Esquecendo Sebastian

By LoudChaos

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https://www.amazon.com.br/dp/B08DTF6T3X/ref=cm_sw_r_cp_awdb_t1_KKwiFbAG6W155 Uma paixão de infância nem sempr... More

E.S.
00. (p r ó l o g o)
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06.
07.
complicações e estresse
Esquecendo Sebastian de GRAÇA na Amazon

02.

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By LoudChaos

cleptomania

clep-to-ma-ni-a

*Origem grega

distúrbio psicopatológico que faz com que a pessoa furte coisas diversas, inclusive sem valor.

Eu encarava a tela do meu celular enquanto lia a palavra diversas vezes.

Meus pais estavam em silêncio desde que entramos no carro depois de sair do consultório do Dr. Kollen.

Eu achava que nunca tinha visto meu pai ficar tão sério daquele jeito em toda a minha vida. Ele não estava fazendo nada além de olhar para a estrada, exatamente como a minha mãe.

O pior era que nenhum dos dois ligou o rádio, então o silêncio chegava a ser sufocante.

Não sabia se deveria dizer alguma coisa.

Sentia como se devesse me desculpar.

Mas não fiz isso; tinha medo de começar a chorar se abrisse a boca. O que não fazia muito sentido porque não me sentia triste.

Não fazia ideia do que estava sentindo, para falar a verdade.

Mas definitivamente não queria arriscar. Minhas lágrimas eram imprevisíveis, e uma sessão de choro naquele momento deixaria as coisas dez vezes piores.

Quando meus pais pararam o carro na garagem, eu fui a primeira a sair. Passei pela porta de entrada e encontrei Grayson jogado no sofá da sala.

Ele tinha o controle da TV na mão e ainda vestia a jaqueta de basquete com o emblema da nossa escola.

— Como foi na terapia, Hatty? — ele perguntou, referindo-se a mim com o apelido que só ele usava.

Grayson era o filho preferido. Eu dizia isso com toda a certeza e sem qualquer hesitação. Era simples assim.

Ele era bom em tudo o que fazia. Teve as melhores notas e era a estrela do time da nossa escola. Todo mundo gostava dele. Ele era simpático e interessante. Grayson realmente gostava de ajudar as pessoas e era extremamente comunicativo.

O fato de ser bem atraente ajudava. Pelo menos era o que as minhas amigas diziam constantemente — todas elas tinham uma pequena queda nele. Ele herdou o cabelo loiro da mamãe e os olhos verdes do papai, sem contar o porte atlético que ele adquirira durante os últimos anos no time.

Todo mundo sabia o nome dele na nossa escola, talvez até em nossa cidade. Grayson era a grande promessa do basquete. Todo mundo em Veahmond apostava que ele acabaria ficando famoso. Mas ele queria fazer Medicina como a mamãe e o papai, e ele tinha as notas para isso.

A tamanha perfeição me fazia querer vomitar.

Mas era difícil não gostar de Grayson porque ele era um irmão incrível.

Talvez o melhor. Grayson era realmente bom em tudo o que faz, e isso incluía a tarefa de irmão mais velho.

Não me dei ao trabalho de respondê-lo e caminhei em sentido às escadas, mas antes de subir o primeiro degrau, mamãe me impediu:

— Harriet, precisamos conversar.

Eu inspirei com força antes de me virar.

— Você vai passar a ir no Dr. Kollen toda semana. — Ela notou que abri a boca, então antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela completou: — Duas vezes.

Não podia acreditar naquilo. Era como um maldito tapa.

— Não. — Minha voz saiu como um chiado irritantemente alto. — Não gostei dele. Ele não sabe do que está falando.

Seu rosto não vacilou.

— Seu pai e eu já decidimos. Todas as terças e quintas depois da escola.

Eu lancei um olhar para o meu pai, que estava bem atrás da minha mãe, encarando-me.

— Pai? — pedi com a voz pateticamente baixa.

Meu pai costumava ser menos rigoroso que minha mãe. Em várias ocasiões ele me tirara de castigos e punições.

Mas daquela vez ele não disse nada. Apenas me encarou com pesar.

— Isso não é justo — eu declarei.

Porque não era. O Dr. Kollen não fazia ideia do que eu estava sentindo.

Eu não era louca. Não era uma ladra.

Mas eles continuaram em silêncio. Meu pai passou por nós e foi em direção à cozinha. Minha mãe guardou a bolsa na mesinha de entrada e o seguiu. E eu fiquei lá, pateticamente parada como uma estátua e com a boca entreaberta.

— Vocês não podem fazer isso — eu disse, seguindo-os em sentido ao cômodo.

Minha mãe me devolveu um olhar antes de abrir uma gaveta.

— Não é uma escolha sua, Harriet.

Era como se eles nem tivessem me ouvindo. Era como se a discussão já tivesse acabado antes mesmo de ter começado.

— Eu odeio o Dr. Kollen. — Pausei por um segundo, mas notei que não houve muita reação diante da minha declaração, então conclui, com raiva: — Eu odeio vocês!

Os dois me encararam. Minha mãe suspirou com força.

Ela parecia diferente. Não apenas irritada, mas derrotada.

— Vai para o seu quarto. E você acabou de perder a festa da Kaitlyn semana que vem.

Indignada, eu abri a boca mais um a vez, mas nada saiu.

Queria gritar com eles. Dizer que era ridículo. Que eles e o Dr. Kollen não faziam ideia do que estavam falando.

Ao invés disso, dei meia volta e subi as escadas pisando duro.

Petunia e Polly, minhas gatas, estavam deitadas em minha cama quando cheguei, mas nenhuma das duas fez nenhum movimento quando passei direto por elas.

Fui para o armário. Lá, peguei a minha bolsa roxa da Katy Perry.

Coloquei todos os meus pertences valiosos e necessários dentro dela.

Maquiagem, presilhas de cabelo, carregador do celular...

Distúrbio psicopatológico que faz com que a pessoa furte coisas diversas.

As palavras se repetiam em minha mente.

Que absurdo.

Eu não era uma cleptomaníaca.

Como eu podia ser alguma coisa que há menos de duas horas eu nem sabia o que significava?

O Dr. Kollen que era algum tipo de maníaco.

— Para de ser dramática.

Não me dei ao trabalho de me virar quando escutei a voz do meu irmão.

— Não estou sendo dramática — rosnei, terminando de enfiar a minha escova de cabelo na mochila.

Ele se aproximou e se sentou na minha cama, mas eu estava ocupada demais enfiando um mundo inteiro em uma mochila ridiculamente pequena.

— É a terceira vez que você ameaça fugir de casa. — Ele fez uma pausa, e então completou: — Esse ano.

Finalmente o encarei. Lançando um olhar irritado, afirmei:

— Bem, dessa vez é para valer.

Ele se jogou na minha cama. O que não fazia diferença agora porque já não era mais a minha cama. Porque esse já não era mais o meu lar.

Ele suspirou com força.

— Tudo bem, mas manda mensagem avisando quando chegar na casa da Sienna.

Fechei a minha mochila com agressividade. Ela parecia prestes a explodir.

— Não vou para a casa da Sienna. — menti e dei as costas para ele, passando pela porta.

Antes de ir, escrevi um bilhete em um papel de caderno rasgado.

Alimentem os animais. Voltarei para pegá-los quando puder.

Obs: não esquecer de supervisionar Nuggets durante as refeições para que ele não roube a comida de Polly e Petúnia.

Além dos meus pais, Grayson e eu, haviam outros sete moradores na minha casa. Dois gatos, um cão, três porquinhos da índia e um papagaio. Todos eles aquisições minhas ao longo dos anos.

Dizer que eu amava animais era eufemismo.

Depois de deixar o bilhete na mesinha de entrada, passei pela porta e abandonei a minha casa.

A casa de Sienna era a duas quadras da minha.

Geralmente chegava lá em menos de dez minutos. Mas fiz outro caminho, porque precisava de mais tempo para pensar no que iria dizer quando chegasse lá. Obviamente ela iria me perguntar porque estava irritada com os meus pais e eu não queria dizer a verdade.

Não queria contar a ela sobre Dr Kollen ou sobre o seu diagnóstico estúpido.

Logo dei uma volta maior que raramente fazia e que resultava em torno de seis ou sete quadras.

Meus passos eram lentos à medida que arquitetava a minha mentira. Eu costumava ser uma boa mentirosa. Minha mãe sempre disse que aquela não era uma boa qualidade, mas eu tendia a discordar. Era extremamente útil.

Quando faltavam cerca de três quadras para a casa de Sienna, ouvi sons distintos. Achei que era música misturado com conversa, mas bem distante. Conforme ia me aproximando, notei que era da próxima casa. Isso era um pouco estranho, porque aquela parte da cidade costumava ser bem tranquila. Eram mansões de alto escalão. Havia ordem e regras até não querer mais.

Finalmente cheguei em frente a casa em questão e notei uma movimentação no jardim. Alguns garotos estavam em volta de um carro.

Fitei o chão enquanto passei pela calçada.

E bem naquela hora a minha mochila resolveu me deixar na mão, porque eu senti ela mais leve ao mesmo tempo que ouvi o barulho. Porque o zíper abriu sozinho e um turbilhão de coisas caíram como se a mochila estivesse cuspindo os meus pertences para fora.

Parei instantaneamente, observando a minha garrafa de água rolar até bem próxima aos garotos.

Agachei-me, juntando as minhas coisas freneticamente ao passo que proferia algumas palavras nada bonitas — as quais a minha mãe definitivamente não aprovaria.

Já estava quase acabando de recolher tudo, só faltava...

— Gostei da mochila. — Escutei uma voz e a minha garrafa de água apareceu magicamente na minha frente.

Olhei para a minha garrafa e, então, mais para cima.

Dois garotos estavam diante de mim e um deles segurava a minha garrafinha.

Encarei-os. Eram mais velhos, mas não eram adultos ainda. Um deles era ruivo e tinha cerca de 1,70 de altura. O outro era negro e um pouco mais alto.

Havia um meio sorriso sarcástico no rosto de ambos.

— Obrigada — murmurei, pegando a garrafa.

Eles não se agacharam para ajudar a pegar o resto das coisas, mas eu já estava acabando de recolher de qualquer forma.

Eu fechei o zíper e me levantei.

— Está com pressa? — um deles perguntou.

Cruzei os braços e respondi, secamente:

— Sim.

O ruivo riu. Ele tinha uma lata em uma das mãos, mas logo notei que era só coca-cola.

— Ah, é? E para aonde está indo?

Não estava exatamente com medo, apenas incomodada.

Aquela parte da cidade era bem segura. As ruas perto na qual eu morava eram bem padronizadas e a maioria das pessoas se conhecia, pelo menos em um nível superficial. Era como um condomínio gigante.

— Não é da sua conta — respondi com blasé, completando com o queixo erguido: — Mas estou fugindo de casa, se quer mesmo saber.

A resposta pareceu divertí-los, porque um deles riu abertamente, enquanto o outro indagou:

— Fugindo?

Eu me virei para voltar a caminhada. Era uma garota em uma missão e os idiotas estavam comendo o meu tempo.

— Ei, o que estão fazendo?

A voz vinha detrás deles, e eu mudei o meu campo de visão para saber quem era o dono das palavras.

De repente, meus pés ficaram grudados ao chão.

Era ele.

O garoto daquela noite.

Era Sebastian.

Ele andou até nós e parou a alguns metros de mim.

Ele era um pouco mais alto do que eu pensei, notei.

Era difícil absorvê-lo. Ele usava um boné azul marinho. Fios de cabelo castanho escuro casualmente escapavam do boné, caindo no começo do seu rosto. O maxilar era bem reto e definido. E ele tinha o perfeito tom de bronzeado.

Mas os olhos... Meu Deus, que cor era aquela? Eu acho que nunca tinha visto algo assim.

Não.

Eu tinha certeza.

— Só estamos conhecendo a vizinhança, cara — o mais alto disse.

— É, estamos de boa. Não estamos, Katy Perry? — perguntou o que tinha uma lata de coca nas mãos, logo depois de dar um gole.

Mas eu não respondi, porque estava ocupada demais encarando Sebastian. Seus olhos estavam em mim também. E achava que nunca sentira algo tão poderoso ou desconcertante.

Ele usava uma blusa branca com uma calça jeans. Ele era magro, mas seus músculos preenchiam bem sua camisa. Seus braços eram longos e não consegui deixar de notar as linhas de veias sutis subindo de seus dedos para as suas mãos. Nenhum dos garotos da minha sala tinha algo parecido.

Seus olhos se arrastaram até a controvérsia mochila da Katy Perry, para depois voltar para mim.

— Chega, Carson. — Sua voz não era grossa, mas era definitivamente cortante. — Ela não deve ter nem treze anos.

Seus olhos deixaram os meus para ir para os do ruivo.

Eu engoli em seco, finalmente recuperando a minha capacidade de falar.

— Eu tenho treze anos e sete meses — afirmei, sem saber exatamente o porquê, mas as palavras simplesmente deixaram a minha boca.

Então ele voltou a me encarar, assim como os amigos.

Sebastian pareceu se divertir com o que saiu da minha boca, porque, um segundo depois, um meio sorriso puxou em seus lábios.

Aí meu Deus.

E foi quando eu soube que jamais iria me esquecer daquele momento. Do momento em que vi seu sorriso pela primeira vez.

— Claro. — Ele pausou, encarando-me por alguns segundos com um misto de diversão e curiosidade. — Treze anos e sete meses — ele reforçou e os amigos abafaram uma risada.

Eu ainda estava tentando entender como o meu coração podia bater tão rápido quanto estava batendo naquele momento, quando ouvi alguém gritar:

— Ei, preciso de ajuda com o amortecedor, porra.

Havia outro garoto do lado do carro, mais afastado de nós.

Sebastian apenas disse para os outros dois:

— Vamos.

Por um segundo, antes de se virar, ele olhou para mim novamente. Foi rápido, mas extremamente potente e intimidante.

Então ele se virou e se afastou junto aos dois. E eu continuei parada por um mais um momento, tentando absorver o que aconteceu.

Quando cheguei na casa de Sienna, cinco minutos mais tarde, e ela me perguntou porque fugi de casa, não fazia a menor ideia do que dizer.

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