Escolhida para lutar

By gabsalgayer

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A ameaça está próxima. O rei feiticeiro de Thails pretende comandar todos os reinos do continente de Loxigan... More

Prólogo
Capítulo 1 - 𝑷𝒂𝒓𝒕𝒆 𝒖𝒎
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4 - 𝑷𝒂𝒓𝒕𝒆 𝒅𝒐𝒊𝒔
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7 - 𝑷𝒂𝒓𝒕𝒆 𝒕𝒓𝒆𝒔
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Epílogo

Capítulo 19

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By gabsalgayer

𝑉𝑖𝑐𝑡𝑜𝑟𝑖𝑎 𝑛𝑎𝑟𝑟𝑎𝑛𝑑𝑜

Já faz quase uma semana que estou em Thails. Presenciei outras seis mortes além daquele homem... Dois lobos, três carmedashes e um feiticeiro. Eu não durmo como antes, não como como antes, tenho certeza que perdi alguns poucos quilos. Mas sei que logo me matarão, por quê? Simples: quase matei sete guardas. E o rei não sabe mais como me castigar, a parte das ameaças sobre minha família não têm mais efeito pois chegou no castelo a notícia de que os quatro reinos se uniram contra o rei então... ele só pode me matar.

-Vá logo - um guarda diz ao abrir minha jaula. As caças não tem mais o mesmo "efeito" pois quase não tem mais o que caçar, além de eu nem ter mais fome.

Saio correndo logo depois de me transformar e corro muito, tanto que quando parei quase rezei para que não tivesse saído do reino. Mas não, eu estava em uma clareira nos limites de Thails.

Deito-me no gramado voltando a forma humana. A possível companheira do meu pai deixou meus pensamentos quando aquele homem falou da própria família. Na noite passada algo estranho aconteceu: Carli falou comigo, coisa que ela não fazia desde as primeiras chibatadas:

Vic? - a voz da minha loba soava cansada e baixa, quase hesitante.

Oi Carli.

Eu andei pensando bastante ultimamente - ela faz uma pausa.

Sobre o que?

Nossa morte - ela diz baixo e eu prendo a respiração. Victória eu não quero morrer sem falar com ele.

Sem chance - respondo. Eu não vou dar o braço a torcer por ele.

Ele é meu - ela implora.

Era - eu digo e antes de silenciá-la ouço seu choro.

Ele sempre será uma parte minha, e quando eu morrer... parte dele morre também, você sabe disso - ela chora.

Tudo bem, vou desbloqueá-lo, você tem uma hora - digo por fim deixando o ar sair.

Assim que desfiz o bloqueio as sensações ruins voltaram, a sensação da rejeição. Algo no meu peito voltava a doer como se fosse a primeira vez, mas me forcei a continuar neutra enquanto o guarda me encarava durante o que ele chamava de tortura.

Companheiro - Carli o chama.

A resposta demora para chegar, mas quando chega, a voz melodiosa que soa em minha mente quase me faz fechar os olhos.

Achei que me odiaria para sempre - ele sussurra.

Eu não odeio, minha humana odeia - ela responde com a voz entupida de dor, a dor da rejeição ela sente quase em dobro.

Deixarei ela conversar com o meu humano se ela quiser - o lobo diz em um suspiro. Onde está?

Não importa - Carli responde desanimada. Não sei quanto tempo eu e minha humana temos... Espero que nos perdoe por nunca termos ido atrás de vocês quando começamos a desenhar o símbolo.

Permita-nos ajudá-las - ele pede com pesar.

Já tem pessoas demais em risco - Carli finaliza. Queria que tivéssemos mais tempo, Rae.

Eu também, minha Carli - ele quase chora.

Engulo o nó que se formara em minha garganta e esperei que a ligação se quebrasse, mas ela não quebrou.

Quero sentir você até seus últimos momentos, se não posso salvá-la - uma voz igualmente melodiosa soa em minha cabeça. Eu soube que não era mais Rae que falava, e Carli já se isolara novamente.

Como quiser - digo e me preparo para receber os açoites.

Nessa noite não havia um motivo exato para que o rei me machucasse, mas suponho que seja mais por diversão própria. Os açoites não eram mais nas costas, elas estavam horrendas - palavras de uma criada que o rei mandara para cuidar dos meus machucados - então o guarda passara a açoitar minhas o pernas. Era até melhor, eu conseguia desviar dos golpes com facilidade, mas um ou outro me faziam sangrar.

Depois de dez golpes eu o ouvia novamente:

Se eu não a tivesse rejeitado isso não estaria acontecendo... - ele xinga.

Não se iluda, isso não tem nada a ver com você - eu respondo.

Não gosta mesmo de mim não é? - ele sussurra.

Não tenho nada contra você - responde e ele suspira aliviado. - Mas também não tenho nada a favor.

Já fazem quase cinco anos, me chamou por quê exatamente? - ele pergunta.

Carli queria se despedir de Rae - digo e pude jurar ouvi-lo fungar. - Ela não gosta de rancor.

Você gosta? - senti a mágoa em sua pergunta.

Te esqueci há muito tempo, como eu disse: não tenho nada contra você - respondo. - E não, não gosto de rancor embora tenha de algumas pessoas.

Você foi feliz, Victória? - ele pergunta e eu quase me espanto ao saber que ele sabe meu nome, mas apenas relevo.

Minha felicidade foi limitada a dois anos eu acho - digo relembrando do ano com a minha família e dos tempos atuais onde vez ou outra me diverti com Malvon, ou com Ash e Nick, e o encontro dos meus irmãos.

Sinto muito - ele responde. - A deixei para que pudesse encontrar alguém melhor...

Não tem mais importância - digo desanimada. - Mas eu poderia ter decidido se existia alguém melhor, você não me deu escolha.

Me culpo todos os dias por isso - ele suspira.

Não se culpe. Seja feliz, se não por você, por mim - digo por fim e ao não obter uma resposta me permito deitar no pano/cama e encarar a lua até o sol aparecer.

*

Ouço um galho quebrar e vejo que cochilei na clareira durante meu tempo livre de caça. Fico em posição de ataque ao ver uma sombra na entrada da floresta, a fronteira com Sargenis.

Então vejo os olhos castanhos familiares de Nicholas.

-Vic... - ele sussurra desacreditado avaliando meu vestido antes branco agora sujo de sangue e terra.

-Oi, Nick - me aproximo um pouco mas me detenho na linha invisível que separava os dois reinos, e ele faz o mesmo ficando do outro lado.

-Ah, que bom que está viva. Seus irmãos ficarão tão felizes quando você voltar e a Ash! Ela tem tantas novidades e...

-Não posso ir com você, Nick - digo e ele me encara.

-Claro que pode - ele ri sem humor.

-Eu tenho um acordo com o rei - respondo e ele bufa.

-Podemos ir todos para Ahgnares, ou Ghornert! - ele teima. - E os outros reis estão dispostos a derrubar Thails...

-Nick, ele nunca vai parar - digo e ele passa a mão no cabelo nervoso.

-Você já parou não é!? Já desistiu de lutar - ele resmunga e eu quase engasgo.

- O que quer dizer? - pergunto.

-Você não faz mais contato, sabia que estava viva porque sentia sua pulsação pela ligação, mas nada de você falando - Nick responde bravo.

-Sinto muito se não conseguia falar durante os castigos, e todo o resto...

-Não, não me venha essas desculpas, sei que passava a noite em claro porque seus batimentos não se acalmavam. Podia ter me dado um sinal...

-Eu não quero mais lutar, Nicholas - ele estremece ao ouvir o próprio nome. - Passei minha vida me escondendo desse homem, como o medo de simplesmente morrer. Isso seria minha salvação agora...

-Quando ficou tão egoísta? - ele esbraveja sem me olhar. -Como seus irmão ficariam, Ashley, Malvon, eu?!

-Podem se virar sem que eu atraia uma guarda inteira. Podem viver sem estarem sempre preocupados comigo ou com o rei... é só dar o que ele quer, o que ele sempre quis desde antes de eu nascer - digo, sem que eu tivesse notado eu já chorava.

Mas não era ele que eu estava tentando convencer, era a mim mesma. O instinto de sobrevivência apurado que desenvolvi enquanto ainda vivia em Glaviros gritava para que eu arrancasse a cabeça do rei assim que o visse. Mas o instinto inteligente dizia para simplesmente parar. Eu vivi sempre ouvindo a Vic sobrevivente, então a decisão não é muito fácil.

-Não seja idiota! - ele berra e eu passo as mãos pelos cabelos. - Sabe o que é?! Você prometeu que me ajudaria a encontrar a minha companheira, prometeu!

-Não pode usar isso contra mim - digo e ele sorri com raiva.

-Você não quebra promessas. E essa obriga você a permanecer viva daqui dois dias - ele diz e eu arregalo os olhos.

-Não! Você precisa cancelar o ataque! - eu avanço contra a fronteira mas não ultrapasso. - Não coloque a vida de mais ninguém em risco! Eu posso conversar com o rei, posso fazer um acordo com ele sobre minha liberdade, ela pode ser limitada no começo mas eu posso convencê-lo depois de conquistar a confiança dele! - Imploro e ele finalmente me encara, vejo seus olhos ficarem azuis vivos demonstrando sua categoria ~ômega~.

Ele demora alguns minutos para acalmar o lobo dele e tomar o controle novamente.

-Por favor, Nick - repito.

Ele assente inerte com a cabeça e se afasta devagar, ainda parecendo transtornado.

Volto a forma lupina correndo como um risco até o castelo rezando para que não tivesse passado muito do meu tempo de caça, eu poderia precisar das minhas horas extras outro dia...

-Vinte minutos de antecedência - o guarda fala e eu quase bufo. - Pena sua primeira caçada ter levado tanto tempo... - ele ri e fecha a grade da jaula atrás de mim.

-Eu quero falar com ela, Gron - a voz do rei interrompe o guarda que abre novamente a jaula e eu saio indo até a porta onde ele me esperava.

-O que você quer? - pergunto sem encará-lo.

-Bom, começamos pelo domínio dos cinco reinos, o poder do escolhido da Lua...

-Por que? - o interrompo e ele sorri ao me encarar. Antes de responder ele senta em seu trono e suspira.

-Já se perguntou por quê até os Carmedashes têm mais território que nós, poderosos feiticeiros? - ele pergunta e eu nego. Então ele explica: -É porque somos mais rejeitados que eles!! Nós, antes temidos e respeitados, somos motivos de piada pelo continente! - o rei fala alto.

-Mas os feiticeiros não são mortos se saírem do reino, não apanham até morrer. Os feiticeiros têm muito mais privilégios que os Carmedashes, de fato - respondo e ele gargalha com escárnio.

-Então acha que eu deveria aceitar que esses demônios assassinos tenham mais lugar de fala do que Eu!? - ele esbraveja se impulsionando para frente no trono.

-Na verdade eu acho que ambos devam ter lugar de fala... - digo e ele me interrompe.

-São monstros! Eles matam sem piedade e sem remor...

-São diferentes de você? - pergunto ainda no mesmo tom. - Ou você se culpa por ter matado meu pai? Ou minha mãe, de certa forma?

-Sua mãe era uma traidora! E nem é sobre seu nascimento que eu falo... - ele resmunga e eu o encaro confusa. - Ela me traiu muito antes de se casar com aquele cachorro - Thails continua, e quando percebeu que eu não o interromperia ele continua: - Ela era a melhor feiticeira da minha corte, até conhecer seu pai. Pobre homem, não sabia onde estava se metendo - ele me encara e eu bufo - Ela era uma golpista habilidosa, eu admito. Recebi golpes até demais daquela mulher.

"Seu pai e a companheira dele queriam uma menina, e só tinham meninos. Então eles foram até uma bruxa, Alina prometeu que eles teriam a bela filha que queriam, mas a própria teria que gera-la por causa do feitiço ser muito forte para a loba, também queria um papel de matrimônio com Jake, seu pai, não me pergunte o porquê. O acordo deles foi que você seria criada pelo seu pai e a companheira dele e uma vez ao mês teria um dia com sua mãe biológica, Alina. Você seria escondida de mim pelo máximo de tempo possível, mas nada ocorreu como planejado, para o seu pai e a companheira, pelo menos. Alina decidiu que não entregaria você, assim entregando o seu pai como traidor e fugindo grávida para Glaviros. Só um ano depois de matar seu pai a companheira dele chegou aqui desesperada para saber do pobre cachorro, e eu descobri que todos caímos no golpe de Alina: eu eliminei o seu querido pai, assim poupando sua mãe de fazer o trabalho sujo, convenhamos, ele nunca a deixaria em paz com você. Mas eu dei a ordem de execução dela de imediato então ela teve oque mereceu. Seu pai deu você a ela, e a companheira dele nem sequer soube o que havia acontecido com a possível filha."

Meu chão pareceu sumir a cada revelação do rei. Minha cabeça doía e eu não conseguia respirar.

-É mentira.

-Parte de você sabe que é verdade - ele diz relaxando.

-Mas isso não diz nada sobre sua sede de sangue - resmungo tentando mudar de assunto.

-Ah não, não diz mesmo. Eu mato porque sei o quanto meu irmão evita matar, faço isso para ele sentir - Thails sorri. - Eu vou responder o seu porquê antes que pergunte: ele matou minha mãe! E a minha irmã - o rei esbraveja.

-Tenho certeza que ele não quis fazê-lo - digo e ele ri.

-Você conhece ele há tão pouco tempo, criança - o rei diz. - Eu conheço meu irmão há cinco séculos. Nesse longo período de tempo os vilões e os heróis mudam e evoluem. Hoje você é um mocinho e amanhã é o odiado, um dia está vivo e no outro está morto! Esse jogo é sobre quem permanece igual e não quem piora ou melhora, porque se você não morre com o tempo, você vê os outros morrerem e isso... Ah isso é quase gratificante perante a reação de Malvon - ele diz e eu quase faço careta.

-Se o jogo da sua vida é permanecer igual, então você está jogando sozinho. Até seu filho muda constantemente, seus guardas, e talvez seus outros filhos teriam mudado se você tivesse deixado - digo e ele fica de pé em um movimento rápido e se aproxima o bastante para eu sentir seu hálito contra minha têmpora.

-Não fale dos meus filhos dentro do meu castelo - o rei diz entredentes.

-Como quiser majestade - digo no mesmo tom e ele se afasta brevemente.

-Tenho uma proposta para você - ele diz finalmente. Apenas ergo uma das sobrancelhas para que ele falasse. - Vai ter um mês de liberdade enquanto decide o que quer, mas dado o prazo, terá que voltar e me dizer sua resposta, se não eu avanço contra os quatro reinos e Camedash. Você deve saber que Ghornert é meu aliado, não é? - ele diz e eu tento ao máximo manter minha expressão neutra.

Ele tem um continente inteiro como aliado... - ouço Carli murmurar pasma.

-Terá sua resposta em um mês - respondo e ele sorri. - Fale...





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