A Última Cor de Venus

By rainejune

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Solitário e apegado aos seus vícios diários; a bebida, o cigarro e suas telas; Elliot Connell, contempla a es... More

|notas da autora, importante ler|
|Introdução|
|dedicatória|
|epígrafe|
01|um recomeço
02|as estrelas estão te esperando
04|o que você desejou?
|bônus|
AGRADECIMENTOS

03|noite do comandante

185 50 87
By rainejune

03|NOITE DO COMANDANTE

                    “Eu canto baixinho para ela
Na última luz do dia
E o coro de pássaros
Nas alturas da noite
E se pudéssemos ser ouvidos
Para o que vale a pena
Os governantes no céu,
eles chorariam
É uma coisa de ouro que ela tem.”
|Golden Thing, Cody Simpson|

FALTAVAM 4 SEMANAS

Nós estávamos a quilômetros de distância do dia em que começamos. 

E aquele mês de outubro, foi o meu preferido dentre todos os outros, Lawrance. 

Eu desejaria saber se foi o seu também. 

Portanto, você parecia mais feliz do que nunca. 

Ah, seus olhos

Eles brilhavam como muitos vagalumes em uma noite.

Eu te observava, todos os seus detalhes, desde as três pintas no seu pescoço – que pareciam constelações se ligadas aos pontos –, até as curvas da sua pele. 

Havia momentos em que você ficava pensativa, os braços sobre a mesa enquanto tinha o dorso da mão apoiado no queixo e observava para fora da janela. 

Nesses momentos, eu desejaria saber o que se passava em sua mente, desejaria conseguir ler todos os seus movimentos e tentar te entender de alguma forma – como nos filmes criminais que eu gostava de assistir. 

Memórias ruins? Ou boas? 

E talvez assim – só talvez –, eu pudesse ter descoberto o quanto antes o que tanto você escondia

Mas também, à vendo de todos aqueles jeitos, meus olhos iam tomando cor, imaginando seus traços por minhas telas, em todas elas, espalhadas por meu apartamento. 

E uma coisa que eu não podia admitir tão cedo, era estar completamente apaixonado desde o dia em que me atrevi a entrar no seu carro ambulante em La Ville Rose.

Eu nunca admitiria tão cedo, porque isso seria dar a você o sabor doce da vitória. 

Mas o doce estava em seus lábios desde que seus olhos cravaram em mim.

Ele nunca havia saído de lá. 

Eu te amei, antes mesmo da nossa primeira transa e de ter o contato dos seus lábios macios no meu pela primeira vez. 

Mas hoje em dia, posso dizer que naquele fim de tarde quando o sol estava se pondo no horizonte, espalhando tons de amarelo com laranja e se fundindo com a imensidão do azul do céu e do mar, nós fizemos amor. 

Naquele dia, você havia feito mais uma de suas surpresas malucas. 

Você era ótima com elas e constantemente, eu estava incluso nisso – e a absoluta verdade era: eu não me importava nem um pouco. 

O problema, é que eu aceitaria fazer de tudo, contando que fosse com você; eu escalaria uma montanha – ou muitas delas –, plantaria uma árvore – o que nós fizemos, a propósito, ela está crescendo, ange –, pularia de paraquedas – ou sem eles –, e então, me tornaria um suicida e no final da noite – se sobrevívessemos – comeria queijo enquanto tomaria um bom vinho branco. 

Tudo, desde que eu estivesse com você. 

Você estava levando o fim da nossa diversão para o ápice. 

Enquanto isso, a amizade que construímos durante todos aqueles meses continuava indestrutível. Nós éramos inseparáveis como Bonnie e Clyde, mas sem toda aquela coisa carnal – pele na pele. No entanto, eu definiria que era mais do que sexo, era energia

Você me tirou da minha frustração com a vida e me ofereceu esperanças. 

Às comprei por preço de balas e você me mostrou o novo, fez com que eu o experimentasse e como uma maldita droga, acabou viciando. 

Mas, eu só gostava de experimentá-lo com você.

E nesse momento enquanto tinta preta desliza por essas linhas, manchando cada uma com todo esse sofrimento, com traços de lugares e memórias que nós tivemos juntos, eu estou em abstinência. 

Abstinência de você. 

Eu estava ansioso para o ápice. 

Portanto, você não estava nem um pouco. 

E eu desejaria não ter desejado tanto assim também. 

"Florencia Bulldock" estava estampado na borda do cruzeiro – que sairia em algumas horas do porto da cidade de Marselha –, a tintura branca brilhava com o sal da maresia e os feixes de sol da manhã nublada. 

Os gritos das gaivotas voando em círculos, o frescor do mar... 

Não deixei de sentir a sensação de liberdade.

Escape.

A vontade de pegar um bote e navegar para longe, sem destino

Posso apostar nos candelabros caríssimos de todo aquele navio que você sentia e pensava exatamente da mesma forma. 

Talvez, eu finalmente estivesse aprendendo com você.

Meia hora se passou e todos os tripulantes já estavam a bordo. 

O movimento abaixo dos nossos pés e os motores rugindo, os barcos na costa ficando cada vez mais distantes... 

Até que toda a cidade foi ficando para trás, indo e indo.

Me lembro de sorrir tanto que as bochechas já estavam doloridas.

E eu sorri até o anoitecer e a chegada das estrelas, Lawrence. 

Sorri, porque você estava comigo, os braços entrelaçados no meu e a cabeça encostada em meu ombro.

Sorri também, porque minha mão estava melhorando com a ajuda dos medicamentos. 

Você era um deles. 

Morfina no meu sangue. 

Porque eu só sentia você, sempre senti

E às sete e meia, quando os porta-vozes dos corredores anunciaram que todos estivessem no salão principal para a chegada do comandante, meus olhos percorreram cada centímetro seu quando deixou a cabine à frente da minha. No segundo em que minha porta foi aberta. 

Uau...

Deslumbrante.

Você estava deslumbrante.

E eu poderia usar o conceito de "sofisticação em pessoa" por toda a minha vida.

Os fios estavam presos em um penteado baixo, entretanto, dois deles estavam soltos sobre sua face, me fazendo querer tirá-los da frente dos seus olhos para enxergá-la melhor.

O azul das suas grandes orbes estavam tão claros e límpidos que se eu me perdesse neles, eu poderia me achar com facilidade novamente. 

Não posso dizer a real cor daquele vestido, céus, não podia ser pela má iluminação do extenso corredor. 

Você sabia, a coloração vermelha sobre meus olhos podia me enganar facilmente, e propositalmente, era uma das suas preferidas. 

Mas naquele instante, eu te enxerguei.

O tecido escuro marcava bem sua cintura e destacava seus ombros, os braços, as pernas... todo o seu corpo, definido por linhas e traços bem desenhados. 

— Impressionado?— às palavras deixaram sua boca genuinamente enquanto inclinou a cabeça centímetros para o lado, e um singelo sorriso se curvou no canto dos lábios.

Eu sorri e pisquei. 

Uma.

Duas. 

Três vezes. 

É, eu estava um pouco. 

Muito na verdade. 

Era tão fascinante quanto o lugar inteiro, porque aquilo parecia ser um palácio flutuante, incrível, incrível.

E quando fixei os pés sobre o assoalho, ao lado de duas pilastras que sustentavam a entrada do saguão, tudo que eu via era: 

Branco, Branco, Branco.

Às paredes, o chão, às diversas cortinas de seda com detalhes em dourado. 

Meus olhos percorreram cada particularidade do lugar e eles se voltaram pela segunda vez ao candelabro de cristais que cintilava e cintilava, à cada movimento que eu fazia com a cabeça.

Ofuscante, não é?— você sussurrou como um maldito segredo perto do meu ouvido. 

Um sorriso se curvou em meus lábios e olhei por cima do ombro.

A verdade nua e crua, é que tudo era tão ofuscante como você. 

Nossos narizes quase se tocaram.

Céus, me certifique de buscar por lentes de contato depois disso.— eu declarei em um humor peculiar. 

Você sorriu e se afastou, pegando uma taça de champanhe no momento em que uma garçonete passou por nós. 

Era a noite do comandante. 

Duas

Meus olhos, eles te acompanhavam, os seus movimentos, você ia e depois vinha. Os meus ouvidos, eles gravaram o som da sua risada. Suas íris encontravam às minhas e eu era pego em flagrante, observando as linhas finas do seu rosto, as maçãs levantadas e levemente coradas, as sardas ainda aparentes.

Até meus olhos descerem mais alguns centímetros para a sua boca e eu fiquei ali por exatamente três segundos.

Não desviei. Sequer piscava. Um tolo. 

Três.

Você sorria. Ah, você adorava, Lawrence.

Quatro.

Nós estávamos dançando uma música lenta no meio do salão, sua cabeça apoiada em meu peito e meu queixo apoiado levemente em sua cabeça. 

Cinco taças.

Você me puxou pela mão, me levando para longe de todas aquelas pessoas. 

Nós atravessados alguns saguões, descemos alguns deques, escadas, até que você empurrou uma porta e me levou para o interior da sala.

Um sofá estava posicionado no centro, junto a uma tela branca em um grande cavalete.

Meu queixo havia batido no chão. 

— Pinte-me como Van Gogh, comandante Connell.— você propôs em um sorriso provocante.

Cacete, Lawrence.

Eu não te pintaria como Van Gogh, Da Vinci ou até mesmo Monet. 

Eu ia pintá-la como ninguém nunca o fez algum dia. 

E então, a definiria como uma verdadeira obra de arte.

Minha respiração se prendeu em um todo quando seus dedos afastaram as alças do vestido. 

Ele deslizou por seus ombros, seu quadril e finalmente caiu em seus pés.

Céus.

Eu nunca havia pintado uma mulher seminua, ange, nunca. 

Até você aparecer e mudar isso da maneira mais bonita possível.

Simples.

Você foi e fez. 

Se posicionou sobre o almofadado e sorriu.

Um aperto começou a se formar na frente da minha calça, apertei os pincéis entre os dedos e controlei a vontade de me levantar e tocá-la. 

— Me diz, Connell,— questionou — como eu devo ficar?— uma risada abafada deixou seus lábios.

Puxei o ar para os pulmões, de novo e de novo, Cristo. Repetidas vezes. 

Um dos braços apoiados levemente acima do móvel, às pernas dobradas sobre o mesmo, uma delas deslizando o joelho para a panturrilha e finalmente, a cabeça alguns centímetros para o lado

Estava perfeito, Lawrence, perfeito! 

Os primeiros esboços começaram a surgir, às sombras, os contrastes, misturas de tons e mais tons.

Você tinha o olhar distante.

Como nas vezes em que estava concentrada em alguma coisa ou deitada no carpete da sala. 

Indecifrável.

Eu te olhava e respirava fundo pela milésima vez enquanto meus dedos afastaram os fios que insistiam cair sobre meus olhos. 

E nós ficamos sem dizer uma palavra por vários segundos e minutos que eu não pude contar. 

Com exceção aos momentos em que você se movia sem querer, e suas íris me analisavam sorrateiramente. 

Eu estava me esforçando naquilo, ange, Cristo sabia. 

Três horas. 

Um sorriso orgulhoso escapou dos meus lábios enquanto eu analisava a tela, que antes branca, estava preenchida por traços e detalhes seus. 

Alguns toques finais e nós acabaríamos. 

Você se levantou em um pulo, às mãos abraçando os braços e antes que pudesse constatar sobre o frio, apanhei o casaco e o coloquei sobre os seus ombros.

Você sorriu como agradecimento. 

Não deixei de notar suas pupilas se dilatarem quando visualizou o quadro, eu quis sorrir, muito, mas mantive meu olhar na sua reação surpresa e... fascinada consigo mesma

Você levou às mãos à boca e olhou nos meus olhos, seus lábios proferiram um sutil "uau" e um sorriso se esparramou em seus lábios, os olhos ficaram puxadinhos – quase se fechando – e eles refletiam o azul mais estupidamente intenso que eu já havia visto. 

Eu nunca enjoaria de olhar para eles. 

E eu afirmei desejar ver o mundo com seus seus olhos, Lawrence, mas naquele momento, eu te dei um pouco da visão dos meus

E você adorou, ange. 

Você adorou cada detalhe

— Se lembra, quando você me perguntou o que me enlouquece e me deixa com insônia a noite?— você perguntou, distante.

É, sim, eu me lembrava. 

Você sorriu. 

"Aproveite o dia, Connell."

Sorri, com a memória ainda fresca como tinta. 

— Gosto da sensação de sair por aí, com uma câmera pendurada no pescoço e poder capturar cada momento. Fazer com que o tempo pare por alguns segundos. — você declarou, um sorriso tomou seus lábios e deu um passo, dois

Eu me lembro o quanto você era apaixonada por ela, sua câmera; e de ter sido surpreendido por flashes muitas vezes, sempre nos minutos em que eu estava distraído, sorrindo ou apreciando os lugares incríveis que nós visitamos. 

E eu não podia ficar de fora e não tirar algumas suas também, eu não era tão bom quanto você, mas o foco sempre ficava no seu sorriso, e então, eu não me importava, porque era uma das coisas que eu mais gostava em você.

Eu as tenho até hoje, Lawrence. 

Guardei cada uma delas

Então, mais dois passos e você chegou perto, seus dedos se afundaram na tinta azul e deslizaram na pele do meu antebraço e foi descendo, lentamente.

— E eu quero gravar uma boa lembrança com você, Connell. Pelo resto dos meus dias.— completou, e eu pude sentir a fragrância do seu perfume uma outra vez.

Eu me aproximei, um passo

Você recuou, sorriu

Seus pés te guiaram até a porta e quando pensei que me deixaria ali, implorando por seu toque, seus dedos giraram a tranca

Em instantes, você estava na minha frente, nas pontas dos pés enquanto seus dedos deslizaram para a minha nuca, prendendo alguns fios entre eles. 

E eu soube o quanto você precisava daquilo tanto quanto eu. 

Me deixei viciar em você e pousei minha mão em sua cintura, a puxando para mais perto como se pudemos virar um só. Eu estava tremendo. Eu precisava de você, tanto quanto um viciado precisava simultâneamente das malditas drogas para não enlouquecer.

Meus lábios desceram para sua clavícula, onde enterrei meu rosto e deixei um beijo demorado. 

E eles foram subindo por toda a extensão do seu pescoço, a mandíbula, às bochechas, o canto do seu sorriso...

Você suspirou meu nome, preguiçosamente.

Eu me lembro de cada toque, Lawrence. Cada movimento. Cada sussurro. Cada gemido.

Não demorou muito até ter sua boca na minha, deixando um selinho casto antes de nos afundarmos em um toque maior, quase necessitado e sedento. Nossas línguas se encontraram em uma conexão inteiramente perfeita e um frescor familiar surgiu...

Baunilha, surgiu.

Você tinha um gosto intenso dela, como se tivesse se lambuzado com todo o sorvete.

Já as nossas mãos, elas estavam em todos os lugares.

Às suas, abriram os botões da minha camisa enquanto você praguejou por eles estarem ali, e então, finalmente às unhas cravaram no meu abdômen, me causando arrepios por todo o corpo, eu estava ardendo.

Às minhas, deslizavam por sua pele e suspendi suas pernas até elas estarem presas ao meu quadril.

Eu estava entorpecido, Lawrence. 

Entorpecido por você toda.

Alguns passos de distância e já estávamos no sofá, meu corpo sobre o seu e todas peças de roupas espalhadas pelo chão.

Seu quadril no meu, sua boca, sua pele...

E quando entrei em você pela primeira vez, nossas bocas proferiram um grunhido simultâneo de prazer. 

Pela segunda.

E você desejou que eu a pintasse por toda a vida – pelo menos – foram essas palavras que meus ouvidos captaram. 

Pela terceira.

Mas naquele momento não importava.

Pela quarta.

Até a última estocada em que meu nome saiu dos seus lábios pela última vez naquela noite.

O suor.

A tinta azul por todo o corpo.

A respiração acelerada.

Eu adorava ver o prazer tomando conta dos seus olhos, os deixando em um tom de azul nebuloso, ange

E se existisse a definição do paraíso, a absoluta verdade era:

Eu estava nele.

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