CATHEDRAL • jjk + pjm

By rockmepark

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{ × EM ANDAMENTO × } ⛪ ❝Jeon Jungkook, o sobrinho do padre era um exemplo a ser seguido por todos. Tão jovem... More

[00] principium
[02] duo
[03] tribus
[4] quattuor

[01] unus

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By rockmepark

Não era como se o badalar alto dos sinos de fora do quarto tivesse acordado alguém ali.

Todos os dias eram tão monótonos que seu relógio biológico o acordava pelo menos cinco minutos antes do incessante barulho pontual do lado de fora.

Pelo menos cinco minutos antes de mais um dia no inferno; como ele gostava de chamar o lugar.

Na verdade, o inferno na sua visão, era algo subjetivo e questionável.

Algumas pessoas imaginam que seja um lugar vermelho, com chamas, um homem mau com chifres e um sorriso diabólico que domina todos os pecadores utilizando de um chicote para açoitá-los.

Mas, aquela imagem era bem diferente da que ele considerava um inferno, pois inferno era o que ele vivia, mesmo que para alguns seja apenas drama. Se o inferno na cabeça de alguém fosse vermelho, em sua era branco, igual todas as paredes daquele quarto.

Quatro paredes extremamente brancas. Parecia algo comum, mas aquilo o desagradava tanto. Poderiam ser cores pastéis, dessa maneira o branco não seria tão branco. Ou pelo menos uma parede com uma cor um pouco vibrante. Que tal azul? Preto? Verde? Vermelho? Ou quem sabe, rosa.

Não, definitivamente a última cor não. Isso só pioraria os esteriótipos já impostos.

Era louco o quanto sua mente poderia caminhar em poucos segundos olhando para o teto branco desse quarto, mas francamente, esses pensamentos eram os mais puros que tinha no dia. E tudo que é bom, dura pouco, e nesse caso, apenas cinco minutos.

Suspirou fundo quando ouviu do lado de fora os andares apressados e barulhentos que um pequeno salto agulha fazia todas as manhãs, e aos poucos foi se aproximando até parar, sendo substituído pelo ranger da maçaneta da porta.

— Meninos, vamos! Acordem ou vão se atrasar. — e a figura feminina fechou a porta e seguiu seu caminho indo acordar quarto por quarto.

Ah, claro. Meninos, sim, no plural. Até porque para viver em um inferno, ele precisa ser compartilhado por pelo menos uma pessoa.

Aquele mesmo quarto era compartilhado com outro garoto, e era difícil descrevê-lo - mesmo compartilhando o quarto com ele por mais de um ano.

Tudo que sabia era que ele dormia no beliche de baixo, era o primeiro a tomar banho antes dos afazeres dos rapazes, tinha a estatura bem alta para a idade, sua voz era grossa — mesmo tendo ouvido pouco, para um colega de quarto —, e gostava de usar shampoo de camomila. Só.

E como de costume, ele se levantou em um pulo da cama abaixo de si, o menor acompanhou seus movimentos de se esticar e se espreguiçar lentamente enquanto alguns de seus ossos estalavam.

Quando olhou para cima, ele pôde ver que estava sendo observado e, francamente, não é algo que gostava. Era como se esperasse um cumprimento educado de bom dia, que ele evitava ao máximo, mesmo sendo algo tão comum para qualquer pessoa, nem que seja por educação.

— Bom dia. — disse Taehyung em um tom baixo e rouco, arrumando brevemente sua cama e indo em direção ao banheiro tomar o seu devido banho de todo dia, sem esperar resposta.

— E o que tem de bom? — respondeu Jimin, baixinho, apenas para si, já que o outro já estava com o chuveiro ligado.

Não eram amigos, isso já estava bem claro, mas também não inimigos. Comparado a outras pessoas do campus, Taehyung era quem estava mais habituado a trocar poucas palavras com Jimin. Isso apenas dentro do quarto, pois no campus fingia que não o conhecia, possivelmente para o julgamento que cercava Park não acabar o afetando.

Sinceramente? Jimin não ligava, passou da fase de almejava um melhor amigo e realizar o sonho de contar seus segredos enquanto comem algum doce muito calórico assistindo alguma comédia meia boca do Adam Sandler.

Àquela altura do campeonato ele já se conformou que, quando se é a única pessoa sensata naquele lugar, a melhor companhia era ele mesmo e uma xícara de café, junto a seus mil e um pensamentos tanto perturbados.

E está tudo bem, às vezes as outras pessoas não estão preparadas para você e suas ideologias.

Não era todo dia que Jimin refletia o quanto sentia-se diferente dos outros, mas hoje ele estava mais pensador que nas outras manhãs, tanto que nem se deu conta que o chuveiro tinha sido desligado e Taehyung já havia voltado para o quarto.

Já estava completamente vestido com o uniforme habitual; um suéter azul com o símbolo do internato, uma calça longa e bem passada com um azul pouco mais escuro que a vestimenta de cima. Jimin não gostava da ideia de usar uniforme, principalmente por todos os alunos ficarem iguais aos olhos dos outros, ninguém se diferenciava.

Mas Taehyung tinha um ar que talvez não concordasse com tudo que era empregado pelos superiores ali. Os cabelos masculinos tinham sempre que estar curtos no internato, entretanto Taehyung era o único ali que o tinha um pouco maior. Na frente do espelho, ele tentava pentear para deixá-lo ainda mais alongado. Era triste, porque ele claramente gostava de cabelos maiores, porém no final do mês sempre haveria alguém indo ao quarto cortar suas madeixas com uma tesoura afiada.

Jimin já viu isso acontecendo algumas vezes, não conhece bem o garoto, mas seu olhar era visivelmente triste quando observava seus fios caídos no chão, mas ele nunca se opôs à regra.

— Er, Park? — o chamou, parecendo meio receoso ao coçar a cabeça. — Sei que você não está no grupo da sala, mas uma das garotas enviou as respostas da lição de casa que o Senhor Beomseok passou, gostaria de pegá-las?

Os olhos de Taehyung estavam inquietos, não olhava diretamente para Jimin e suas bochechas estavam levemente vermelhas. Era de se imaginar, pois eles não conversavam muito, nem ao menos sobre a escola.

— Obrigado, mas eu já fiz o dever semana passada na biblioteca com ajuda dos livros. — sorriu sem jeito. Não tinha celular e, também, até então, não tinha alguém para lhe passar as respostas, portanto fazia todos seus trabalhos na biblioteca lendo livros grandes e cansativos.

— Tudo bem, eu acho... — suspirou. Era difícil dizer que toda a conversa que eles tinham era tão forçada, nada ali era natural — Até mais tarde então.

E saiu do quarto, deixando um Jimin pensativo para trás. Mas, ele não tinha muito tempo a perder, já que se não tomasse logo seu banho iria se atrasar.

E assim o fez. Se desfez de seu pijama e foi para um banho gelado. Sim, banho gelado. Ele tinha uma teoria que, pela manhã, as gotas geladas entrando em contato com sua pele o despertam e o deixa preparado para um dia cansativo.

Quando terminou, se enxugou rapidamente e fez toda sua higiene diária. Tão monótono.

Acordar, fazer xixi, tomar banho e escovar os dentes. Jimin às vezes - apenas para contrariar seu sistema interno - tinha vontade de acordar, escovar os dentes, fazer xixi e daí sim tomar banho.

Acredite, aquela é a única coisa na qual ele pode mudar ali, pois havia tantas regras ao seu redor que as vezes ele achava que era só mais um robozinho seguindo todos os comandos das pessoas mais poderosas.

Quando se vestiu com o mesmo uniforme de Taehyung — um número menor, pois era um adolescente pequeno comparado a outros de sua idade —, colocou a mochila nas costas e se preparou para sair de seu quarto, girando a maçaneta lentamente já ouvindo os gritos matinais das crianças e adolescentes do internato.

Não sabia se era rabugento por odiar tanto barulho e conversas paralelas pela manhã, ou se invejava ter esse tipo de amizade ali. O que era apenas um sonho, pois só de passar pela porta de seu quarto, os olhares maldosos caíam em cima de si.

Jimin odiava ser o centro das atenções, principalmente quando ela vem de algo negativo e odiado. Ele sentia que todos cochichavam falando mal de si, e acredite, não é apenas uma suposição, era algo que acontecia diariamente.

Haviam algumas freiras nos corredores quase implorando aos alunos irem à tempo para a missa da manhã, que era administrada antes das aulas.

Park era um desses alunos, pois foi fuzilado por uma das freiras, como se lesse o que ela estava pensando, talvez como um "nem pense em escapar hoje, mocinho".

Sim, o mais novo tinha uma habilidade rara de conseguir se esconder e escapar da missa da manhã.

Já utilizou tantas maneiras de sumir da igreja que ficou sem ideias. Entre fingir diarréia e ficar tempo demais no banheiro, intoxicação alimentar e fingir barulhos de vômitos, que estavam o chamando na secretaria, que esqueceu a bíblia...

Não era atoa ser tão conhecido por seus supostos pecados. Talvez a sua ausência no local sagrado na visão de outras pessoas seja associada a falta de fé, porém não era nada disso, e sim sono. Ele costumava dormir na hora de rezar.

— Park...? — o menor ouviu seu nome sendo pronunciado por uma das freiras novas, essa tinha a habitual roupa preta e branca junto a um terço. Era uma mulher de meia idade, por volta dos sessenta anos. — Está levando sua Bíblia consigo?

— Estou sim, senhora. — deu um sorriso forçado, imaginando que já haviam contado sobre seus "pecados" para mais uma funcionária.

Ela sorriu, passou a mão pelos cabelos do menino, fazendo um carinho até seu queixo. Jimin estranhou de imediato, normalmente os funcionários do internato costumam tratá-lo com repulsa.

— Vou pedir para Deus iluminar seu caminho e distanciá-lo de seus pensamentos impuros e indecentes. Você é um bom menino, só precisa ser curado. — ela disse suavemente.

Jimin automaticamente ficou vermelho e se sentiu muito desconfortável pela fala e pela suposta dedução da senhora. Ele não sabia se rebatia ou se apenas agradecia pelo pedido de oração.

Na verdade, ele nem precisou dizer nada, pois a senhora se foi rapidamente para outro lado do campus, possivelmente chamando mais alunos para a igreja.

Park não entendia muito de pecado, mas em sua percepção, aquilo que fez, ou melhor, que deixou por fazer em si, não fora um pecado. Imaginava que se Deus fosse tão bom, não iria puni-lo por simplesmente ter ajudado um amigo.

Francamente, estava farto.

Rolou os olhos e seguiu para a igreja em passos lentos, pois dessa vez não fazia ideia de como fugir daquele lugar.

Não tinha nem um celular que pudesse se distrair, talvez colocando um fone de ouvindo ou jogando algum joguinho enquanto o padre lia a bíblia ou fazia coisas que padres fazem na igreja... sim, ele nunca prestou muita atenção na missa para dar a certeza do que as pessoas faziam lá.

Se sentou em um dos bancos ao fundo, onde sua miopia o impedia de ver claramente o púlpito. Lugar perfeito.

Antes da missa de fato começar, alunos, professores e membros da igreja se ajeitavam em seu devido lugar.

Jimin estava muito distraído em morder suas próprias cutículas quando um cheiro extremamente doce invadiu suas narinas.

Era ele.

Nem precisou se virar para ver o acólito entrando com suas vestimentas que eram um misto de branco e vermelho, cobrindo todo o corpo, pois o perfume enjoativo sempre denunciava sua chegada.

Jimin tinha certeza que aquele cheiro era o pior cheiro do mundo. Não sabia o que havia naquele perfume, mas sentia enjôo só de se aproximar do garoto que carregava aquele odor.

Mas mesmo o cheiro mais desagradável do mundo não impediria Jimin de acompanhá-lo com os olhos, se aproximando do púlpito em passos lentos e precisos.

Lá estava ele, cabelos pretos como carvão, alinhados perfeitamente, como se não houvesse um sequer fio fora do lugar. Sua expressão sempre sorridente, deixando seus dentes avantajados para fora, cumprimentando parece que todos os alunos, pois eles o idolatravam, e Jimin nunca entendeu muito o porquê.

Estava falando de Jeon Jungkook, o sobrinho órfão do pastor.

Não era de sua fé que Jimin tinha inveja, e sim de tudo que o cercava. Pois sim, era um garoto cheio de fé, braço direito de seu tio e quem possivelmente seguiria alguma profissão relacionada a igreja, isso se não substituísse o próprio como padre...

Mas além desse fato, ele conseguia ser o melhor aluno da sala. Park nunca soube se o garoto tirou menos que um dez em alguma prova. Os professores o adoravam, idolatravam. Haviam vezes que o garoto parecia saber mais que os próprios docentes que estudaram a vida inteira para aquilo.

Sem contar que, por conta de todas essas características, ele deveria ser algum tipo de pessoa que sofria bullying, correto? Nerd, católico fervoroso e familiar do dono do internato, um combo perfeito para aquele garoto ser renegado por todos de sua idade e não ter nenhum amigo...

Errado.

Era popular, tinha tantos amigos que Park duvidava que ele conseguisse dar atenção para todos ao mesmo tempo. Estava sempre rodeado de pessoas, como um verdadeiro ídolo solidário que conversava com seus fãs, talvez comparado com o próprio Jesus.

E, para piorar tudo, Jimin era da mesma sala que ele, tinha que aturar tudo isso e se perguntar porque a vida havia sido tão injusta dando tudo para o garoto e nada para si.

Ele não o odiava, só tinha inveja escancarada. Como moravam em uma cidade pequena, cresceu com seus pais lamentando por não terem tido um filho como Jeon Jungkook.

Park ouviu tantas vezes o quanto eles ficariam mais orgulhosos se ele fosse pelo menos 10% mais parecido com o coroinha, mas infelizmente Jimin nunca foi nada disso.

Sua fé era meia boca, todos os amigos que tinha não estavam no internato e nunca fora bom para fazer novas amizades. Já suas notas, deploráveis, tanto que ano passado reprovou. Mas, francamente, ele achava que havia sido um complô dos professores para reprová-lo, pois sim, não era um aluno nota dez, mas talvez um aluno nota cinco.

Então sim, ele encarava o garoto com inveja, por ele ser o que ele nunca seria.

Jimin só não tinha inveja do perfume, porque ficava se perguntando que o maior tinha tantos amigos, mas nenhum para dizer o quanto aquela fragrância era desagradável? Inacreditável.

Suspirou quando viu o padre sair de uma pequena salinha ao lado do púlpito com suas vestimentas brancas, um grande terço em seu pescoço e o pouco cabelo branco desalinhado. Era um velho bem "acabado", suas rugas no rosto anunciava que sua idade era superior a sessenta anos. Contudo, tinha uma feição gentil e bondosa quando direcionada aos fiéis.

É difícil Park falar sobre o padre, pois evitava o máximo trocar palavras com o superior. Ele tinha medo, não sabia do que, mas talvez seja porque ele saiba todas as injúrias que seus pais o contaram em relação ao próprio filho.

Chega de suspense, correto?

Oras, por que Park Jimin estava em um internato católico contra sua vontade?

Poderíamos passar capítulos e mais capítulos deixando esse clima, mas não há necessidade, a história nem é tão empolgante assim...

Ah, sim, agora seria a hora de colocar um flashback, mostrando como aconteceu, certo? Mas, francamente, a história não é tão interessante para gastar mais de um parágrafo nela.

Pois bem, há alguns anos atrás, exatos cinco anos, houve um incidente que os pais de Jimin viram pela janela, e isso os deixou extremamente envergonhados e com vontade de renunciar seu próprio filho por conta de seu pecado.

Não, Park Jimin não matou ninguém, não roubou ninguém, não enganou ninguém. Não fez nada aos olhos do Pai que o levasse para o inferno, mas na percepção de seus pais, crentes tão dedicados, aquela cena era motivo de injúria...

Tudo bem, para não ficar confuso, vamos ao pequeno flashback. Mas não espere muito, ok?

Era uma linda manhã de sexta feira...

Park tinha apenas treze anos e estava em seu quintal, sentado na grama com suas pernas esticadas enquanto sentia o sol em seu rosto. Era terapêutico aquele momento para si, estava apenas relaxando, até que seu vizinho, dois anos mais velho que ele, sentou-se ao seu lado.

Lee Taemin era quase seu melhor amigo, daqueles que você contava tudo que aconteceu na escola, assistia filmes juntos e dividiam chocolate.

Por ser dois anos mais velho, talvez fosse mais curioso, era a única explicação que Jimin encontrou para naquele dia o garoto sorrir e dizer:

"Posso fazer uma coisa com você?"

E, Park como uma pessoa também desconfiada, apenas perguntou o que seria, entretanto o mais velho disse a frase:

"Confia em mim e feche os olhos".

E, claro, Jimin confiava no amigo de olhos fechados, então os fechou brevemente esperando algo acontecer. E realmente aconteceu.

Taemin selou seus lábios em uma tocar leve e macio. Por poucos segundos ele continuou ali, naquela mesma posição sentindo a boca de seu amigo na sua.

Claro que Park se assustou com a ação, seu coração foi acelerando gradualmente pois nunca em sua vida havia beijado outra pessoa, mas não hesitou e continuou ali, até Lee terminar o selar.

No final, o mais velho se afastou e com as bochechas vermelhas perguntou se Jimin havia gostado, e o menor, também tímido deu de ombros dizendo que achou "normal".

Logo depois Taemin explicou o porquê fizeram isso; tinha um garoto em sua escola querendo lhe beijar, mas Lee era inseguro o suficiente para achar que não soubesse fazer isso, por isso testou em seu vizinho que também era seu melhor amigo.

Amigos, eu disse, não disse? Sem conclusões precipitadas só por termos um Taemin na história, sim?

Jimin entendeu o caso e disse para o amigo ir fundo, que já havia procurado na internet como beijar e todos diziam que é algo natural, que o ideal é deixar fluir.

E ficaram ali na grama mais um tempo conversando sobre o 'crush' que Taemin tinha no garoto da escola, e por Jimin estava tudo bem, ele nunca havia se relacionado com homens — até o pequeno selar com Lee —, e nem com mulheres. Nunca havia sentido nenhum tipo de atração, mas não havia preconceito em si, diferente do que seus pais sempre disseram sobre aqueles tipos de pessoas que iriam para o inferno...

Falando nos pais do menor, é importante mencionar que no momento do beijo, eles estavam na janela, observando tudo, tirando conclusões precipitadas e se arrependendo de terem tido seu único filho.

Quando Jimin se despediu de Taemin naquele dia e chegou em casa, seu pai estava com um cinto em sua mão, sua mãe estava chorando e seu olhar era de nojo.

Park nunca recebeu uma palmada se quer de seus pais a vida toda, até aquele dia, conhecido como o pior de sua vida.

Ouvira tantas palavras de ódio e repulsa que é difícil até se lembrar de como não saiu correndo da casa naquele dia, mas não. Aguentou todas as cintadas pelo seu corpo, todos os xingamentos por aparentemente "ser gay", e naquele momento, todo o amor que habitava em seu coração pela família havia ido embora.

E era por isso que Park estava ali, na missa, no internato, em seu inferno interno.

Depois daquele dia, seus pais o colocaram lá para o mesmo se "purificar" e não ser gay.

Isso que o deixava nervoso, porque ele não sabia se era gay.

Também não sabia se era hétero, simplesmente nunca sentiu atração por nenhum dos sexos e estava tudo bem.

Taemin — que ainda tinha contato — sempre o disse que era normal, cada pessoa tinha sua individualidade e não era necessário obrigar-se a se relacionar com ninguém.

Mas aquilo não era algo que ele falava com outras pessoas ali, na verdade, nunca foi de puxar assunto com nenhum dos alunos, pois seus pais, de alguma maneira, espalharam o "grande pecado" que Jimin havia cometido.

Foi uma fofoca. Park acha que que os mais velhos haviam contado ao diretor da escola, esse que contará aos professores, e esses que contaram aos alunos. Uma típica fofoca meia boca que ninguém investigava se era verdade.

Então, Jimin era conhecido como "O Gay" do internato, um pecado sujo, e que estava ali para implorar a Deus sua piedade e a purificação de sua alma.

Essa era a intenção de seus pais, porém Park só cultivava mais raiva de tal religião, que ficara impondo o certo e errado sobre algo tão inocente. Por isso ainda era "sujo" aos olhos das freiras, professores, alunos e até o padre.

Ninguém conversava muito com ele para, obviamente, não correr o risco de também ser taxado de homossexual.

Francamente, Park não ligava. Ali ele gostava de utilizar o ditado "antes só, que mal acompanhado".

— Em nome do pai, filho... — a voz do padre tomou conta da igreja, e um "amém" foi dito em uníssono.

Jimin, mesmo com anos ali, não sabia o que fazer, sempre seguia aos outros; se levantava quando alguém se levantava, ficava de joelhos quando via os demais fazendo o mesmo e por aí vai.

Nunca prestou muita atenção na missa, pra ele era uma rebeldia internar já estar ali, então só ficava encarando o púlpito, julgando os movimentos e esperando alguém cair em suas vestes pra ele poder rir depois.

Porém, nada disso acontecia, parecia tudo impecável e tudo em seu lugar, graças ao bom coroinha que chegava mais cedo e arrumava o local para o seu tio padre, sendo sempre o exemplo a ser seguido.

Jimin o odiava gratuitamente.

Ele sempre ficava ao lado do padre, pronto para servir o que o mais velho pedisse, e seus olhos eram como câmeras, que vigiavam todas as pessoas dentro do recinto.

Às vezes quando Park o estava observando, sentia que ele o observava de volta, então tratava de mudar sua visão para outro lugar em desconforto, sentindo o peso de seu julgue sobre si.

Em sua cabeça, só imaginava que Jeon pensasse, nesses momentos o encarando, algo como "Espero que Deus salve a alma desse fiel". Não conseguia pensar outra coisa.

Mas Jimin não poderia estar mais indiferente para os julgamentos dos outros, quando fora julgado por seus próprios pais, aprendeu a não dar atenção ao julgamento alheio.

Os olhares do coroinha eram desconfortáveis, como as lentes de uma câmera, que vigiava todo o recinto ficasse apenas observando o infiel no meio de tantos hipócritas. Jimin odiava quando isso acontecia.

Para parar de sentir tal julgamento com os olhos, se levantou e viu que as freiras o olharam em repreensão, mas não se importou, faltava pouco para o sinal tocar.

Andou em passos bem rápidos para chegar ao banheiro, este que estava vazio e Jimin ficaria ali até acabar a maldita... desculpem, bendita missa.

Se olhou no espelho, vendo suas olheiras tão marcadas pelo péssimo sono que havia tido.

Passou um pouco de água pelo rosto para acordar, e foi o tempo de dar o sinal do internato, dando início às aulas.

Esse era um dos momentos mais barulhentos do dia, todos saíam da missa e iam para suas respectivas salas, as freiras e alguns membros da igreja tentavam pedir para os menores irem com calma, mas não adiantava de nada.

Jimin só queria um celular para colocar fones de ouvido e fazer seu trajeto, porém seus pais não deixavam ele ter um aparelho eletrônico.

Nas palavras deles, a internet tem muitas influências homossexuais e, isso pode acabar afetando seu tratamento bíblico para se tornar alguém hétero e de melhor fé.

Park odiava pensar nisso, pois sempre que pensava mais em seus pais, mais os odiava, e, francamente, tentava de tudo manter apenas as boas memórias.

Foi caminhando olhando para o chão no corredor, se preparando psicologicamente para sua primeira aula.

Adentrou a sala, se sentando em sua cadeira habitual, que era no fim do ambiente, para não chamar tanta atenção pra si.

Obviamente em vão, pois a sala já estava lotada e ouviu burburinhos de pessoas conversando entre elas e encarando-o, como se ele fosse o melhor assunto que as pessoas poderiam achar.

Jimin suspirou, pegando seu caderno e fingindo que estava lendo algo interessante o suficiente pra não encarar os colegas.

— Bom dia turma. — o professor passou pela porta, com um envelope em mãos, indo direto para a mesa dos professores.

Era um homem de meia idade, sem metade de seus cabelos e um grande terço em seu pescoço, suas vestes eram bem passadas, como de alguém que acabou de sair de uma igreja em um domingo de manhã. Um típico professor de história.

Park nem precisava dizer que nunca sentiu que o professor gostasse dele, na verdade, ano passado aquele mesmo professor o ajudou a reprovar.

— Estou com a prova de vocês corrigidas e tenho que dizer que estou muito orgulhoso de todos, foram poucos alunos que tiraram notas ruins. — sorriu, abrindo o envelope e se sentando em sua cadeira.

Antes que pudesse prosseguir, ouviu duas batidas fortes na porta, onde Park nem precisou se dar ao trabalho de olhar para ver quem era.

— Desculpe pelo atraso professor, estava resolvendo alguns últimos assuntos na igreja... — Jungkook disse, mas foi reconhecido apenas pelo cheiro doce e enjoativo de seu perfume.

— Não se preocupe rapaz, sente-se. — o professor sacudiu as mãos e apontou para a primeira carteira que estava vazia, o lugar do coroinha. — Como ia dizendo, as provas foram corrigidas e, não é surpresa para ninguém, que a maior nota foi de Jungkook.

A sala aí redor começou a aplaudir o moreno, esse que sorriu e agradeceu baixinho a quem estava o contemplando pela sua nota alta comparado aos demais.

Logicamente que Jimin não era um deles.

Na verdade, esse negou com a cabeça pelo ato do professor de anunciar a nota mais alta do aluno para o resto da sala, fazendo-os parecer como inferiores perto do coroinha.

— Ao restante da turma, chamarei por ordem alfabética para virem pegar suas provas. Quem tirou nota inferior a cinco já esteja ciente que está de recuperação e com grandes chances de repetir na matéria.

Jimin fechou os olhos fortemente torcendo para não ter pego recuperação. Foi assim que repetiu ano passado, por meio ponto que o professor não lhe deu. Sabia que não era obrigação dele, porém, foi notável que o meio ponto não veio por conta da fama que Jimin tinha no internato.

Enquanto o professor chamava os alunos de letra 'A', a turma começou a se dividir em grupos para conversarem baixo, como era de costume pelas regras estabelecidas pelo professor sempre que fazia a correção dos testes.

Jimin, no canto da sala, viu Taehyung se juntar com todas as garotas ao seu redor, eram pelo menos seis que sempre andavam com ele.

O mais alto não era de ter amizade com garotos, pelo menos Park sempre o via cercado de garotas. Quando se juntou a ele para dividir o quarto, até pensou que fosse um garanhão e estivesse com as garotas em sua mão e no mínimo já havia beijado todas a sua volta, mas com o tempo foi perceptível que a personalidade deste não era assim, parecia mesmo que as risadas e os assuntos não tinham segundas intenções.

Ao olhar para ao outro lado da sala, a maior panelinha era sem dúvidas a de amigos de Jungkook, quase que a sala toda. Se juntaram em um semi círculo ao canto da sala, onde conversavam sobre coisas que Jimin não podia escutar, e francamente nem queria.

Claro, Park estava sozinho, como sempre.

Não era necessário dizer novamente que não se importava em estar sozinho ali, pois não via uma única pessoa que realmente quisesse se aproximar em sua sala. Todos eram mesquinhos, preconceituosos e o julgavam sem ao menos terem trocado uma palavra consigo. O melhor era sempre manter distância.

Tinha como esperança que logo seus dias no internato acabariam e poderia finalmente ir embora da cidade pacata que morava. Gostava de imaginar que terminaria os estudos, largaria seus pais para trás e seguiria alguma profissão meia boca para sustentar um possível tratamento psicológico, ao qual teria que fazer por conta de seus traumas que vivera até então.

Esse era um pensamento que sempre corroía sua cabeça, às vezes pensava em contar os dias para finalmente ser livre e poder tomar conta de sua vida sem dar satisfação a seus progenitores.

Por isso tinha tanto medo de repetir novamente, era impensável passar mais um ano naquele inferno de lugar. Tinha decidido que se isso acontecesse, iria fugir. Sim, não sabia para onde, mas iria fugir.

Porém, enquanto isso não acontecia, fazia de tudo para tirar notas melhores. Estamos falando de passar horas e horas na biblioteca estudando para a prova de todos os professores.

Começou a roer suas unhas e olhar para o chão de nervosismo com sua nota, mas, estranhamente, começou a sentir um pesar em si, como se seu corpo estivesse avisando que estava sendo observado.

Não que isso fosse novo, por conta de sua fama Park era observado por todos e tentava ignorar tudo. Porém, dessa vez parecia diferente, como se suas costas queimassem em inquietação com algum olhar sobre si.

Com cuidado, olhou ao redor, procurando quem o estivesse encarando, logo encontrando com os olhos de Jungkook.

Assim que os olhares se encontraram, Jeon não fez questão de quebrar a troca visual como sempre fazia, em vez disso, foi perceptível que o moreno pegou seu celular em mãos e apontou a câmera para Jimin.

Park arregalou os olhos e se virou para a parede, tentando se convencer de que aquilo era coisa de sua cabeça, oras, não fazia sentido ele tirar uma foto de seu colega de classe.

Ainda de frente para a parede, de canto de olho, voltou a encarar Jeon, esse que não estava mais com o celular em mãos, mas continuava a encará-lo com um sorriso pequeno nos lábios.

Não era loucura, Park estava vendo aquilo.

"Mas que diabos...?" pensou, ficando na dúvida se iria tirar satisfação ou fingir que isso nunca aconteceu.

— Park Jimin. — a voz do professor interrompeu seus pensamentos, lhe tirando do transe e fazendo esquecer momentaneamente sua paranóia que o coroinha havia, sim, tirado uma foto de si.

Se levantou da cadeira com cuidado e foi caminhando até o professor, esse que o encarou com desdém e entregou a prova, quase jogando-a no chão.

E no papel, lá estava sua nota escrita com uma caneta vermelha. Três e meio.

Jimin suspirou, quase que de raiva, pois havia estudado muito para essa prova, justamente com medo de ter uma nota parecida com aquela.

— Parece que não aprendeu nada com a reprovação do ano passado, hein Park? — ouviu seu professor dizendo no mesmo tom de desdém.

O mais novo sentia vontade de amassar a prova e sair andando da sala, porque francamente, ele sabia que não era tão inteligente, mas também sabia que era mais esperto que um três e meio!

Revirou as páginas e viu respostas — que em sua cabeça — estavam corretas e o professor havia dado negativo.

Essa é a hora que ele pediria uma segunda revisão de sua prova, mas foi isso que fez ano passado e se deu mal; quando se enfrenta a palavra de um professor, é como se estivesse enfrentando a palavra de próprio Jesus e, todos que são contra, estão errados.

— Posso ir ao banheiro, professor? — disse baixo, assinando a prova e mentalizando o que faria na recuperação para melhorar sua nota e não reprovar, novamente.

O professor acenou, e com isso Park saiu em passos enfurecidos da sala. Havia se sentido ainda mais observado na sala, como se todos ali estivessem o olhando sair da sala e colocando-o como exemplo a não ser seguido.

Estava enfurecido com tudo, odiava o professor, odiava aquela escola, odiava tudo!

Foi caminhando para o banheiro novamente, e dessa vez pôde ver seu reflexo no espelho e se odiar por estar passando por aquilo, por seus pais estarem lhe obrigando a passar por tudo isso.

Estava exausto, queria voltar para a sala de aula e agarrar o pescoço do professor, ou então ir no estacionamento e riscar o carro dele.

É, talvez Park deveria mudar seu caminho e ir se confessar ao padre que gostaria de realizar maldades com seu professor maldito.

Mas de nada adiantava sentir esse nervoso todo, sempre dava no mesmo: ele errado.

Era como se um filme passasse por sua cabeça, igual à que viveu no ano passado com sua reprovação e o desdém de sua família ao ver que o filho não virou um católico fervoroso e ainda estava trazendo mais uma vergonha na família, junto a reprovação.

Fugir. Aquele pensamento sempre o assombrava, por mais louco que fosse.

Taemin mesmo disse que abrigaria ele em sua casa na árvore e o alimentaria com doces, mas sendo menor de idade ainda, Park ficava a mercê de seus pais.

Olhou seu reflexo novamente e ouviu a sirene tocar do lado de fora do banheiro.

Agradeceu mentalmente não precisar olhar para o velho que tentaria o reprovar, de novo.

Antes de sair do banheiro, sentiu um tocar em seu ombro, se virou instantaneamente e viu seu colega de quarto.

— Ei, está tudo bem? — falou baixo, apenas para Jimin ouvir.

— Sim, Taehyung, está sim... — mentiu, achando estranha a ação do maior em falar consigo fora do dormitório.

— Eu tenho o material dele completo e posso pedir mais alguns livros para as minhas amigas para você se sair bem na recuperação, se quiser. — era visível o desconforto do mais velho.

Jimin não sabia se ele estava desconfortável em conversar consigo, de estar lhe oferecendo apoio ou apenas de estar ao banheiro, porque cada garoto que aparecia no recinto fazia com que Taehyung ficasse mais desconfortável, como se só quisesse sair dali.

— Obrigado, verei o conteúdo que preciso e depois te falo. — Jimin disse, vendo que o maior desviava os olhos e parecia que estavam úmidos.

— Tudo bem, depois nós falamos. — e quase correu do banheiro.

Jimin olhou para os lados, sem entender o porquê Taehyung ter se apressado tanto e parecer tão desconfortável ali. Era um banheiro comum, até mais limpo que os demais, tinham três ou quatro garotos no máximo usando as cabines.

Podia ser só coisa da cabeça de Jimin, que primeiro pensou que Jeon havia tirado uma foto sua, e agora que Taehyung via, não sei, talvez espíritos no banheiro masculino e esteja correndo?

Suspirou e seguiu para fora. Só queria conversar com Taemin e desabafar como sempre fazia, mas sem celular tudo que podia fazer era uma ligação por telefone fixo quando agendava no internato.

Saiu do banheiro e viu que estava na troca de aula, possivelmente a professora de matemática já estava em sua sala, mas dessa vez Jimin nem se importou em andar rápido para não perder o conteúdo, já estava quase aceitando que iria repetir novamente apenas porque seus professores não gostavam de si.

Quando estava caminhando no corredor, observou que a sua frente estava o professor de história, que parecia ofegante e grato ao encontrar Jimin. — Graças a Deus te encontrei!

Ele sorriu, o que deixou Jimin ainda mais confuso.

— Oras, por que não me avisou antes? Sinto orgulho de você Park, achei que não tivesse mais jeito e estaria destinado ao fracasso, mas graças ao bom Deus você está tentando mudar seu futuro!

O mais novo não podia estar mais confuso. Pensou que talvez estivesse em uma realidade paralela ou que provável que seu professor tivesse te confundido com outro aluno.

— Avisei do quê...? — perguntou no mesmo tom, ouvindo um bufar de seu superior como se estivesse óbvio.

— Não precisa esconder de mim, rapaz, e nem se envergonhar que procurou ajuda! Ele me avisou que estava te dando aulas particulares para prova e não deu tempo de ensinar o conteúdo que dei, essas coisas acontecem!

— Ele quem? — Jimin novamente silabou, estava com uma de suas sobrancelhas arqueadas tentando raciocinar o que seu professor queria dizer com tudo aquilo.

Pensou unicamente em Taehyung, mas não fazia sentido...

— Não se faça de bobo, Park! Jeon já me contou tudo, também disse do projeto que vocês estão preparando para a igreja, achei muito bonito da sua parte querer entrar no meio religioso e procurar o melhor aluno e nosso coroinha para lhe ajudar.

Jeon. Jungkook?

Park ficou em silêncio, tentando arrumar teorias em sua cabeça que fizessem sentido para tal diálogo que estava tendo agora.

Não fazia o menor sentido, porque pelo o que se lembre, não estava preparando projeto algum para a igreja, e nem sequer trocou palavras alguma vez com o coroinha mal fedido.

E, com o calor de seu aluno e possivelmente um atraso em sua agenda, o professor continuou a falar. — Bem, Jeon havia me dito que você não tinha celular, e que se eu te visse para passar o recado que ele está te esperando no quarto dele para vocês terminarem o projeto da igreja, ambos estão dispensados da aula de matemática. Não se preocupe que ele já levou seu material para o quarto e está só te esperando. Bem, fique com Deus rapaz, irei rever sua prova e pegar leve na recuperação com você pela sua iniciativa.

E assim como apareceu, o professor foi embora, deixando um Jimin em extrema confusão.

Ele tinha certeza que havia sido trocado e ninguém o informou sobre isso. Nunca, em toda sua vida quis fazer um projeto na igreja que não fosse incendiá-la quando estava com raiva.

E nunca, em toda sua vida quis estar no mesmo ambiente que o coroinha nerd popular de sua escola. Aquilo com certeza era um pesadelo ou um grande mal entendido.

Possivelmente o professor tenha o confundido com outro aluno, haviam vários nomes parecidos com o seu na sala, talvez Jeon tivesse lhe informado sobre outro aluno e o professor velho e careta o confundiu.

Única explicação plausível.

Suspirou, acalmando seu coração e umedecendo seus lábios.

Segundo seu professor, deveria ir para o quarto de Jungkook, mas como Park tinha certeza que tudo aquilo era um engano, foi em direção a sua sala.

Chegou na porta, essa que tinha uma pequena janela que era possível ver tudo o que estava acontecendo dentro. Lá estava a professora de matemática dando aula para todos os alunos, menos... para Jeon e Park, esses que nem seus matérias estavam lá.

"Tudo bem, se acalme.", Jimin disse a si mesmo e respirou fundo ao se afastar da sala, pensando em seus próximos passos.

Então sua mochila estava no quarto de Jungkook? Isso era alguma pegadinha?

Começou a pensar que talvez seus pais tenham entrado em contato com o internato e pediram para Jeon realizar alguma atividade de fé para colocar Jimin no caminho santo.

Eram tantas teorias que Jimin nem sabia qual seguir. Deveria ir para o quarto de Jungkook?

Quer dizer, ele sabia onde era, pois, como o sobrinho do padre, o mais alto tinha o privilégio de ser o único a não dividir o quarto, tinha um só para ele, onde todos sabiam onde era.

"Isso não pode estar acontecendo..." Jimin sentiu seu coração bater mais alto quando entendeu que precisaria ir ao quarto do coroinha nem que fosse para tirar satisfação ou apenas para buscar sua mochila.

Isso, iria buscar sua mochila e voltaria para a aula de matemática, como se tudo isso nada mais fosse que um grande engano.

Suspirou audivelmente e começou a seguir passos lentos até os leitos norte, que é onde ficava o quarto do coroinha.

O corpo de Jimin parecia que tremia dos pés a cabeça, em um misto de pensar que iria ficar tudo bem e um nervosismo de achar que estão querendo que ele aprenda mais sobre a bíblia com o sobrinho do padre.

C-12.

Era a placa do quarto do Jungkook, essa que tinha um olho mágico e ao redor um terço com uma foto de Jesus.

Jimin achou extremamente brega, mas não podia esperar muito do acólito.

Deveria bater na porta ou esperar que o garoto saísse do quarto? Considerando que Jimin não tinha o dia todo e só queria sua mochila, seguiu o impulso de bater duas vezes na madeira da porta.

Um, dois segundos foram precisos para ouvir uma voz abafada do lado de dentro. — Quem é?

Jimin engoliu o seco e disse alto o suficiente para que apenas o mais alto escutasse. — Sou eu, Park Jimin, sou da sua sala, acho que houve um engano e trouxeram minha mochi-... — foi interrompido por um barulho de destrancar.

Mas nada foi dito por alguns segundos, Park não sabia se continuava sua fala ou esperava, até que ouviu mais uma vez a voz de Jeon. — Pode entrar...

As mãos do menor estavam suadas, seu corpo todo em um desconforto tremendo. Parecia tão errado tentar entrar no quarto do garoto que mais sentiu ódio gratuito apenas por ele ser o filho dos sonhos de seus pais, e agora estava prestes a entrar em um local que era só dele.

Pensou uma, duas, três vezes se não era melhor sair correndo, até que sua cabeça disse para se acalmar, que ele já era grandinho o suficiente apenas para entrar ali e pegar sua mochila, então, tocou a maçaneta e abriu a porta.

O corpo todo de Park sentiu como se todos seus sentidos pudessem adentrar o quarto antes mesmo de sua consciência.

Primeiro, o olfato.

Seu nariz reclamou do forte cheiro daquele mesmo perfume, só que dessa vez, triplicado, e além disso, mais um cheiro desagradável que se misturava com o anterior, mas ele não sabia dizer o que era porque não conseguiu identificar no primeiro segundo, mas ao fungar novamente se recordou do cheiro de marlboro vermelho que sua tia fumava.

Segundo, a audição.

Seus ouvidos entraram em contato com a música, que era baixa o suficiente para não sair o barulho do quarto, mas alta para descrever aquilo como um solo de guitarra de alguma banda de rock antiga.

Terceiro, o tato.

Com tantas informações para serem processadas, Park quase tropeçou ao entrar no quarto, e identificou que se tratava de sua própria mochila amarela, tanto que se apoiou em uma escrivaninha, essa na qual haviam latas que Jimin reconheceu ser de... bebidas que ele não tinha acesso sendo menor de idade.

E último a ser listado e devidamente importante era a visão, pois seu paladar não estava aguçado e sua boca estava seca e entreaberta com as informações que seu cérebro raciocinava aos poucos.

Sua visão primeiro foi contemplada com vários pôsteres na parede, pôsteres esses que tinham mulheres nuas, bandas de rock que eram encobertos por uma fumaça que ocupava o quarto todo.

E na cama sentado, estava Jeon Jungkook.

Havia um cigarro em sua boca, não estava com suas vestes formais como de costume, na verdade estava sem camisa, mostrando diversas tatuagens em seu abdômen e braços. Seus cabelos não estavam mais arrumados, e sim extremamente bagunçados, caindo sobre seu rosto. Enquanto uma mão estava segurando um cigarro, a outra segurava uma latinha de cerveja.

Os olhos de Park nunca se arregalaram tanto, a surpresa era tamanha que começou a imaginar que realmente estava em um sonho ou um plano do coroinha se vingar dos anos que Park o odiou escondido gratuitamente.

Jeon, riu de lado e bateu o cigarro para tirar as cinzas no cinzeiro e voltou a encarar Park quando voltou o cigarro em sua boca. — E aí, tudo bem?


Oiiiieeee

Tenho que perguntar: O que acharam até aqui? Imaginavam isso?

Entenderam o porquê da hashtag #SantinhoDoPauOco?

Queria agradecer novamente pelo apoio que vocês estão me dando, fico extremamente grata e feliz pelos comentários e os votos 🥺

Acho que é nessa que eu vou! Até o próximo capítulo :)

saranghae 💜
andy (@rockmepark)

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