OS MISTÉRIOS DE ELIZA GUNNING...

By autoralotorino

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❝ Confiem em mim, leitores. 1832 será um bom ano. - Srta. Silewood. ❞ Lady Eliza Gunning não é nem de longe u... More

SINOPSE COMPLETA
DISCLAIMER
EPÍGRAFE
PRÓLOGO
CAPÍTULO I
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
CAPÍTULO VI
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
CAPÍTULO X
CAPÍTULO XI
CAPÍTULO XII
CAPÍTULO XIII
Capítulo sem título 18
CAPÍTULO XV
CAPÍTULO XVI
CAPÍTULO XVII
CAPÍTULO XVIII
CAPÍTULO XIX
C A P Í T U L O XX
C A P Í T U L O XXI
C A P Í T U L O XXII
C A P Í T U L O XXIII
C A P Í T U L O XXIV
C A P Í T U L O XXV
C A P Í T U L O XXVI
C A P Í T U L O XXVII
C A P Í T U L O XXVIII
C A P Í T U L O XXIX
C A P Í T U L O XXX
EPÍLOGO
Notas Finais + Amazon

C A P Í T U L O XXXI

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By autoralotorino

[...]

Recebi sim muitas críticas, Londres. O bom é que eu estava preparada para isso. E também o fato de que nem tudo é tão ruim assim. Desejam saber? Nunca recebi tantas flores, cartas e elogios como na última semana também.

Lady Morley Stanley Journal

— Eliza! — Frederick bradou — Isso é injusto!

Liz riu, mas tinha total conhecimento de que era verdade. Ainda assim não se importava. Ela pressionou o pé nas costelas do cavalo e afrouxou a rédea, fazendo com que ele aumentasse ainda mais a velocidade do galope. Ele estava realmente veloz, avançando pela trilha e quase atropelando um grupo de cavalheiros em certa altura. Eliza só esperava não encontrar nenhum outro hipista descuidado, pois poderia haver um sério acidente — e depois de uma coluna grega cair em sua cabeça a última coisa que ela queria era mais sangue e choro.

Frederick, entretanto, não estava nada satisfeito com o rumo daquela disputa. Eliza havia trapaceado. Havia pedido para que ele tentasse observar alguma coisa além das árvores e enquanto ele se inclinava sobre o cavalo para observar, ela zarpou em vantagem. Até o marquês se organizar Eliza já corria pelo Hyde Park rumo ao destino final perto do Serpentine.

— Eliza! Pare, por Deus! — ele gritou metros atrás — Primeiro que isso não é nada adequado e segundo que é a mais suja trapaça.

— Não havia termo algum para que eu pudesse burlar, Frederick. Não tem como ser trapaça.

Abruptamente ela fez uma curva. Lord Morley havia dito mais cedo que seu cavalo era lento em curvas e então sua vantagem ficou ainda maior. Ela passou por um grupo de damas que quase perderam o chapéu quando os dois cruzaram sua frente. Frederick investiu mais ainda, cortando caminho entre as árvores e saindo bem ao lado dela.

— Isso sim é trapaça! — Eliza defendeu-se.

Não havia termo algum... — Frederick imitou Eliza, forçando a voz para que ela se tornasse mais aguda.

— Deixe de ser ridículo.

Eles continuaram, dessa vez lado a lado e invadindo o gramado. Havia a trilha, porém aquilo tinha se tornado questão de honra. Eliza não iria perder para Frederick Morley de forma alguma. Nos últimos instantes da corrida ela conseguiu manter a vantagem e chegou primeiro ao ponto marcado. O homem resmungou, frustrado, mas aceitou a derrota sem questionar a legitimidade da disputa.

Eliza sorriu com satisfação, deixando que ele a ajudasse a descer do cavalo segurando-a pela cintura, como aquela vez em Somerset. Neste dia, porém, Eliza não desviou desconfortável. Ela sorriu gentilmente, fazendo com que ele também sorrisse, mostrando que não havia ressentimentos — mas ele ainda iria vencê-la.

— Você sabe que eu a deixei ganhar, não sabe?

Eliza riu. Frederick lutou até o único segundo para ultrapassá-la. Ele nunca teria se portado daquela forma se sua intenção real fosse deixar com que ela ganhasse.

— Mentiroso. Não há porque você me deixar ganhar. Eu venci porque sou ótima cavalgando e tenho um talento imensurável com cavalos, corridas e em manter a velocidade.

Ele segurou nas abas de seu bonnet e trouxe a cabeça de Eliza para mais perto de si para beijar sua testa.

— Eu deixei você ganhar porque você é minha esposa. Não sou romântico?

Ela revirou os olhos.

— Extremamente romântico. Deixou que eu atropelasse cinquenta pessoas no percurso apenas para me ver feliz. O que é um piquenique ao pôr-do-sol perto disso?

— Você quer um piquenique ao pôr-do-sol?

Eliza fez biquinho e em seguida mordeu os lábios. Ele quis sugá-los ali mesmo.

— Não tenho certeza. Romantismo é sem dúvida algo bom, mas criar uma tradição de corridas no Hyde Park também parece uma boa ideia.

— Claro, — ele murmurou, arrumando o bonnet dela da maneira mais milimetricamente correta — será adorável ver um abaixo assinado para que o senhor marquês e a senhora marquesa de Normanbury sejam banidos do maior parque de Londres por uma triste sucessão de acidentes.

— Não sei se eu diria triste...

— O que você diria?

Ela sorriu. Ficou na ponta dos pés.

— Tristemente engraçados, talvez.

Tristemente engraçados...

Eliza se aproximou mais ainda.

— Melancolicamente divertidos.

Melancolicamente divertidos...

— Deliciosamente... — ela se interrompeu, mordendo os lábios — não sei.

— Eu gostaria de beijar você deliciosamente.

— Frederick! — ela exclamou, se afastando e segurando nas rédeas do cavalo — Aqui não. Estamos em público.

— Qual o problema? Estamos casados.

— Outra razão. Eu sou uma senhora da alta sociedade, Frederick — Liz disse aprumando-se, fingindo uma postura austera quando não conseguia nem erguer-se a mais de um metro e meio do chão — é meu dever portar-me corretamente.

O marquês estava pronto para fazer um comentário sarcástico sobre a esposa e bons modos quando a prova viva da nova situação em que eles estavam colocados chegou. Lady Sthern e sua amiga, a Sra. Campion, curvaram-se para eles em gentis cumprimentos. Os olhares delas, repleto de admiração, cintilaram sobre Eliza com visível respeito. Essas mulheres, apenas alguns anos mais velhas do que ela, tratavam-na como a posição requeria sem qualquer hesitação. Ninguém ousaria sugerir que Eliza não estava se saindo bem como marquesa, principalmente ao julgar o prestigio de sua família de origem e a afeição que o marido a tratava em público.

Os comprimentos foram rápidos. As mulheres se afastaram, seguindo o caminho inicial, e Eliza começou a acariciar o pelo de seu cavalo que descansava. Lord Morley estava entediado. Ele andou em círculos ao redor da esposa e dos animais, chutou algumas folhas e quase pisou em uma borboleta. Ao redor algumas crianças corriam, levantando fitas coloridas que voavam pelos céus em um divertido misto de cores e alguns visitantes cortavam caminho pelo gramado. Há alguns metros uma balsa flutuava pelo lago Serpentine.

Frederick se aproximou da esposa e tocou suavemente em seu rosto. Ela sorriu fraco. Também estava um tanto cansada depois do esforço árduo em vencê-lo, mas amava sua companhia e o toque quente de seus dedos.

— Podemos voltar para nossa conversa sobre coisas deliciosas? — ele perguntou — Eu gostaria de falar tantas delícias em seu ouvido, Lizzie. Acho que faria você ofegar no meio do parque.

Eliza se afastou, revirando os olhos. Ela ajeitou a cela do cavalo e a bolsa acoplada em sua lateral. Não tinha tempo para perder com as besteiras de Frederick — não agora, não ali.

— Estamos no meio de Hyde Park, cavalgando — disse — qual seu problema?

Você.

Ela voltou-se para ele com os olhos estreitos. Não havia nenhum sinal de humor ou um mísero sorriso em seus lábios. Lord Morley estava sendo mais uma vez um homem perfeitamente rude. Ele sorriu com o canto de lábios em um sorriso que claramente não demonstrava apreço, apenas um desafio silencioso repleto de cinismo.

Eliza também sorriu, empinando o nariz e apertando a cela.

— Então me atire no lago, oras. Resolverá seu problema em questão de minutos.

Frederick deu de ombros.

— Você rastejaria para fora — declarou — infelizmente.

Ela concordou com veemência. Seus olhos fixaram-se nele com ardor e o sorriso de Frederick aumentou ainda mais. Ela estava ficando irritada a preço de nada? Perfeitamente normal e esperado. Não seria uma tarde com Eliza se isso não acontecesse em certa altura.

— É claro que eu rastejaria, querido. Rastejaria para poder arrastá-lo comigo para o fundo.

— Não consegue ficar longe?

Ela deu de ombros. Sua cela estava finalmente colocada de maneira correta e firme, prevenindo qualquer acidente. Ela abaixou-se tranquilamente, pegando uma flor solitária que nascia ao chão e guardando em sua bolsa na lateral do cavalo. A planta ficaria perfeita em seu caderno de anotações naturalísticas. Enquanto isso o marido continuava estático, esperando uma resposta. Eliza sorriu.

— É que eu adoraria vê-lo implorando por ar.

— Sádica. — Frederick retrucou de imediato.

— Idiota. — Eliza respondeu.

— Insuportável.

— Patife.

— E então você é a Sra. Patife.

— Infelizmente, mas já não tenho escolha.

Ele entreabriu os lábios, indignado. Hesitou na hora de responder, constatando a vitória da esposa que montou no animal com um sorriso de superioridade. Lord Morley fez o mesmo, tirando-o da sombra e conduzindo-os novamente até a trilha principal. Agora eles tentariam cavalgar como um casal de pessoas civilizadas. Eliza alcançou-o, galopando ao seu lado. Ele a fitou por alguns instantes naqueles atraentes movimentos de vai e vem sobre a cela. E então, de súbito, lembrou-se de algo.

— Eu adoraria que cavalgadas no Hyde Park fossem uma tradição, porém temos que tomar cuidado com suas regras.

— Mas eu adoro cavalgar.

— Você pode cavalgar de outra forma... — ele sorriu, dessa vez sua típica malicia.

Ela tentou acertá-lo com um leve tapa na cabeça. Frederick conseguiu abaixar-se no exato momento e ainda puxou as rédeas, afastando um pouco os cavalos por medidas de segurança.

— Você não quer um filho, Lizzie? — indagou — Temos que ser cuidadosos.

Lady Morley o fitou. Os olhos estavam tanto curiosos quanto indignados, mas não de uma maneira irritável ou decepcionada. Ela apenas tinha pensado que sua resposta era óbvia. Era verdade que talvez não houvesse uma urgência absurda em sua vontade de ter filhos — ela gostava de acreditar que teriam muito tempo para pensar nisso. No momento seu foco era em aproveitar a vida ao lado do marido, mas se, eventualmente, ela se quedasse naquela situação... Não, não havia como pensar que seria algo ruim.

— É claro que eu quero, Frederick — respondeu — por Deus, eu cresci sozinha. Quero uma família. E não uma simples família, eu quero uma família completa, que nossas crianças possam crescer com irmãos.

Irmãos — ele repetiu dando ênfase no plural utilizado — presumo que sejam mais de dois então.

— Quem sabe? Está nas mãos do temido destino.

Ela o fitou por cima do ombro discretamente. Queria observar cuidadosamente a expressão que Frederick poderia usar para mostrar seu desprezo por aquela figura mítica do destino, porém ele não o fez. O marquês deu de ombros, continuando com os compassados galopes.

— Desde que seja com você eu estarei feliz. Estarei feliz com você e nossos Fredericks e Elizas em uma versão melhor e aprimorada. Inclusive, eu mal posso esperar para ver isso. Você acha que eles se parecerão comigo ou com você?

Ela sorriu.

— Acho que eles serão uma mistura absurda de nós dois.

— Desde que tenham seus olhos.

— Desde que tenham o seu sorriso. E claro, o seu jeito irresistível de fazer meu coração se derreter com mísero sussurro...

— Oh, Senhor. Eu tenho que levá-la para casa agora mesmo.

Lady Morley riu. Gostaria de estar no mesmo cavalo que o marido, cavalgando aninhada em seus braços, mas a distância dos dois logo seria suprida de qualquer forma. Estavam cavalgando em direção à saída do parque, sem pressa, mas mantendo um ritmo que impedia qualquer interrupção. Entretanto, uma única pessoa foi capaz de se intrometer no trajeto. Frederick pensou em ignorar e apenas desviar, mas Eliza puxou as rédeas no mesmo instante.

E desceu.

— Lord Sacks, — ela murmurou — milorde não estava em... Manchester?

— Sim, — o homem concordou fazendo uma mesura — mas retornei depois de algumas complicações. De qualquer forma minha irmã já está melhor, então não tenho porque me prolongar lá. Enquanto isso eu soube de tudo que aconteceu em Londres.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— Tudo?

— Desde a prisão de Stanley, passando por casamento e, claro, pela retomada de sua coluna em nosso jornal. Uma maravilha, eu diria. E um ato de coragem absurda. Ainda assim creio que você esteja segura. Quem iria se colocar no caminho da marquesa de Normanbury, hum?

— O milorde, aparentemente.

Sacks a encarou por alguns segundos tentando encontrar qualquer vestígio de humor na voz da jovem. Ela estava séria. O homem havia literalmente entrado no caminho de seu cavalo. Se ela não tivesse sido rápida para puxar as rédeas, provavelmente estaria no chão e ele, desacordado. Seria uma resolução trágica demais para tarde quente de julho.

E então lord Sacks riu. Simplesmente riu. Ah, claro. A doce Eliza estava brincando...

— Exatamente por isso estava a procurando, milady — disse.

Frederick chegou até eles no mesmo instante. Segundos foram perdidos com apresentações formais, mas nenhum dos cavalheiros se preocupou. Enquanto isso os pés da marquesa estavam inquietos. Completamente.

Por isso?! — Liz indagou, impaciente — Eu nem sabia que milorde estava me procurando...

— Estava. E então mencionei esse fato à viscondessa Backford que disse que a milady estava cavalgando com o marido pelo Hyde Park. Eu poderia ser mais cortês e fazer uma visita? Poderia, mas é um assunto sério e estou com pouca disponibilidade. Um bom homem busca praticidade, não é Vossa Senhoria? — dirigiu-se a Frederick.

Ele assentiu com rispidez.

— Certamente.

— De qualquer forma... — Sacks continuou — a milady precisa ir até o escritório ainda essa semana. Há uma imensidão de documentos e...

— Preciso por quê? Estou enviando minhas publicações da maneira usual, por meio de um contratado.

— Este é o ponto. Não tenho certeza se te informaram, mas eu estava conversando com um advogado e meus sócios a respeito do futuro do jornal depois do incidente com Stanley. No caso com Williamport e Howell. Imagino que os conheça...

Eliza assentiu. Williamport era um homem cortês e agradável, mas que nos últimos anos dedicava-se completamente ao casamento e por isso permanecia parte da temporada com a esposa em Bath. Ainda assim escrevia periodicamente e sua voz era efetiva no partido liberal. Já Howell era o famoso Ashton Howell, marido de Harriet e cunhado de Cassandra. Bonito, encantador, sem muito dinheiro, mas ótimo com as palavras e em lidar com a sociedade. O doce e sedutor libertino que havia apanhado o coração de duas em uma só noite e que agora estava sem duvida em ascensão — tanto que estava consolidando um lugar de prestígio no jornal com auxilio de Williamport.

Sendo assim, figuras conhecidas. Lady Morley concordou com a cabeça.

— Conheço sim.

— O advogado me informou de um fato até então desconhecido por todos nós. Stanley escreveu um testamento.

— Sim, ele tinha irmãos. Uma de suas irmãs é viúva, inclusive. Certamente está desamparada depois de tudo o que aconteceu.

— Não, não — Sacks acenou no ar — o que eu quero dizer é que ele tinha clausulas especificas para o jornal. Julian Stanley deixou a parte dele para você, lady Morley. Seu nome está no testamento e então parte do Stanley pertence a você.

Eliza engasgou com o ar. Frederick pousou os braços sobre seus ombros, acariciando-a e mantendo-a segura. Mesmo assim a cor fugiu de sua pele. Sacks continuou.

— Não tudo, é claro. Ainda há a minha parte, a de Williamport e agora um pouco para Howell também. E dizia que se você se casasse, seu marido também teria direito à um pouco das ações. Enfim, um encontro com o advogado é indispensável.

Dessa vez lord Morley quase engasgou também.

— Apesar de que ninguém sabe se foi exatamente isso que aconteceu — Sacks comentou.

Lady Morley engasgou por alguns segundos. Ela olhou para Frederick que parecia tão confuso quanto ela e voltou-se para o homem em sua frente com o cenho franzido.

— Como assim, milorde? — lady Morley pronunciou com extremo cuidado.

— O que eu quero dizer, Eliza, é que Stanley indubitavelmente tinha inimigos. O que aconteceu é uma prova consistente de suas inimizades, porém... — ele sorriu com apreço — ele também tinha muitos amigos. Mais do que qualquer um de nós pode imaginar e em todos os lugares da Inglaterra. Eu gosto de manter-me fixo a realidade e confesso que ás vezes posso parecer pessimista, mas nem sempre as situações imploram para fatalismo. Stanley era odiado, mas uma vez me disseram que o ódio é facilmente superado quando sentimentos bons vêm à tona também. Quem garante que ele não foi salvo antes, graças a seus influentes contatos? É possível. Ele não seria o primeiro e com certeza também não o último.

Eliza sentiu o sangue correndo por suas veias, porém completamente congelado.

— Thompson, um velho conhecido que foi acusado de conspirar contra a Coroa, hoje está em algum lugar da Península Ibérica, produzindo vinho. Não é o pior dos trabalhos e ele diz gostar. — Sacks disse — Mas não diga nada a ninguém, milady.

Ela negou de imediato. Quase caiu para trás.

— Sempre há esperança. Principalmente para pessoas boas como ele. Confie em seu coração, ele sabe a verdade. — Sacks sorriu — Apenas dê tempo ao tempo, Eliza.

Ela assentiu, tocando a mão do marido que a segurou com firmeza. Lord Sacks não desejando mais tomar tempo do casal, despediu-se. Eliza demorou alguns segundos para processar todas as informações. Era dona de parte do jornal. Stanley poderia estar vivo. Tempo ao tempo. Ela assentiu com as mãos estranhamente frias. Frederick as beijou como se estivessem em pleno inverno, não no meio do verão.

— Eu estou bem, Freddie — murmurou — vamos para casa. Não quero pensar nisso tudo por enquanto.

— Por enquanto? — ele concordou a cabeça — Como quiser.

— Talvez eu devesse fazer isso. Deixar que o tempo resolva o que não posso mudar. Dar ao destino a liberdade para nos guiar onde precisar — ela apertou suas mãos — ele sempre estará certo, não é? Se depender de mim ainda há uma eternidade para nós dois.

Frederick assentiu.

— Sim, Lizzie. E nós vamos aproveitar todo nosso tempo da melhor forma possível. Sempre juntos. Nos momentos bons, ruins. Quando eu quero atirá-la no Serpentine e quando você quer arrastar-me contigo... Sempre.

Ela sorriu.

...

31 de dezembro, 1832

— Frederick, eu não estou gostando disso.

— Ah, faça-me o favor. Você vai simplesmente amar!

Ela rangeu os dentes. Não apenas pela raiva, mas também por que uma rajada de vento havia se chocado contra seu corpo. Eles estavam na rua, caminhando em passos lentos em direção a Casa Morley, mas o percurso estava sendo dificultoso por culpa do marquês. Frederick mantinha uma venda escura nos olhos da esposa e a guiava com cuidado pelo solo em direção as primeiras elevações da soleira. Tentava ser rápido por causa da temperatura, mas não podia correr o risco de machucá-la.

— Um degrau — murmurou — e agora outro. Cuidado, tente colocar o pé mais para frente antes que você escorre...

Lord Morley suspirou, desistindo de continuar com a frase. Era óbvio que ela havia escorregado. A sorte da marquesa era que o marido estava ali do lado para ampará-la como se fosse uma frágil e delicada donzela. O azar do marquês era que a realidade distinguia-se muito de sua idealização e a esposa definitivamente não era uma delicada donzela. Eliza desvencilhou-se dos braços de Frederick e pisou em seu pé com uma precisão admirável.

— Não consegue acertar o degrau, mas consegue encontrar perfeitamente meu pé, não é?

Ela sorriu. Eles avançaram até chegarem à área protegida pela soleira. O sino da campainha foi tocado e em breve o mordomo iria atende-los — em sua própria casa.

— Precisei de muito aperfeiçoamento.

— Não me provoque. Você está vendada e eu posso levá-la para onde quiser assim.

— É muito presunção achar que eu estou com a venda por obrigação, — lady Morley comentou com tranquilidade — o nome disto é curiosidade. Não tenho ideia do por que estou assim. Meu aniversário foi há...

— Trinta e oito dias, — ele sorriu — e não é exatamente um presente. Espere, você verá.

— Humpf.

O mordomo abriu a porta. Eliza ouviu ruídos e já ficou em estado de alerta. Não seria uma festa surpresa, pois em seu aniversário eles haviam oferecido um baile — no qual muitas pessoas compareceram, mesmo estando fora da temporada. Ela pensou, então, que não estivessem na Casa Morley, mas logo afastou a ideia. O percurso parecia-se com a casa deles, e o som do assoalho também era o mesmo — estranhamente Eliza conhecia bem esses pequenos detalhes. E então ela sentiu algo pulando em seus pés e soube que não poderia estar em qualquer lugar além da própria casa.

— Oh, Pippa é você? — ela se abaixou — Venha com a mamãe... Vieniamian também está aqui? Venham os dois então, meus amados bebês.

Frederick piscou algumas vezes.

— Espero que você seja uma mãe solteira, porque eu definitivamente não sou pai de cães.

Vieniamian Stanislav rosnou para lord Morley. Eliza sorriu — para qualquer direção, exceto onde o marido estava.

— Peça desculpas para Vieniamian e Pippa.

— Eliza, por favor, vamos ter um pouco de sensatez...

— Peça. — Ela rosnou. Os animais também.

— Certo, desculpem-me, meus bebês. Papai não queria ofendê-los e estava longe de ser minha intenç... — Frederick respirou fundo. Quem Eliza achava que era para obrigá-lo a assumir a paternidade dos cães dela? — Chega.

— Oh, que fofo. — Liz se inclinou para o nada — Merece um beijinho.

— Ele vai me morder.

— Meu beijo não vale o risco?

Hum... — lord Morley pensou por dois segundos — com certeza vale. Venha aqui, Lizzie.

Ele colou rapidamente os lábios com os da esposa. Por sorte Vienamian se controlou, mas Pippa não. Ela também decidiu beijar o marquês, lambendo-o. E então Anne Boleyn se aproximou, ronronando aos pés dele, e foi o dever moral do homem pegá-la no colo. Eliza conseguiu acariciá-la ao sentir a aproximação do animal. Havia uma estranha sensação dentro dele que a esposa realmente levava a experiência com os animais como um vislumbre da maternidade. Ele gostava de acreditar que isso fosse um sinal de que ela seria uma boa mãe — mesmo não precisando, pois sabia que Eliza era perfeita em tudo que fazia.

— Vamos, Lizzie. Há algo especial esperando por você...

Frederick guiou-a em direção a sala de jantar. Tentou deixar a gata no chão, mas ela miou de uma maneira nada gentil. Dessa forma os dois adentraram no cômodo com seus companheiros domésticos, Eliza ainda sem compreender o que estava acontecendo, mas sendo guiada pela curiosidade. Ela foi conduzida até o centro, bem na frente da mesa onde o jantar ainda não estava servido, e o marido prostrou-se atrás dela.

— É a hora. Espero que goste. Se não gostar... — ele inclinou a cabeça para a direita — bem, seria uma pena.

— Vamos logo.

E ele puxou o tecido. Demorou um pouco para que a visão de Eliza clareasse, mas quando ela viu...

— Frederick, porque todos nossos amigos estão em nossa sala de jantar?

Ronnie bateu palmas. Apenas ela, na verdade. Em seguida pegou a taça com champagne e ergueu onde os outros a acompanharam no brinde.

— Ao marquês e a marquesa! — brindou.

— Ao marquês e a marquesa! — os outros seguiram.

Sem duvida a Sra. Paine foi a mais animada, quase derrubando a taça de Samantha também, porém por sorte ela riu. Cordelia foi a única a tomar limonada no lugar do champagne, mas ela parecia igualmente animada com a saudação. Levantou a taça ao alto e incentivou a mãe a fazer o mesmo. Lady Meredith Morley estava distraída, conversando com lord Gunning, e acabou perdendo o tempo. Felizmente os dois encararam a situação de maneira bem humorada e riram um pouco. O ruído do vidro se chocando soou alto, capturando totalmente a atenção de Eliza para aquele momento. Ainda assim, estava confusa. Grata, feliz, mas ainda confusa.

Ela fitou o marido.

— O que é isso?

Ele sorriu.

— Novo ano, nova vida, novos começos. Eu gostaria de trazer um pouco de alegria para essa casa, na verdade. Mesmo no inverno. E eu achei minha esposa fosse gostar de algumas companhias especiais antes de embarcarmos para Hampshire.

Eliza assentiu. Seus olhos deslizaram até a mesa onde localizou o pai, a avó, sua sogra, a cunhada, e alguns amigos como Samantha, Ronnie, Reynard e Aaron. Bridget não estava ali, e por mais que lady Morley estivesse feliz por ter cortado relações com ela, ainda sentia um vazio no espaço onde a amiga uma vez ocupou. Entretanto, estava disposta a aceitar novas amizades. Ruby estava com o marido, assim como Alberdeen e Kriss também estavam presentes — e no momento James dizia como lady Kriss ficava bonita em trajes de inverno. Também havia lady e lord Pumbley, antigos amigos de Frederick e que Eliza ansiava para conhecer — a esposa de Pumbley, Beverly, era uma antiga companheira de classe quando cursavam a Escola de Moças. Além de, claro, velhos conhecidos de Eliza e que tinham ligação com Frederick também: os viscondes Camberley, os vizinhos da esquerda, e os condes de Bolkshire.

Faltava Cassandra. De alguma forma, Eliza sentia falta dela. Não como uma grande amiga, mas tinha certa consideração por Cassandra. Ela sempre soube que Eliza era a Srta. Silewood. Não sempre, na realidade, mas há um bom tempo. E Eliza sabia disso. Ainda assim houve um acordo mútuo de segredos. Liz não mencionaria as inclinações — ah, quem dera se fossem apenas inclinações! — de Cassandra por Ashton Howell, e Cassandra manteria a identidade dela em segredo. Ela não merecia estar com lord Whitby em Edimburgo, mas o casal gostava de acreditar que Cassandra estava se saindo bem. Ela soube sobreviver e ascender em Londres, saberia lidar com o novo marquês.

Na verdade, Eliza constatou ao fitar todos, ela verdadeiramente estava sentindo falta da sociedade. Precisava ver mais Hemsworthy correndo de debutantes ao ponto de tropeçar na orquestra e cair, precisava assistir Virginia Waldorf pisando no pé de George Holland — seu terrível vizinho — intencionalmente mais vezes, e até gostaria de tomar um pouco mais de chá de cadeira. Não era ao todo ruim. Havia descoberto tanta coisa, conversado com tantas pessoas, e por mais que odiasse nunca ter sido muito popular, poderia tirar coisas boas disso. E se ela tivesse casado em sua primeira temporada na ilusão de uma paixão? Provavelmente não conheceria Frederick. Provavelmente nem continuaria com a Srta. Silewood. E todos aqueles momentos que passou com Julian antes de sua prisão? Tudo havia acontecido no tempo certo, ela sabia. E estava muito feliz por isso.

— E... — lord Morley continuou com a voz encantadoramente calma — nós vamos trocar alguns presentes também. É uma boa surpresa de Ano Novo?

— Maravilhosa! — ela sorriu, olhando para todos os convidados.

Eles voltaram a se comunicar entre si. Aparentemente uma das amas havia perdido o controle sobre a filha do meio dos Berlingtons e ela correu até a mesa para contar algo para a mãe. E Samantha, que amava crianças, ficou muito interessada na conversa. E então Alicia Hawkins, lady Camberley, decidiu que também seria uma boa ideia se também chamasse a filha Olivia para opinar sobre o assunto — levando em conta que não era um jantar formal. Em poucos segundos todos estavam notoriamente distraídos com as companhias e jogando conversa fora.

— Pensei que você fosse gostar de uma reunião com as pessoas que amamos, já que em seu aniversário não podemos comemorar por causa de toda confusão com os documentos do jornal, com a viagem surpresa à Hampshire, o processo de lord Rudenport e... — Frederick se interrompeu por um segundo, abaixando ainda mais o tom de voz — suas regras.

Eliza assentiu com seriedade, mas mostrando um pequeno sorriso que se formava sorrateiramente entre seus lábios.

— Ah, sim. Minhas regras... — ela respondeu tão baixo quanto ele — e será que meu marido acha que hoje é uma boa ocasião para...

— Apenas se minha esposa desejar, — ele disse por fim — não agora. Precisamos cumprimentar nossos convidados antes de coletar todos os presentes.

— E os nossos presentes para eles? — lady Morley lembrou-se de súbito. Ela não sabia. Não estava preparada.

— Eu cuidei disso, querido. Apenas aproveite.

Eliza estreitou os olhos. Ela conhecia muito bem o marido para poder ter medo das escolhas dele. Quer dizer, havia várias ladies pela sala e nenhuma delas fazia o estilo de mulher atraída por coisas escuras ou peculiares, como o marido. Liz, porém, gostava muito. Não se importava nada por Frederick estar usando um casaco negro em pleno ano novo quando a maior parte das pessoas se concentrava em tons alegres que faziam um belo contraste com a neve que começava a ganhar espessura em dezembro. Inclusive, Eliza considerava o charme de seu marido todo aquele ar enigmático e misterioso. Ela sabia que muitas gostariam de desvendá-lo, mas, felizmente, ela era a única escolhida para penetrar em seu coração.

A marquesa caminhou em direção ao pai e lady Meredith para cumprimenta-los primeiro. Abraçou os dois com bastante afeto, mesmo tendo visto a sogra há cinco dias e o pai há apenas dois. Cordelia estava com o nariz avermelhado pelo frio, mas com os olhos castanhos cintilando de entusiasmo. Os outros convidados também estavam se divertindo bastante. Havia uma pequena roda cercando lord Crosby que comentava sobre seus preparativos para sua viagem à Itália, onde, dizia ele, encontraria a paixão de sua vida: Florença, a casa da arte. Enquanto isso Frederick conversava sobre alguma besteira aristocrática com o conde e o visconde. Alberdeen disse que Kriss disse que amava o tom de verde de seu vestido e ela o repreendeu dizendo que era azul — quando na verdade tratava-se de um exato tênue entre os dois tons.

Eliza estava dando a volta na mesa quando uma menina de cerca de cinco anos bateu em suas saias. Ela corria, ofegante, depois de arrancar das mãos do amiguinho o gorro de inverno dele. Lady Morley abaixou-se na altura dela, acariciando lhe a bochecha e dizendo que estava tudo bem pelo pequeno acidente. Seus olhos meigos e azuis brilharam.

— Olivia! — a viscondessa se aproximou — Peça perdão a marquesa.

Liz se levantou, mas não houve muita diferença de quando ela estava inclinada para perto da menina. Alicia Hawkins sorriu. Olivia começou a defender-se, alegando que já havia pedido, desculpas para a marquesa — ela provavelmente nem tinha ideia do que era uma marquesa de fato — mas à essa altura lady Camberley não se importava mais com o acidente. A criança fugiu na primeira oportunidade.

— Fico feliz por nós termos sido convidados por seu marido, milady — Alicia disse — nós nos conhecemos há tanto tempo, mas nunca fomos verdadeiramente próximas. E nesse ano descubro que nossos maridos são amigos desde Cambridge e que agora somos vizinhas... Eu literalmente consigo ver sua casa de minha janela — ela sorriu — como coisas inesperadas acontecem em nossas vidas, não é?

Lady Morley assentiu.

— Tenho certeza que em seu casamento você quase descobriu que eu era a Srta. Silewood quando Bridget falou demais. Engraçado que naquela época eu fiquei apavorada, mas hoje eu assino minha coluna com meu nome verdadeiro. Tem razão, Alicia, as coisas realmente mudam muito.

A viscondessa sorriu. Agora Olivia estava novamente ao pé da mãe, implorando para que ela fosse ver alguma coisa surpreendente que estava acontecendo na rua. Era noite de ano novo, então algum morador de Mayfair provavelmente havia exagerado no whisky e estava escorregando no gelo. Nada de muito novo por ali.

— Desde que eu soube que você seria a marquesa de Nomanbury — Alicia continuou — não consigo imaginar o destino reservando algo diferente para você. Parece que você nasceu para carregar esse título. Talvez tenha sido, não é? Eu sempre pensei tanto nessa casa. Sem vida, escura e com todas as janelas fechadas. Desde que você se mudaram eu vejo vida aqui e isso é maravilhoso.

Eliza sorriu. Agora as janelas estavam fechadas pelo frio, mas não havia nenhuma cortina grossa e espessa tampando a visão e a luz do luar. Ela esperava que na primavera pudesse encher todos os canteiros com flores coloridas para deixar a Casa Morley ainda mais alegre. Lord Morley se aproximou, posicionando-se ao lado da esposa e curvando a cabeça suavemente em um comprimento para a viscondessa. Previsivelmente lord Camberley também estava com ele.

— E qual o assunto das damas? — Matthew Hawkins perguntou, abraçando afetuosamente a esposa de lado.

— Sobre como a rua mudou desde que Eliza veio para cá. Parece muito mais fácil manter uma politica de boa vizinhança tendo uma amiga como vizinha.

O visconde assentiu.

— Apesar de que não sei se eles gostam tanto assim de nós. Creio que nossos filhos façam bastante barulho...

— Sim, — Eliza concordou de maneira tão rápida que fez Frederick se surpreender com a possível indelicadeza — mas é maravilhoso. Adoro crianças, principalmente as que irradiam alegria como as de vocês.

— Sendo assim quando será que eles vão ter vizinhos novos para brincar? — Alicia ergueu uma sobrancelha — Matthew e eu nos conhecemos por isso.

Lord Morley olhou para Alexander, o filho mais velho do casal, e se perguntou se eles estariam planejando um casamento do garotinho com a filha inexistente dos Morley. Ou melhor, quase inexistente, pois eles não podiam ter certeza do sexo do bebê. Mas poderiam...

Frederick ficou rígido por alguns instantes. Os viscondes estranharam, porém esperaram por alguma reação do marquês. Subitamente ele olhou para a esposa, invadindo seus olhos com imensa profundidade, conversando de uma maneira que apenas os dois poderiam compreender. Castanho contra azul. Escuridão contra luz. Amor contra... Amor também.

— Agora? — ele indagou.

Ela assentiu com um leve concordar.

— Sim.

Frederick assentiu. Ele pediu que os três os acompanhassem e eles foram até a mesa onde em breve a ceia seria servida. Posicionou-se bem no centro e esperou que os convidados fizessem silêncio, mantendo a esposa bem ao seu lado. Eliza manteve-se serena, mas esboçou um largo sorriso quando cruzou os olhos com Ronnie e Samantha que pareciam prever exatamente o que estava acontecendo. Aparentemente os viscondes também tinham capturado a deixa, mas o resto dos convidados parecia alheio à situação.

O marquês bateu na taça três vezes com um talher. O silêncio invadiu o cômodo, sendo audível apenas o som dos criados trabalhando e o crepitar da lareira.

— Minha esposa e eu estamos imensamente felizes pelo comparecimento de todos aqui. Sei que a maior parte da sociedade está no campo, mas nós, que restamos em Londres, também precisamos de certo entretenimento. Essa comemoração serve exatamente para isso, além de claro, prestigiar minha amada esposa. — Frederick disse — Os meus amigos mais antigos sabem que eu nunca fui um homem apaixonado, mas então conheci Eliza e tudo mudou. Casei como o mais fraco dos apaixonados, caindo de amores por ela.

Houve um conjunto de suspiros pelo cômodo — toda as damas e lord Crosby. Eliza sorriu com os olhos marejando por seu discurso.

— Não foi fácil, principalmente porque há alguns meses estávamos em pleno turbilhão pela Srta. Silewood, o genioso pseudônimo para a geniosa mente de minha esposa no qual eu me orgulho muito — ele sorriu — hoje não imagino minha vida sem ela. Eliza mostrou-me o que é felicidade e juntos estamos construindo essa nova vida aqui. Uma família. E por isso eu peço mais um brinde, dessa vez não a nós, nem ao Ano Novo ainda. Queria pedir um brinde ao que virá, ao nosso futuro, ao bebê que minha esposa está esperando.

Um misto de confusão ocorreu. Alguns ergueram a taça para realmente fazer o brinde, alguns — mais especificamente o Sr. e a Sra Paine, Samantha Duncan, lady Margareth e lady Cordelia — ficaram extasiados demais para realizar qualquer movimento e outros, no caso os pais do casal, não tiveram nem ao menos condições. Meredith olhou para baixo, respirando fundo e contendo as lágrimas, enquanto lord Gunning fez o oposto, fitou a filha com todo o amor e orgulho que tinha em seu peito. Ela havia crescido sem mãe, sim, sim, mas sabia que ela exerceria muito bem seu papel. Como não? Havia crescido em um lar disfuncional? Sim. Totalmente fora dos padrões? Com certeza. E isso a prejudicou? De forma alguma. Pelo contrário, Eliza não poderia ser sido tão amada como foi. Ela aprendeu muitas coisas na vida com a família e uma delas era amar. E ela com certeza amaria seus filhos, cada pedacinhos deles, independente de tudo.

Por fim todos fizeram o brinde. Eles uniram-se também, apesar de que o conteúdo da taça de Eliza fosse apenas água. Não havia problema. Em breve teriam uma ceia maravilhosa, ao lado de pessoas maravilhosas e estariam prontos para começar um maravilhoso ano. Frederick deslizou as mãos dele até o ventre da esposa onde as mãos de Eliza pousaram por cima logo depois. Tão pequeno, mas tão amado.

— Você disse um pouco antes de nos conhecermos que 1832 seria um bom ano. Lembra-se?

— Em alguma das edições de abril — Liz sorriu — Lembro-me bem.

— Foi um bom ano, então?

— Foi magnífico. — Ela deu um selinho rápido no marido — Espetacular. — Outro —Esplêndido. — E outro.

— A partir de agora eu vou ganhar um beijo sempre que você pronunciar uma palavra ou foi apenas agora?

Ela revirou os olhos com humor e sorriu travessa.

— Então queres um beijo?

— Não quero receber nenhum recuo, pois então me abstenho de responder essa pergunta.

Eliza ficou na ponta dos pés.

— Uma pena, já que essa seria o meu presente de Ano Novo já que não pude preparar nenhum. O que acha?

— Desde que seja exclusividade minha.

— Ah, Frederick... — ela ergueu o queixo — serão sempre seus. Apenas seus.

Ele sorriu.

— Então esse seria o melhor presente que eu poderia receber.

Ele a segurou, erguendo-a e tirando seus pés do chão para que pudesse beijá-la. E a beijou. Um beijo amorosamente românico, sem se importar com público ou moralidade. Era sua esposa e ele a amava. Amava muito, muito e muito. Beijou-a mais ainda, abraçando-a ao segurá-la contra seu corpo. Os pés de Eliza simplesmente flutuavam no ar e ela não tinha medo de cair, pois estava nos braços dele.

Eles afastaram os lábios, mas Frederick ainda a manteve no alto.

— Eu te amo, lady Morley.

E ela beijou novamente.

— E eu te amo, Freddie. — Sorriu — E se 1832 foi um bom ano, 1833 será melhor ainda, pois terei você do começo ao fim.

E então ele sorriu com o canto dos lábios.

— Você ainda é insuportável, sabia?

— Sou, é?

— Insuportavelmente perfeita.

— E você é inoportunamente maravilhoso.

— Por isso eu estou...

Ela sorriu.

— ...Odiosamente amando você.



...

Só tenho uma coisa para dizer: obrigada por todo carinho e suporte. Eliza e Frederick não poderiam ter leitores mais amorosos e dedicados do que vocês <3 E sim, esse foi o capítulo final, porém dentro de alguns dias (prometo que não vou demorar) vem o epílogo. Esperem, não vão se arrepender. Com MUITO amor,

Helo. 

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