembranças desse lugar, pequenos caquinhos delas. — Nik soprou pensativo. — Acho que era mesmo pra parecer vazio.

— Sam está com problemas, acho que devemos reagrupar. — James ponderou, e dava pra notar que sua decisão de trocar o plano de última hora tinha um tanto de desespero. — O que sabe sobre uma bomba?

Ele não queria falhar. Não queria que ninguém se machucasse sob a responsabilidade dele. Partia o coração de Savannah entender isso e perceber o quanto ele se cobrava e se culpava por tudo e todas as coisas...

— Nada... devia saber alguma coisa? — Nik soou confuso e James ficou pensativo.

— Talvez seja um plano que ela não levou a diante...

Savannah não compartilhava daquela linha de raciocínio do Sargento, algo na história toda parecia fazer sentido aos poucos, uma figura que se formava, ainda sem algumas partes, mas que começava a parecer muito, muito ruim.

Talvez fosse um plano maior do que eles previam... Talvez Lucia não tivesse passado aquele tempo escondida ou fugindo.

— Nik, melhor reagruparmos, vamos ao Canadá dar apoio aos Sam. — James soou mais decidido e firme. — Nós dividir assim foi um erro da minha parte.

— Esperar... o que você dizer? — Nikolaj pareceu interessado demais em um segundo.

— Vamos para o Canadá dar apoio ao Sam. — O Sargento repetiu, pensando que o comunicador estava falhando.

— Não. Depois. — Nik devolveu e algo em sua voz denunciava um tipo de ansiedade, como se ele buscasse um gatilho para uma memória.

— Que foi um erro da mi...

— Antes.

— "Nós dividir assim"? — Savannah repetiu a única parte da frase que faltava.

— Dividir e conquistar... — O russo soprou, como se fosse um pensamento solto em sua mente, para soar nervoso e urgente no instante seguinte: — Isso ser uma armadilha, parte do plano de emergência!

Ele realmente tinha lembrado de alguma coisa...

James e Savannah se entreolharam por um segundo, prontos para fazerem perguntas, e esse foi todo o tempo necessário para que as coisas saíssem do controle. Do outro lado da linha uma sequência de tiros fez com que o rosto da jovem ruiva perdesse toda a cor.

— Nik? Fala comigo! — James ordenou urgente, a preocupação latente em cada silaba.

Mais tiros e vidros quebrando. Os olhos de Savannah se encheram de lágrimas.

— Meus irmãos estar aqui. — O sussurro de Nik demorou alguns segundos para vir. — Precisar desligar agora. Canadá ter que esperar. Eu avisar quando acabar. Não preocupem.

A linha ficou muda e os olhos castanhos-esverdeados focaram nos azuis em pânico completo.

— Nik?! — Ambos chamaram, mas não obtiveram qualquer resposta.

James passou a mãos direita pelo rosto em um gesto de puxa exasperação, enquanto a mente de Savannah flutuava entre teorias e fatos, fazendo conexões nada animadoras.

— Precisamos abortar a missão e buscar o Sam e o Nik. Se isso é uma armadilha eles estão com problemas. — O Sargento declarou, deixando clara suas prioridades naquele momento.

Ele nunca abandonaria os amigos. Capturar Lucia sempre estaria em segundo plano. E Savannah o amava ainda mais por isso, porém era evidente que James estava nervoso demais para notar uma parte importante das informações que tinham...

— Você devia ir sozinho. — Ela sugeriu, procurando manter a calma em sua voz.

Não queria se separar dele, mas eram problemas demais e as soluções não apareciam no meio de tanto nervosismo.

— De jeito nenhum! Não ouviu o que eu acabei de dizer? Precisamos reagrupar. — James foi enfático, era bastante evidente que perder o controle das coisas daquele jeito e saber que os amigos estavam em perigo era angustiante demais para ele. — Faz sentido ser uma armadilha. Freakmann falando com você e te enchendo de histórias paralelas pra disfarçar o óbvio... Dar informações no último segundo deixando a gente pensar que arrancou isso dele. Várias localizações para nos separar o máximo possível.... É o plano perfeito. E eles tiveram muito tempo para bolar muito planos diferentes em todos esses anos.

Fez sentido, Savannah nunca tinha entendido totalmente porque Freakmann queria lhe ver, mas se fosse mesmo um plano, tirar o foco do objetivo principal a usando como subterfúgio era a jogada perfeita. Ele tinha manipulado todos eles direitinho.

— Temos que ir embora. — James reforçou, dando meia volta em direção a moto que estava estacionada no meio fio.

— Não podemos... — Savannah segurou o braço dele e isso fez com que os olhos azuis focassem nos castanho-esverdeados. — Você ouviu o Sam, tem planos para uma bomba com potencial de alcance de vários quarteirões...

Ela viu o entendimento alagar as íris dele rapidamente.

— Uma coisa dessas não seria colocada em montanhas, fazendas ou docas afastadas.... — O Sargento completou, como se os dois tivessem acabado de sincronizar na mesma linha de raciocínio. — Estaria bem no centro da cidade.

Encararam o prédio em construção bem ali, alto e no meio de tudo. O lugar perfeito...

— Se uma bomba com cristais da terrigênesis explodir aqui no centro de Manhattan vamos ter não apenas um surto de transformações, mas milhares de mortes. — Savannah colocou seus pensamentos preocupantes em palavras. — Humanos normais não podem ser contato com aquilo, eu vi com meus próprios olhos.

Respiram fundo em conjunto, os dois entendendo perfeitamente que tinham uma escolha difícil pela frente. Tentar salvar a vida de milhares de inocentes ou virar as costas para ajudar dois amigos.

— Temos que ficar. — James declarou nada satisfeito. Era o certo. Não significava que fosse fácil. Não significava que não doesse.

Savannah respirou fundo, quis pedir que o Sargento fosse sozinho, que eles se separassem ali e ela fosse lidar com a bomba sozinha, mas no fundo ela soube que só queria afastá-lo, porque estava com medo de tudo dar errado.

James era humano. Qualquer contato com aqueles malditos cristais seria fatal...

No entanto ela não precisou fazer mais que olhar nas íris azuis para entender que ele não a deixaria ali sozinha, qualquer discussão nesse sentido seria inútil e só os faria perder tempo.

E considerando que havia uma bomba na equação "tempo" era um luxo que não poderiam desperdiçar.

— Sharon? — Ele chamou pelo comunicador, mas não obteve qualquer resposta. — Sharon, se puder me ouvir, Sam e Nik precisam de reforços. É uma armadilha. Repito. É uma armadilha. Se cuida.

James desligou o comunicador e o casal assentiu um para o outro, Sharon pelo menos estava com uma equipe de apoio e isso os deixava mais tranquilos...

Voltaram para o plano principal então, adentrando os limites da construção alguns minutos depois de forma furtiva e silenciosa.

O prédio estava no cru, paredes e andares já erguidos, mas sem qualquer acabamento, nada de janelas, portas ou pintura, tudo era cimento e material de construção por todo lugar. Sequer havia um elevador instalado, o buraco estava lá, mas vazio, apenas um grande poço escuro que cortava todos os andares. Do lado de fora várias estruturas feitas de metal ficavam para fora em um ou outro andar. O vento vinha violentamente e balançava tudo, fazendo o barulho ecoar na construção vazia.

Subiram as escadas silenciosamente, James na frente com a arma em punho, e o braço de vibranium pronto para servir de escudo caso necessário. Savannah também estava atenta, mesmo que sua mente já estivesse calculando o impacto de uma bomba ali, no meio de uma área com um shopping e todo tipo de movimentação. Ao olhar do segundo andar ela notou que um ônibus escolar, enquanto crianças faziam fila, um tipo de excursão ao cinema, certamente...

Uma bomba não podia estourar ali de jeito nenhum.

Alcançaram o terceiro andar sem qualquer problema ou sinal de companhia. Talvez estivessem errados, talvez não houvesse bomba e de fato fosse apenas um plano antigo, como James dissera. Talvez conseguissem sair dali a tempo de ajudar Nik e Sam...

Ou talvez fosse cedo demais para ser tão otimista.

James estava encostado em uma parede, examinou o ambiente e fez um sinal para que Savannah seguisse, estavam prestes a subir para o quarto andar quando a voz feminina ecoou:

— Ah... tão lindinho o casalzinho apaixonado pagando de herói um do ladinho do outro. — O arrepio de raiva fez o corpo de Savannah ferver em fúria. Lucia Von Bardas. — Se não estivessem atrapalhando meus planos e me separando do meu Quebra-Nozes eu até... como é mesmo que os jovens dizem hoje em dia? Shipparia vocês dois.

O casal trocou um olhar, o som vinha de perto. Com um aceno de concordância os dois agiram ao mesmo tempo, James com a arma em punho sequer hesitou antes de dobrar a esquerda e disparar.

O corpo caiu no chão, faiscando, mas não havia sangue.

— Minha nossa, quanta violência. — A mesma voz veio de outro lugar então. — Depois diz que não é um assassino...

Savannah foi pelo outro lado, as chamas envolvendo sua mão direita antes que a bola de fogo cortasse o ar e atingisse o alvo que veio da direção oposta.

Mais um corpo no chão, nada de sangue outra vez...

— São robôs. — James declarou ao examinar mais de perto.

— Modelos de Vida Artificiais, como os que o Sam encontrou. — Savannah completou, lembrando das informações confusas e rápidas que o Falcão tinha conseguido transmitir antes que o sinal fosse interrompido.

É claro... Se as outras cabeças do Cerberus estavam em confronto com Nik, A Ministra maluca acharia outro jeito de proteger sua possível bomba. Será que ela também estava ali ou era apenas seu exército de MVAs malignos?

Mais três surgiram e foram derrubados sem grandes problemas.

— A não... seu amiguinho alado achou protótipos que não deram certos, os que estão aqui são perfeitos. — A voz continuava, ecoando em conjunto provando que haviam mais ali. Talvez muito mais do que pudessem imaginar.

Alcançaram o quarto andar. A briga começou a ficar mais intensa, as versões de Lucia se mostraram um pouco mais violenta, porém havia uma certa vantagem em saber que eram apenas robôs. Nem Bucky nem Savannah precisavam se conter...

No entanto isso significava coisas um tanto diferentes para os dois. No caso da ruiva era sobre fogo e a certeza que não estaria machucando ninguém de verdade e no caso do Sargento era sobre ser implacável. Enquanto Savannah lidava com uma versão de Lucia, James destruía cinco.

Ele tinha desistido da arma há algum tempo, usava o braço de vibranium e toda sua força. Savannah percebeu que a versão de James da sala de treinamento não era sequer metade do potencial dele.

Mais forte, mais rápido, mais feroz e muito mais violento, às vezes ela mal conseguia acompanhar os movimentos dele... Provavelmente aquilo era o mais próximo da versão Soldado Invernal que ela já tinha visto.

Ele a puxou para o canto antes que um disparo lhe atingisse. Sim, as Lucias robóticas eram mais que uma versão fisicamente perfeita da ministra, elas tinham armas embutidas nos braços...

Será que tinha como ficar pior?

— Eu preciso que você foque, Savannah. — James ordenou, jogando um dos MVAs contra uma das aberturas feita para as janelas e fazendo com que a coisa se enrolasse em uma das estruturas metálicas presa ao lado de fora, produzindo um som ensurdecedor.

As cordas que prendiam a pequena plataforma não foram fortes o bastante e toda aquela parte desabou. Só podiam torcer para que não tivesse atingido ninguém lá embaixo.

Savannah apenas assentiu, sabendo que James estava certo e que ela tinha que ficar concentrada na batalha, antes que eles se machucassem de verdade.

Saiu na frente e colocou fogo nas escadas para que os dois pudessem subir para o próximo andar. Percebeu logo que estavam avançando devagar demais e que o intuito dos robôs de Lucia talvez fosse impedi-los de subir...

Parados ali, prontos para mais um confronto com quantas versões da Ministra viessem, Savannah e James trocaram um olhar significativo. Não tinham mais certeza de nada. Havia mesmo uma bomba ou aquilo era apenas uma forma de atrasá-los e mantê-los ocupados e separados dos amigos?

✪ ✪ ✪ ✪ ✪

A respiração desconexa de Sam Wilson fazia seu peitoral subir e descer sem ritmo. O suor em sua tez se misturava com o sangue que escorria de um ferimento no supercílio, mas a adrenalina em suas veias mantinha seu corpo trabalhando.

Desviou de um disparo e deu a volta em uma das mesas revirada ali no chão, pulou por cima dos esqueletos robóticos já derrubados e correu na direção de uma versão sem pele de Lucia Von Bardas.

Contou.... Um. Dois. Três.

No último segundo, antes de um novo disparo, escorregou pelo chão, fazendo com que um MVA atirasse no outro. Menos dois.

Seria mais fácil se tivesse suas asas, mas essas já estavam danificadas há algum tempo e, por terem se tornado peso extra foram jogadas em um lugar qualquer do hangar, perdidas e misturadas aos destroços de metal, madeira e papel.

Se escondeu atrás de uma das poucas mesas ainda inteiras, respirando fundo outra vez e calculando outro ataque um tanto suicida. Se colocar entre dois robôs para que eles se destruíssem era arriscado e podia dar muito errado, no entanto era a única estratégia que tinha no instante já que qualquer munição que trouxera já estava acabada há muito tempo.

Não tinha vantagem alguma, então precisava ser engenhoso.

Aquele escudo de vibranium estava fazendo falta...

Se moveu antes que um disparo lhe acertasse e avançou contra seu oponente, mais um MVA foi neutralizado em sua jogada, porém um tiro o atingiu de raspão na costela esquerda.

Merda.

Era apenas um cara humano, enfrentar robôs que não cansavam ou sentiam dor era de uma desvantagem irritante.

O que Steve faria?

Sam riu desse pensamento bobo, não era nada como Steve, não tinha trunfos advindos de um supersoro... Rogers se jogaria na frente dos MVAs gritando "eu posso fazer o dia todo!". E venceria na base do soco.

Respirou fundo, passando por trás das maquinas e desviando dos disparos como podia. O som metálico ecoando por toda parte e fazendo seus tímpanos zunirem.

Mas que saco... Wanda seria uma boa companhia naquele instante. Ela provavelmente resolveria tudo em um estralar de dedos, porém estava em algum tipo de retiro espiritual "sugerido" pelo cara estranho com a capa maneira que se mexia sozinha.

Não. Não haveria reforço, suporte ou cavalaria... Teria que resolver seus problemas sozinhos e sem nenhum poder extra pra ajudar.

Sorriu então, quando finalmente a pergunta certa lhe cortou a mente: O que a Natasha faria?

"Use a força de seu inimigo contra ele." A Viúva Negra já dissera isso uma vez... era assim que ela batia de frente com muitos "super" e levava a melhor. Muita gente pensava que era o treinamento na Sala Vermelha, a beleza ou a agilidade que faziam de Natasha uma super heroína. Mas Sam a tinha conhecido de perto e sabia que aquilo era apenas parte de um todo...

Apesar do que parecia ou do que podiam pensar, Natasha Romanoff era esperta, não o tipo de inteligência à la Tony Stark, não, ela era estratégica e tinha um raciocínio bem mais rápido que o da maioria, ela sabia usar qualquer recurso ao seu dispor, incluindo as armas do inimigo.

Com certeza teria derrotado Thanos com uma mão nas costas.

Sam respirou fundo então, a ideia vindo como um tipo de inspiração divina assim que ele bateu os olhos nos destroços metálicos.

— Valeu, Nath! — Soprou com o rosto tomado por um sorriso.

Correu pelo meio do hangar, escapando dos disparos da melhor forma de podia e agarrando um dos braços robóticos que achou pelo caminho. Felizmente não demorou a entender como operar aquela coisa e logo tinha uma "arma" em mãos.

Podia revidar.

A melhor parte é que não ficaria sem munição, porque tinha peças sobressalentes o bastante ali no chão...

Esperava que Sharon, Nik, Savannah e Bucky tivessem em uma situação melhor.

Dizer que aquela engenhosidade foi a solução de todos os seus problemas seria mentira, Sam ainda teve que suar muito pra conseguir derrubar os robôs demoníacos. Agora sabia o que a equipe tinha passado com Ultron...

Eventualmente, depois do que pareceu uma eternidade, o Falcão finalizou o filme de terror que o rodeava. Deixou que o corpo cedesse então, despencando no chão, exausto, dolorido e ferido em vários pontos. Ainda não tinha ideia de como abriria as portas do hangar e sairia dali, mas ao menos podia respirar aliviado.

Por favor, que não tenha mais nenhum robô defeituoso escondido por aí... Foi tudo que conseguiu desejar, deitado na pilha de destroços e encarando o teto. Tinha que levantar, no entanto, precisava descobrir como sair dali e principalmente conseguir uma forma de viajar daquele lugar isolado de volta para onde os amigos estavam.

Ainda tinha uma possível bomba em algum lugar afinal de contas.

Estava testando o comunicador totalmente destruído quando os sons externos se tornaram estranhos. Tinha alguém ali...

Se preparou para a segunda leva de MVAs então, um dos braços da Lucia metálica na mão, mirado para uma das portas que parecia golpeada naquele instante. A passagem se abriu um minuto depois, atingida por uma rajada de energia.

Do outro lado, um grande robô em tons de prata e cinza com uma luz vermelha brilhando no centro do peito... Exceto que não era um robô.

— Rhodes? — Sam franziu as sobrancelhas, reconhecendo a armadura do aliado.

— Wilson... — O Máquina de Combate cumprimentou, revelando o rosto ao abrir a máscara.

— O que você está fazendo aqui?

— Sharon me mandou. Disse que você ouviu uma mensagem de Barnes e você precisava de reforços. — Rhodes olhou ao redor e sua expressão ficou bastante surpresa. — Mas acho que ela estava errada.

Sam olhou por sobre o ombro para amontoado de peças robóticas. Sim, ele tinha conseguido sozinho.

— Na verdade eu não fazia ideia de como ia abrir a porta. — Ergueu as mãos, jogando o braço metálico que ainda segurava em um lugar qualquer.

— Que triste, estou com saudades da ação. — Os ombros de Rhodes caíram um pouco, antes que ele fizesse um movimento displicente. — Mas quem sabe na outra localização...

— Manhattan? — Sam questionou. Ao menos sabia que Sharon estava bem, era um começo.

Mas ainda havia muito trabalho pela frente...

— Uma fazenda no interior. — Rhodes respondeu neutro.

Se Sharon tinha pedido reforços para o Nik, talvez Bucky e Savannah também estivessem bem... Será que tinham encontrado a bomba?

— Sharon tentou achar alguém parar dar uma passada em Manhattan também, mas Parker está em uma excursão escolar fora do país. Parece que ele tem os próprios problemas. — O Máquina de Combate continuou explicando, enquanto Sam pulava as partes metálicas para sair dali. — Hope e Scott estão em alguma daquelas incursões ao Mundo Quântico e Hulk está na nova Asgard.

— O pessoal está todo espalhado... — Wilson lamentou ao respirar fundo.

Não podia mentir, gostava da coisa de trabalho em equipe. Sentia falta disso. No entanto, não hora o momento para nostalgias sofridas, ainda havia uma possível bomba em algum lugar e se ela detonasse, as proporções seriam catastróficas.

— Você vai para a fazenda e eu vou para Manhattan. — Decidiu, sabendo que era a escolha certa. — Mas pode me deixar em um lugar, primeiro?

Precisava pegar uma coisa antes.

✪ ✪ ✪ ✪ ✪

Savannah teve que parar por um segundo, seus pulmões ardiam e seus pernas pareciam prestes a falharem a qualquer momento. Estava exausta, não sabia mais há quanto tempo estavam ali e com certeza já havia perdido a conta de quantas daquelas Lucias robóticas havia derrubado.

Os Vingadores nunca pareciam cansados na televisão...

James a puxou bruscamente, o braço defendendo os dois de um disparo, Savannah agiu por puro impulso reflexivo e o fogo tomou conta do último MVA. Azuis encaram os castanhos-esverdeados por um segundo, preocupação e uma pitada de irritação.

— Você está bem? — Ele questionou, tocando o rosto de Savannah por um instante e ela sentiu a dor irradiar dali, provavelmente fora de algum golpe que levou quando permitiu que uma daquelas porcarias se aproximasse.

Permitiu? Não... "Cometeu um erro".

Quando chegou naquele prédio, Savannah estava certa que podia fazer aquilo, que todo o treinamento a tinha deixado pronta para qualquer coisa, porém, conforme ela e James avançavam pelos andares, mais a sensação de fracasso abatia a ruiva.

Não estava pronta. Não era como James ou Sam, não era uma heroína, era apenas uma garota boba de Nova York que achava mesmo que alguns dias de treinamento a transformariam na salvadora da cidade e destruidora de vilãs psicopatas...

Porém era tarde demais para pensar em seus erros e falhas, James estava contando com ela, e Savannah sabia que desistir não era uma opção, pelo menos faltava apenas um andar...

Assentiu então, se esforçando para parecer bem de fato, mas sabendo que era uma grande mentirosa.

— Se quiser voltar daqui... — Ele declarou em um tom compreensivo. Tinha alguns arranhões e sangue grudado no rosto, mas sua respiração sequer estava alterada. Savannah quase teve inveja. — Falta o próximo andar e eu pos...

— De jeito nenhum. — Ela o interrompeu de imediato e arrumou a postura. — Vamos acabar com isso juntos.

James não discutiu, encarou o próximo lance de escadas que teriam que subir e assentiu, saindo na frente, naquela postura militar, preparado para tudo como próprio Deus da Guerra. Sim, Savannah estava cansada, mas não o bastante para não conseguir pensar no quanto aquele homem era lindo em qualquer ocasião...

Deixou suas divagações de lado, era hora de focar. No fundo desejava que o último andar estivesse vazio, nada de bomba e, principalmente, nada de robôs. Afinal quantas mais daquelas porcarias podia ter ali?

Mas é claro que o destino não foi tão gentil com eles, assim que saíram da área das escadas e adentraram naquele piso, se viram cercados por versões robóticas da Ministra. Tudo que tinham enfrentado até ali nem chegava perto da quantidade de rostos frios lhes encarando.

James agiu depressa e empurrou Savannah para o lado antes que uma dezena de rajadas a atingisse. Ele usou o braço de vibranium de escudo, mas eram disparos demais e foi atingido no lado direito e no ombro, mesmo assim sequer cambaleou e com certeza não desistiu.

Savannah derrubou uma leva de inimigos com bolas de fogo certeiras, uma vez e outra, para então ter que correr para a esquerda afim de não ser atingida por disparos que vieram do sentido oposto. Eram muitos MVAs e pareciam focados em destruição.

A pior parte é que não cansavam e não possuíam qualquer outro objetivo a não ser matar. Além disso não, se importavam com nada, não parariam mesmo que Savannah fosse capaz de derrubar dez ao mesmo tempo... E ela não era.

Controlar seus poderes em um ambiente seguro, ao redor de amigos e durante um treinamento era uma coisa, mas no meio de uma batalha, era outra totalmente diferente. Seu foco ficava comprometido, sua respiração saía do ritmo, tudo podia dar errado em um segundo.

Quando saiu naquela missão estava preparada para lidar com os irmãos de Nik e a Ministra... talvez até com alguns capangas contratados que teriam medo demais do fogo pra fazer qualquer coisa, com certeza não estava preparada pra enfrentar um exército robótico.

Precisava parar e respirar, só assim seria capaz de controlar o fogo que emanava. Porém, se parasse por mais que alguns segundos era atingida por disparos vindos de outro lugar... E aliado a isso, havia o medo de fazer algo errado e machucar James, esse pensamento por si só já era capaz de fazer seu coração sair do prumo.

Sentia que estava começando a entrar em pânico e isso não era nada bom.

Seus olhos procuraram por James, que continuava focado em sua própria luta, cada vez mais cercado, praticamente sendo engolido por todas aquelas Lucias Von Bardas ao seu redor, nem ele seria capaz de lidar com aquilo... Savannah ficou tão abalada com aquela visão que perdeu o foco por um momento e foi atingida por um golpe de um robô que estava perto demais. Cambaleou para trás e piscou algumas vezes, tentando abster da dor.

Percebeu que estava encurralada entre os MVAs e a borda do prédio, uma abertura do chão ao teto que culminava em uma queda que trinta andares. Merda. Se ela desse mais alguns passos atingiria um dos andaimes metálicos posicionados ali para facilitar o acabamento do lado externo. Nada mais que uma plataforma de um metro, feita de metal e presa por cabos que, Savannah sabia bem, não eram muito seguros.

Ela olhou lá embaixo por um instante, as pessoas começavam a se amontoar ao redor do prédio, provavelmente atraídas pelos sons e por eventuais peças metálicas voando para fora da estrutura...

Savannah voltou o foco para os MVAs, fechou os punhos e eles foram tomados por chamas, se ela tivesse que incendiar tudo ali para chegar até James, faria isso. Queimaria o prédio todo se fosse necessário. Estavam no último andar afinal e nada de bomba, então...

— Você não quer fazer isso... — Todas as versões de Lucia disseram ao mesmo tempo, em um coro macabro. — Vai mesmo arriscar queimar seu namoradinho?

Era impressionante como mesmo robóticas aquelas versões conseguiam reproduzir o humor sociopata da Ministra com tanta perfeição...

Um espaço se abriu entre elas, e James foi trazido, cercado de todas as formas. Ele tinha os olhos azuis gélidos, procurando por qualquer brecha para atacar, mas além das quatro Lucias robóticas o segurando, outras cinco apontavam armas para o rosto dele — ou melhor, apontavam os braços.

Savannah e ele trocaram um olhar, precisavam de algo que lhes devolvesse a vantagem, os pequenos picos de fogo que haviam ficado para trás eram totalmente ignorados, assim como outros robôs destroçados. Então atacar não era a distração certa...

No fundo, tudo que Savannah queria era um cara a cara com Lucia Von Bardas, queria que ela parasse de se esconder atrás de versões controladas dela mesmo, com frases bobas e agrupação de impacto. Será que tinha como ser mais clichê?

Aquele comentário afiado fez uma ideia rápida passar pela mente da ruiva... Lucia podia não estar ali, mas ela ainda controlava cada MVA no lugar. Talvez pudesse apelar para a personalidade psicótica dela e gerar distração com isso.

— Sabemos da bomba e do seu plano idiota de dividir e conquistar. — Savannah declarou com naturalidade, como se seu corpo inteiro não estivesse tomado pelo medo de que algo acontece com James. — Não vai dar certo, sua louca.

Todos os robôs se viraram para ela ao mesmo tempo, era quase como se desse para ver a raiva em suas fisionomias... James moveu os pés com cautela, se preparando para os golpes. Savannah controlou a respiração. Teriam que ser rápidos e precisos, só haveria uma chance, qualquer erro podia colocar tudo a perder.

Um. Dois. Tr...

— Polícia de Nova York, mãos ao alto! — A voz masculina veio firme e imperativa, então todas as Lucias Von Bardas voltaram para a posição padrão, uma delas fazendo a arma embutida em seu braço sumir e ficando apenas uma humana perfeita. Savannah e James tinham acabado de perder uma oportunidade.

É claro que alguém chamaria a polícia...

O homem apareceu no campo de visão deles com a arma em punho, porém sem o uniforme padrão do departamento, provavelmente estava por ali a passeio e resolveu agir antes que os colegas chegassem. Savannah o reconheceu de imediato: Dominic Castillo.

— Vocês... — Ele franziu as sobrancelhas, visivelmente confuso, quando bateu os olhos no casal que já conhecia. Logo depois focou na Ministra, sem saber muito bem para qual delas devia apontar a arma.

— Ah, oficial, que bom. Por favor, prenda esses dois... — A versão robótica que parecia totalmente humana falou de forma simples. — Eles estão invadindo propriedade privada e metendo o narizinho em assunto secreto governamental.

É claro que ela tentaria usar o cargo público como vantagem...

— Você é aquela Ministra da televisão. — Castillo obviamente a reconheceu, mesmo assim não abaixou a arma e seu olhar desconfiado ainda passava por todas as versões exatamente iguais. — O que está acontecendo aqui?

James e Savannah sabiam que não podiam agir sem que ele se ferisse e, mesmo que não simpatizassem com Dominic, jamais deixariam que um inocente se machucasse, pensavam igual, isso ficou explicito no olhar que trocaram.

— Como eu disse, assunto secreto governamental. São protótipos de Modelos de Vida Artificial que o pentágono está desenvolvendo para integrar a segurança particular do presidente, esses dois estão tentando roubar essa tecnologia. — Uma das versões da psicopata louca continuou e era impressionante o quanto aqueles MVAs pareciam humanos e podiam ser convincentes. — Agora faça seu trabalho e prenda os invasores, por favor.

— Ela está mentindo, oficial Castillo. — James declarou de forma firme, olhando nos olhos do policial. — A Ministra Von Bardas é uma criminosa que possivelmente plantou uma bomba nesse prédio. Isso são protótipos robóticos sim, mas não tem nada a ver com o governo ou o presidente, é tecnologia roubada da Hidra ou da SHEILD, certamente.

Savannah não teria tentando argumentar com aquele homem, não confiava nele o bastante pra isso. Tudo que conseguia pensar é que ele estragaria tudo bancando o policial idiota. Era a configuração padrão daquela gente.

— Eu vou seguir a lei e levar todos vocês à delegacia para prestarem esclarecimentos. — Dominic declarou, e na verdade, considerando que ele via a situação por um ângulo limitado, podia até se dizer que foi sensato. Sua arma focou na versão robótica falante. — Por favor, Senhora Ministra. Peça para que seus "assuntos governamentais" abaixem as armas.

Mas para Savannah que via a situação como um todo era perda de tempo. MVA ou humana, Lucia nunca se renderia.

Castillo se moveu lentamente, de modo a poder mirar em mais delas ao mesmo tempo, e isso foi fazendo com que ficasse cada vez mais perto de Savannah, o que era péssimo, porque qualquer ataque de fogo o queimaria.

As Lucias robóticas abaixaram seus braços, as armas desaparecendo. Os olhos azuis focaram nos avelãs por um segundo. Algo não estava certo.

Não levou mais que um instante, rápido demais para qualquer olhar destreinado — ou que não estivesse treinado o bastante... — Dominic deu mais um passo cauteloso e uma das criaturas robóticas apenas ergueu a mão mirando direto no peito de Savannah.

Ela não reagiu, como poderia? Sequer teve tempo...

O som veio com a voz de James gritando seu nome.

Savannah apenas piscou antes de sentir o impacto no meio do peito. Não cortante ou dilacerante, somente algo forte que a fez cambalear para trás e tropeçar na beirada do prédio.

Quando abriu os olhos de novo estava caída na plataforma de metal, suas mãos seguiram automaticamente para o peito em busca de sangue, enquanto suas íris buscavam por James para encontrá-lo imobilizado no chão, com cinco MVAs o mantendo assim.

Savannah não foi capaz de tatear ferimento, tampouco sentia dor, encarou os dedos e também não havia sangue, mas foi só quando seus olhos vasculharam o lugar que ela realmente entendeu o que tinha acontecido...

Dominic estava no chão, caído, atingido. O que acertou Savannah no meio do peito foi apenas o empurrão do policial, ele tinha levado o tiro por ela.

O impacto dessa informação a fez piscar atordoada. Não era o que esperava de Dominic Castillo. Não era o que esperava de um policial.

Se preparou para reagir, fazendo seu cérebro pegar no tranco, quando ouviu o som de algo quebrando acima de sua cabeça. Mal teve tempo de olhar e processar... os cabos que seguravam a plataforma metálica haviam se partido.

— Savannah! — James gritou, tentando se soltar dos inimigos para alcançá-la, como se ao menos três metros não lhes separassem, e então quatro, cinco, seis...

O azul era puro pavor, enquanto ela despencava trinta andares em direção ao chão. Nenhum fogo poderia lhe salvar daquela vez...

E tão rápido quanto a tragédia tinha acontecido, tão rápido quando Savannah caia e caia, ela parou. O corpo subindo rápido, seguro entre braços firmes.

— Quer uma carona? — A voz conhecida e bem humorada lhe soprou.

— Sam! — Ela sorriu, enquanto era puxada de volta para o prédio.

Assim que seus pés bateram no chão do trigésimo andar, ali próximo ao corpo de Dominic, outra rajada veio, mas nunca chegou a atingir o alvo porque foi bloqueada por algo metálico e redondo que Sam Wilson manipulou com desenvoltura.

A coisa foi atirada longe assim que a brecha surgiu, e atingiu os MVAs em um efeito cascata, arrancando a cabeça como se o metal do qual aquelas Lucias eram constituídas não passasse de manteiga.

O objeto voltou para a mão do Falcão e só então Savannah o viu de fato... Era um escudo.

O escudo.

Aquele não era o Falcão.

Aquele era o Capitão América.

As asas ainda estavam lá, mas as cores destacadas no traje deixam evidente qual era o manto que Sam carregava naquele momento. Azul, vermelho e branco por toda a parte, com uma grande estrela no meio. Gus tinha feito um bom trabalho, embora fosse evidente o toque de Shuri nas asas, porque certamente eram de vibranium assim como o braço de James.*

Savannah sorriu orgulhosa e aliviada, Sam não tardou em revidar os robôs novamente, libertando Barnes que não esperou um só segundo antes que começar a golpear tudo que via pela frente.

Os lamentos vindos da direção de Dominic fizeram com que Savannah olhasse na direção do policial. Ele não estava morto, graças a Deus.

Talvez devesse rever sua simpatia pelo policial, não era todo mundo que se jogava na frente de uma bala por outra pessoa...

— Você está bem? — Ela questionou, se aproximando dele e vendo que os projeteis estavam parados sobre seu peitoral, quase como se fosse invulnerável.

— Eu não me jogaria na frente dos tiros sem um colete, não é? — Dom disse como se fosse a coisa mais óbvia de todas. Treinamento policial.

Savannah revirou os olhos e o ajudou a se levantar. Era evidente que o homem estava com dor, mesmo assim recuperou sua arma e a engatilhou.

— Obrigada. — Ela agradeceu com honestidade.

— É o meu trabalho. — Castilho encolheu os ombros e franziu as sobrancelhas quando Savannah também se preparou para a luta fazendo com que os punhos pegassem fogo.

— É o meu trabalho... — Ela fez exatamente a mesma coisa que o policial e os dois focaram na batalha.

Enquanto Savannah praticamente derretia o metal das versões de Lucia ou as atingia com bolas de fogo, o escudo de vibranium cortou o ar outra vez e James o segurou do outro lado, derrubando cinco inimigos com ele, antes de jogá-lo de voltar para Sam que combinava sua habilidade de voo com golpes bem executados e uma interessante estratégia de usar as armas no braço dos robôs em benefício próprio. Já Dominic, se mostrou mais talentoso que um simples policial de rua, com uma mira impecável e certeira.

Descobriram seu próprio ritmo ao trabalharem em equipe e assim, tão rápido começou, acabou...

Não foi fácil e com certeza foi bastante cansativo, mas foi muito mais simples do que Savannah teria esperado meia hora antes quando tudo parecia tragédia e derrota eminente.

Tinha mesmo dado certo? Ela teve medo de suspirar aliviada e o universo castigá-la, então preferiu ficar calada. Observou os destroços no chão, o coração ainda disparado, o corpo tenso, os punhos em chamas como se antevissem um exército de robôs mortos vivos se levantando do nada para uma segunda rodada. Ou devia dizer trigésima primeira, considerando que foram trinta andares até ali?

James se aproximou então, quase cauteloso talvez.

— Acabou, Boneca. — Seus dedos de vibranium tocaram a mão de Savannah sem se preocupar com as chamas e o fogo que de repente não estava mais lá, como mágica. — Está tudo bem agora.

Ela assentiu algumas vezes, antes de ser puxada para um abraço terno e um tanto angustiado.

— Mas sabe, eu agradeceria se você parasse de quase morrer toda hora. Sou velho demais pra esse tipo de emoção. — Ele beijou o topo da cabeça dela e riu de leve, fazendo com que os pulmões de Savannah finalmente capturassem todo o ar ao redor.

Sim, estava tudo bem...

— Bela roupa. — Ouviu Dom dizer e olhou por cima do ombro de James a tempo de vê-lo se aproximar do Capitão América.

O título combinava com seu portador, com certeza.

— Obrigado. — Sam disse de forma simples, tirando os óculos de proteção e o apoiando no topo da cabeça.

— Como que seu pessoal consegue estar sempre metido em encrenca? — O policial perguntou em tom de deboche.

— É um talento nato. — A resposta veio com uma risada.

James se afastou um pouco de Savannah para encarar o amigo por alguns segundos.

— Barnes...

— Wilson...

Os dois moveram a cabeça em um cumprimento e o Sargento riu de canto com os olhos azuis presos no escudo que um dia fora de Steve Rogers.

— Se fizer um comentário engraçadinho eu vou bater com isso na sua cabeça, idiota. — Sam advertiu com um dedo em riste, mas foi incapaz de conter o sorriso no canto dos lábios.

James ergueu as duas mãos em rendição, com o maior cinismo de todos, agindo como se nunca tivesse passado por sua mente fazer qualquer tipo de piada com a situação. Savannah conhecia o bastante seu Sargento pra saber que ele tinha sim pensando em alguma coisa....

Se uniram no meio do andar então, os quatros com o questionamento explicito em seus olhos. E agora?

— Eu vi a bomba no telhado. — Sam declarou, tentando manter a voz calma, embora a tensão em seu timbre fosse perceptível — É bem grande. Não sei se está armada.

Savannah sentiu vontade de dizer que não tinha visto nada, mas a verdade é que quando o Capitão América a pegou no ar, ela não tinha pensando em olhar coisa alguma.

— Mais robôs? — James perguntou preocupado.

— Não que eu tenha visto. — A negativa pareceu trazer alivio imediato.

Sim, ainda havia uma bomba, mas ao menos era só isso, outro exército de MVAs seria demais por um dia...

— E qual é o plano? — Ela questionou e automaticamente todos os olhos focaram em Sam Wilson.

— Por que está todo mundo olhando pra mim? — Ele deu um passo para trás, as sobrancelhas franzidas em desconfiança.

— Bom, eu não estou vendo nenhum outro Capitão aqui... — Dom encolheu os ombros de forma simples.

Sam encarou James por alguns segundos.

— Eu fiz o plano da última vez, é com você agora. — O Sargento ergueu as mãos as duas mãos de forma displicente.

Não, aquilo não tinha nada a ver com revezamento, era sobre Sam ser o líder do grupo... Como ele merecia ser. Era o Capitão América quem havia salvado todo mundo afinal de contas.

Wilson respirou fundo então, deu alguns passos para longe dos amigos, olhou lá embaixo e ponderou por alguns instantes.

— Precisamos tirar as pessoas daqui... — Apontou a aglomeração lá em baixo e depois o shopping ao lado. — Falei com Sierra enquanto me trocava e ela disse que qualquer um sem os genes Inumanos que estiver na linha de alcance vai morrer instantaneamente. Qualquer contato com o cristal pode ser fatal. — Olhou para os outros três de forma firme. — Não podemos arriscar.

Se aproximou novamente, tirando do bolso de seu traje alguns pequenos comunicadores e os entregando a todos ali.

— Temos que desativar a bomba, mas talvez seja melhor tirarmos as pessoas das ruas e do shopping primeiro. Tem crianças aqui, não queremos que nenhuma explosão acidental atinja ninguém. — Reafirmou seu plano e todos concordaram com um aceno. — Savy, acho que você é a pessoa mais indicada pra se aproximar da bomba nesse momento, caso qualquer um dos cristais sofra algum dano. Nos mantemos em contato para que você desarme o equipamento, acha que pode fazer isso?

A ruiva assentiu rapidamente. Nunca tinha feito nada assim, mas não parecia a coisa mais difícil que enfrentaria naquele dia. Talvez fosse só uma questão de tempo e cuidado, então tudo daria certo...

— Certo então, vocês evacuam a área, eu e Savannah vamos ver a bomba. — James concordou de forma prática e se moveu em direção as escadas.

— Não. — Sam entrou no caminho e ergueu e mão direita como se pedisse calma. — Não é seguro pra você, Bucky. É material instável para humanos. A Savy cuida disso, sozinha.

— Ah é, e como ela vai desarmar uma bomba sozinha? — Barnes retrucando cruzando os braços? — Ela precisa de mim.

Savannah não devia estar impressionada por James saber fazer aquele tipo de coisa, ele era um soldado treinado mesmo antes de cair nas mãos da Hidra, provavelmente sabia fazer qualquer coisa.

— Tecnologia. Já ouvir falar? — Sam retrucou, batendo o indicador no pé do ouvido para indicar o comunicador. — Você dá as instruções e ela segue. Simples.

O olhar gélido do Sargento se tornou um tanto assassino e Savannah se colocou entre os dois homens antes que uma discussão necessária iniciasse. Sam estava certo afinal, ariscar qualquer um daquela forma seria necessário e irresponsável.

— Ele está certo, James. Eu dou conta. Você me diz o que fazer remotamente. Além disso, qualquer explosão acidental vai ser inofensiva pra mim, não só pelos cristais, mas porque vai ser apenas fogo. Eu posso lidar com fogo. — Ela tocou o peitoral dele, para impedir que se movesse, mas não encontrou flexibilidade alguma no olhar azul. James podia ser muito teimoso quando queria. — As pessoas precisam de você lá embaixo, Sargento...

Ele desviou os olhos de Savannah, visivelmente contrariado e insatisfeito.

— Achei que era "você pula, eu pulo". — Lançou de forma amarga.

— Ah, pelo amor de Deus! Ninguém vai pular pra lugar nenhum. Para de drama. — Sam revirou os olhos de forma exagerada.

James e Savannah focaram um no outro por alguns instantes, uma conversa que não precisava de palavras. Era sobre confiança, não apenas um no outro, mas no plano do Capitão América também.

Ela tocou os dedos de vibranium, como se isso fosse transmitir paz, certeza e calma para o homem que amava e ele finalmente suspirou, rendido, focando em Sam.

— Não vou mais deixar você fazer os planos. — Apontou naquele tom de deboche que era um tanto usual entre os dois.

— Não queria tanto que eu usasse o escudo? Estou usando. — Wilson se defendeu erguendo as mãos com displicência.

— Minha nossa, como vocês falam... — Dominic interrompeu movendo a cabeça em uma negativa bastante crítica. E então riu de canto. — Eu que sou o mexicano e vocês que fazem o dramalhão... Heróis.

— Olha o respeito aí, guardinha de trânsito. — Sam debochou e Savannah percebeu que os dois eram bastante íntimos. Deviam se conhecer faz tempo.

— Eu é que digo isso, Capitão Alado. — Dom apontou com o dedo em riste e usou um tom divertido. — Eu sou a lei por aqui, isso devia valer de alguma coisa, poxa.

Os dois riram por um instante, enquanto Savannah e James trocavam um olhar confuso.

— Vamos lá então, Senhor Lei. — Sam apontou e saiu voando prédio afora.

— Odeio heróis... — O policial resmungou com um revirar de olhos, antes de respirar fundo e sumir escada a baixo.

Azuis e avelãs voltaram a se encontrar, sozinhos no trigésimo andar.

— Se eu subir com você ninguém vai saber... — James declarou, com aquele sorriso de canto que era capaz de deixar Savannah de pernas bambas.

— Boa tentativa, Sargento. — Ela sorriu, tocando a barba dele com carinho. — Mas isso é a coisa certa, e você sabe.

— Achei que tudo bem ser egoísta e não fazer a coisa certa. — Os dedos de vibranium arrumaram alguns fios ruivos.

— Às vezes... — Savannah concordou, dando um passo para mais perto dele. — Mas não dessa vez.

James respirou fundo e assentiu finalmente, beijando os lábios dela de leve por um segundo.

— Não faça nada estúpido, até eu... estar com você. — Advertiu e por algum motivo aquilo encheu os olhos azuis de nostalgia.

Savannah assentiu devagar, processando as palavras.

— Espera. Então quando a gente estiver junto eu posso fazer algo estúpido? — Ela respondeu, quando James começou a se afastar.

Ele riu por cima do ombro e negou algumas vezes.

— Até daqui a pouco, Boneca. — Disse apenas.

— Até daqui a pouco, Sargento...

Assim que Savannah ficou sozinha, ela respirou bem fundo, dando meia volta e seguindo para o acesso ao telhado. Aquela era a única parte do prédio que já continha uma porta. Era ferro e estava trancada, ela notou ao tentar abrir.

Merda.

Empurrou de novo, usando toda a força que tinha, mas nada aconteceu. James teria derrubado aquilo com um simples soco... No entanto, pedir reforços por causa de uma porta, uma que podia estar bem perto de uma bomba, parecia ridículo.

Ferro derretia com fogo, certo?

Assentiu para a própria ideia e seu comunicador chiou.

— Tudo bem aí? — A voz de James veio em um tom preocupado, dava para perceber que ele já estava entre as pessoas, a voz de Sam dando ordens de evacuação e barulho dos carros podiam ser ouvidos ao fundo.

— Claro. É só um contratempo. — Ela respondeu, ponderando a melhor forma de fazer aquilo, sem acionar a bomba por acidente.

— Savannah eu...

— Eu estou bem, James, é só uma porta. — O interrompeu antes que James expressasse suas preocupações.

— Assume a evacuação do shopping e deixa a menina trabalhar, Barnes. — Sam entrou na transmissão e ordenou de forma divertida.

James resmungou algo em russo e então se despediu, assim Savannah pôde voltar a encarar seu obstáculo...

Fez com que as mãos ficassem em chamas e tocou a maçaneta, esperando que aquilo fosse o bastante, demorou alguns minutos para que o metal derretesse, mas a porta não destravou.

Respirou fundo em frustração, entoando todos os palavrões que conhecia e decidindo abrir um buraco na superfície metálica. Foi assim que percebeu que a porta na verdade estava travada por dentro, com barras de ferro atravessadas na horizontal. Depois de mais algum tempo de trabalho e calor controlado, ela finalmente conseguiu acessar o terraço.

O vento chicoteou seu cabelo ruivo assim que ela pisou no local aberto, cheio de maquinas de construção e ferramentas. Ali no meio a bomba podia ser vista, colocada estrategicamente no ponto mais alto.

Era muito maior do que Savannah havia imaginado.

— Eu já estou vendo. — Declarou, ao tocar o comunicador.

— Cuidado... — A voz de James veio primeiro, dava pra ouvir que ele estava em um ambiente fechado, com todo tipo de vozes ao fundo.

— Tem algum contador ou timer? — Sam perguntou logo depois.

Savannah se aproximou mais, a bomba era um aparelho metálico com ares modernos, com uma cúpula de vidro onde os cristais azuis podiam ser vistos, eram poucos, mas certamente o suficiente para fazer um estrago. Ao olhar com mais cautela notou um painel eletrônico.

— Tem sim um timer, Sam. — Respondeu, analisando o visor e o teclado logo abaixo dele. — É tudo computadorizado.

— Certo, quanto tempo nós temos? — Ele questionou, entre uma ordem e outra que dava para a população.

Os sussurros de "Esse é o Capitão América?"; "Caramba, é um novo Capitão América.", podiam ser ouvidos ao fundo.

— Seis minutos e meio. — Ela tremeu com as próprias palavras.

— Tudo bem, eu preciso que você respire fundo e fique calma, certo? — Sam tentou uma voz apaziguadora. — Vamos desarmar isso... — Mas a verdade é que ele também parecia nervoso do outro lado da linha. — Bucky? É com você.

— Certo, Savannah, fala pra mim tudo que você está vendo, vamos ver os fios e descobrir qual deles cortar. — O Sargento declarou com a voz calma e controlada, sequer parecia preocupado como a instantes. Ele devia saber melhor que ninguém que desarmar uma bomba pedia aquele tipo de controle.

Savannah, no entanto, sentia que suava frio, e o vozerio de pessoas ao fundo, vindo do comunicador não ajudada muito.

— James, acho que você não entendeu, é basicamente uma máquina enorme feita de metal, com um computador na frente. Não tem fios expostos. É tecnologia de ponta. — O tom tenso dela deixava a gravidade da situação bem explícita.

Um tipo mórbido de silêncio veio, acompanhado apenas do burburinho indistinto dos cidadãos ao fundo.

— Bucky? — Sam chamou tenso, enquanto Savannah sequer conseguia respirar.

— Ela fez de propósito. — A voz de James era raiva e apreensão. — Lucia construiu uma bomba que eu não seria capaz de desarmar. Se tentar abrir um buraco na estrutura metálica para alcançar os fios internos isso pode causar uma explosão antecipada. E já que é tecnologia de ponta eu não sei como desprogramar.

Savannah ouviu Sam soltar um palavrão e então começar a falar com a população para apressar a evacuação, mas a mente da ruiva tinha focado em um ponto primordial da explicação de James.

— Você disse desprogramar? — Ela perguntou, a voz saindo um pouco mais trêmula do o esperado.

Quatro minutos e meio no visor. Era quase como se o tempo estivesse passando mais depressa.

— Sim, se a bomba foi programada, talvez haja uma forma de desfazer o processo. É um computador, como você mesma disse. Mas eu não entendo nada de tecnologia. — James soava derrotado.

— Eu até entendo um pouco, mas não o suficiente pra saber programar ou desprogramar alguma coisa... — Sam completou com o mesmo sentimento de fracasso na voz. — E não acho que alguém com esse conhecimento vai nos atender tão rápido.

— Mas eu conheço alguém que entende tudo de tecnologia e programação, e que com certeza está colado nos comunicadores esperando notícias nossas... — Savannah murmurou quase para si mesma, aumentando o tom de voz em seguida. — Eu preciso falar com o TJ agora!

— Vou mandar uma mensagem pela linha segura, para que eles abram o sinal do comunicador. — Fui tudo que Sam disse e Savannah só torceu para que houvesse tempo o bastante.

Três minutos.

— E aí, o que rolou? Vocês já venceram. E o Nik? Você botou fogo em alguém? O pessoal amou a roupa do Capitão América? Quando Sam passou aqui ele disse que tinha uma bomba, como foi? Eu sabia que vocês iam querer falar comigo primeiro! — A voz de TJ, atropelada e ansiosa, veio menos de um minuto depois. Eles deviam estar mesmo colados nos comunicadores...

— TJ... — Savannah tentou manter a calma. — Ainda tem uma bomba. É basicamente um computador gigante com tela, teclado e tudo mais, que vai explodir em dois minutos. Eu não sei como desligar.

— Ahá! Sabia que um dia alguém ia precisar das minhas nerdices! — O garoto comemorou do outro lado e a voz de Gus o repreendendo soou alta. — Desculpa, me empolguei. — Ele limpou a garganta. — Então, se é um computador e tem teclado, você pode encerrar todos os processos entrando no prompt com privilégios de administrador e usando uma linha de comando.¹

— Na minha língua, TJ! — Savannah rebateu, porque era adepta de tecnologia, mas não daquele jeito.

— Você não quer que eu te explique programação em dois minutos, quer Savy? — O rapaz retrucou e ela quase pôde vê-lo revirar os olhos. — Digita o que eu mandar.

O primeiro conjunto de teclas ordenadas fez uma janela preta se abrir por cima do cronômetro. Depois disso, digitando alguns códigos, Savannah conseguiu uma lista de todos os processos em execução no computador. Ela teve que listá-los para TJ...

Um minuto.

Assim que encontravam o processo certo ela teve que ditar uma sequência de números que vinha com ele.

— Certo já anotei, agora você vai dar enter e digitar "tskill", dar um espaço e colocar o número da tarefa e clicar em enter outra vez. — As instruções eram dadas de forma rápida e precisa.

Trinta segundos.

Ela digitou o mais depressa que seus dedos trêmulos permitiam: "tskill 1187"

Dez segundos.

O indicador de Savannah bateu no enter, enquanto seu coração disparado no peito fazia seus pulmões agonizarem.

— Sumiu! — Ela praticamente gritou. — O cronometro sumiu!

Ao fundo os sons de comemoração de TJ e dos outros eram ensurdecedores.

— É isso... — Ele disse de forma simples. — Eu sou foda! Acabei de desligar uma bomba!

— Tem certeza? — Sam perguntou do outro lado da linha.

— Sim, senhor, Capitão América. — Ele afirmou convicto. — Está desligado. Claro ainda é uma bomba, mas não vai detonar automaticamente, a menos que alguém reprograme.

— Graças a Deus... — James murmurou, e ficou evidente que ele estava ouvindo o tempo todo. — Mas cuidado, ainda é uma bomba e ainda pode explodir por impacto, você só tirou o gatilho dela.

— Obrigado, TJ. — Wilson agradeceu e logo Savannah e James fizeram o mesmo, mas o rapaz parecia nem ouvir porque estava comemorando outra vez. — Falamos com você daqui a pouco.

Eles apenas se despediram e o som daquela parte da comunicação ficou mudo.

— Já é um ótimo começo. — Sam voltou a falar. — Se a bomba não está armada, temos tempo, agora você só precisa remover os cristais com cautela e pedimos para Sharon mandar um esquadrão antibombas para cuidar do... — Sam soava otimista, mas parou repentinamente quando o barulho de algo de colidindo e pessoas gritando ecoou por toda a parte. — Preciso ir.

— Sam? — As vozes preocupadas de Savannah e James ecoaram juntas.

— Houve um acidente entre dois ônibus durante a evacuação. Um deles é escolar. Tem crianças presas nas ferragens. — Ele respondeu rapidamente. — Eu cuido disso, mantenham suas posições e façam sua parte. Ainda precisamos evacuar por precaução, não pode ter pessoas na área na hora do transporte da bomba.

— Pode deixar. — O casal respondeu em uníssono e Savannah focou no que teria que fazer.

Se aproximou do compartimento em que ficavam os cristais e começou a procurar uma forma de abri-lo. Tinha acabado de achar uma trava de segurança e estava com as mãos nela, quando a voz feminina cortou o ar:

— Não faria isso se fosse você, querida...

Não estava sozinha ali. E devia saber, não é? A porta travada por dentro fora um detalhe importante que apenas deixou passar. Sam e James nunca cometeriam esse erro...

Ergueu os olhos, sabendo que encontraria uma versão robótica da Ministra, mas quando focou no rosto com algumas cicatrizes recentes um arrepio de ódio percorreu seu corpo como raio.

— Von Bardas. — Silabou. Sabendo que não era um Modelo de Vida Artificial. Era ela de verdade. Usava um traje especial, parecido próprio para evitar contaminação, provavelmente o tinha criado para evitar contato com os cristais...

Sam não tinha visto ela ali antes, porque a maldita devia estar escondida entre o equipamento, apenas esperando o momento certo para agir.

— Eu estou voltando, Savannah. — A voz do Sargento veio em alto e bom som através do comunicador.

Lucia Von Bardas sorriu mordaz, é claro que tinha escutado, na verdade a maldita devia ter ouvido tudo desde o começo. Apenas aguardando ali pelo momento certo. Savannah sentiu que poderia inflamar de ódio.

— Eu dou conta, James. — Declarou firme, enquanto enfrentava a Lucia com um olhar. — Sigam com o plano.

— Sav... — Ela desligou o comunicador antes que ele terminasse.

— Agora somos só eu e você, Ministra...

✪ ✪ ✪ ✪ ✪

Barnes enrijeceu o maxilar assim que a linha com o comunicador ficou muda. Sabia que não devia ter deixado Savannah sozinha...

Pensou em pedir reforços a Sam, porém sabia que ele estava resgatando crianças no acidente dos ônibus. Respirou fundo então, o shopping teria que se evacuar sozinho, Bucky estava decidido a largar tudo ali e voltar para o prédio em construção. No entanto, ao passar os olhos pela multidão de pessoas, que ainda estava dividida entre acreditar no perigo e sair dali ou achar que era tudo uma piada, suas íris azuis foram atraídas por uma pequena figura de cabelos escuros.

Uma garotinha.

A mente de Barnes se contorceu em reconhecimento imediato, tinha visto aquela pessoinha uma única vez na vida, mas isso foi o bastante para que sua imagem ficasse gravada em sua memória. Talvez tenha sido o olhar devastado e a tristeza que emanava dela naquele dia, nenhuma criança tão pequena devia sofrer aquele tipo de perda, ou talvez porque sempre fosse se sentir culpado por qualquer mal que atingisse aquela família...

Seus pés se moveram naquela direção quase automaticamente, não podia ir ao encontro de Savannah antes de garantir que a menina estive sã e salva.

Tinha uma dívida com ali. Uma que nunca seria capaz de pagar.

— Hey... — Chamou com calma e cautela ao se aproximar um pouco mais.

A pequena se voltou em sua direção, parecia assustada e estava sozinha. Talvez tivesse se perdido. Bucky se abaixou, apoiando no joelho no chão para que ficassem da mesma altura, enquanto puxava o nome da pequena na memória. Sam e Steve tinham mencionado isso naquele fatídico dia...

— É Morgan, não é? Morgan Stark. — O sobrenome quase travou em sua garganta. — Você está bem? Onde está sua mãe?

A filha do Homem de Ferro e neta do mais icônico casal de vítimas do Soldado Invernal observou Bucky com atenção e um quê de desconfiança. Devia ser instruída a não falar com estranhos. Quando os olhos castanhos desceram pelo braço de Vibranium, exposto por causa do traje, Barnes pensou que a menina teria medo, no entanto isso só a fez focar no rosto dele com as sobrancelhas franzidas.

— Eu te conheço? — Ela perguntou com a voz infantil, tentando parecer muito mais corajosa do que sua postura e seu tamanho deixavam transparecer.

— Eu sou um amigo... de um amigo do seu pai. Meu nome é Bucky. — Seria um absurdo dizer que era amigo de Tony Stark, absurdo e mentira, mas esperava que aquilo bastante como explicação. — Eu estava lá quando...

— Quando papai salvou o mundo? — Ela completou e sua inocência infantil fez com que Bucky simplesmente assentisse, mesmo que sua única vontade fosse de sentar ali mesmo e chorar

Doía que fosse filha do Homem de Ferro, mas era ainda pior olhar para ela e ver alguns traços de Howard Stark... Eram os olhos. Talvez ela tivesse herdado do pai e isso significava que Tony também havia herdado aquela característica de seu progenitor.

Era horrível olhar para a pequena Morgan, porque de todas as suas vítimas, de todo o mal que havia feito como Soldado Invernal, assassinar Howard Stark sempre seria a pior lembrança de todas... Porque costumavam ser amigos.

Fizeram planos de guerra juntos, lutaram juntos, beberam juntos, e riram de algumas piadas que Steve nunca entendia. Uma amizade de guerra, verdade, talvez uma relação que nunca se estenderia para tempos de paz, mas ainda assim... Amigos.

E o Soldado Invernal o matou sem sequer piscar.

— Eu vim com a mamãe comer Hamburguer. — Morgan explicou, parecendo satisfeita em saber que Bucky não era um total desconhecido. — Mas me perdi dela. É o Happy que anda comigo, mas ele não 'tá aqui hoje.

— Eu vou te ajudar a achar sua mãe, tudo bem? — Barnes se colocou de pé e olhou ao redor.

Talvez não fosse tão difícil assim, se lembrava da esposa de Tony na batalha, o cabelo loiro puxado para o ruivo certamente se destacaria na multidão. Ainda estava olhando por cima dos ombros das pessoas, quando sentiu uma pequena mãozinha gelada tocar seus dedos de vibranium. Abaixou a cabeça e Morgan lhe deu um sorriso, esperando pacientemente ali, como se estivesse se sentindo segura e protegida.

Se ela soubesse a verdade, sairia correndo assim que ele se aproximou...

Voltou a sua busca, o frenesi de pessoas ficava mais intenso, pelo visto Dominic havia chamado reforços porque mais policiais estavam por ali fazendo com que a multidão se movesse e colocando mais credibilidade na ameaça. Logo, Bucky notou uma mulher alta, com a cor do cabelo certa, que olhava por toda a parte de forma ansiosa e desesperada.

— Ela está ali. — Ele comentou, alternando o olhar entre a pequena e a esposa de Tony. — Ela está te procurando. Posso pegar você?

Jamais tocaria na garotinha se ela ficasse assustada ou desconfiada, mas sabia que passar por entre a multidão com ela nos braços seria mais rápido e principalmente mais seguro.

Morgan esticou as duas mãos imediatamente, como se só estivesse mesmo esperando um convite. Bucky acomodou a criança nos braços e ela apoiou as mãos em seus ombros para se firmar e poder olhar por cima das pessoas através das quais os dois abriam passagem...

— Mamãe! — A pequena a gritou, acenando freneticamente, assim que se aproximaram um pouco mais.

Bucky viu a mulher praticamente atropelar a multidão para recuperar a filha.

— Ah meu Deus, Morgan quantas vezes eu já falei pra você não sair andando sozinha por aí? — Foi a primeira coisa que ela disse depois de pegar a pequena e abraçá-la de forma quase desesperada, sem sequer olhar para quem a segurava antes. — Quer me matar do coração? Você não pode se distrair e ir atrás de tudo que vê de interessante.

— Desculpa. — A garotinha pediu encolhendo os ombros. — Não fiz por mal...

A ruiva meneou a cabeça em reprovação, Bucky viu em agradecimento se formar nos lábios dela e só então os olhos da mulher focarem nele. Ela franziu as sobrancelhas quase no mesmo instante:

— Sargento Barnes?

— Senhora Stark... — Cumprimentou formal, sem fazer a menor ideia do que dizer ou de como agir.

Bucky viu a mulher ficar extremamente sem graça de repente.

— Na verdade ainda é Potts... A gente nunca casou... Não era o momento... — Seus olhos se alagaram de tristeza. Bucky sentiu a dor no próprio peito, mesmo que a tragédia não lhe afetasse diretamente. — Mas só Pepper já tá bom. — Ela se forçou a voltar ao controle e apontou para a pequena que ainda era carinhosamente abraçada. — Obrigada. Essa menina é impossível...

Por um instante Barnes pensou que ela terminaria a frase. Praticamente pôde ouvir o "parece o pai", mas Pepper engoliu aquelas palavras.... Ele tentou dizer alguma coisa, porém nada lhe veio à mente ou parecia apropriado o bastante.

— Então... o que está acontecendo? — A ruiva preencheu o silêncio, apontando as pessoas que deixam o shopping de forma um tanto desorganizada. Bucky abriu a boca para responder, mas então seus olhos cariam sobre Morgan, Pepper pareceu entender o receio mudo. — Pode falar, Tony já disse coisas piores na frente dela.

O nome pareceu pesar uma tonelada da voz da mulher, ou talvez tenha sido na consciência de Barnes. De toda forma, ele tentou focar no que era importante ali, não podia ficar perdendo o foco daquele jeito.

— Tem uma bomba no topo de um prédio. — Explicou da forma mais sucinta que podia. —Sam está evacuando a área, ela é perigosa pra humanos. — Pepper abriu a boca para perguntar, porém ele foi mais rápido. — Longa história... Você ainda tem aquela amadura?

Tinha visto a mulher lutando contra Thanos, ela era bastante capaz de tirar Morgan dali rápido e de forma segura com aquela armadura que estava usando na batalha.

— Eu não usei mais desde que... — Ela respirou fundo, incapaz de terminar a frase. Era evidentemente forte, mas os olhos não escondiam as marcas da perda. — Era o lance dele, não o meu.

Bucky olhou ao redor por um segundo e não precisou mais que isso para se decidir:

— Então vamos, eu vou tirar as duas daqui e garantir que estejam fora da linha de alcance.

— Você não precisa fa... — Pepper tentou retrucar, mas ele a interrompeu.

— Por favor. — Pediu com os olhos azuis focados nela.

Não duvidava da capacidade que Potts teria de sair dali, talvez ela ficasse até melhor sem ele, mas Bucky queria fazer tudo que estivesse ao seu alcance para ajudar. Sabia que uma parte de si só estava buscando se redimir e também sabia que nada do que fizesse seria o suficiente, ainda assim...

Ele só precisava fazer aquilo.

Pepper pareceu entender o peso que o olhar azul carregava e assentiu finalmente.

Barnes guiou a família de Tony Stark pelo caminho mais seguro, evitando as aglomerações e servindo de escudo humano no meio dos empurrões e cotoveladas. Do lado de fora do shopping a situação parecia ainda mais catastrófica, os ônibus tombados na avenida e a polícia fazendo o possível para manter a ordem e acalmar os ânimos. Avistou Dominic Castilho por ali e logo depois Sam, lidando diretamente com as crianças, ajudando enquanto era observado com curiosidade.

Não foi visto por nenhum dos dois no entanto, apenas seguiu com Pepper e Morgan até o carro das duas e as tirou dali por uma rota alternativa, sem se preocupar em guiar por locais proibidos. Parou no limite da linha de alcance, sabia que elas estariam seguras ali e precisava voltar, porque apensar do senso de dever que possuía, seu coração ainda se contorcia em preocupação por Savannah.

Tinha que acreditar que ela podia se defender sozinha.

— Obrigada, Sargento Barnes. — Pepper agradeceu, quando ele desceu do carro.

Bucky se limitou a assentir e esperou que a ruiva acelerasse, mas ela o observou por um instante e respirou fundo.

— Tony era impulsivo e cabeça dura, mas ele não culpava você, foi só de momento. Ele raciocinou melhor depois. — Declarou neutra e Barnes não soube como responder, apenas moveu a cabeça muito devagar, desviando os olhos em seguida.

Vergonha, culpa, tristeza... Nem ele saberia dizer qual era o sentimento que mais lhe afligia naquele momento. Ouviu o motor do carro e ergueu o olhar de novo.

— Tchau, Bucky! — Morgan acenou, colocando a cabeça para forma.

Ele ergueu a mão direta para retribuir, vendo o veículo de afastar. A vida não era justa. Se fosse Tony Stark estaria vivo, ali com criando a própria filha e sendo feliz com a mulher que amava...

Engoliu o nó em sua garganta e correu o caminho de volta, rezando para que Savannah estivesse bem.

✪ ✪ ✪ ✪ ✪

— Eu me diverti muito hoje com vocês, sabe? — Lucia Von Bardas sorriu cheia de cinismo. — Ouvir vocês tentando passar pelos meus MVAs enquanto eu terminava de montar minha bomba foi muito interessante... Tanto sentimento, tanto drama!

Ficou claro que a mulher estava ali desde o começo e que suas versões robóticas eram apenas distração para que ela concluísse seu plano. As peças começaram a se encaixar, mas Savannah não gostou da figura que vinha se formando.

— Mas nada se compara a vocês desarmando minha obra prima. — A psicopata riu daquela forma debochada e venenosa. — Isso sim foi entretenimento de qualidade.

Era tudo uma grande brincadeira para ela.

Os olhos castanhos-esverdeados de Savannah encaravam a figura de Von Bardas com ódio visceral e explícito e os punhos ardiam em chamas vivas.

— Ah sim, eu já tinha ficado sabendo dos seus novos poderes, são incríveis. Meus parabéns. — A Ministra jogou cheia de cinismo, então apontou para a bomba há alguns metros delas. — Tem certeza que quer fazer isso aqui?

Savannah queria incendiar tudo, mas não era insana, sabia que isso podia detonar a bomba e não queria ser responsável por um massacre. Principalmente quando James e os outros estavam tão perto... Deixou que o fogo se extinguisse e se preparou para uma luta corpo a corpo.

As duas começaram a dar passos cautelosos e calculados, estava evidente que mediam os pontos fracos uma da outra, esperando o momento certo para atacar. Savannah podia ouvir a própria respiração saindo pesada, o coração batia forte, a adrenalina pulsava em suas veias e a raiva era o combustível do frenesi que tomava seu corpo...

Foi então que ela percebeu o que estava fazendo. Estava tornando tudo pessoal. Sim, aquela mulher tinha feito coisas horríveis com James, deixado Savannah presa em uma cela de vidro pra morrer, torturado os dois psicologicamente apenas por diversão, e isso era o de fsto o bastante para algo ser pessoal, mas naquele momento não podia ser, não com uma bomba ali, não com milhares de pessoas ao redor.

Se Lucia Von Bardas podia ativar aquela bomba com uma piscada de olhos, — e Savannah desconfiava que ela podia mesmo — talvez o melhor fosse manter a sensatez...

— Você não tem que fazer isso. — Tentou argumentar. Quem sabe ainda houvesse alguma humanidade naquela mulher... — Muitas pessoas inocentes vão morrer.

— Não se faz omeletes sem quebrar os ovos, não é mesmo? — A Ministra rebateu com deboche e Savannah respirou fundo, talvez ser sensata com uma louca não fosse assim tão fácil. — Você devia ficar honrada, estou fazendo por sua causa! Você me inspirou.

Os olhos castanhos-esverdeados piscaram algumas vezes, a informação era absurda demais para ser processada. Totalmente louca.

Sensatez não era mesmo uma opção.

— Eu já tinha um plano montado, tive tempo pra montar diversos deles pra ser honesta. — Lucia moveu os ombros como se fosse algo totalmente banal. — Separar e conquistar sempre foi a base de qualquer operação e os meus MVAs já estavam em produção faz tempo, mas a bomba.... a bomba eu pensei depois de saber o que aconteceu com você.

Ela apontou para Savannah e as duas se moveram através do terraço, contando passos, provando que ainda estavam analisando as brechas e fraquezas uma da outra.

— Eu percebi que nunca vou encontrar a Estrela Cadente, mas quando fiquei sabendo dos seus poderes percebi que não preciso procurar mais. Eu posso conseguir algo bem melhor que um desejo... Com isso. — Ela apontou para a bomba ali ao lado.

Então era esse o plano? Terrigênesis em massa na esperança de que alguém conseguisse um poder útil? Aquilo não era apenas uma atrocidade, era banalizar totalmente a vida humana. Sensatez, de fato, nunca funcionaria com Lucia Von Bardas, porque ela simplesmente não se importava.

Savannah achou aquilo um tanto triste na verdade, o que será que tinha acontecido com aquela mulher durante a infância e adolescência para que ela se tornasse alguém tão desprovida de empatia? Ela provavelmente tinha sofrido demais, crescer dentro da Hidra perturbara a mente dela de modo irreversível. Porém isso nunca seria justificativa para assassinato em massa.

— Talvez eu consiga algo melhor até mesmo que o Soldado Invernal. — Ela continuou falando com desdém. — Então você pode ficar com aquele homem, ele nem era tão bom assim. — Sorriu mordaz e perversa. — Quer dizer, na verdade você não pode, porque vai estar morta.

Foda-se a sensatez.

— Você é louca pra caralho, sabia? — Savannah lançou, tendo noção que isso irritaria a mulher.

Dito e feito. Von Bardas se lançou na direção da ruiva, tomada pelo ódio, pronta para atingi-la com um golpe do punho direito. Savannah desviou usando as técnicas que aprendera em seu treinamento e revidou com um chute alto que acertou sua oponente do lado esquerdo do plexo solar.

Percebeu que ali não era feito de metal puro e guardou essa informação. Sabia que Lucia não podia ser inteiramente robótica, haviam partes humanas nela e era esses pontos que tinham que ser descobertos e explorados.

A Ministra cambaleou para trás com o impacto, mas foram apenas alguns passos para que ela se firmasse de novo. Seus olhos azuis venenosos se ergueram na direção de Savannah um tanto surpresos. Ela claramente não esperava que a jovem tivesse aprendido a lutar naquele meio tempo.

Investiram uma contra a outra ao mesmo tempo, trocando golpes rápidos e violentos que pareciam surreais para Savannah. Uma vez James dissera que desenvolver memoria muscular era parte importante do treinamento... Ele definitivamente estava certo.

Ficava evidente que Von Bardas preferia usar os punhos por serem seu ponto forte, nesse quesito ela levava vantagem por causa de suas melhorias metálicas. No entanto, Savannah era mais rápida e mais flexível, tinha um bom jogo de pés e preferia usar as pernas nos ataques.

Seguiram em uma sucessão de golpes e bloqueios, socos, chutes, esquivas e investidas, por minutos a fio, até que a ruiva foi atingida por um soco e cambaleou para o chão, aparando a queda com as mãos e cuspindo o sangue que se acumulou em sua boca. Revidou com uma rasteira, derrubando Lucia e aproveitando essa vantagem para se colocar de pé.

Estava cansada e ofegante, mas a adrenalina correndo solta em suas veias parecia gasolina em contato com fogo. Não desistiria até vencer.

A Ministra rolou para a direita, jogando o corpo para trás em uma meia cambalhota que impulsionou seu corpo todo, em seguida usando a força dos braços para se erguer em uma parada-de-mão e então descer os pés para o chão em um movimento limpo e rápido, bastante acrobático.

Savannah avançou, usando a velocidade como trunfo e saltando para que um chute alto acertasse sua oponente no cento do peito, mas esse movimento foi bloqueado e Lucia segurou-lhe a perna e a lançou longe.

Suas costas atingiram a parede, bem ao lado da porta que ela havia derretido para entrar no terraço. O ar faltou por alguns segundos, suas costelas ardendo do impacto inesperado e, antes que conseguisse recuperar o fôlego ou levantar, a Ministra lhe agarrou pelo cabelo e conseguiu fechar a mão direita ao redor do pescoço de Savannah a prensando contra o concreto.

— Você não pode me vencer, querida. — Ela silabou em seu deboche irônico. — Apenas desista.

Savannah sentiu sua traqueia obstruída e o oxigênio cada vez mais rarefeito, então fechou as pálpebras por um segundo e prendeu o ar totalmente. Apoiou as duas mãos no braço de Lucia que permanecia firme em sua garganta e se concentrou, quando abriu os olhos suas íris avelãs ardiam em um laranja flamejante e suas mãos acenderam em chamas vivas ao mesmo tempo que ela reunia toda sua força e jogava os dois pés em direção ao plexo solar da Ministra.

A mulher gritou, não daria pra saber se foi de ódio ou de dor. As chamas aliadas ao golpe fizeram com que ela cambaleasse para trás e soltasse Savannah, não porque quis, mas porque seu braço metálico foi dividido ao meio, derretido demais para suportar a impacto do chute...

Savannah parou com o impacto da cena, não era o que pretendia fazer. Deixou que o fogo se extinguisse de suas mãos então, e talvez tenha desperdiçado uma oportunidade valiosa de vencer a luta, porque teve compaixão demais para continuar atacando. Não queria matar ninguém, por mais que pudesse.

— Eu merecia isso! — Lucia gritou ensandecida. — Essa era a minha vitória e o meu momento! A vida já tirou o bastante de mim, sua fedelha intrometida! Eu mereço ter tudo que eu quero!

— Mas não desse jeito. — Savannah retrucou e no fundo sentiu pena, talvez um dia Von Bardas tivesse sido apenas uma vítima das circunstâncias... Queria ajudá-la, mas entendia que estavam em um ponto em que talvez não tivesse mais volta. — Acabou Lucia, você não pode me vencer e sabe disso. Eu sou mais poderosa agora. Se renda e as autoridades vão prover justiça e o auxílio psiquiátrico que você precisa. Você ainda pode ter uma chance de ter uma vida boa, depois de pagar pelo que fez.

Queria ser justa, queria fazer o certo, era o que Sam e James fariam. Só porque tinha um traje legal, um nome criativo e algumas habilidades poderosas, não queria dizer que tinha o direito de escolher quem vivia e quem morria... Não era juiz, júri e carrasco, era só uma garota no fim das contas.

— Você tem razão eu não posso te vencer. — Lucia declarou com um longo suspiro, enquanto segurava o local onde braço fora recém arrancado. — Mas eu não preciso vencer você, eu só preciso te manter ocupada...

Savannah franziu minimamente as sobrancelhas, tentando entender o que aquilo significava, mas quando seguiu a direção do olhar de Von Bardas a certeza de que tinha sido ingênua demais lhe atingiu em cheio. O cronometro tinha acabado de aparecer no visor da bomba outra vez...

Merda!

— Você tem que entender, Savannah Devenport, que só acaba quando eu quiser que acabe. — A mulher sorriu venenosa. — Eu sempre venço.

A ruiva se moveu para derrubá-la, mas Lucia tirou algo do cinto e jogou no chão e um tipo de granada de luz a deixou totalmente cega por alguns segundos. Quando a visão de Savannah normalizou, ela estava sozinha no terraço.

E o visor estava em contagem regressiva...

Tentou avisar Sam ou Bucky da fuga, mas seu comunicador não funcionou, era óbvio que Lucia havia desativado remotamente, ela só tinha deixado de fazer isso antes porque estava se divertindo às custas deles.

Savannah se viu em um impasse então, se corresse atrás de Lucia não conseguiria parar a bomba a tempo. Tinha que deixá-la fugir. Não havia tempo para os dois...

✪ ✪ ✪ ✪ ✪

Nikolaj Novokov era um homem otimista, sempre fora, motivo pelo qual se alistou nas forças armadas; pensou que defenderia as pessoas e faria do mundo um lugar melhor. Acreditava na bondade latente em cada ser humano, mas talvez tivesse que repensar isso depois de tudo que lhe acontecera...

Aceitou participar do projeto Cerberus porque queria ser um Soldado melhor; desde sempre estivera ligado com a guerra de alguma forma, seus avós haviam fugido da Rússia por causa disso, o que não adiantou muito, já que sua mãe se formou médica e se alistou na primeira oportunidade. Foi assim que conheceu seu pai nas trincheiras... E anos depois os dois morreram servindo.

Nik nunca tentou fugir do legado de seu sangue, e a Latvéria se provou o país perfeito para honrar seu dever e fazer a diferença, um território violento, porque tinha um governo fraco. A guerra civil era uma realidade cruel por lá...²

Seu otimismo e esperança fizeram com que acreditasse em tudo que o Doutor Freakmann disse, e no fim Nik era apenas a cobaia perfeita, um bom soldado, homem forte, sem família para dar falta dele.

E então se tornou um assassino.

Encarou os irmãos desacordados no chão, em meio a toda a bagunça que aquela casa de fazenda havia se tornado.

Pelo menos tinha ganhado uma família... Já era alguma coisa, certo?

— Não se preocupar irmãos. Vou perdoar vocês por isso depois que tirar essas coisas de suas cabeças! — Disse baixinho, como se pudessem ouvir, limpando o sangue do próprio rosto e bebendo um longo gole da garrafa de água que estava em sua mão direita.

Não fora uma luta fácil, e talvez tivesse perdido sem uma ajuda inesperada...

— Querer água, Robozão? — Perguntou para o homem na armadura cinzenta.

Tinha surdido do céu, um aliado, segundo ele próprio tinha dito enquanto escapavam de algumas balas. Se apresentou como Rhodes — o Maquina de Combate — mas Nik ainda preferia "Robozão".

— Não consigo contato com ninguém mais. Parece que estragaram meu comunicador. — Rhodes apontou com a cabeça para os dois homens exatamente iguais Nik que estavam no chão.

O Soldado estava pronto para dizer que precisavam transportar Vlad e Leo antes que acordassem quando um zumbido veio do céu, um helicóptero com a insígnia da CIA passou voando baixo e logo pousou no amplo gramado.

Nik observou uma loira descer, já a vira uma vez, com Bucky.

— Sharon, eu estava tentando contato com você. — Rhodes se adiantou na direção dela. — Como foram lá, todo mundo bem?

— Achamos muito material da SHIELD e Hidra, então confiscados agora. Achei que iam precisar de suporte aéreo. — Ela se virou para Nik então e estendeu a mão direita. — Sharon Carter, se lembra de mim?

Ele acenou positivamente, trocando um cumprimento rápido com ela e sentindo um tanto de inveja da quantidade de amigos legais que o Soldado Rabugento tinha... Homem de sorte.

Fora que todos eram bonitos, como se estivessem saído do palco de um balé russo... Soldados bonitos como Bucky não lutavam na guerra, não mesmo, eles deserdavam e iam ganhar a vida com algo mais fácil.

Logo, Nik teve que parar de se distrair com os próprios pensamentos, porque eles focaram em preparar Leo e Vlad para o transporte, enquanto trocavam as informações que tinham, que infelizmente não eram muitas... Estavam sem contato com Manhattan e não era possível saber se Sam apenas tinha decidido usar um canal de comunicação diferente, ou se Von Bardas tinha feito algum bloqueio.

Não era seguro que se aproximassem demais da cidade com as duas cabeças do Cerberus ainda conectadas aos chips intraneurais, e Rhodes estava com a armadura danificada da luta com os dois, ainda assim Nik não podia simplesmente voar para longe. Era uma questão de honra.

— Ter que ir ajudar Menina Migalha e Soldado Rabugento. — Afirmou convicto. — Não acaba até Madame ser detida. Não acaba enquanto ela ainda poder fazer mal pra pessoas...

Sharon o olhou compassiva e finalmente concordou em deixá-lo o mais perto que era seguro do prédio alvo, depois disso ela voaria para um lugar protegido com Vlad e Leo, onde eles seriam mantidos sedados até que a cirurgia de remoção do chip pudesse ser feita. Rhodes serviria de apoio caso alguns dos dois acordasse.

— Aqui... Achamos no outro esconderijo, pode ser útil. — A agente loira entregou uma arma para Nik.

Ele conhecia aquele modelo, a Ministra havia usado para derrubar Bucky sem feri-lo. Era útil...

Alguns momentos depois Nikolaj estava em solo, correndo pelas ruas que apresentavam uma dicotomia estranha, algumas absurdamente movimentadas e outras totalmente vazias... Era quase como se a cidade estivesse sendo evacuada. Mas onde estariam seus novos amigos?

Mal tinha virado uma esquina quando reconheceu a figura que corria por entre os carros. Madame Von Bardas...


Não muito longe dali Bucky também corria, seu comunicador estava mudo há tempo demais e a preocupação se espalhava por suas veias como veneno.

Não devia ter deixado Savannah sozinha com aquela mulher.

Virou à esquerda e a direita, cortando por dentro de ruas mais vazias e evitando as multidões. Foi quando avistou Nikolaj cruzando a pista em disparada, suas tatuagens em destaque no braço visível provavam que era mesmo ele, mesmo que Bucky não soubesse como ou quando o Russo havia chegado ali...

Só então notou que ele tinha um foco claro, uma mulher que acabara de quebrar o vidro de um dos carros e lidava com uma ligação direta. Lucia Von Bardas.

O coração de Bucky deu uma guinada no peito, se aquela mulher estava ali, o que tinha acontecido com Savannah?

Seu desespero fazia sua menti nublar, nenhum de seus planos dera totalmente certo por causa isso, estava preocupado demais o tempo todo e tinha deixado de pensar estrategicamente. Talvez fosse hora de confiar em Savannah e focar no problema que tinha em mão naquele momento. Era o melhor que podia fazer, por mais que seu coração dissesse para ele correr de volta para o prédio imediatamente.

Não podia deixar Von Bardas escapar outra vez.

Cerca de um quilometro separava Barnes dos outros dois, ele notou que Nik não chegaria no veículo a tempo e que Lucia tinha acabado de notar o russo ali, dando a partida e saindo em alta velocidade.

Bucky teve que pensar rápido, não tinha armas ou qualquer coisa que pudesse usar para parar o veículo, o único trunfo que talvez pudesse dar certo seria o elemento surpresa, já que Von Bardas não o tinha visto... Saiu da pista então, se abaixando na frente de outro carro e respirando, esperando o momento exato para agir.

Quando o veículo estava perto o bastante ele se moveu rapidamente de volta para a pista, bem na rota de colisão. Não esperava que Von Bardas fosse parar e sabia que não tinha força o bastante para deter um carro, a única coisa que podia fazer era gerar um impacto...

Firmou os pés no chão e virou o corpo para que a lataria se chocasse contra o vibranium. Os pneus cantaram na avenida e logo veio a batida estrondosa, seu braço absorveu a maior parte do impacto, mas ainda assim Bucky foi jogado alguns metros longe.

Ele se colocou de pé o mais rápido que seu corpo dolorido permitiu, o impacto fizera Lucia Von Bardas voar pelo para-brisas, mas ela já estava de pé naquele momento, o rosto desfigurado revelando o metal por debaixo da pele, os cabelos negros emaranhados, cheios de fuligem e sangue vertendo de alguns pontos, provando que de uma forma um de outra a mulher ainda era humana. Só então Barnes notou que ela estava sem um dos braços. Aquilo não tinha sido obra do acidente...

A Ministra olhou ao redor, claramente calculando sua rota de fuga enquanto Nik se aproximava rapidamente. A raiva e a insanidade eram visíveis no rosto dela, Bucky quis sentir alguma compaixão, mas nem disso foi capaz. Odiava aquela mulher.

Lucia finalmente estava cercada, era quase irônico até, os dois Soldados que ela manipulou e controlou seriam seus captores. Nik e Barnes deram um passo na direção dela ao mesmo tempo.

Von Bardas não tinha escapatória.

— Não me obrigue a usar violência... — Bucky soprou tão frio quanto o gelo que um dia havia corrido em suas veias, se colocando na exata rota que viu os olhos dela calcularem.

— Ah claro, porque vocês dois são mesmo uns anjos não é mesmo? —A Ministra apontou de um para o outro. A voz cheia de rancor e descontrole. — Vocês se acham muito melhor que eu, mas a verdade é que suas mãos tem bem mais sangue que as minhas! Vocês dois não passam de as...

Ela não terminou, Novokov a atingiu com três tiros na altura da cintura, onde uma mancha de sangue do acidente era visível. Bucky reconheceu a arma não letal e encarou o soldado com uma sobrancelha erguida.

— Madame falar muito. Voz de gralha me irritar. — Nik encolheu os ombros como se fosse nada demais, se aproximando os passos restantes e esvaziando o cartucho na mulher desacordada. — Melhor garantir...

Os olhos azuis gélidos focaram em Lucia Von Bardas por um segundo apenas, estava acabado. Bucky não pretendia gastar nem mais um segundo de vida com aquela mulher...

Precisava saber como Savannah estava.

✪ ✪ ✪ ✪ ✪

O cronometro marcava dois minutos e meio. Savannah encarava a tela com olhos marejados, não havia mais o que digitar, tentara o mesmo processo que TJ tinha ensinado da primeira vez, mas não funcionou, apenas uma mensagem de "acesso negado" havia sido exibida, antes que os números macabros voltassem a aparecer.

Seja lá o que Von Bardas tinha feito, ela havia mudado a programação com seu cérebro maluco. Os comunicadores também não funcionavam, não havia como pedir ajuda a TJ ou a qualquer um....

No fim ela venceria, não tinha jeito.

— Alguém está me ouvindo? — A voz veio chiada, mas Savannah a reconheceu de imediato.

— Bucky, onde você está? — A de Sam veio depois.

— Gente, vocês precisam me ouvir! A Ministra fugiu e a bomba está armada de novo, e eu... — As palavras desesperadas de Savannah não tiveram um fim porque James a interrompeu.

— Graças a Deus você está bem... — O ouviu suspirar. — Eu estou com Nik, pegamos a Von Bardas. Acabou. Acho que ela estava bloqueando os comunicadores, mas isso foi desfeito quando ela apagou.

Diferente de Sam, Savannah não conseguiu comemorar ao ouvir a notícia, não quando o cronometro marcava dois minutos...

— Vamos ligar para o TJ de novo e desativar a bomba. — Wilson soou prático.

A ruiva tentou o código outra vez, na esperança que tudo voltasse ao normal já que a Ministra estava fora do jogo. Mas não deu certo.

— Seja lá o que ela fez, o método anterior não funciona mais. Eu estou bloqueada. — Lamentou, sabendo que ligar para TJ não adiantaria. — Temos menos de dois minutos agora. Não dá pra tentar mais nada.

— Savannah.... — A voz de seu Sargento veio pelo comunicador e só a deixou ainda mais desesperada.

— Me desculpa... Vocês precisam sair da zona de alcance. — Se algo acontecesse com seus amigos ela jamais se perdoaria. Já era ruim o bastante desapontar todos eles.

— Hey, Boneca, me escuta. — James soou carinhoso, porém firme. — Você pode fazer isso.

Os olhos avelãs não deixaram o cronometro.

— Sem chances de desarmar uma bomba em um minuto, eu...

— Lembra o que você me disse? Uma bomba é só uma explosão, Savannah. É fogo. — Ele não a deixou terminar — Você pode conter, se as particular não se espalharem não vai haver perigo.

Ela queria acreditar, mas já tinha falhado demais naquele dia, aquilo era muito mais que seu treinamento havia ensinado. Além disso era hora de encarar a verdade não era uma heroína.

— Me escuta, Boneca. — James pediu, sua convicção e força eram quase palpáveis naquele momento. — Não importa o que você esteja pensando agora, você pode sim fazer isso, porque você é incrível e extraordinária. Eu confio em você...

Savannah escarou o cronometro nos trinta segundos finais. Tinha que tentar.

— Tudo bem, Sargento. — Ela concordou, tentando não derramas as lagrimas que seus olhos teimavam em formar. — Nos vemos daqui a pouco.

Desligou o comunicador, sabia que precisaria de toda sua concentração ali, observou os dez segundos finais se esvaírem e respirou bem fundo, prendendo o ar dentro dos pulmões...

Quando o cronometro zerou ela pôde sentir o fogo antes mesmo de vê-lo, suas orbes se tornaram de um laranja incandescente e suas mãos se moveram no ar, fazendo com que as chamas agissem de acordo com sua vontade. Focou nos cristas, nas pequenas partículas azuis que se partiram quando a explosão surgiu na câmara em que eles estavam, conteve o fogo ali, sem deixar que saísse. Não era uma tarefa fácil. Porque a força da bomba impulsionava tudo pra fora...

Savannah achou que seus ossos se partiriam, porque era como se o impacto fosse contra ela. Se concentrou mais, deixando que as chamas começassem a sair por outros lugares, enquanto ainda continha aquela pequena explosão dentro da redoma de vidro já rachada que guarda os cristais — ou melhor, os fragmentos deles.

Logo o incêndio tomou conta do terraço, o fogo dançando por toda parte rodeando a garota e consumindo tudo ao redor, no entanto ela não se importava, seu único foco eram as pequenas lascas azuis. Foi então que algo lhe ocorreu: se aumentasse o calor ali dentro aquela câmara de vidro talvez conseguisse incinerar os cristais e assim eles desapareciam, sem se espalharem no ar.

Conteve ainda mais a explosão, apertando os dedos como se estivesse manipulando o fogo fisicamente, condensando todo o poder em um só lugar, deixando que tudo esquentasse mais e mais, até que era como se o próprio Sol brilhasse dentro da redoma de vidro que se fragmentou completamente.

Os cabelos ruivos estavam em chamas e o corpo não era mais de fato um corpo, tudo era fogo tomando conta do terraço inteiro. Savannah via tudo em tons alaranjados, as chamas consumindo cada pequeno átomo de oxigênio que ela guardava dentro dos pulmões.

Respirava calor então, porque isso era tudo que era e, ainda assim, tinha tudo sob controle. Podia não ser uma heroína, porém era a Raposa Flamejante e isso bastou naquele dia...

✪ ✪ ✪ ✪ ✪

Bucky observava as chamas visíveis no topo do prédio em construção, a ansiedade latente em seu peito o deixava inquieto e apreensivo. Tinha sido honesto quando disse que acreditava que Savannah daria conta, mas isso não significava que não se preocupava...

Estava sim preocupado, e muito.

Queria que a "situação" com a Ministra tivesse lhe tomado mais tempo, porém a mulher já estava a caminho de uma prisão especial, sedada e escoltada por uma equipe de apoio que Sharon enviara. Com isso resolvido e já que Sam estava trabalhando com Dominic e o resto da força policial no fim da evacuação, com tudo sob controle, não havia muito mais que Bucky pudesse fazer a não ser esperar ali parado diante de um prédio mal acabado.

Essa era a pior parte.

— Sabe que não precisa ficar aqui me vigiando feito um cão de guarda, não é? — Olhou para Nikolaj que estava sentado no meio fio, se abando com um pedado de papelão que tinha achado em algum lugar.

Realmente, estava calor demais ali, quase como se o próprio Sol estivesse mais perto da Terra.

— Precisar sim, estar aqui pra impedir Soldado Rabugento de sair correndo pra dentro do prédio como louco suicida. — Nik apontou displicente. — Capitão das Américas mandar eu ficar de olho.

Era claro que Sam tinha feito uma coisa daquelas...

Antes de permitir que o Sargento passasse pela barreira de contenção Wilson tinha passado uma infinidade de minutos falando o quanto seria irresponsável subir lá, arriscando descontrolar Savannah com aquela distração desnecessária. Era óbvio que mandaria um "espião" ficar de olho.

Capitão América. — Bucky corrigiu de forma simples.

Novokov franziu as grossas sobrancelhas, pensando por um segundo e negando em seguida.

— Isso não fazer sentido. Ser três Américas, eu aprender isso na escola, não ser burro.

Barnes revirou os olhos de modo exagerado e respirou fundo, cedendo um pouco e se sentando no meio fio também.

— Faz tanto sentido quanto "Soldado Invernal" e "Cerberus". — Comentou casual, apenas tentando matar o tempo.

Queria que Savannah aparecesse logo, sã e salva, apenas isso.

— "Cerberus" fazer muito sentido. Ser cão de três cabeças. — Nik fez o número com os dedos, apontando cada um deles em seguida. — Eu, Vlad e Leo.

Bucky se limitou a negar entediado e calado, encarando o outro lado da rua, esperando que o motivo de suas preocupações finalmente aparecesse.

— "Soldado Invernal" ser médio... Pelo menos botar medo. — O outro continuou em seu monólogo. — Eu ter medo de você, antes de conhecer, agora não ter mais... — Barnes ficou os olhos gélidos em Nikolaj imediatamente e ele se apressou a completar: — Quase.

O Sargento deu um suspiro cansado e encolheu os ombros.

— Eu não gosto. — Disse apenas, achando desnecessário explicar toda a sensação ruim que aquela alcunha lhe trazia.

Décadas de atrocidades e sangue vinham com aquele nome...

— Só trocar ué, não ter nenhum documento dizendo que ter que ser o Soldado Invernal pra sempre. — Nik também encolheu os ombros, como se fosse a coisa mais simples do universo inteiro.

— É, não tem...

Talvez fosse mesmo bem simples. Era tudo sobre escolhas no fim das contas...

Barnes, no entanto, não quis se estender no diálogo. A verdade é que não se achava capaz de se envolver em conversa alguma naquele momento. Isso porque não conseguia se concentrar em nada mais que na saída do prédio.

Tinha certeza que Savannah conseguiria, isso ainda era certo, mas sua mente estava começando a sabotar suas convicções, montando realidades nada agradáveis... Ainda não tinha aprendido como controlar o rumo dos próprios pensamentos.

— Menina Migalha ficar bem, ela ser dura na queda. — Nik declarou de repente, quase como se soubesse o que se passava na cabeça de Bucky.

A quem queria enganar afinal? Quando se tratava de Savannah era um livro aberto.

— Tem razão. — Ela concordou em voz alta, apenas para convencer os próprios pensamentos. — Eu não devia me preocupar tanto...

— Quando gostar de alguém, preocupar é... — Novokov não terminou, ou talvez até tenha feito isso, mas Bucky deixou de ouvir qualquer outra coisa assim seus olhos azuis captaram a figura feminina de fios ruivos revoltos saindo do prédio.

Levantou em um salto e correu naquela direção, captando o quanto Savannah parecia exausta.

— Sargento... — Ela abriu um de seus sorrisos-sol e foi como se o ar se tornasse mais leve.

— Boneca... — Bucky sorriu também, porque era isso que Savannah causava nele.

Alegria instantânea.

Não precisaram trocar palavravas sobre a missão, a Raposa Flamejante tinha conseguido, estava escrito em seus olhos...

Barnes a puxou para perto de si, ignorando o quanto ela estava quente e selando os lábios dos dois como se precisasse daquele beijo para viver. E talvez precisasse mesmo. Porque Savannah havia lhe devolvido a vida, tinha lhe mostrado que sobreviver e se arrastar pelos dias não era o bastante, tinha lhe ensinado a desejar mais outra vez, a ser mais homem e menos Inverno.

Ela era o Sol afinal, nenhum gelo resistiria ao seu calor.

Ainda estavam se beijando quando ouviram alguém limpar a garganta forçadamente ali perto. Bucky se afastou um passo, sem se dar ao trabalho de soltar Savannah, para então olhar por cima do ombro com sua melhor expressão assassina.

— A gente pode ir embora agora ou vocês vão ficar aí se beijando pra sempre? — Viu Sam Wilson de braços cruzados, parado no meio fio.

— Acho que Capitão das Américas precisar de uma namorada pra não ser assim tão amargo. — Nikolaj apoiou as mãos no ombro de Sam e abriu um sorriso inocente.

Bucky riu alto, puxando Savannah com ele para que pudessem atravessar a rua.

— Nik acabou de subir uns três pontos na minha lista de pessoas preferidas... — Declarou, lançando um olhar debochado para Sam que não fez mais que uma careta infantil, como se imitasse cada palavra dita por Barnes.


Savannah tinha uma sensação plena de dever cumprido dentro do peito, era tão quente e agradável quando o abraço de James. Finalmente tinha acabado.

A volta para o complexo foi tranquila, mas o mesmo não poderia ser dito da chegada, não quando o grupo todo estava esperando na entrada pronto para bombardear todos eles com mil perguntas ao mesmo tempo...

Pensou que receberia abraços e mimos dos amigos, mas Gus e TJ passaram direto, o primeiro praticamente arrancou James de Savannah e o segundo estava muito mais preocupado com Nik. Pelo menos Abby foi atenciosa o bastante para lhe abraçar primeiro.

Mike quase atropelou todo mundo para se jogar nos braços de Sam, com a alegria estampada no rosto. Enquanto era abraçada — e averiguada — por Sierra, Savy ouviu o garoto perguntar.

— Então você é o Capitão América agora. Tipo: mesmo, mesmo?

— É... — Sam pareceu ponderar aquilo por um instante. — Eu sou. Mesmo, mesmo.

Mike abriu o melhor do sorriso e presenteou Wilson com um grande abraço, enquanto Beverly se aproximava deles. Savannah observou os três ali de onde estava, havia uma cumplicidade interessante no olhar Bev e Sam trocaram, ou na forma como ele a agradeceu por alguma coisa e a puxou para perto, depositando um beijo carinhoso em sua testa.

Tinha algo muito promissor nascendo ali... Talvez eles não vissem ainda, mas com certeza tinha.

— Então, é isso? Acabou? — TJ perguntou animado. — Podemos comemorar?

— Eu estar com fome. — Nik completou, esfregando o estômago e todos riram.

Savannah procurou por James com o olhar, bem no exato instante que ele fez o mesmo, por algum móvito era sempre isso que faziam ao rirem, quase como se ambos precisassem saber se a felicidade atingira o outro também.

Era assim que tinham se tornado tão bons em conversas mudas.

— Eu acho que vocês deviam me dar uma exclusiva sobre a história toda. — Abby comentou sendo tão cara de pau como sempre e apontando para Sam. — Principalmente você, Capitão América.

— Não força a barra, Abigail. — TJ repreendeu entredentes e foi totalmente ignorado pela prima.

— Na verdade... Eu acho que isso é bom até. — Sam declarou, parecendo pensar sobre o assunto naquele instante e gostar das possibilidades que montava em sua mente. — Se eu falar com você, vou ter sempre certeza que a minha versão dos fatos não vai ser deturpada, certo?

— Com certeza. Prometo, Capitão! — Abby bateu uma contingência toda torta e Savannah notou que ela estava era tentando se conter para não pular de empolgação.

Correspondente exclusiva de um herói. Era tudo que Abigail Hernandez tinha pedido na vida.

— Bom, então é isso, a gente merece uma festa, agora a gente já pode sair daqui e comprar bebidas, certo? Uma festa de despedida desse lugar e de comemoração. — TJ foi prático, provando que já havia planejado tudo naquela cabecinha.

— Na verdade... — Sierra declarou, focando seu olhar em James e Savannah. — Tenho um amigo que quer encontrar com vocês dois... Ele também disse que uma velha conhecida quer te ver, Bucky.

— Que amigo? Quando ele disse isso? — Savy questionou confusa. Tecnicamente eles sequer podiam usar os telefones, como alguém se comunicaria com Sierra?

— É complicado... — A loira respondeu encolhendo os ombros e então sorriu de canto. — Mas digamos que o mundo de vocês está prestes a ficar bem maior... e estranhamente eXtraordinário.


1 - Você realmente pode "matar" uma tarefa através do prompt de comando. Esse é um procedimento real (que obviamente não é usado para bombas...)

2 -Dentro do universo de Inverno Ardente Victor Von Doom (o Doutor Destino) ainda não é o governante da Latvéria (nas HQs, apesar dos pesares, ele é conhecido com um bom governante)


Caramba hein gente... quanta coisa! Eu espero de verdade que vocês tenham gostado desse capitulo, todo mundo sabe que ação não é minha zona de conforto, mas eu adoro ele, porque tem todos os detalhes que eu planejei desde o começo e vários personagens tem seu momento.
Sei que muita gente estava esperando aparições do núcleo de elite dos Vingadores (Wanda, Peter, Stranger...) mas seria contraproducente pro enredo ter esse tipo de habilidade e personagem ali, quando eu queria dar destaque para outras pessoas.  

E é claro que eu quero saber o momento preferido de vocês! Contem tudo!

Agora só faltam 3, e eu acredito que vocês já tenham ótimas teorias do que vem por aí, certo?

Vou escrever esses 3 em uma tacada só e vou postar um por dia, então eu provavelmente vou demorar um pouquinho mais dessa vez. Mas não muito, já que eu só estou escrevendo IA. 

Logo nos vemos
Beijos e até!


PS: Nessa casa amamos e adoramos Samuel Wilson A.K.A Capitão América!

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