Cinco Dias (RABIA)

By bark2020

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Quando o isolamento não deixa outra alternativa a não ser dar vida ao que se tentou evitar e mascarar, mas qu... More

Lockdown
Tombo
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Desconforto
Realização
Porre
Dia 5, Pt. 1
Dia 5, Pt. 2
Brisa
Perspectivas/Bixinho
Rotina/V, Pt. 1
V, Pt. 2
Dezembro
Sente, Pt. 1
Sente, Pt. 2
Madrugada
Madrugada, Pt. 2
[MIMO]
Recomeço
Contraponto
Esconderijo
Peônia
Inquietação
Desorientação
Elucidação
[MIMO 2]
Descontrole
Calmô
Verde
Difícil
Oposição
Aliança
Sábado
Pressão
Distância
Colisão
Back to Bad
[MIMO 3]
Refazer
Natural
[MIMO 4]
Chuva
Hipotético
Roma
Junho
Chega
Ventura
[AGRADECIMENTO]
[BÔNUS]
[MIMO BÔNUS]
[BÔNUS 2]
[BÔNUS 3]
[AVISO]
[BÔNUS 4: BAHIA]
[BÔNUS 4: NUVEM]
[BÔNUS 4: ROSA]
[BÔNUS 4: CINCO DIAS DE SOL]
[BÔNUS 4: GELO]
[PARÊNTESIS]

Todo Carinho

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By bark2020


Capitulaço hoje de novo!

Eu quis muito postar ainda hoje, então minha revisão foi apenas superficial. 

Peço que, quem ler imediatamente, que me perdoe as falhas que encontrar. 

Vou reler assim que for possível e editar o que for necessário.

No mais, sei nem o que dizer aqui em cima, apenas sigam!


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Ainda estavam no meio do beijo quando, mesmo vindo do andar de baixo, puderam ouvir a voz que ecoou no banheiro, em tom gritado e timbre grave:

– Rafaella, tô aqui! Cadê você?

Bianca foi a primeira a fazer o movimento de se afastar do beijo e, quando abriu os olhos, percebeu Rafa ainda com os dela fechados, com uma expressão torturada no rosto. Sussurrou:

– É ele?

A mineira apenas chacoalhou a cabeça positivamente e, enfim, abriu também os olhos a tempo de assistir Bia se afastar dela com pressa.

R: Calma! – recuperou a distância imposta pela carioca e levou a mão ao ombro de Bianca, mas percebeu que precisava responder logo.

Sendo assim e sem tirar os olhos da expressão assustada de Bia, ela foi andando de costas até a porta do banheiro, saiu rápido e foi até a entrada do quarto. Gritou na sequência:

– Tô aqui em cima, Rodolffo, já desço, só um minutinho!

Trancou a porta, voltou rápido para o banheiro e encontrou Bianca na mesma posição.

B: E agora? – perguntou em tom baixo, mas urgente.

R: Não sei, mas... – respirou fundo, como se o fôlego lhe tivesse sido todo roubado naqueles poucos segundos – Enfrentamos, não? Quer dizer, saímos daqui juntas, você vai pra sua casa e eu enfrento o que tiver que enfrentar com ele.

B: Não sei, não, Rafa. – parecia apavorada – Isso pode não acabar bem. Não é nem de longe a melhor forma de tu resolver isso. – terminou de falar e voltou para o quarto, juntando as roupas rápido e começando a se vestir.

R: E o que você sugere? – foi atrás dela.

B: Sei lá... – tentou acertar o fecho do sutiã com as mãos ligeiramente trêmulas – A gente fala que eu passei aqui pra qualquer coisa, já tá tarde mesmo, pode colar, não sei.

R: Não gosto da ideia de mentir. – ainda estava atônita, sem conseguir se mexer.

B: Toma, veste sua roupa! – entregou pra ela o que recolheu do chão e chegou mais perto – Talvez seja a única forma agora, Rafa! – levou uma mão ao rosto dela – Você conhece ele melhor, sabe como ele pode reagir ao certo, mas o que eu sei é que ninguém no mundo vai reagir bem de flagrar a namorada em casa com outra pessoa. – fez uma pequena pausa – É humilhante, e eu tenho certeza que tu não vai querer causar isso em ninguém.

R: Ele já me traiu tantas vezes. – deu uma risada sarcástica e balançou a cabeça, percebendo o ridículo da situação.

B: Que tenha traído... – buscou o olhar de Rafaella – Tu não é assim, e tenho certeza que sempre vai tentar evitar fazer esse mal pra alguém, ou tô errada?

R: Acho que não! – pronunciou baixando a cabeça, mas já tentando vestir a roupa que Bia lhe estendeu.

B: Então se apressa, porque senão ele sobe aí. – deixou ela e seguiu se arrumando rápido, recolhendo ao mesmo tempo os travesseiros, almofadas e lençol da cama pelo chão, que compunham a imensa bagunça que elas tinham feito em mais uma das – ainda tão poucas – noites incríveis que passaram juntas.

Enquanto Rafaella também se apressava para se vestir, Bia correu até o closet de Rafa e saiu de lá com um chapéu e uma bolsa.

B: Tem uma sacola por aí?

R: Oi? – observou a carioca segurando os objetos, mas não entendeu nada, como era o esperado.

B: Pensei que a gente pode dizer que eu vim pegar umas peças suas de figurino pra um ensaio que eu vou fazer, isso explica porque estamos juntas aqui em cima. Ou acha que ele duvidaria?

R: Acho que não... – tentava arduamente acompanhar – Ele não sabe que... – travou.

B: Que tu fica com mulher? – juntou as sobrancelhas.

R: Sim. – respondeu direta, sem conseguir olhar para Bianca e foi até o espelho para ajeitar o cabelo.

B: Bom... – não esperava mesmo aquela resposta, acabou travando também, mas tentou retomar e, principalmente, priorizar o que importava naquele momento – Acho que, nesse caso, melhor assim, né?

R: Aqui... – chegou mais perto com a sacola – Coloca aqui dentro! – finalmente encarou os olhos castanhos.

B: Perfeito... – pronunciou baixo, sem desconectar os olhares, mas também sem condições de dizer outra coisa além do que a sequência exigia – A gente precisa descer logo.

R: Eu sei... – respirou fundo outra vez e curvou o corpo, apoiando as mãos no joelho.

Bianca chegou mais perto, levou a mão à cabeça dela e encorajou:

– Ei, vai dar tudo certo! – fez pressão no ombro de Rafa, induzindo que levantasse – Vamos!

Rafa atendeu o comando e, tentando resgatar toda a coragem que ela nunca deixou de ter, tomou a frente.

Saíram do quarto e desceram as escadas.

R: Rodolffo? – olhou em volta e dirigiu o olhar para Bia, que terminava de descer as escadas.

Rod: Ah, finalmente! – saiu da cozinha com uma xícara de café na mão e disparou a falar – Eu tive que vir aqui ver o que estava acontecendo com você, né? Tô te mandando mensagem desde a madrugada. – caminhou até ela e lhe deixou um selinho nos lábios

R: Desculpa, eu ainda não mexi no celular com calma. – disse empurrando o ombro dele sutilmente, apertando os olhos cheios de constrangimento.

Rod: Ué? – deu-se conta finalmente da outra presença na sala – Tá com visita!

R: Pois é... – olhou de canto de olho para Bianca, que já estava no térreo, parada sem saber como agir – É... A Bia passou aqui pra pegar umas coisas que eu fiquei de emprestar pra ela... É... – a versão ainda não tinha fixado o suficiente em sua mente, foi difícil concluir – Para um ensaio.

Rod: Pra mim vocês eram inimigas! – deu uma risada e foi caminhando até Bianca para cumprimentá-la – Tudo bem? Prazer!

B: Tudo, sim, e você? – sorriu fraco e tentou ajudar na versão – A gente tinha as nossas diferenças, sim, mas nos encontramos e acabamos nos acertando.

Rod: No jantar da Manu?

B: Sim. – tentou manter o sorriso, olhando para Rafaella na sequência.

Rod: Bom, melhor assim, né? A briga de vocês foi bem besta mesmo e ninguém entendeu! – voltou para perto de Rafaella – Mas e por que não viu minhas mensagens ainda?

R: Acordei tarde, Rodolffo... – disse sem paciência – E depois a Bia chegou e eu acabei me atrapalhando, mas... – finalmente resolveu tentar entender a presença dele ali – Cê não tava em Goiânia? Não veio até aqui só porque eu não te respondi, não, né?

O tom áspero de Rafaella chamou a atenção de Bianca, que continuava em silêncio na cena.

Rod: Claro que não, né, Rafaella! Vai continuar com isso?

E o tom de Rodolffo a incomodou muito mais.

R: Então o que aconteceu? – tentou se controlar e ignorou a pergunta.

Rod: Se você tivesse lido as minhas mensagens, saberia. – Bia alternou o peso do corpo entre as pernas, cada vez mais incomodada.

R: Pois é, mas não li, Rodolffo, me dá uma ajudinha, por favor!

Rod: Minha mãe estava aqui em São Paulo para as compras de final de ano, lembra? – Rafa assentiu – Ela passou mal essa madrugada e foi levada para um hospital daqui.

R: O que ela tem?? – assustou-se de verdade, não esperava.

Rod: O problema no rim dela, parece que voltou a atacar!

R: Eu vinha falando tanto pra ela pra ver isso!

Rod: Pois é, eu fiquei desde a madrugada tentando te avisar que viria, mas nada, né?

R: Desculpa! – disse baixo e com a cabeça baixa – Claro que se eu soubesse não teria ignorado, né?

Bia começou a se incomodar demais, sabendo que precisava se mexer e sair logo dali.

Rod: Tudo bem, não tinha como você adivinhar também. – chegou perto de Rafa de novo e, mais uma vez, deu-lhe um selinho que desviou o olhar de Bianca e, enfim, fez ela atingir seu limite.

B: Gente, eu vou deixar vocês, porque imagino que precisam resolver isso. – caminhou até a mesa e pegou sua bolsa, debaixo do olhar aflito de Rafaella – Eu espero que sua mãe melhore logo, Rodolffo! Não há de ser nada! – sorriu pra ele e, ao fundo, percebeu o semblante arrasado de Rafa.

Rod: Não precisa ir, não, Bianca! Ela tá sedada e acho que só vamos conseguir visitar a tarde! – passou o braço pela cintura de Rafaella, desestabilizando a cena ainda mais.

R: É, Bia... – soltou-se do namorado imediatamente e chegou mais perto dela, procurando o olhar castanho – Não precisa ir assim, podemos terminar a nossa conversa... – fez uma pausa – Sobre seu ensaio!

B: Preciso, sim... – ajeitou a alça da bolsa no ombro, aliviando a tensão com o gesto, mas sem perder o olhar de Rafaella. Tentou amenizar, porém: – Justamente por causa do ensaio que já é daqui a pouco, né?

R: Tudo bem. – pronunciou em um fio, baixando o olhar.

B: Obrigada pelas peças! – fechou a distância com a mineira e encaixou ela em um abraço, que infelizmente não pôde demorar muito, e despejou em seu ouvido:

– A gente se fala melhor depois.

Soltaram-se do abraço e Rafa deslizou a mão pelo braço de Bianca, apertando a mão dela por um único segundo que somou ao olhar fixo que tentou dizer o que não podia ser verbalizado.

A carioca sorriu, soltou a mão de Rafa e caminhou até Rodolffo.

B: Tchau, Rodolffo, espero que dê tudo certo! – encostou a bochecha na dele.

Rod: Obrigada! Prazer em te conhecer, Bianca! – soou extremamente gentil.

Sem conseguir dar ainda mais volume àquele cenário de mentiras já tão lamentável, Bianca não retribuiu, apenas sorriu e caminhou até a porta.

Trocou um último olhar com Rafa e deixou o ambiente.

Rod: Sério, Rafaella, eu tentei falar com você muitas e muitas vezes. – mal esperou a porta se fechar e já voltou à cobrança.

R: Eu sinto muito mesmo, Rodolffo, eu acabei tomando um remédio pra dor de cabeça ontem e acho que apaguei mais pesado ainda. – nem ela soube como conseguiu continuar dialogando e mentindo, porque sua mente girava e lhe deixava cada vez mais desamparada.

Rod: Se fosse só essa noite que isso aconteceu, tava bom, né?

R: Não vamos começar com isso agora, por favor! – respirou fundo, ainda completamente fora do tom e sem olhar para o namorado.

Rod: Claro, porque eu vim aqui pra coisas mais importantes do que isso mesmo! – ironizou – Assim que liberarem as visitas, você vai comigo ao hospital?

R: Claro. – ainda tentando se equilibrar, Rafa percebeu em cima da mesa a carteira de Bianca, que provavelmente ela havia tirado da bolsa na noite anterior para pagar o jantar e, na pressa e desnorteamento daquela manhã, esqueceu de colocá-la no lugar.

Com a carteira na mão e, sem se dar nenhum segundo de abertura para qualquer outra reflexão em sentido contrário, Rafa apressou-se em agir:

– Rodolffo, eu preciso descer!

Rod: Como assim, por quê?

R: Essa carteira é da Bia, acho que ela não viu que caiu da bolsa dela! Vou tentar ver se ela ainda tá lá embaixo!

Rod: Ela já deve estar longe, Rafaella! – revirou os olhos.

R: Ela não dirige, deve tá esperando o uber. – já estava na porta – Vou tentar!

Rod: Tá bom, né? – disse vencido.

Sem nem esperar qualquer outra palavra, Rafaella fechou a porta e torceu muito para que o elevador não demorasse.

E deu sorte, porque não demorou mesmo.

A descida de todos os andares desde a cobertura, entretanto, pareceu interminável e, assim que a porta do elevador abriu, com o coração disparado, Rafa correu até alcançar a porta do saguão de seu prédio e, quando enfim conseguiu enxergar a calçada, percebeu Bianca já se aproximando do carro que tinha vindo buscá-la.

Só lhe restava mesmo gritar:

– BIA!

Já abrindo a porta do carro, Bianca ouviu a voz de Rafa e sentiu seu coração, até então completamente aflito, serenar.

A carioca girou o rosto em direção a Rafaella para deixar claro que tinha ouvido, mas mesmo assim terminou de abrir a porta do carro para dizer ao motorista que lhe aguardasse uns minutos, e que ela pagaria a diferença que fosse necessária.

Obtendo a concordância dele, ela voltou para dentro do prédio e caminhou até o hall, onde Rafaella tinha ficado lhe aguardando.

Assim que Bianca passou pela porta, Rafa puxou ela para um canto e lhe apertou em um abraço quase desesperado:

– Desculpa! – apertou mais – Pelo amor de Deus, me desculpa!

B: Fica calma! – confortou e acolheu ela no abraço – Tá tudo bem!

R: Não era pra isso ter acontecido. – não se conformava.

B: Mal feito tem dessas coisas, né? – tentou acrescentar uma nota de humor no tom de voz e foi afrouxando o abraço para voltar a ter o olhar de Rafaella – Às vezes não demora nada, ele dá um pé na bunda da gente e cobra a conta!

R: Eu não queria ter te submetido a isso... – completou com os olhos marejados, apertando o coração de Bianca.

B: Eu entrei nessa sabendo, Rafa, tu me deixou bastante claro que era essa a situação atual. E fez isso de maneira dolorosamente direta e sincera, na primeira oportunidade que teve... – sorriu pra ela e lutou para conter o impulso de lhe fazer um carinho no rosto. Ali não podia, infelizmente. – Então não foi você que me submeteu a nada, não, eu assumi os riscos junto contigo.

Rafaella recebeu o final da fala com o olhar baixo e Bianca não permitiu, inclinou sua própria cabeça para baixo e fez questão de fazer ela lhe encarar de novo.

B: Tu não deveria ter descido. – não conseguiu evitar a pequena bronca, porém.

R: Sua carteira... – estendeu o objeto – Você esqueceu, e ainda bem que esqueceu. – tentou sorrir, ainda com o olhar cheio d'água – Não queria que você fosse assim, sem eu conseguir te pedir desculpas e... – não soube bem o que dizer por uns segundos de pausa, mas a lágrima que caiu lhe deu as palavras, que saíram baixas, mas claras o suficiente:

– Não queria que você desistisse de mim.

B: Isso não vai acontecer. – expandiu mais o sorriso e, tentando passar ainda mais segurança para Rafaella, pegou discretamente a mão direita dela, que estava na área mais protegida do canto em que estavam, e apertou com carinho.

R: Eu vou resolver isso, o mais rápido possível e assim que eu puder, acredita em mim. – insistiu.

B: Eu já disse ontem que acredito! – apertou mais a mão da mineira – Só tenta não atropelar nada. Espera esse momento ruim com a mãe dele passar, pra você não se sentir ainda mais mal.

R: Você não existe... – conseguiu abrir um sorriso, e Bia sentiu-se vitoriosa por estar conseguindo acalmá-la. Rafa completou no mesmo tom baixo que usavam, mas com inconformismo evidente:

– Caralho e inferno de vida, eu só queria poder te beijar agora!

B: Olha a boca, minha rosa! – fez uma careta engraçada – Desse jeito meu cancelamento vem não só por te levar pra cama, mas também por te ensinar a falar palavrão!

R: Besta! – apertou a mão dela de volta – Não tá me ajudando a não querer te beijar fazendo essa carinha e essas palhaçadas!

B: Não tem palhaçada, só tem verdade... – soltou a mão dela para abraçá-la de novo e encerrar logo, sabendo que só piorariam muito as coisas se continuassem ali – Fica bem, tá?

R: Vou tentar, mas queria mesmo era ficar com você! – apertou ela.

B: Eu sei, mas depois de tanta confusão nossa, agora falta tão pouco... – sussurrou e, sem conseguir resistir, beijou doce e discretamente o ombro dela – Agora volta lá, vai!

R: Obrigada pelo dia maravilhoso ontem! – disse assim que se soltaram, completando com o que era inevitável – Há muito tempo que eu não me sentia tão feliz!

B: Eu também... – abriu um sorriso – Ridícula de tão feliz!

Deixando os olhos marejarem de novo, Rafa replicou o sorriso e assistiu Bianca lhe deixar um beijo no ar e se afastar.

Subiu de volta para o apartamento cheia de indisposição para lidar com tudo, é verdade, mas transbordando a coragem e a certeza do que deveria fazer assim que lhe fosse possível.


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Depois que saiu do prédio de Rafa, Bia decidiu que antes de voltar para casa tentaria ela também resolver uma pendência de sua vida e, sendo assim, pagou e dispensou o motorista e foi a pé mesmo, pois era bem perto dali.

Aproveitou o pequeno trecho de caminhada para ir colocando as ideias no lugar, e tentando absorver a entortada brusca que sofreram no humor e expectativas para o dia.

Fácil ela sempre soube que não seria, desde o primeiro beijo que trocou com Rafaella naquele mesmo prédio, que ela ainda conseguia enxergar ali na rua, mas o que ela não considerou, ou sequer cogitou, é que todas as variáveis que poderiam se combinar para dar errado assim fariam.

Era o que parecia estar acontecendo.

Tinha prometido para Rafaella que não desistiria, porém, e honraria isso, até porque era o que ela queria muito também.

Quando chegou ao destino, pediu para ser anunciada e pegou o elevador.

Antes de tocar a campainha, inspirou profundamente, tentando colocar dentro de si o máximo possível de ar limpo para que, quem sabe assim, tivesse renovada a sua paciência.

F: Ora, veja só, que surpresa! – Flay abriu a porta e deu espaço para Bia entrar.

B: Oi, minha amiga! – não se fez de rogada e abraçou-a antes de entrar completamente, sem dar espaço para que constrangimentos se instaurassem.

Flayslane correspondeu o abraço, fechou a porta e caminhou com Bianca para a sala de seu apartamento.

F: A que devo a honra?

B: Falei que ia te ligar, não falei? Achei que podia fazer melhor e vir pessoalmente me desculpar. – encurtou o caminho e foi direta, não aguentaria prolongar muito o clima ruim.

F: Tu não tem que se desculpar de nada, Bianca, a vida é tua e eu não tenho mesmo que ficar me metendo. – sentou no sofá e Bia fez o mesmo.

B: Você é minha amiga, Flay, eu te amo e entendo completamente a sua mágoa. – girou o corpo para ficar de lado e enxergar melhor a cantora – A única coisa que eu posso fazer é te pedir desculpas, pedir também que tente me dar um voto de confiança, e entenda que se eu não falei foi porque é uma coisa maior do que eu mesma, que tomou conta de tudo e me arrebentou.

F: Tu esperava o que vindo de Rafaella? Tem é que tá toda estropiada mesmo pra ver se aprende. – não aguentou e teve que alfinetar.

B: Flay... – repreendeu ela com o olhar e levou uma mão ao braço da amiga – Tenta abrir seu coração, por favor. Por mim, vamos conversar sem atacar ninguém.

F: Oxi, mas ontem de madrugada mesmo tava latindo que nem uma doida, espumando e jogando fogo pelas ventas contra Rafaella, tá falando assim agora por quê? O que mudou?

B: A gente se acertou, Flay. – respondeu simples e ciente de que quanto mais honesta fosse, mais rápido se livraria de mais aquela confusão. Foi ainda mais adiante – Eu tô vindo da casa dela agora, inclusive.

F: É o quê??? – até tentou ouvir com serenidade, mas soou surreal demais pra ela.

B: É o que tu ouviu, Flay, e exatamente o que provavelmente tá tentando negar com todas as forças aí dentro dessa cabecinha. – levou o indicador na testa da cantora, tentando descontrair – A Rafa me procurou, a gente conversou, resolveu nossas diferenças e eu tô vindo da casa dela agora, depois de passar a noite lá com ela.

F: Nossa, Bianca... – levantou do sofá, ainda passada e nitidamente tentando organizar as ideias.

B: Pode perguntar o que tiver vontade. – percebeu a tortura mental da amiga.

F: Tu disse que se conectaram quando machucou o pé, né? – Bianca assentiu – E de lá pra cá?

B: Eu te disse também que foi tudo muito rápido e intenso, lembra? – Flay confirmou – Então, nós ficamos poucos dias juntas e nos envolvemos em uma confusão e mal entendido imensos, envolvendo a Aninha que esteve no jantar, inclusive. Ficamos sem nos falar desde aquela época, sem solucionar a confusão, e o encontro de nós três no jantar da Manu gatilhou a solução de tudo.

Tentou reduzir a explicação ao mínimo essencial, sem expor Rafaella ao ódio de Flay, que certamente aumentaria se soubesse mais detalhes.

F: E esses poucos dias que você disse foram suficientes para causar esse estrago todo, ao ponto de não conseguir nem me contar?

B: Eu sei que é difícil de entender, porque quando eu me ouço narrando essa história eu mesma não acredito que algo assim pode acontecer, mas... – tentou organizar ainda melhor as ideias – O que eu senti pela Rafaella nos dias que eu passei com ela foi avassalador, Flay, e quando tudo desandou eu sofri demais, ao ponto de eu ter que enfiar meu rabo no trabalho e me esforçar para não enxergar mais nada em volta de mim, senão eu não conseguiria. E nesse processo eu me perdi, e vacilei contigo.

Flayslane parou uns segundos, refletindo sobre o que Bianca havia dito, mas não demorou muito a devolver com um questionamento:

– Não é ela, não, a pessoa que tu citou na Manu do relacionamento rápido que te fez mais feliz, né?

B: Gosto de tu porque é uma bicha esperta! – abriu um sorriso quase surpreso e continuou sendo sincera –É ela, sim, nós só tivemos cinco dias juntas depois que paramos de bater cabeça.

F: E foi o suficiente pra isso tudo? – continuava incrédula.

B: Foi o suficiente pra eu nunca mais ter esquecido, Flay, e pra eu ter vindo aqui hoje morrendo de vergonha pra te pedir desculpas por não ter te contado antes... – respirou fundo – mas também morrendo de vontade de te contar que eu me acertei com ela e tô me sentindo muito feliz!

F: Eu sou tua amiga para os momentos ruins também, Bianca. E queria muito que tivesse contado comigo! – sentou novamente no sofá e foi sincera.

B: Eu sei, minha amiga... – chegou mais perto e pegou nas mãos dela – mas acredita em mim quando eu digo que eu não tive forças mesmo pra mais nada. Olha no meu olho... – obrigou-a a fazer o que disse – Eu sei que eu ocultei isso, mas eu não mentiria agora pra você, Flay!

F: Eu acredito em você, Bianca, mas me magoa independente de ser verdade ou não. – Bia respirou pesadamente e soltou as mãos da cantora – Isso não quer dizer que eu vá te retaliar ou torcer contra. Muito menos que eu não vá ficar feliz de te ouvir dizendo que está feliz, as coisas não devem se misturar.

B: Eu sei. – entortou os lábios.

F: Eu só te peço um tempinho pra me acostumar com a ideia, tentar deixar de lado um pouco as minhas barreiras com Rafaella, e aí eu te prometo que te apoio no que for melhor pra você.

B: Só de tu tentar já significa muito pra mim. – percebeu que tinham ido ao limite do que aquele dia permitiria e tentou não forçar.

F: Eu quero que tu saiba, porém, que se eu souber que Rafaella fez um isso pra você... – juntou o indicador e o polegar da mão direita – mas é um isso mesmo, eu juro que eu vou atrás dela no fim do mundo e arranco aquele mega na unha.

Bianca gargalhou.

B: Eu espero que não cheguemos a esse ponto, mas eu dou o recado pra ela. – apertou a mão da amiga.

F: E é pra dar mesmo! – seguiu com o tom implicante – E de resto, melhor a gente não aprofundar, porque a imagem de tu e Rafaella juntas na minha mente ainda é uma coisa assim comparada com o apocalipse e o fim dos tempos mesmo.

B: Pois tu deveria era abrir essa mente, porque, modéstia à parte, a imagem minha e da Rafaella juntas é uma delícia, eu te garanto isso! – provocou a amiga, que sabidamente detestava aquele tipo de conotação.

F: Me poupe das suas quenguices, Bianca, que eu ainda não te perdoei o suficiente pra ficar me estressando com essas coisas, não.

Bianca só balançou a cabeça de um lado para o outro, mas não evoluiu. Sentiu que tinha feito o que tinha que fazer naquele momento, mas que não teria forças para complicar mais nada e, sendo assim, permaneceu mais um tempo ali com Flayslane, aproveitando a amizade dela para lhe distrair com humor em outros assuntos e questões.


-----


No final da tarde, Rafa já estava com o namorado no hospital há algumas horas, quando finalmente as coisas se acalmaram um pouco porque a sogra havia adormecido novamente.

R: Acho que a medicação que deram é mesmo muito forte, porque sua mãe é tão fortona, e sempre tão ativa durante o dia. – disse encarando o leito do hospital.

Rod: Ah, não tem outro jeito, né? Tem que ser muito remédio mesmo, porque é muita dor que esse troço causa.

R: Sim, tadinha! – suspirou.

Rod: Enquanto você tava aí com ela, eu fui conversar com os médicos e eles disseram que é provável que ela fique internada uns bons dias ainda, porque o quadro de infecção inspira muitos cuidados, e não tá descartada ainda uma cirurgia.

R: Mas ela vai vencer, Deus tá olhando por ela e cuidando, eu tenho fé! – fechou os olhos.

Rod: Vai, sim. O problema é que eu não posso ficar aqui por conta de toda a agenda de final de ano da dupla, né?

R: Nem tá podendo marcar show ainda, Rodolffo. – irritou-se já com o tom dele querendo se esquivar.

Rod: Não tá, mas tem todos os outros compromissos alternativos que a gente firmou, né? – rebateu – E todos ali perto de Goiânia.

R: E o que você sugere? Que eu fique sozinha aqui com ela? – confrontou – Que belo filho você vai ser, né?

Rod: Você tá muito agressiva comigo, Rafaella, não estou te entendendo. – apertou os olhos – Tá acontecendo o que?

R: Nada que vá ser abordado agora, aqui no hospital, Rodolffo. A gente precisa conversar já tem um tempo mesmo e você sabe disso, mas não vai ser agora. – tentou não se precipitar, como Bianca havia lhe pedido, mas também não conseguiu não antecipar um pouco do que viria.

Rod: Anda difícil de conversar com o tanto de tempo que você passa em São Paulo ultimamente, né?

R: Minhas principais atividades agora estão aqui, mas pode ter certeza de que assim que as coisas acalmarem, a gente vai arranjar esse tempo.

Rod: Ótimo! – alheio ao tom de Rafaella, como todo homem, ele retomou o que dizia antes da pequena discussão – Mas voltando, como isso ainda dura um tempo, não, eu não pensei em te deixar sozinha aqui, mas sim em transferir ela pra Goiânia e a gente reveza nos cuidados dela por lá, o que você acha? Eu sei que seu curso já acabou por esse ano e já estamos a dez dias do Natal mesmo.

R: Fora de cogitação, Rodolffo! – levantou rápido, já apavorada só com a menção àquela hipótese.

Rod: Eu posso pedir pra uma prima ou uma tia me ajudar, Rafa, mas ela te ama tanto, se você conseguisse me ajudar significaria muito mais pra ela. – usou o tom mais convincente que foi possível.

R: Eu tenho meus assuntos em São Paulo, Rodolffo, não tô pensando em sair daqui nos próximos dias, não. – tentava raciocinar – E tem outra coisa, não deve nem ser bom pra ela esse deslocamento,

Rod: O médico disse que se for na UTI móvel, tudo bonitinho, é tranquilo! E acho que quanto antes fizermos, melhor, porque logo já começa a loucura das festas e tudo se enrola mais.

R: Ai, não sei, não, Rodolffo. Precisamos amadurecer isso melhor. – bufou – Inclusive, cê já deu suas voltinhas e eu vou dar a minha agora.

Rod: Voltinha onde, Rafaella? No hospital? – encarou ela – Eu fui falar com o médico, não fui dar voltinha.

R: Pois é, mas esse é o hospital em que a Thelminha voltou a trabalhar, e eu já conferi que ela tá por aqui! Vou encontrar com ela na cantina e comer alguma coisinha. – pegou a bolsa – Quer que eu te traga algo?

Rod: Não, tô bem!

R: Ótimo, fica com sua mãe aí então! Daqui a pouco eu volto! – disse seca e foi saindo.

E a versão que ela contou era mesmo verdadeira, pois a única coisa boa que tinha acontecido na tarde dela – além das mensagens que discretamente vinha trocando com Bianca – tinha sido perceber que Thelma estava mesmo por ali.

Assim que percebeu, ela se apressou em tentar encontrá-la pra, quem sabe assim, conseguir abstrair um pouco.

Foram mesmo para a cantina do hospital e, aproveitando o assunto que Rodolffo tinha iniciado no quarto, Rafa tentou tirar suas dúvidas com Thelma e achar uma solução.

R: Eu esperava que você me dissesse que não teria como fazer essa transferência, Thelminha. – apoiou o cotovelo na mesa e levou a mão à testa.

T: Lembrando que eu tô dando minha opinião superficialmente, Rafa, sua sogra não é minha paciente. – reforçou a cautela que sempre teria – Eu, Thelma, não transferiria e acho um pouco caprichoso isso, mas possível é, sim.

R: Pois é, mas "caprichoso" é só uma das características menos nobres de Rodolffo. – respirou fundo e endireitou o corpo na cadeira – Se é possível, já sei que ele não vai mudar de ideia de jeito nenhum.

T: E por que você teria que ir junto?

R: Porque minha sogra é muito apegada comigo, e só tem ele de filho, que não é lá o trem mais confiável desse mundo, já sabemos bem.

T: Ai, Rafa... – riu do jeito da amiga, mas foi sincera na sequência – Tô te sentindo tão torturada nesse relacionamento tem um tempo já, minha amiga, porque você ainda está nele?

R: Porque eu sou uma mula, que não deveria nunca ter voltado, isso sim! – deu um tapa na coxa – E, de todo modo, eu estava pronta pra terminar com ele, era meu próximo passo, ia pra Goiânia pra isso e tudo mais, mas aí aconteceu tudo isso e eu tive que dar uma adiada. – levou o café à boca.

T: Hum... Se acertou com a Bianca, né?

Rafaella quase engasgou com o café quente.

R: Como assim? – soltou a xícara, intrigadíssima – Quem te contou sobre a Bianca?

T: Ninguém... – sorriu, mas apressou-se em eliminar qualquer mal entendido – Sério mesmo, ninguém me contou, eu só observei vocês duas a noite inteira no jantar da Manu.

Rafa desenhou uma expressão incrédula no rosto e Thelma se esforçou ainda mais em esclarecer.

T: Vocês se comeram com os olhos a festa inteira, Rafa. Se evitaram a noite inteira também, muito mais do que o comum que assistimos no BBB. – seguiu enumerando – Depois se trancaram com Marcela, Manu e Aninha no escritório, te vi chorando com a Marcela em seguida, Bianca triste, Aninha foi embora. E o que matou a dúvida de vez: saíram as duas da roda da dinâmica da Manu, ficaram um tempão sozinhas e, quando voltaram, a Bianca tava histérica e você pedindo pra Marcela cuidar dela, enfim... – tomou fôlego antes de finalizar tranquila, deixando Rafa ainda mais estarrecida:

– Se isso não é um romance sapatão, minha amiga, nada mais será.

R: Eu tô é besta com você, Thelminha. – gargalhou.

T: Errei em alguma coisa? – desafiou presunçosa.

R: Não... – balançou a cabeça – Tenho nem defesa!

T: E se acertaram mesmo? Essa parte eu não tenho.

R: Sim... – abriu um sorriso tão largo e tão iluminado, que a médica ficou realmente surpresa – Eu procurei ela depois e eliminamos uma parte da confusão.

T: Uma parte?

R: Sim, a parte que envolveu a Aninha, que qualquer hora eu te conto, mas aí tem a parte do mala do Rodolffo. Confusão totalmente desnecessária que eu mesma criei pra mim, né? – soltou o ar frustrada.

T: Você vai mesmo terminar com ele por causa da Bianca então? – arqueou as sobrancelhas.

R: Vou terminar com ele antes de tudo por mim mesma, que já vinha infeliz há um bom tempo, e vocês têm me acompanhado. – trocou um olhar cúmplice com ela antes de continuar – A Bia é só a minha injeção de coragem, a motivação que eu tenho pra sair logo dessa inércia toda.

T: Mas então é por causa dela que você tá nesse desespero todo de sair de São Paulo, não?

R: Ah, isso sim, não dá pra negar. – baixou o olhar e suspirou – Tem sido muito intenso, porque a gente se aproximou uns seis meses atrás, brigamos feio e nunca mais nos vimos... – tentou resumir para a amiga – E tá sendo difícil demais imaginar ficar longe justo agora, que nos resolvemos.

T: Que judiação mesmo! – pegou a mão da amiga em cima da mesa – E o que você tá pensando em fazer?

R: O que eu quero fazer? Dar um pé logo nele, neste exato momento e jogar tudo para o alto. – revirou os olhos – Agora... O que eu devo fazer? Esperar o melhor momento, né?

T: Ela tá te pressionando?

R: A Bia? – soltou uma risada – Jamais! Ela é a maior defensora da ideia de não atropelar as coisas. Tem sido super madura e paciente.

T: Bem diferente do que se esperaria dela, né? – surpreendeu-se – Sempre tão livre e impulsiva...

R: Pois é, tem sido essa a postura dela, mas às vezes eu fico com medo de ela estar se esforçando pra entrar mais na minha onda, sabe? Porque sabe que eu sou mais ponderada e me esforço para não magoar ninguém. – desabafou o que estava mesmo lhe incomodando desde o dia anterior.

T: Bom, se ela estiver se esforçando, tá fazendo certo de todo modo, não é? Porque você precisa ser estratégica mesmo neste caso, se for impulsiva, vai acabar passando por cima de um momento delicado pra ele e, pior do que isso, pelo pouco que você nos conta no grupo, eu duvido que ele vai aceitar isso sem fazer da sua vida um inferno maior ainda.

R: Eu não posso ser refém disso, Thelminha! – os olhos encheram d'água mais uma vez naquele dia.

T: Você não é, minha amiga! – apertou a mão dela – Só precisa agir com tranquilidade, e se a pessoa com quem você quer ficar está nessa mesma página, tenta se acalmar e ir agindo com cuidado.

R: Ela pode até estar, mas eu tô me sentindo insegura de deixar ela esperando, até por que... – fez uma pausa – A culpa de esse tempo todo em que nós ficamos brigadas é praticamente toda minha.

T: Não preciso nem ouvir você me contar o que aconteceu para imaginar, Dona Rafaella... – deu uma bronca de leve, abrindo um sorriso envergonhado na mineira – Mas tenta deixar essa briga pra lá, já que se acertaram. Trabalha com o contexto mais recente, em que ela tá te dando essa segurança. Acredita nisso, dá você também a segurança pra ela de que vai resolver, e tenta não atropelar nada.

R: Eu compreendo bem a estratégia, mas sinto cada vez mais dificuldade de executar... – suspirou – mas acho que eu não tô tendo muita escolha mesmo.

T: Parece que não... – sorriu pra ela e tentou alterar um pouco o humor – Agora... Que tremenda reviravolta você e Bianca juntas! Confesso que eu achei que eu estava alucinando na festa da Manu. – gargalhou.

R: Nem me fala, eu acho que eu tô alucinando todo santo dia, há mais de seis meses... – deu risada também e escondeu o rosto entre as mãos – mas já que estamos aqui, deixa eu te contar o básico.

Rafaella ajeitou-se na cadeira e, com o humor mais leve, aproveitou o resto do tempo com Thelma para ser mais clara com ela sobre o que tinha acontecido e tudo que vinha sentindo.


-----


Quase no mesmo horário, Bianca finalmente voltou para sua casa.

Quando chegou, mal fez um carinho em Luete e, sem demorar, encaminhou-se para a escada com a intenção de se enfiar em seu quarto, mas foi impedida pela voz de Miguel.

M: Finalmente, Boca, achei que não voltava mais lá da Flay!

B: Fui ficando, Guel... – parou o movimento e retornou, descendo os degraus que já havia subido – mas resolvi todas as pendências que vocês me passaram de lá.

M: Eu sei, não tô cobrando nada, não. – percebeu o semblante retraído da amiga e, claro, julgou que só haveria um motivo pra isso – Cadê a Rafa? Achei que ela viria com você.

B: Longa história, meu amigo, longa história. – suspirou e cruzou os braços na frente do corpo – Nós quase fomos flagradas hoje pelo namorado dela, que chegou sem avisar no apartamento.

M: Meu Pai amado, vocês ainda vão acabar presas. Esse relacionamento só piora! – despencou o corpo no sofá.

B: Foi bastante desagradável, mas deu tudo certo. – disse sem muita emoção no tom de voz e terminou o esclarecimento para a última pergunta dele – Só que isso significa que agora ela precisa estar com ele e resolver tudo. Parece que a mãe dele tá hospitalizada, então deu mais uma complicada esperta. – caprichou no sotaque – Enfim, ela não pôde vir comigo hoje.

M: Bodeou? – percebeu o ânimo da amiga bastante abaixo do tom Bianca de ser.

B: Não. – sorriu de lado – Tô meio preocupadinha com ela, na verdade.

M: Acha que ela vai dar pra trás?

B: Já me questionei algumas vezes, mas até o momento isso não é uma possibilidade pra mim. – passou as duas mãos no cabelo, limpando o rosto das mechas curtas que sempre insistiam em cair ali, mas que naquele contexto a sufocavam. E concluiu: – Tô preocupada porque tô sentindo ela muito sobrecarregada com isso tudo, diferente da Rafa que esteve comigo seis meses atrás. Não gostei também do pouco que eu vi da dinâmica deles, o jeito que ele trata ela... Enfim! Odiei tudo! – respirou fundo.

M: Ficou com ciúmes também? – ignorou a imensa explicação.

B: Mais do que eu podia imaginar. Tive vontade de esfregar a cara dele no asfalto a cada vez que ele chegou perto dela nos poucos minutos em que eu estive lá. – revirou os olhos – Isso é novo demais pra mim, não tô sabendo lidar, não.

M: Respira fundo e espera passar então, meu amor! – percebeu que era mesmo sério, e nem ousou fazer piada.

B: É o que eu vou fazer... – deu outro sorriso de canto e concluiu:

– Isso e confiar na minha garota.

Bianca suspendeu os ombros e não se demorou mais por ali, não. Subiu para o quarto e se deu um descanso daquelas últimas quase 48 horas de puro surto e confusão.


-----


Passavam das dez horas da noite e Bianca dormia profundamente na penumbra e silêncio de seu quarto, de lado e na extremidade esquerda do colchão.

Tão profundamente que ela precisou de muitos segundos para compreender que o que lhe despertou foi uma mistura de estímulos que resultou na melhor sensação do mundo: o braço que deslizou por sua cintura, puxou-lhe junto ao corpo que lhe abraçou, e o beijo carinhoso que sentiu em seu pescoço.

– Não me xinga, mas eu não conseguiria não te acordar. – e o tom de voz rouco e sussurrado terminou de lhe arremessar no fundo do poço das pessoas rendidas e sem defesa.

Não ficaria melhor do que isso jamais, e ela já tinha entendido isso.

Com um sorriso enorme no rosto e o coração transbordando de alívio, Bia girou o corpo e ficou de frente para Rafaella.

B: Tá na hora de eu te dar a chave da minha casa, né? Já são muitas surpresas maravilhosas e eu preciso facilitar a sua vida – manteve o sorriso no rosto e se jogou nos lábios de Rafa, sem lhe deixar responder.

Sem pressa e com todo carinho, elas fizeram o beijo render tempo suficiente a terminar de alinhar os dois corações aflitos.

Quando se soltaram, a mineira enfim se defendeu:

– Hoje eu não invadi nada. Toquei interfone, Miguel atendeu, conversamos lá embaixo e tudo mais antes de eu subir. – encostou uma testa na outra, trazendo o corpo de Bianca ainda mais perto do seu.

B: Nossa, não ouvi nada, tava chapada de sono. – piscou os olhos algumas vezes, ainda tentando espantar a sonolência.

R: Miguel me falou mesmo que você subiu tristinha e não saiu mais daqui. – fez um carinho no rosto dela e completou – Desculpa por fazer você se sentir assim.

B: Assim como? Pateticamente feliz, como eu te disse mais cedo? – fez uma careta que teve a intenção de censurar o comentário de Rafa.

R: Você me entendeu! – não caiu no desvio de assunto de Bia e lhe abraçou apertado – Parou de me responder no whatsapp e eu até fiquei preocupada.

B: Eu só tava um pouquinho ansiosa e preocupada contigo! – suspirou e beijou o ombro de Rafa, afastando-se do abraço – Não gostei de te deixar daquele jeito e também acho que o cansaço emocional desses dias bateu. – e concluiu – Apaguei e acabei não te dizendo nada, desculpa te fazer vir até aqui preocupada!

R: Não tem que pedir desculpas! – selou os lábios delas – Eu já estava me organizando e esquematizando pra vir há algum tempo, ia vir de qualquer jeito.

B: Só me enganou mesmo então, né, safada? – deslizou a mão esquerda pelo bumbum de Rafaella e apertou, arrancando um sorriso dela – E que "esquema" foi esse?

R: Rodolffo vai dormir lá com a mãe, mas mesmo assim eu contei com a cobertura da maravilhosa, gênia atemporal, e melhor amiga desse mundo: Manu Gavassi. – encheu Bia de beijos, arrancando uma gargalhada gostosa dela.

B: Como assim?

R: Achei melhor não arriscar nenhum desencontro.... – parou o ataque de beijos – E falei pra ele que dormiria na Manu porque ela estava com um problema. Assim, se ele voltar no meu apartamento, tá tudo certo. Maria Manoela tá me dando cobertura.

B: Bacana que só hoje a gente já contou aí pra mais de umas 57 mentiras, né? – deu risada, sem nenhum incômodo aparente, mas Rafaella se afetou.

R: Belo jeito de recomeçar, né? – deslizou o indicador pela mecha de cabelo castanho que caia no rosto de Bia.

B: A vida tem desses contratempos e é temporário. – não deixou ela continuar naquele caminho – O importante é que tu conseguiu se liberar por lá e veio correndo pra mim! – foi a vez dela de confortar a Rafa no abraço.

R: Vim correndo mesmo! – encaixou ela ainda melhor – E tava adivinhando, né? Porque aparentemente eu tinha que vir aqui cuidar da bebezona!

Bianca fez uma cara confusa e outra vez afastou os corpos.

B: O que eu fiz agora?

R: Miguel me falou que você subiu, não desceu mais e também não comeu nada. – girou o corpo e apontou para a mesa de apoio que Bia tinha no quarto – Passei na cozinha e te preparei uma coisinha pra comer antes de subir.

B: Mas eu sou mimada demais por essa mulher, meu Pai... – puxou a cintura de Rafaella e fez ela voltar em seus braços.

R: Não vai se acostumando, não, porque eu só tô rendidinha assim agora, mas se continuar dando trabalho, eu te enquadro até tomar jeito! – deu um tapinha na bumbum da carioca que, claro, reagiu no melhor estilo Bianca:

B: Ui! – fez uma cara de tesão depois do tapa – Me enquadra que eu gosto e gamo mais!

R: Ô, meu Pai, eu esqueço que tudo vira sacanagem com esse ser humano, me perdoa por tentar consertar e sempre cair em mais pecado e perdição! – devolveu levemente debochada.

B: Alá, começou a 171 a dizer o texto de "Missionária Pastora da Igrejinha"... – não aguentou e puxou Rafaella pra cima de si, apertando ela entre os braços.

R: Ele sabe dos meus propósitos! – sorriu lindo, com o rosto bem pertinho do de Bianca.

B: Sabe que tu usa essas covinhas pra me dobrar, isso sim... – sorriu de volta e beijaram-se de novo.

No meio do beijo, o celular de Rafa vibrou no bolso traseiro da calça dela.

Bianca, que estava com a mão na bunda de Rafa, foi parando o beijo e alertou:

– Seu celular...

R: Claro, né? – suspirou frustrada e levou a mão ao bolso.

Desbloqueou a tela e reagiu com um franzido nas linhas da testa.

B: É ele? – não aguentou e teve que perguntar.

R: É... – entortou os lábios e desviou o olhar da tela para Bianca, saindo de cima dela – Desculpa, é melhor eu responder!

B: Não tem problema. – pronunciou e ficou de lado de novo, aguardando Rafa terminar.

R: Pronto! – colocou o celular no móvel ao lado da cama e passou a mão nos cabelos, soltando o ar em seguida.

B: Se irritou. – afirmou, não perguntou.

R: Ele me tira do sério! – respirou fundo e, quando olhou para o lado, viu Bia em silêncio e só a observando, sentiu-se mais mal ainda – Ai, me desculpa! – chegou mais perto de Bianca – Totalmente sem noção da minha parte trazer isso agora, nesse clima tão gostoso entre a gente.

B: Tá tudo bem, Rafa, mesmo! – levou a mão ao rosto dela, mas decidiu ser sincera – Eu já te disse que eu sei que enquanto isso não puder ser resolvido, essas coisas vão acabar acontecendo. Só me preocupa o quanto você se afeta, só isso.

R: É complicado, Bia... – travou e esforçou-se para prosseguir – Não tem nada a ver com a consciência pesada por nós estarmos juntas de novo, nem nada do tipo, é uma coisa que já se arrastava comigo e com ele. Um incômodo, porque... – paralisou de novo – É como se...

B: Ele te sufoca. – facilitou pra ela e esclareceu ainda mais – Foi isso o que você disse na nossa conversa na beira da piscina.

R: Pois é, isso resume. – sorriu fraco, pegou a mão de Bia e beijou.

A carioca também chegou ainda mais perto de Rafaella.

B: Se tudo der certo, logo isso acaba. – fez um carinho na nuca dela.

R: Tem que dar certo, eu não aceito outra opção. – sorriu com o carinho que recebia.

Rafa respirou fundo e aproveitou o gancho para eliminar uma das pendências que, tirando o fato de querer mais do que tudo ficar com Bianca, também a tinham motivado a se organizar para estar ali.

R: Eu preciso te dizer uma coisa... – pronunciou baixo – Uma não, essa é só a primeira coisa eu vim aqui hoje te dizer.

B: Pode falar. – deslizou a mão da nuca para o rosto de Rafaella, tentando manter o clima de carinho.

R: Eu acho que eu vou ter que ir pra Goiânia por uns dias.

Bianca respirou fundo e fechou os olhos antes de se pronunciar.

B: Eu já contava com isso, até porque o Natal e o Ano Novo estão bem aí, né – deu um sorriso de canto, mas foi sincera – Só não esperava que fosse tão cedo.

R: Eu não vou emendar esse tempão todo, não, tá doida? – procurou o olhar dela – Eu vou dar um jeito de voltar nem que seja pra passar algumas horinhas com você.

B: Vou torcer pra ser mais do que algumas horinhas. – levantou as sobrancelhas.

R: Foi modo de dizer, claro. – não deixou o olhar dela desviar – Eu vou tentar otimizar meu tempo o máximo que eu puder para estar aqui, mas tenho que ir agora porque a minha sog... – achou mais correto reformular – A mãe do Rodolffo vai ser transferida pra lá, e ela conta comigo pra acompanhar ela, porque ele não ia poder estar junto o tempo todo e ela só tem ele.

B: Eu entendo. – tentou soar o mais convincente possível, percebendo o constrangimento de Rafa de lhe dizer aquilo. E foi ainda mais assertiva – Você tem que fazer tudo que seu coração te disser pra fazer, e isso não vai mudar nada entre nós.

Rafaella abriu um sorriso e puxou Bianca para mais um abraço.

Ficaram um tempo em silêncio, só abraçadas e curtindo a presença confortável uma da outra, até que Rafa foi se soltando aos poucos e pronunciou suave:

– Vamos levantar e comer o que eu preparei pra você? Já tá bem tarde. – beijou a testa dela.

B: Não tô muito com fome, mas acho que não vai adiantar eu dizer "não", vai? – fez uma carinha fofa.

R: De jeito nenhum! – estalou um beijo nos lábios de Bianca e levantou, caminhando até a mesa – Até por que, eu só fiz um sanduichinho mesmo, Miguel falou que você jamais comeria nada mais elaborado do que isso a essa hora.

B: E o Guel faz tudinho nessa vida! – disse travessa, levantando também e sentando na mesa – Não fez pra tu por quê?

R: Eu tomei um super lanche no final da tarde, tô cheia demais da conta até agora. – repudiou logo e completou – Inclusive, lanchei com a Thelminha.

B: Mesmo? – estranhou.

R: Sim, ela tá atuando no mesmo hospital. Foi a melhor coisa da minha tarde!

B: Que bom então, assim deu pra dar uma descomprimida do stress todo, não?

R: Sim... – lembrou-se da melhor parte – Inclusive, você não tem ideia, não!

B: O quê? – olhou com estranhamento, levando o lanche à boca.

R: Ela sacou tudinho o que tava rolando com a gente só de observar lá na Manu! – gargalhou.

B: Ah, pronto... Mentira! – ficou espantada.

R: Juro, narrou em detalhes toda a nossa movimentação da noite e sacou direitinho.

B: Amo a Thelminha! – riu junto com Rafa – E a gente achando que tava arrasando no sigilo. Pensa?

R: A gente perde é a noção no meio dos nossos surtos, isso sim.

B: Verdade, mas também, né? Acho que todo mundo percebeu o quanto tu praticamente me matou desidratada de tanto que me secou enquanto eu tava dançando com as garotas. – provocou sem juízo algum.

R: Mas é um trem ridículo de tão convencido mesmo, gente! – não aguentou e esmagou Bia em um abraço lateral, dando um beijo no rosto dela em seguida.

E assim elas prosseguiram enquanto Bianca terminava de comer, entre pequenas provocações e compartilhando as novidades do dia de cada uma.

Quando Bia terminou, foi até o banheiro escovar os dentes e deixou a mineira esperando por ela no quarto.

Assim que retornou, ela percebeu Rafa sentada na borda inferior do colchão e com uma expressão indecifrável no rosto.

B: Que foi? – caminhou até sua penteadeira e passou um lip balm para hidratar os lábios.

R: Tava te esperando! – estendeu a mão pra ela, sugerindo que chegasse perto.

Bianca atendeu ainda com uma expressão de dúvida no rosto.

Rafaella levantou e envolveu a cintura dela, limpando com a mão direita as mechas que cobriam o rosto de Bia antes de prosseguir.

R: Eu te disse que eu tinha mais coisas que eu vim aqui pra te dizer hoje, não disse?

B: Verdade! – sorriu – Pode dizer. Tem mais viagens e motivos pra eu me descabelar? – completou com humor.

R: Não. – riu do jeito fofo dela e lhe beijou os lábios – Eu queria te dizer que, nesses seis meses que a gente ficou longe uma da outra, eu virei uma fãzona da Duda Beat.

B: É mesmo? – fez uma cara engraçada com a super revelação, mas não poderia perder a deixa – E eu me pergunto por que, né? Quais memórias isso te trazia.

R: Memórias quentes e ingratas! – pronunciou divertida e apertou ainda mais Bia entre seus braços antes de continuar – mas eu conheci várias músicas dela mesmo, amei muitas.

B: Então entendeu bem meu recadinho na festa da Manu, né? Precisou nem prestar atenção na letra. – seguia provocando.

R: Tava bem fixa na minha memória a letra, sim. – revirou os olhos – Gosto dessa também, mas tem uma que assim que eu ouvi foi lá no teto... – fez o gesto apontando para o alto – Se tornou minha favorita disparado e, desde então, eu ouvia praticamente todos os dias e era como se fosse meu momentinho do dia pra me conectar com você.

B: Nossa... – ficou surpresa com as palavras – Não conheço tantas, mas será que eu conheço essa?

R: Será? – liberou um dos braços que envolviam a cintura de Bianca e alcançou no colchão o próprio celular para dar play no que ela já tinha deixado preparado e sincronizado com o sistema de som que Bia tinha no quarto. Antes de fazer efetivamente isso, Rafa ainda completou:

– Eu acho que chegou a hora de eu realizar o meu sonho de compartilhar a letra dessa música, que se encaixava quase perfeitamente no que eu sentia naquele momento.

Sob o olhar curioso e bastante ansioso de Bia, Rafa deu o play, soltou o celular, voltou o braço para envolver o corpo dela e, em silêncio, abraçou-a durante as primeiras estrofes da música:

Beijei ontem à noite

Mas acordei sozinha

Difícil de falar dessas relações 

Eu sou de outro tempo

Amor que é pra sempre

E tanto sentimento guardado pra nós dois

Que se eu só tivesse hoje pra poder te amar de novo

Beijei ontem à noite

Mas acordei sozinha

Difícil de falar dessas relações

Eu sou de outro tempo

Amor que é pra sempre

E tanto sentimento guardado pra nós dois

Que se eu só tivesse hoje pra poder te amar de novo

De novo

Que se eu só tivesse hoje pra, pra poder te amar de novo

De novo, de novo

É que eu amo você

E eu nem sei porquê

Que eu amo você...


Quando o que era essencial já tinha sido cantado na música, Rafa afastou o corpo suavemente e reassumiu o que queria dizer.

R: Essa música só tem uma linha errada, porque eu sei, sim, por que. – levou a mão ao rosto de Bia, que mordeu o lábio tentando conter o sorriso inevitável e deixar Rafaella terminar, e foi o que ela fez – Cada dia que passa eu sei mais e mais, e tô esperando pra te dizer isso desde o quinto dia que eu passei com você, e que infelizmente a minha teimosia e as circunstâncias cruéis que se colocaram entre a gente me impediram de dizer. – respirou fundo e finalizou com um pequeno sorriso no rosto:

– Que eu te amo demais!

Bianca, enfim, liberou o sorriso dela também e baixou o olhar por um segundo, ligeira e adoravelmente encabulada. Rafaella percebeu e tentou continuar sendo clara.

R: Eu pensei outros cenários, quis limpar toda a minha vida antes de te dizer isso pra não ter nada que te fizesse duvidar, mas hoje eu entendi que eu só queria dizer... – recuperou o olhar de Bianca, que permanecia com o sorriso no rosto, mas em silêncio. Rafa prosseguiu – Eu precisava dizer, porque eu queria que você soubesse exatamente o que eu sinto e não duvidasse nunca disso.

B: Rafa, eu... – tentou quebrar o silêncio, mas foi interrompida.

R: Eu não espero que você diga nada a respeito, eu só quero mesmo que você veja nos meus olhos que é verdade, e que eu quero muito te provar todos os dias o quanto eu te amo. – seguiu matando Bianca, que já não tinha mais nem para onde expandir o sorriso.

B: Tu não me deixa falar, carái... – fechou os olhos, tentando não se desestabilizar ainda mais com o olhar de Rafaella.

R: Pode falar. – não conseguiu não rir do jeito de Bia.

B: O mais surreal disso tudo... – abriu os olhos novamente e tentou prosseguir – É que foi por muito pouco, muito pouco mesmo... – reforçou com o tom de voz – Que eu não bati na sua casa naquela noite pra te dizer o que também tinha ficado muito claro pra mim... – devolveu o carinho no rosto de Rafaella e prosseguiu – O quanto naquele momento eu tive noção de que eu estava completamente apaixonada por você. – deliciou-se com o lapso de timidez que também enxergou nos olhos verdes, mas não deixou eles desviarem na conclusão – E de lá pra cá, não teve um só dia em que eu tivesse deixado de ter essa certeza... – parou com a mão no maxilar dela e vidrou ainda mais o olhar:

– Do quanto eu também te amo!

Com a música ainda tocando em looping, com os sorrisos finalmente em sincronia, sem timidez e transbordando felicidade, elas fecharam ainda mais a distância e se provocaram um pouco, deslizando os rostos, bochechas, narizes, roçando os lábios suavemente, até não aguentarem mais e se entregarem ao beijo que finalmente era declarada e confessadamente apaixonado.

Sem conseguir parar o beijo que crescia em urgência e desespero, Rafa foi caminhando com Bianca até encostá-la na parede mais próxima e ali se demoraram deliciosamente, engolindo-se e se agarrando.

Com o desejo cada vez mais descontrolado, a mineira suspendeu uma coxa de Bia e diminuiu a distância entre os corpos, encaixando-se ali cada vez mais, até Bianca não aguentar mais e fazer menção de envolver a cintura da mineira com as duas pernas, o que ela conseguiu com a ajuda de Rafa, que lhe amparou e, sorrindo, recebeu o aperto das pernas de Bia em sua cintura.

Sem esperar muito mais, Rafa caminhou com Bianca no colo até despencarem na cama sorrindo. Com Rafaella por cima de seu corpo, Bia afastou o cabelo dela do rosto e pronunciou sem qualquer inibição:

– Meu amor.

Rafa apenas sorriu e, como não poderia deixar de ser, repetiu mais uma vez:

– Eu te amo tanto!

Falhando completamente em continuar se segurando, Rafaella voltou a beijá-la e se entregou a finalmente sentir – e também fazer Bianca sentir – por inteiro tudo que elas tinham guardado há tanto tempo.


-----


Falaê, por essa vocês não esperavam, vai?

Acharam que eu ia matar vocês com esse tom deprê o capítulo inteiro, não acharam?

kkkkkk

Enfim, gente, foram 20 capítulos pra chegar nesse ponto, minha nossa! 

(Eu desconsidero o [Mimo], porque foi bônus)

Nem eu achei que demoraria tanto, mas a história foi caminhando assim e eu apenas segui.

Quero dizer que essa música do capítulo foi o gatilho da fic, as outras da Duda eu só inclui porque queria que tivesse uma coerência bonitinha.

Foi ouvindo essa música um dia, e vendo vocês shipparem loucamente, que eu pensei que, quem sabe, eu podia escrever uma história sobre Rabia e cá chegamos.

Por isso esse capítulo é tão importante pra mim.

Espero que tenha sido um pouquinho especial pra vcs também.

No mais, voltaremos até o final da semana, vão me dando aquele tempinho a mais e a gente vai caminhando juntxs.

Por fim, queria dizer que ia ter [CONTINUA], SIM, mas eu fiquei com dó de fazer isso hoje. kkkkk

Reservamos a emoção para o próximo capítulo.

Boa semana e amo vocês! 

PS: Gente, dêem um pulinho no tt e ajudem a autora na enquete fixada no perfil:

https://twitter.com/norahcanas/status/1277314098917769216?s=21


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