Scotch on the rocks

By Alelubets

526 41 47

Olivia é uma policial canadense que sai de férias pela Europa e decide fazer faz um tour etílico. Alemanha �... More

Capítulo 2
Capítulo 3

Capítulo 1

175 14 22
By Alelubets

Glasgow, 2019

Olivia

O trabalho me transformou em uma mulher mais prática, independente e, arriscaria dizer, durona também. Em Toronto, vivia debruçada sobre meus casos, praticamente dia e noite. O universo da investigação era fascinante para mim, desde muito nova. Quando finalmente, consegui a posição que queria no trabalho, agarrei a oportunidade com unhas e dentes.

Não estava acreditando que teria um mês só para mim, depois de trabalhar cinco anos como investigadora, sem conseguir tirar férias. Quis usar esse tempo para fazer um tour etílico sozinha pela Europa, esperando que meu fígado aguentasse aquela aventura. Depois de duas semanas conhecendo algumas cidades na Itália e Alemanha, terminaria minha viagem passando por Escócia e Inglaterra.

Tinha me dado por satisfeita com as diferentes cervejas alemãs e vinhos italianos, quando por sugestão do recepcionista do hostel, considerei experimentar o tão falado uísque escocês. Gosto de experimentar comidas e bebidas dos lugares que visito e achei que valeria a pena a experiência, mesmo que eu não tivesse profundo entendimento no assunto.

Visitar museus e lugares históricos também estava nos meus planos e, ao longo da viagem, foram marcados na minha lista de lugares para conhecer.

Estar sozinha me dava praticidade de pular dentro de um jeans e ajeitar rapidamente o cabelo, sem ter que esperar por minhas amigas, o que acontecia em todas as nossas saídas de final de semana. Revirei minha mala bagunçada à procura de um cachecol quentinho e vesti a jaqueta, ficando pronta para curtir aquela noite fria na minha própria companhia.

Cheguei à destilaria em Glasgow um pouco mais cedo, na tentativa de conseguir vaga no único horário de degustação disponível. Alguns visitantes já estavam no balcão do bar iniciando suas atividades nas bebidas, antes mesmo da aula começar.

Um guia gentilmente me conduziu à última mesa vazia, que ficava localizada ao fundo. A área privada para demonstração que acontecia após o tour pela destilaria tinha mesas de cedro com o nome da companhia entalhado nas bordas e bancos compridos de madeira ao invés de cadeiras, para sentarmos em pares. Aguardei, enquanto observava os frequentadores do local. Casais, alguns turistas, grupos de amigos. Todos falantes e animados.

Passados alguns minutos, vi que ainda faltavam quinze minutos para começar e resolvi me distrair com o telefone.

Olivia:

Adivinha onde estou?

Sarah:

Em um show de go-go boys.

Olivia:

Não, boba. Em uma destilaria em Glasgow, para uma degustação de uísques.

Sarah:

Que maravilha! Não tem nenhum escocês interessante por aí?

Olivia:

Por enquanto, só as bebidas. Os caras aqui são casados ou cinquentões.

Sarah:

Entediante! Beba todos os copos e saia daí já.

Olivia:

Não posso sair virando os copos de uma vez. Me inscrevi em uma aula, que, aliás, já vai começar. Nos falamos depois.

Os participantes tomaram seus lugares e, assim que percebi o sommelier se posicionando no meio do salão para começar, guardei o telefone na bolsa.

Dois rapazes entraram pouco depois, constrangidos pelo atraso e pedindo desculpas. O moreno de estatura média sentou-se na mesa da frente com um estranho, e ao outro, alto e loiro, restou o único lugar disponível, que era ao meu lado.

— Com licença. Posso sentar aqui? — Ele perguntou apontando para o assento e não tomou o lugar enquanto não respondi.

— Claro.

— Tínhamos reservado, mas nos atrasamos. — disse ele, deslizando pelo banco.

— Você quer que eu troque de lugar para ficar com seu amigo? Eu posso... — propus.

— Não se incomode. Nós demoramos um pouco mais lá embaixo. — referiu-se ao bar localizado no primeiro andar.

Voltei minha atenção ao sommelier, que fazia sua apresentação inicial.

— Sou Sam. — disse ele, repentinamente.

Ao olhar em sua direção, vi que me cumprimentava com a mão estendida e um sorriso. Confesso que fiquei espantada com tamanha espontaneidade. Só consegui rir.

— Pra--zer, Sam. Sou Olivia. — estendi a mão para cumprimentá-lo.

Seu sorriso pretensioso era uma graça.

Concentrei-me em seus expressivos olhos azuis, que brilhavam naquela meia luz de bar, e me permiti fazer aquela rápida análise facial de primeira vez.

— Desculpe. Te assustei, mas achei que poderia me apresentar, já que vamos passar a próxima hora juntos. — justificou.

— Imagina! Não precisa se desculpar.

A voz do sommelier contando a história do uísque interrompeu minha observação no formato do rosto definido de Sam, levando-me olhar para frente. Nossas taças estavam em uma régua sobre a mesa e compartilhamos a tábua de queijos e frutas secas.

— Sendo assim, o uísque das Lowlands é mais leve e suave. Vocês podem experimentar da primeira taça. Primeiro, sintam o aroma e depois, deixem a bebida repousar na boca por alguns segundos antes de engolir. — continuou.

— Você consegue sentir um pouco de floral? — perguntou Sam, cheirando a bebida.

— Hmm. — Engoli para responder. — Como em um perfume, você diz? — Eu não tinha noção do que estava falando.

— Não exatamente, mas acredito que se beber mais um pouco, consegue perceber.

— Certo. — concordei e peguei a taça com um restinho daquele uísque das terras baixas.

— Você já fez isso antes, Olivia? — questionou casualmente.

— Bem... Sim. Com vinho, algumas vezes. — Ainda me restava o último gole da primeira taça.

— É basicamente a mesma coisa. Podemos? — Sam pegou sua taça e sugeriu que eu acompanhasse. — Tome um gole devagar e tente de novo.

Ele me assistiu, enquanto eu sentia a bebida descer quente pela garganta, deixando o tal fundo floral que Sam mencionou. Se aquele sabor e aroma eram os mais leves, definitivamente, eu não estava preparada para os mais fortes.

— E então? — perguntou, curioso.

— Agora que você falou, consigo perceber. — eu disse.

— Não é? — perguntou com um sorriso largo no rosto.

— Sim, mas só consegui identificar porque você ajudou. É uma vergonha que eu só tenha tido maior interesse por uísque depois dos 30 anos. Antes, eu bebia qualquer coisa. — contei.

— Interessante, mas acho que você está mentindo. — ele disse, atrevido.

— O que? Você... — Tentei protestar.

— Para ser sincero, acredito mesmo que não tenha tido contato com um bom scotch antes, mas de jeito nenhum, — disse com o dedo em riste — você tem mais que... 25, eu arriscaria dizer. — tentou adivinhar, tomando distância para me olhar.

Como ele era bonito!

E falante.

— Bem, Sam. — rebati, dando ênfase ao seu nome. — Vou aceitar isso como um elogio, mas estou em dúvida se devo me sentir bem ou inadequada vestida assim, de tênis e jeans para uma degustação de scotch. Eu realmente não sabia o que encontrar aqui.

— Ah, não. Não é isso. Desculpe se fiz parecer um elogio reverso. — disse, constrangido.

— Tudo bem. Eu te mostraria minha carteira de motorista, mas lembrei que a foto está péssima, então você vai ter que acreditar na minha palavra.

— Eu acredito. — ele disse acenando discretamente com a cabeça e com um sorriso de canto ao me analisar e com isso, senti que aquela ardência da primeira dose estava me tomando o corpo todo.

Nessa conversa, nos distraímos e perdemos a degustação de dois uísques. Minha experiência não seria completa, porque me distraí com um cara interessante. Bem a minha cara fazer aquilo!

— Eles já estão na quarta taça e só bebemos uma. — deixei escaparem voz baixa, sem a intenção de reclamar, mas ele acabou ouvindo.

— Estou tirando sua atenção, eu sei. Prometo ficar quieto até o final. — sussurrou e virou-se para frente, deixando-me em dúvida se era brincadeira ou se falava sério.

— Você é... deixa pra lá. — Fiz o mesmo que ele e consegui acompanhar a explicação sobre as duas últimas doses.

Durante as palavras finais do sommelier, voltei a puxar assunto.

— Você parece conhecer muito sobre tudo isso e, pelo sotaque, presumo que seja daqui. Isso explica?

— Modéstia à parte, sei sim. Trabalho com isso. E você está certa, sou escocês. De onde você é? — ele perguntou, virando um pouco mais para mim.

Sou fascinada em linguagem corporal. Investigadora, lembra?

— Sou de Toronto. Estou de férias por aqui. — respondi, pegando um punhado de nozes.

— Legal! E eu arruinei sua experiência, não foi? Ah, desculpe.

— Perdi algumas coisas, sim. Mas... — eu respondi, encolhendo os ombros.

— Então, eu tenho uma dívida com você.

— Uma dívida? — perguntei, intrigada.

— Sim, você não vai ter a experiência completa, porque eu estraguei sua degustação falando pelos cotovelos. Já vim aqui dezenas de vezes. Todo amigo meu que visita a Escócia, quer fazer esse tour e eu acabo acompanhando.

— Nossa! Então, a essa altura, deve ser bastante entediante assistir tudo de novo. — falei.

— Não recusaria algumas doses.

Comecei a reparar em sua mão em cima da mesa, seus lábios se mexendo, a forma que sua jaqueta combinava com a cor da última dose que não bebi por completo. Senti as luzes girando sobre minha cabeça e minha voz soando como se eu estivesse falando fora do corpo. Era o efeito que algumas doses generosas de uísque, na companhia de alguém que sabia beber, me causavam.

— Bem, faz sentido. Mas você mesmo poderia dar as dicas aos seus amigos em um bar, não? — sugeri, debruçando-me sobre a mesa.

— Sim, claro. Você toparia? — perguntou, segurando um pedaço de queijo.

— O que? — Eu já não ouvia direito.

— Para que eu possa me redimir por hoje? — insistiu.

— Hmm, eu estou partindo em alguns dias.

— Podemos fazer isso amanhã, se estiver livre. — foi rápido em solucionar minha agenda. — Por favor, Olivia! Vou me sentir mal se você voltar para casa com essa lembrança de mim. — disse, com a mão no peito.

Podia ser pura lábia de galanteador, mas eu já estava interessada.

— Tudo bem, então. Quer anotar meu número? — falei, me levantando da mesa.

— Claro! — Ele sacou o celular do bolso da jaqueta para salvar meu telefone.

Coloquei minha bolsa no ombro e me despedi.

— Foi um prazer te conhecer, Sam.

— Nos falamos amanhã. O prazer foi meu... Liv.

Diversas vezes durante aquela noite, quando eu me sentia confortável, me ajustando na conversa, ele me surpreendia em seguida. Não contava com aquela surpresa em um passeio de última hora. Segui o caminho de volta para o hotel balançando a cabeça e rindo sozinha.

***

No dia seguinte, entrei na van que levaria um grupo de hóspedes para visitar pontos históricos a duas horas de distância. Conferi meu telefone e não havia nenhuma mensagem de texto de Sam e logo quis me convencer de que o papo tinha sido fogo de palha ou puramente motivado pela bebida. Aqueles olhos, aquela empolgação... Nada me pareceu falso. Mas não desperdiçaria o dia alimentando esperanças naquele possível date.

No final da tarde, sentia-me extremamente cansada de perambular por museus e vilas antigas e ainda me aventurar em uma trilha. Tudo o que eu precisava era um banho e uma soneca em uma cama quentinha.

Tinha passado o dia com péssima recepção de sinal e só consegui a usar o telefone no caminho de volta para o hostel. Minha caixa postal tinha um recado.


Sam:

Alô, Liv. É o Sam... Hmm, tentei ligar algumas vezes, mas está caindo na caixa postal. Nos conhecemos ontem à noite. Espero que ainda se lembre...  Será que podemos nos ver hoje?

Só de ouvir sua voz, metade do cansaço foi embora. Antes que a mensagem chegasse ao fim, eu já tinha entendido que se ele ligou era porque estava interessado. Na van, rodeada por recém-conhecidos, não tive com quem compartilhar minha animação, então mordi o lábio sorrindo para o nada e pensando mil coisas. Tomei coragem de ligar de volta, antes que ele fizesse outros planos para aquela noite.

— Alô, Sam? É Olivia falando. Liv, da noite passada.

— Claro, Liv. Eu não me esqueceria. Tudo bem? — ele disse.

— Tudo. Desculpe. Passei o dia fora sem sinal de celular e estou voltando para o hostel. — expliquei.

— A gente pode se ver hoje? Eu sei que você vai embora logo. Queria aproveitar esse tempo...

— Para fazer novos amigos que vão te fazer falar de uísque? — ele não esperava que eu o interrompesse com um gracejo e riu.

— Nada disso. É um prazer! Pensei em um lugar. Estou dirigindo agora, mas te mando a localização em 20 minutos. — ele disse, com a voz distante como se usasse o bluetooth do carro.

Foram os vinte minutos mais longos da minha vida, sempre obcecada por organizar e planejar tudo com antecedência. Queria pesquisar o local para saber se seria inadequado aparecer vestida como uma estagiária de jornalismo. Quando, finalmente, recebi uma mensagem de texto com o nome e endereço do lugar, vi que estava certa.

Sam era um cara interessante e não seria a primeira nem a última vez que eu sairia com alguém com segundas intenções. Então quis me preparar para impressionar, mesmo que não tivesse muito tempo. Meu cabelo não tomou muito tempo. Apenas ajeitei os cachos apertando-os com um pouco de finalizador nas mãos e logo pude focar no que vestir. A roupa mais arrumada que consegui encontrar foi uma legging de couro e uma blusa de tricô levemente transparente para usar sobre o body de renda. Um pouco de maquiagem para esconder o cansaço, batom, perfume e pronto! Chequei novamente o trajeto de Euro Hostel Glasgow para Hutchesons City Grill no telefone e vi que era possível ir andando.

Na entrada do restaurante, não tive certeza de como me identificar e não sabia se havia alguma reserva. Então, dei apenas o primeiro nome dele, que era a única coisa que eu sabia. A recepcionista passou os olhos pela lista de reservas e encontrou nosso nome na última linha.

— Sam e Olivia? — ela perguntou.

— Acredito que sim. Posso aguardar no bar, enquanto uso o telefone um instante?

Então, ela me conduziu ao balcão, enquanto eu tentava falar com meu date. Tentei por três vezes e a chamada caía direto na caixa postal. Confesso que aquilo me deu certa aflição e, por um momento, não descartei a possibilidade de ele estar brincando comigo e não aparecer.

— Porcaria! — resmunguei.

— Senhorita, o que posso servi-la hoje? — o bartender perguntou, gentilmente.

— Uma água e um old fashioned, por favor.

A água foi minha distração enquanto eu tentava completar a ligação e o drink era preparado. Olhei para a porta e por cima das mesas do bar e nada.

— Seu drink. — quando estendi a mão para segurar o copo, Sam surgiu atrás de mim.

— Ei, vejo que começou as atividades sem mim. — ele disse.

A aparição repentina fez com que eu derramasse um pouco da bebida sobre a calça, que por sorte, era de material sintético.

— Meu Deus! Você quase me mata de susto. — eu disse, com a mão no peito, sentindo o coração disparado.

— Ah, que droga! Eu estou sempre fazendo besteira. Desculpe. — disse sem jeito, aceitando os guardanapos que o rapaz do bar ofereceu para secar minha roupa.

— Imagina! É só uma calça.

Sam insistiu em limpar o pequeno estrago, me dando tempo de observar que, mais uma vez, ele ficava muito bem aquela barba cerrada de pelos bem clarinhos.

— Bem, agora que eu consertei a bobagem que fiz, oi! — aproximou-se para um breve abraço.

— Oi! Não consegui avisá-lo por telefone que já estava aqui. — falei.

— Sim, fiquei sem bateria e não tive meios de avisar. Você esperou muito?

— Não. Praticamente, acabei de chegar. Tudo bem.

— Bom. O que está bebendo? — perguntou, olhando curioso para o meu copo.

— Old fashioned para começar e um pouco de água para não deixar você me embebedar. — ele riu.

— Não faria isso. Só se você quisesse.

Tivemos um momento desconfortável de silêncio com um sorriso permanente no rosto e Sam se acomodou no banco ao lado.

— Um Laphroaig duplo sem gelo, por favor.

— Sim, senhor. — O rapaz respondeu.

— Fale-me mais sobre você. Ontem disse que trabalha com uísque. Como? — perguntei, mantendo o olhar fixo naqueles olhos azuis quase transparentes.

— Sim, na verdade, agora estou lançando minha própria marca.

— Que interessante! Então você não só é apreciador, como também produtor. E eu tão leiga fazendo vergonha ontem. — escondi o rosto com a mão ao lembrar.

— Que nada. É para isso que estamos aqui essa noite, não? — ele perguntou. Não me importaria se fosse pra me ver.

— Claro! — bebi um gole do meu drink para evitar que meus pensamentos começassem a saltar da boca involuntariamente.

— E você o que faz? Deixe-me adivinhar.

Olhou para mim, apertando os olhos. Sua análise parecia me desmontar por dentro, mas me mantive firme.  Aquele sorrisinho presunçoso estava de volta e sua atenção se tornou desconfortável demais para suportar.

— Diga! — supliquei, impaciente.

— Jornalista?

— Não. — respondi.

— Médica! — Sam arriscou afirmar.

— Não chegou nem perto.

— Ah, que difícil. Hmm, advogada?

— Esquentou um pouquinho. — tentei ajudá-lo nos palpites.

— Ok, vai. Desisto.

— Investigadora de polícia. — encerrei o mistério.

— Uau! Isso sim é interessante. — disse, impressionado.

— Você acha? — levei o copo à boca, entrando com ele em um jogo velado de resistência de desafiar um ao outro até um de nós desviar o olhar primeiro. Sam parecia fazer isso sem se intimidar.

— Bem, você é uma mulher interessante. Agora faz mais... Sentido. — ele bebeu do seu copo dessa vez.

— Bem, não é algo que eu saia contando por aí, mas já que somos estranhos e, provavelmente, não voltaremos a nos encontrar, não vejo problemas.

— Lamento muito que eu seja só um estranho. Gostaria de descobrir mais sobre você.

— O que mais você acha que é possível descobrir em poucos dias? — Tive a audácia de perguntar.

— Não sei. Talvez você possa me mostrar.

Posso jurar que senti o álcool se espalhando pela minha corrente sanguínea em modo turbo. Eu não dispensaria uma sessão particular de degustação. Senti uma vontade absurda de beijá-lo ali, enquanto analisava discretamente o movimento dos seus lábios ao falar.

— Podemos passar um pouco desse tempo com você me mostrando o que viemos fazer aqui. — sugeri.

— Tudo bem. Vamos começar, então. — deu o último gole e me ofereceu a mão para que eu descesse do banco.

Estranhei a intimidade de atravessar o salão até os fundos do restaurante conduzida por ele, segurando minha mão. Havia uma porta de entrada para outro salão, com uma pessoa nos aguardando na porta.

— Sr. Heughan. É um prazer recebê-lo. Tenha uma boa noite. Senhora!

Meu Deus, quanta formalidade, pensei. Para ser chamado pelo nome, Sam devia frequentar aquele lugar com regularidade. Entramos em um salão privado e ainda mais aconchegante que a área do restaurante, com apenas uma mesa antiga de madeira lindamente posta para aproximadamente dez pessoas, cadeiras estofadas em veludo verde e diferentes garrafas de uísque, pareadas com taças servidas em pequenas doses.

— Que charmosa essa sala! Fomos os primeiros a chegar? — perguntei, ingênua, dando alguns passos para observar os quadros na parede revestida por madeira escura e boiseries.

— Os primeiros e os últimos. — ele respondeu e me detive para olhar em sua direção.

— O que você quer dizer? — questionei.

— Tenho uns amigos na casa e reservei essa sala pra que tivéssemos um pouco de privacidade. — disse, andando lentamente em minha direção.

— Devo me preocupar em ficar trancada em uma sala com você?

— Por que ficaria? Você oferece mais perigo que eu. Você tem uma arma. — desafiou-me falando bem perto, a um passo de distância de alcançar sua boca.

— Eu não vim armada. Só estou aqui cobrando uma dívida, que você voluntariamente se dispôs a pagar. — respondi, atrevida, esperando que ele chegasse ainda mais perto.

Sam assentiu com um sorriso de lado, entendendo a provocação. No entanto, deu dois passos para trás e puxou a cadeira para que eu sentasse.

— Obrigada.

— Podemos começar? — perguntou sentando do outro lado da mesa, de frente para mim.

— Quando quiser. — sem fazer muito esforço, eu falava tudo com segundas intenções. Não sei se ele conseguiu perceber desde o início.

— Vou deixar você me falar sobre o primeiro.

Senti o aroma antes de beber e fiz conforme ele tinha ensinado na noite anterior.

— Isso. — aprovou ao me observar.

Era só eu ou ele também estava levando tudo para o caminho da provocação? O tom que ele usava para falar dava outra ideia que não era a degustação.

— O que você diz? — ele perguntou.

— É o mesmo que experimentamos ontem. Terras baixas?

— Exatamente. Você está ficando boa nisso. — elogiou.

— Eu não confiaria tanto. Mal comecei e já sinto a língua adormecer.

— Você acostuma. Beba um pouco de água, se preferir.

Fiz conforme sua orientação.

— Próximo... — falei.

— Prove e me diga. — ele orientou.

— Hmm... É um pouco mais forte e...

— Apimentado? — ele completou.

— Sim! Não saberia definir, mas é isso mesmo.

— Esse é perfeito para apreciar em um dia frio, sabe? Lareira acesa, alguém pra curtir debaixo da coberta...

— Não me lembro de ter provado algo parecido. A bebida, quero dizer. — falei, tropeçando nas palavras, mas de imediato me dei conta do que eu queria passar ali.

O que eu queria era passar a noite com Sam e não deixaria dúvidas para outra oportunidade.

E assim fomos bebendo os diferentes uísques um a um, sozinhos naquela sala que começou a girar lentamente ao meu redor. Era sinal de que a degustação estava chegando ao fim ou de que eu era muito fraca para aquele tipo de bebida, pois Sam permanecia inalterado.

— Meus lábios estão tão dormentes quanto minha língua agora. — falei, tocando a boca com a ponta dos dedos.

Bebi um pouco de água tentando solucionar. Tinha amenizado das outras vezes.

— E se eu beijasse você para tentar diminuir essa sensação? — ele propôs, ousado.

— Acho que valeria a pena tentar. — respondi.

— Bom ouvir isso, porque é o que estou pensando fazer desde ontem. — disse ele debruçado sobre a mesa, mas ainda longe demais para um beijo.

— Não acho que devamos esperar. Talvez não exista uma próxima vez.

Sem dar sinal algum do que estava prestes a fazer debaixo da mesa, arrisquei tirar o sapato e encostei o pé no seu, subindo e descendo pela barra da calça. Sua expressão foi de surpresa por um segundo e, logo em seguida, ele se permitiu curtir a provocação. Aquele mínimo contato parecia soltar faíscas e nada fizemos para sair do lugar. Com toda a certeza, transaria com ele em cima daquela mesa, se quisesse.

— Foi por isso que me trouxe aqui. Não tem nada a ver com scotch. — afirmei, debruçando-me na mesa assim como ele. Meu pé subiu em direção à sua coxa.

— E não foi um meio de aproximação? — perguntou, colocando uma amêndoa na boca, como se não estivéssemos falando ou fazendo nada demais.

— Depende do quão perto você quer chegar. — falei, parando de mexer com ele por debaixo da mesa.

Um sorriso nervoso lhe escapou, indicando que ele não esperava a interrupção.

Olivia, — deu uma pausa, deixando meu nome ecoar na sala — não me aproximei tanto quanto gostaria.

— Nem eu. — respondi.

Levantei-me abruptamente e cheguei perto dele, encostando-me à mesa.

— E o que vamos fazer agora que você aguçou quase todos os meus sentidos?

— Quase todos? — questionou, olhando ligeiramente para cima quando me debrucei sobre ele e apoiei as mãos sobre sua camisa.

— Sim. Mal pude sentir seu cheiro — Encostei o nariz na área sensível atrás de sua orelha, com minha mão envolvendo seu rosto. — e seu gosto.

Meus lábios dormentes encostaram nos seus, de início, e sem demorar muito minha língua procurou sentir a sua, retomando aos poucos a sensibilidade. O som do beijo ressoava na sala, quando interrompi, deixando-o à espera de mais.

— Não é justo que o melhor beijo que eu já experimentei seja de alguém que não pode ficar comigo. — reclamou ainda inebriado.

— Eu posso. Pelo menos essa noite.

Continue Reading

You'll Also Like

(sobre)viva By Erika S. Maso

Mystery / Thriller

22.7K 2.7K 58
🏅VENCEDOR DOS PREMIOS WATTYS 2021 EM SUSPENSE 🥇lugar em suspense no Concurso Relâmpago de Natal 🥉Lugar na segunda edição do concurso Mestres Pokém...
1.7M 148K 121
Exige sacrifício, não é só fazer oração Ela me deu o bote porque sabe que eu não sei nadar Eu desci o rio, agora ficou longe pra voltar Tem sangue fr...
225K 23.3K 29
Brianna é a personificação da inocência. Com apenas sete anos de idade, acredita que as pessoas boas quando morrem viram borboletas e vão para o céu...
947K 52.8K 67
Grego é dono do morro do Vidigal que vê sua vida mudar quando conhece Manuela. Uma única noite faz tudo mudar. ⚠️Todos os créditos pela capa são da t...