Como (Não) Viver Com Park Jim...

By vanelope-stars

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[CONCLUÍDA] Quer saber qual uma das piores coisas que podem acontecer com você? Viver com Park Jimin. Sem nen... More

(Não) Duvide Dos Boatos Sobre Jimin
(Não) Fique Longe Do Quarto Dele
(Não) Aceite Um Desafio Dele
(Não) Deboche dele
(Não) Obedeça Ele
(Não) Continue Vendo Ele Como Inimigo
(Não) Ache Que Está Livre Dele
(Não) Se Controle Perto Dele
(Não) Estabeleça Limites Entre Vocês
(Não) Evite Ter Sentimentos Por Ele
(Não) Devolva Na Mesma Moeda
(Não) Controle Seu Coração
(Não) Divida A Cama Com Ele
(Não) Resista Aos Encantos Dele
(Não) Negue Seus Sentimentos Por Ele
(Não) Desperdice Sua Última Chance
Como Ter O Seu Feliz Para Sempre (Com Jimin)
Conheça Ele
Seja O Namorado Dele
Conte Para Ele
Mude Com Ele
Aproveite Com Ele
Corra Até Ele
Viva Com Ele
Epílogo Sem Prólogo.
EXTRA: Com Ele, Eu Aprendi A Viver.

Espere Por Ele

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By vanelope-stars

🍒🍒🍒🍒>>>>>> OI! LEIAM AQUI, RAPIDÃO! É IMPORTANTE! <<<<<<<🍒🍒🍒🍒🍒
Nesse capítulo o Jimin fala sobre o ex namorado dele e contém uma narração bem clara de relacionamento abusivo. Se isso for gatilho pra alguém, pulem, ok? Se atentem e pulem. Não quero ninguém passando mal.
Eu, particularmente, amei esse capítulo. Espero que amem também! Leiam as notas finais que eu explico mais coisas lá!
Até! 💙💛

&_______&

Já citei que Jimin tem muitas camadas, e como podem ver, ele demora a mostrá-las. Eu aprendi a esperar com o tempo. A entender o tempo dele e saber como era o tempo dele. Decorei o tic-tac do seu relógio e o som do seu alarme.

Eu esperei Jimin para poder escutá-lo, para poder entendê-lo. Para poder não só amar ele, mas dar a ele a certeza de que eu o amava. Para lhe dar segurança, carinho, apoio.

Eu esperei por ele e morri de felicidade quando percebi que ele também esperou por mim.


"TOC. 

Pensamentos excessivos (obsessões) que levam a comportamentos repetitivos (compulsões).

O transtorno obsessivo-compulsivo é caracterizado por pensamentos e medos irracionais (obsessões) que levam a comportamentos compulsivos. O tratamento pode ajudar, mas essa doença não tem cura.

Crônico: pode durar anos ou a vida inteira.

Geralmente diagnosticável pela própria pessoa.

Não requer exames laboratoriais ou de imagem.

O TOC costuma se concentrar em temas como o medo de germes ou a necessidade de organizar os objetos de uma maneira específica. Os sintomas geralmente começam de modo gradual e variam ao longo da vida.

O tratamento é feito por meio de cuidados individuais e paliativos. O tratamento inclui psicoterapia, medicamentos ou ambos."

Eram os resultados que o Google me dava quando eu pesquisava "toc". Pesquisava para entender Jimin melhor, para achar uma maneira de ajudá-lo. Mas os resultados da pesquisa mais me assustavam do que animavam. Claro que Jimin sempre foi minha maior fonte de informações, quem saberia mais sobre ele do que ele mesmo? Eu fazia perguntas, eu ouvia com atenção, mas às vezes nem ele sabia responder. E se nem ele tinha as respostas, como eu poderia ter? Ainda com esses obstáculos e parênteses, eu aprendi mais sobre Jimin e o mal que caía sobre ele. E, em certo ponto, sobre o mal que caía sobre mim também.

"Depressão.

É um conjunto de condições associadas à elevação ou ao rebaixamento do humor, como depressão ou transtorno bipolar.

A sensação persistente de tristeza ou perda de interesse que caracteriza a depressão pode levar a uma variedade de sintomas físicos e comportamentais. Estes podem incluir alterações no sono, apetite, nível de energia, concentração, comportamento diário ou autoestima. A depressão também pode ser associada a pensamentos suicidas.

A base do tratamento geralmente inclui medicamentos, psicoterapia ou uma combinação dos dois. 

Cada vez mais, as pesquisas sugerem que esses tratamentos podem normalizar alterações cerebrais associadas à depressão."

Era o que o Google me dizia, mas eu passava meus olhos pelas palavras sem interesse. Eu as sabia de cor. Sabia o peso, cor, gosto e consequências delas. Gostaria de não saber de cor. Na verdade, gostaria de apagar. 

O tempo passou desde a visita ao túmulo da minha mãe. Jimin e eu ficamos mais próximos, conversamos mais. Eu não tinha reclamações quanto a isso. Nossa relação estava ótima e eu estava bem. Mas também estava inquieto. Já fazia um tempo que eu trabalhava com ele. Já fazia um tempo que eu não escrevia. 

Já fazia um tempo que eu tinha tido minha grande ideia.

Eu não queria que apenas Jimin me fizesse feliz, eu queria ser mais realizado. Foi quando cansei de enrolar. Cansei de fugir, cansei de dizer que estava tudo bem.

Não estava. Eu estava com medo de fracassar, estava com medo de nunca sair do primeiro parágrafo. Estava com medo que meu pai estivesse certo. Estava com medo dele. Como me odiei por isso. Ainda longe, ele me fazia congelar, repensar. Ainda longe, ele continuava na minha cabeça. Foi aí que percebi que eu não falava dessas coisas com Jimin. Eu pedia tanto para que ele fosse mais aberto, por que eu não era? Por que não contava? Acho que não queria perturbá-lo. Jimin tinha problemas sérios e que o machucavam muito. O que era a minha dor perto da dele? Perto da de todo mundo?

Jimin me conhecia, me conhecia muito bem. Ele me chamou pra conversar. Disse que eu estava longe. "O que aconteceu, meu anjo?" ele perguntou. Ainda me lembro de como fiquei mole nos braços dele.

" ㅡ Não é nada tão importante, Jimin. Só…

ㅡ Me diz. Diz pra mim. Não importa o que é. Vou tentar ajudar. 

Ele segurou minhas mãos e sorriu pra mim. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu não soube por onde começar, ainda que as palavras estivessem prontas.

ㅡ Jimin… Amor, você… Você acha que eu sou um fracasso?

Meus olhos estavam embaçados e minha voz estava hesitante. Eu estava com medo, estava triste. Estava com vergonha de reclamar. Jimin fazia tantas coisas, Jimin era bom em tantas coisas. Queria me esconder para que ele não visse o quanto eu era minúsculo ao lado dele.

ㅡ O quê? Meu amor, é claro que não! Por que está pensando isso? Alguém disse algo pra você? ㅡ Segurou meu rosto, passou os dedos por minhas bochechas molhadas.

ㅡ Não, ninguém disse nada… mas, amor… Eu não sei fazer nada direito. Eu não me arrependo de ter deixado a faculdade pra trabalhar com você, mas eu sou tão bom agora quanto era quando cursava. Eu não saio do lugar, Jimin! Eu não faço nada! ㅡ Solucei e desviei meus olhos dos dele. Ele se aproximou mais de mim, estávamos sentados um de frente para o outro no sofá. ㅡ Eu não sou nada perto de você, Jimin.

ㅡ Jungkook. Jungkook, olhe pra mim. ㅡ Hesitei e levantei a cabeça devagar. Olhar nos olhos dele era bom, mas doeu naquele momento. ㅡ Meu anjo, você não é um fracasso. Como você pode querer ser bom em muitas e muitas coisas quando você mal cursou algo? Eu estudei muito, estudei muito tempo. E ainda tem coisas que você sabe que eu não sei e isso é normal. Não é por não ter um diploma que você não tem valor. Você sabe disso. Sei que sabe, porque você é a pessoa mais inteligente que eu conheço.

ㅡ Você não conhece muitas pessoas inteligentes, então. ㅡ Ri. Ele sorriu e beijou meu nariz.

ㅡ Não existe só um jeito de ser inteligente ou necessário. Você sabe disso também. Eu sei que sabe! Você diz isso pra mim! ㅡ Ri mais alto. Ele mexeu no meu cabelo. ㅡ Tudo bem você querer saber mais, de fato uma formação faz muita diferença. Mas você sabe que não é isso que define o quanto você vale. Você quer voltar pra faculdade?

ㅡ Não… É que… Eu parei de escrever. Eu quero escrever. Eu sei que é isso que eu quero. 

ㅡ Por que não escreve, então?

ㅡ E se eu não conseguir? E se der tudo errado? Eu nunca terminei um livro.

ㅡ Você pode tentar de novo. Eu apoio você!

Mesmo que eu tivesse dúvidas em relação à minha capacidade, eu acreditei nas palavras de Jimin. Acho que porque eu não tinha dúvidas sobre ele. Se ele disse que eu podia, então eu podia. Ele era uma das únicas certezas que eu tinha.

ㅡ Só não diga mais que é um fracasso, tá bom? Sua fanfic é ótima. Li ela toda e posso dizer com certeza que como escritor você não é um fracasso.

ㅡ Ai, amor… para de falar de 7 luas. ㅡ Ri sem jeito e escondi meu rosto no ombro dele.

ㅡ Não. Já disse que foi uma das melhores coisas que eu já li! Nunca me imaginei tão badboy.

ㅡ Amor! ㅡ Bati no ombro dele. 

ㅡ Você é um bom escritor, Jungkook. Eu juro."

De repente desabafar com Jimin era fácil e acabava sendo divertido. Descobri que Jimin era muito engraçado às vezes. Ele sempre me fazia rir e me deixava renovado. Foi com o estímulo dele que eu cansei. Cansei de só pensar no meu pai e em pessoas que duvidavam de mim. Jimin estava certo. Eu sabia que as pessoas não podiam ser definidas por apenas um elemento. Às vezes eu ficava desanimado e esquecia do que eu mesmo acreditava.

Decidi que aquilo não iria mais acontecer. Ainda era difícil levantar da cama às vezes e acreditar em mim. Mas sempre seria. Eu sabia que era crônico e que se eu quisesse conquistar algo, ou simplesmente viver bem, eu teria que continuar.

Assim como Jimin sempre continuava.

E eu comecei a escrever! Comecei a passar quase todo meu tempo livre com o computador. Eu tive uma boa ideia, uma grande ideia. A minha ideia favorita e não quis deixar ela passar.

Jimin até resmungou sobre como eu passava mais tempo com o computador do que com ele. Mas ele estava feliz por mim, eu sabia. No entanto, Jimin também era uma pessoa mentirosa e manipuladora, além de aproveitador e carente. Era estranho saber que usava essas palavras para descrever meu namorado, mas era a verdade. Jimin era a cobra que influenciou Eva.

Para me fazer lhe dar mais atenção, ele usou diversas abordagens. Ele sabia meu ponto fraco e usava contra mim:

Meu amor por comida e por sexo.

Juro por tudo que é mais sagrado que ele já andou pelado ㅡ sim, pelado ㅡ pelo apartamento e sentou na minha frente pra me distrair. Foi no dia que transamos na mesa…. Foi um grande dia. A mesa quebrou também, mas esse não é o foco. 

Às vezes Jimin queria tanto que eu ficasse com ele que fazia absolutamente tudo pra ter minha atenção. Comprava comidas que eu gostava, sussurrava coisas no meu ouvido, me beijava em lugares que me arrepiavam, colocava desenhos que eu gostava na tv e falava sobre como queria foder comigo. Eu não era forte o bastante para tanta tentação.

Eu nunca pensei que eu seria a pessoa requisitada da relação. Geralmente era eu quem vivia atrás de atenção e carinho. Mas eu não era tão direto e manipulador como Jimin. Ficava por perto quando queria atenção e, se não ganhava o que eu queria, eu ia embora triste e acabado. Isso não funcionava com Jimin, até porque se ele se mostrava triste é porque estava triste mesmo. Então eu me atentava aos sinais e sabia quando ele queria só me incomodar e quando realmente me queria por perto.

Há uma semana eu estava no sofá com o notebook, já era tarde e eu não queria acordar Jimin. Estava parado em uma cena que não sabia como escrever há horas. Jimin apareceu com uma coberta e sentou ao meu lado. Cobriu nós dois e dormiu no meu ombro. Pedi que ele fosse para a cama pra que ficasse confortável, mas ele falou que não iria conseguir dormir longe de mim e que sabia como acabar aquilo era importante pra mim. Ele ficou ali até eu acabar e ir para a cama. Me deu leite de banana e cantou pra mim para que eu não pensasse demais no livro e pudesse dormir. E era realmente daquilo que eu precisava naquela noite.

Eu costumava pensar no Jimin como um grande gato. É fofinho, é carinhoso. Mas também pode ser malvado e interesseiro. Jimin era um grande gato. 

Enfim, voltando ao assunto do livro, eu estava empolgado! Estava contente e esperançoso! E depois fiquei deprimido e sem inspiração. Mas passou! E voltou de novo.

Tive tantas variações de humor que Jimin ligou para Taehyung e perguntou se era normal que eu saísse pulando pelo apartamento e aparecesse chorando 2 minutos depois. Tae disse: "Ele está escrevendo? Se estiver, é normal sim."

Como se eu sempre tivesse variações de humor enquanto escrevia! É totalmente normal mudar de humor 34 vezes por dia. Não?

Escrever sempre foi difícil pra mim. Eu não sabia como escrever o que queria, como explicar, eu não sabia se estava ficando vazio ou seco. Acho que em parte isso acontecia porque minhas maiores referências eram clássicos ou coletâneas de poemas.

Somos ensinados que bons livros são livros cultos sobre temas sérios, romances dolorosos ou aventuras cheias de reviravoltas. Um tipo de obra que se torna referência, original. Mas, mesmo que existam elementos que tornem um livro de maior ou menor qualidade, não dá pra dizer o que transforma ele num bom livro. Se você gosta dele e ele te fez feliz ou te ensinou algo, não conta como um bom livro? Por que bons livros têm que ser complicados? Difíceis e reflexivos? Ou completamente fantasiosos e irrealistas?

O que torna um livro um bom livro? Isso era o que mais passava pela minha cabeça. Mas ainda que eu fizesse um bom livro, com extrema qualidade ou história interessante, ele ainda poderia ser odiado por alguém que gosta de romances clichês. E o que tem de errado com clichês? Eu não sabia dizer.

Entendi que eu poderia ler todo tipo de livro e passar horas trabalhando em um mesmo parágrafo, e meu livro ainda não seria como as referências que eu tinha. Porque eu não era como aqueles autores. Eu pensava diferente, eu sentia diferente e eu queria contar uma história diferente. Eu tinha meu estilo e não podia controlar quem gostava ou odiava a minha narrativa. 

Um bom livro podia ser avaliado de forma técnica ou por gosto pessoal, mas era possível gostar de livros com qualidade ruim e odiar livros bem escritos se a história não interessar. Não podemos controlar isso. Mas no fundo, pra mim, se o livro te conquistou e você tem carinho por ele, o que mais podemos querer? Somos exigentes e críticos com um trabalho que nem é nosso, um trabalho que não sabemos quanto tempo e esforço levou para ser concluído. Compramos e descartamos livros sem saber o quanto eles importam para quem os escreve. 

Quem manda nesse processo é o consumidor, e o consumidor, muitas vezes, não liga para o autor. Essa era a verdade e eu tinha que conviver com ela, mesmo que doesse pensar que algo em que eu trabalhei tanto poderia ser tratado como lixo por alguém que nem se importa.

Saindo do assunto do livro, aconteceram grandes coisas nesse período: o restaurante em que Hoseok trabalhava saiu em uma revista, foi muito elogiado. Ele me ligou chorando para contar; Tae finalmente convenceu Hoseok a se mudar com ele para um apartamento maior e agora os dois moravam juntos num lugar só deles ㅡ para a alegria de Tae ㅡ, e a coisa que mais me fazia sorrir ultimamente: Jimin começou a terapia.

Não conseguia colocar em palavras como me sentia. Jimin quis tentar, Jimin aceitou receber ajuda. Nós dois, na verdade. Eu também voltei a ter consultas, porque nem devia ter parado, para início de conversa. E eu estava muito feliz. Jimin havia tido a primeira sessão há uma semana e conversou comigo sobre como estava nervoso. Ele nunca tinha, realmente, feito um tratamento e não sabia como seria. Tinha medo que julgassem ele mal. Levei um tempo, mas consegui explicar a ele que as consultas seriam no tempo dele e que se não se sentisse bem com o psiquiatra, ou o tratamento não estivesse funcionando, ele poderia mudar de profissional ou a abordagem do tratamento. 

Ele voltou mais calmo. Me disse que a doutora que o atendeu foi bem legal e que não tinha sido ruim, só estranho. Jimin estava finalmente cuidando dele mesmo. Jimin estava finalmente fazendo algo por si e sua saúde sem ser por causa de outra pessoa. E eu sabia disso porque lhe disse que se ele somente se tratasse por minha causa não adiantaria. Ele tinha que querer aquilo por vontade própria, entender e aceitar que precisava e merecia ajuda.

Mas nem sempre é fácil pra que alguém aceite que está doente ou precisa de ajuda. Queremos encobrir, negar, temos uma aversão a doenças mentais e emocionais. Julgamos essas pessoas, achamos que elas estão dificultando algo simples. Mas se elas estão é porque não é simples pra elas. E é difícil pra elas admitirem e entenderem que estão sofrendo.

Era difícil para Jimin dizer que precisa de ajuda. Ele achava que não merecia isso, queria resolver sozinho, ele queria suportar a dor. Mas a dor não devia ter que ser suportada, e se há uma maneira de fazê-la passar, por que não escolher essa maneira? 

Jimin estava tentando, Jimin estava se esforçando, Jimin estava melhorando. E o amor e o orgulho não cabiam mais no meu peito.

Minha sessão foi boa também. Eu já sabia como funcionava e meu único medo era que eu evitasse mais uma vez olhar para o problema. Que eu parasse tudo outra vez, que eu ficasse na inércia. Não queria isso outra vez e jurei tentar mais não desviar. Eu queria enfrentar tudo dessa vez.

ㅡ Quer mais suco?

ㅡ Só um pouco, amor. Já tomei dois copos cheios. Se eu tomar mais um, minha bexiga não vai aguentar.

ㅡ Eu sei, anjo. ㅡ Riu e encheu um pouco meu copo. ㅡ Dois copos é o seu limite para suco, 3 para refrigerante e 1 para qualquer bebida alcoólica. Não que você respeite muito esse limite. ㅡ Beijou minha cabeça.

ㅡ Quem resiste a virar uma garrafa de vinho no bico? Ser humano nenhum.

ㅡ E eu?

ㅡ Já disse que você é um gato, Jimin. É diferente pra você. ㅡ Pisquei pra ele e voltei a olhar o notebook. Estava acabando algumas coisas do trabalho e checando o último capítulo do meu livro.

ㅡ E você é um anjo. ㅡ Apoiou as mãos na mesa. Fiz biquinho.

ㅡ Tão fofo, ai, como eu te amo. Dá beijinho.

ㅡ Dou. ㅡ Me deu um selinho. ㅡ Quer que eu ajude com os arquivos? Eu… ㅡ Se afastou por conta de um barulho na mesa. Bufou. ㅡ Tenho que comprar uma mesa nova. Não dá pra ficar usando essa com a perna quebrada e colada com fita.

ㅡ Eu sei. Quase virei o almoço em cima de mim ontem. Que tal comprarmos hoje? É domingo e temos tempo. Podemos comprar pela internet pra que você não tenha que ir à loja.

ㅡ Não, prefiro avaliar essas coisas antes de trazer pra casa. Tenho que medir, sentir e tudo mais. Vamos quando você acabar o café?

ㅡ "Sentir a mesa" ㅡ Ri e ele deu um peteleco no meu nariz. ㅡ Ok, ok. Vou comer e aí nós vamos à loja pra você "sentir a mesa".

ㅡ Jungkook!

ㅡ Parei, parei!

Como Jimin não tinha o costume de sair, ele dificilmente comprava coisas novas. Cuidava muito bem das que tinha e só saía para fazer compras quando era muito necessário.

Isso foi antes de eu convencê-lo a transar em cima da mesa, claro. A qualidade de todos os móveis estava em jogo agora.

Ele pegou sua máscara e luvas pretas. Eu coloquei uma tiarinha com pompons rosa que havia comprado recentemente. 

ㅡ Como estou? ㅡ indaguei. Jimin sorriu e me puxou pela cintura. 

ㅡ Está perfeito. Os pompons são iguais aos da minha bicicleta. ㅡ Rimos. Jimin me beijou.

ㅡ Hm! Falando nisso, vamos de táxi? Não conheço nenhuma loja perto.

ㅡ Ah… podemos andar pela cidade. Faz tempo que você não sai.

ㅡ Não vou te arrastar pela cidade só porque eu quero se sei que você não vai nem respirar em paz, Jimin. E não ouse ficar triste. ㅡ Ele riu e beijou minha bochecha. ㅡ Pode rir, mas eu tô falando sério. Podemos ir a pé se você me garantir que quer ir, e não para me agradar; que vamos voltar se você se sentir mal e que você vai me dizer se sentir mal. 

ㅡ Essas são as condições? ㅡ Colocou a máscara. Assenti. ㅡ Eu falei com a doutora sobre querer sair. Ela disse que eu podia começar indo em trajetos pequenos e perto de casa. Eu te disse, lembra? Então… podemos tentar? Quero poder sair com você, Jungkook. Você sabe que me agonia não poder me divertir com você. 

ㅡ Sim, mas temos que ser pacientes…

ㅡ Não vai passar, Jungkook. Você sabe disso. Para que diminua… ㅡ Suspirou. ㅡ Para que minha misofobia diminua, eu tenho que tentar ir aos poucos. Assim… daqui um tempo talvez eu possa te levar pra jantar em um restaurante bonito, me ajoelhar e te pedir em casamento outra vez. ㅡ Fiquei corado e segurei o pescoço dele.

ㅡ Certo, Park Jimin. Vamos a uma loja perto comprar uma mesa nova, andando. Você vai me dizer se se sentir mal e vamos voltar logo. E assim, em um futuro próximo, vamos jantar em um restaurante bonito pra que você me peça em casamento outra vez.

Ele sorriu, percebi porque seus olhos ficaram pequenos, tirou a máscara e me beijou outra vez. A mão dele entrou debaixo da minha camisa e eu puxei os cabelos da nuca dele, o que o fez gemer. Nos separamos e ele mordeu o lábio. 

ㅡ Na volta nós transamos. 

ㅡ Bem longe da mesa nova, Jungkook. Não tenho dinheiro pra comprar móveis novos assim. 

{...}

ㅡ Você gostou dessa, anjo?

ㅡ Eu não entendo de mesas, amor. Se a gente puder comer nela, está ótimo.

Ele me olhou sério e deu um peteleco no meu nariz. Suspirei e voltei a olhar a mesa. Tinha esquecido o quanto Jimin era meticuloso com tudo, inclusive decoração. Mas já era a quinta mesa. Eu me sentia uma criança acompanhando a mãe.

ㅡ Mas nós dois vamos usar a mesa. Você tem que gostar dela.

ㅡ Eu vou gostar da que você escolher. Eu juro. Prometo tomar cuidado com ela. Pode escolher.

Ele suspirou e continuou olhando os móveis. Eu fui até os sofás e sentei de um em um pra ver qual era mais macio. Deitei um pouquinho para relaxar, não planejava dormir. 

Acordei com Jimin dizendo que já tinha pagado tudo e que deveríamos ir. Não soube como reagir e fiquei acanhado. Todo mundo estava me olhando estranho. Mas que droga, Jungkook.

ㅡ Obrigado mais uma vez ㅡ Jimin falou aos atendentes. Saí de lá sem saber o que dizer. Fiz uma reverência e andei rápido. Jimin riu. ㅡ Foi só um cochilo, amor. Está tudo bem.

ㅡ Não acredito nisso, Jimin. Por que não me acordou? Aish… ㅡ Demos as mãos e fomos para o lado da rua com menos pessoas.

ㅡ Você estava tão lindinho. Te mostro as fotos quando chegarmos em casa.

ㅡ Você tirou fotos?!

ㅡ Claro que tirei. ㅡ Fez um "dã". Fechei a cara.

ㅡ Eu dormi por muito tempo?

ㅡ 15 minutinhos. Enfim, vão levar a mesa ainda hoje. Vamos chegar logo em casa. Quero tomar um banho.

Concordei e aceleramos o passo. Jimin estava calmo, estava lidando bem com as pessoas que dividiam a rua, e antes a loja, conosco. Ainda que o jeito como ele segurava minha mão fosse forte e eu pudesse ver que ele estava suando e tentando ao máximo não esbarrar em ninguém, ele estava mantendo o controle. 

ㅡ Se sente bem? ㅡ Ele assentiu com a cabeça. ㅡ Fico feliz, amor. Nós vamos conseguir.

Ele sorriu grande pra mim e soltou minha mão, segurou minha cintura e fez carinho nela com seus dedos.

{...}

A mesa chegou uns 40 minutos depois de nós. Os homens que trouxeram ajeitaram ela onde Jimin queria e logo saíram. Jimin a limpou bem e ficou satisfeito com ela. Ficamos deitados no sofá, eu no meio das pernas dele. Ele estava tirando uma folga do trabalho para assistir uma série, e eu aproveitei para ler alguns livros que gostava pra me inspirar. Recebi uma mensagem de Jin hyung me chamando para uma festa no próximo fim de semana. 

ㅡ Jin vai dar uma festa no próximo fim de semana. Eu quero ir, mas não quero te deixar em casa sozinho. 

ㅡ Não tem problema. Você quase nunca sai. Vá se quiser. Só me prometa que vai ir e voltar em segurança.

ㅡ Geralmente eu vou a essas festas pra beber e transar. Tenho feito isso bastante aqui com você.

ㅡ É um fato. 

ㅡ Acho que vou só pra ver alguns amigos. Mas ainda não quero te… Hoseok! Faz quanto tempo que você não visita o hyung? ㅡ Me sentei no sofá. Jimin pensou um pouco. 

ㅡ Uns… 6 meses? 

ㅡ Se ele e Tae não forem fazer nada fim de semana, por que não visita eles? Você pode me levar e me trazer da festa, já que eles moram perto do Jin hyung agora. O que acha?

ㅡ Não sei… Seu irmão e eu juntos… ㅡ Fez cara de nojo e eu bati no peito dele. ㅡ Você sabe que Taehyung é todo estranho comigo!

ㅡ É porque vocês se conheceram no trabalho, Jimin. Ele era, tipo, seu chefe e de repente virou o namorado do seu irmão. Vocês nunca superaram as primeiras impressões.

ㅡ Realmente.

ㅡ Então dê uma chance, por favor! Eu vou ficar mais tranquilo se souber que você está com alguém e está se divertindo. Eu até te levaria comigo, mas é sempre um caos lá. Sei que você não iria gostar.

ㅡ Aish... Eu posso ficar em casa e reler a sua fanfic.

ㅡ Jimin!

ㅡ Tá bom, tá bom! Vou falar com o Hoseok! ㅡ Tirou o celular do bolso e negou com a cabeça. Ouvi a voz de Hoseok do outro lado. ㅡ Oi, hyung. Tem planos para o próximo fim de semana?

Eu: Estarei aí, Jin hyung! Guarde uma garrafa de vinho pra mim. - 11:10

{...}

Eu e Jimin revisamos as regras do apartamento e retiramos quase todas. Afinal, eu não era mais um inquilino. Eu era o namorado dele. Noivo, se formos contar as diversas vezes que houve pedidos de casamento. Não podíamos continuar com regras de quando eu era apenas um morador. Mantivemos apenas as regras de ordem e limpeza, modificamos algumas destas para que fizessem mais jus à nossa rotina como casal. As outras não eram mais necessárias.

A regra de não andar pelado pela casa não fazia nenhum sentido. A de gemer baixo, muito menos. Jimin comentou sobre fazer anos que ele não mudava aquela lista. Me senti um revolucionário que reestruturou um sistema de governo.

Uma das vantagens de reformular nossa rotina e deveres foi que podíamos transar em todo lugar! Acabamos deixando isso de lado quando a mesa quebrou. Mas, tirando a mesa, o resto ainda valia! 

Também houve um sentimento de liberdade ao acabar com aquela lista. Jimin também sentiu. As coisas estavam em outro nível. Nossa relação que estava incrível e cada dia mais íntima, eu retornando a escrever, Jimin se divertindo mais e iniciando a terapia; não tinha como vivermos como antes. As coisas tinham mudado, a gente tinha mudado e tínhamos que reconhecer. Tínhamos que mudar os planos, e nós mudamos!

Nosso fundo para a viagem ao Japão realmente existia e estava crescendo. Já tínhamos escolhido lugares pra visitar, olhamos hotéis. Estava acontecendo. Estava tudo acontecendo mesmo e era maravilhoso! Maravilhoso demais para que não houvesse mudanças a favor de tudo isso.

ㅡ Amor, você mexeu nos meus livros? Não estou achando alguns. ㅡ Jimin enfiou a cabeça para dentro da porta do banheiro. Tomei um sustinho.

ㅡ Acho que peguei uns 2 ou 3. Você pode esperar um pouco? Aí eu te ajudo a achar.

ㅡ Esperar por quê?

ㅡ Porque eu estou fazendo cocô, Jimin.

Ele me olhou por alguns segundos. Eu estava brincando com o rolo de papel higiênico. 

ㅡ Ah, é! Desculpa! ㅡ Riu. ㅡ Faça rápido! Preciso dos meus livros.

ㅡ Não tem como ir mais rápido!

ㅡ Num tem cumu i mai rapidu ㅡ debochou e revirou os olhos. Joguei o rolo de papel nele.

ㅡ Sai logo!

ㅡ Quando sou eu quem está sentado aí não tem problema olhar, né? ㅡ Mostrou a língua e fechou a porta.

ㅡ Mas era diferente! Eu estava no banho, Jesus! 

Jimin deixou um pouco de lado a privacidade depois de um tempo. Agora, eu que fazia questão de trancar a porta quando tomava banho, pois ele estava com uma mania estranha de aparecer no box de repente. Eu quase caí várias vezes. E ele não invadia por uma emergência! "Você prefere repolho ou pepino no almoço?" não é bem o que eu chamava de emergência.

Cruzei os braços. O rolo de papel estava perto da porta e longe de mim. Resmunguei.

ㅡ Amor! Amor, volta aqui e pega o papel pra mim!

Jimin apareceu no banheiro com a expressão de: "Parece que o jogo virou, não é mesmo?" e eu só pude suspirar.

Ajudei ele a achar os livros que faltavam. Estavam no meu antigo quarto ㅡ que agora nós usávamos para guardar coisas ou caso alguém nos visitasse. Mas quase nunca recebemos visitas.

Há algumas semanas Namjoon apareceu. Eu convidei ele pra tomar um café mas não achei que ele fosse vir mesmo. Eu estava transando com Jimin na lavanderia quando a campainha tocou. Abri a porta todo descabelado, suado, corado, com as roupas mal vestidas e não um chupão, mas uma cratera no meu pescoço. 

Jimin apareceu depois, bem mais apresentável que eu e nós 3 tomamos café juntos. Namjoon e Jimin foram devidamente apresentados e os olhos do Joon brilharam quando ele soube que Jimin trabalhava com design. Jimin teve que mostrar alguns desenhos seus e Namjoon quase chorou. Jimin não sabia o que fazer e eu não parava de rir. Ele acabou levando alguns desenhos do Jimin com ele porque gostou muito.

Foi depois dessa visita que Jimin percebeu que eu não era o único que se interessava por ele, e considerou ser amigo dos meus amigos. Jimin realmente comentou sobre eu apresentar mais amigos meus pra ele. Em uma data e horário específicos e marcados com antecedência, claro. Mas foi tão mágico ver Jimin abrindo ainda mais espaço, considerando que mais pessoas fizessem parte da vida dele.

Às vezes achava que tudo o que eu fazia era falar do Jimin, e admirar o Jimin, e me orgulhar do Jimin, e transar com Jimin, e beijar Jimin, e sonhar com Jimin e amar o Jimin. Mas o que eu podia fazer?! Era inevitável!

Era inevitável e ele merecia tudo isso.

{...}

Passei todo o fim da tarde e noite escrevendo. Não saí de perto do computador, parei apenas para comer porque Jimin insistiu. Eu tinha feito bastante isso recentemente e, por isso, acabei dormindo no sofá. Acordei com Jimin me chamando. Já estava de pijama e sem óculos. Sua mão direita tocou minha testa e eu bocejei.

ㅡ Venha deitar. Já trabalhou demais. Quer tomar banho ou comer algo? Eu ajudo você.

ㅡ Não, não. ㅡ Me espreguicei e salvei tudo que tinha escrito. Desliguei o notebook. ㅡ Eu só preciso deitar. 

Me levantei e fui rapidamente ao banheiro antes de ir ao quarto. Jimin estava segurando meu pijama e já tinha ajeitado a cama. Me aninhei ao lado dele quando ele apagou o abajur.

ㅡ Você tem trabalhado tanto…

ㅡ Estou inspirado, Jimin. Não posso deixar passar. ㅡ Bocejei. ㅡ Tenho que escrever enquanto consigo.

ㅡ Só não se desgaste tanto. Eu me preocupo.

ㅡ Eu sei, amor. Eu sei. ㅡ Beijei o queixo dele. ㅡ Eu vou ficar bem. Só tenho que ser paciente. Mas, mudando de assunto, como foi seu dia? 

ㅡ Sério? ㅡ Riu. ㅡ Você mora comigo. Você me vê o dia todo. Sabe o que eu fiz.

ㅡ Mas eu ainda quero que você me conte o que fez. Como se sentiu, o que comeu e se seu intestino anda bem. ㅡ Riu outra vez. O abracei mais forte.

ㅡ Eu acordei e tomei banho. Comi bolo com suco, limpei a casa e você acordou. Eu beijei você.

ㅡ Me lembro dessa parte.

ㅡ Cortei bolo pra você e você comeu enquanto trabalhava. Fomos comprar uma mesa nova. Eu fiz a compra, enquanto você dormiu no sofá da loja.

ㅡ Gostaria de não lembrar dessa parte. 

ㅡ Voltamos para casa andando e eu gostei, mesmo sendo estranho. Transamos antes de o pessoal da loja trazer a mesa. Assisti filmes com você e limpei o banheiro, organizei meus livros e tirei o pó de algumas coisas enquanto você escrevia. Também trabalhei um pouco e falei com Hoseok sobre o fim de semana. Combinamos de assistir stand-ups que o Hoseok gosta, aliás.

ㅡ O hyung tem bom gosto pra comédia.

ㅡ Eu sei. Acredite. Quando ele era adolescente passou por uma fase comediante e não me deixava em paz, vivia fazendo piadas.

ㅡ Mesmo?

ㅡ Sim. Ainda me lembro do dia em que eu estava jantando e ele perguntou: "Jimin, qual o cachorro que é a união de uma piscina e uma boneca? O pool doll!".

ㅡ Po... Pool Doll! ㅡ Não me contive e comecei a rir. ㅡ Pool doll! Ai, é maravilhoso!

ㅡ Pois é, pois é. Foi uma fase e tanto. Enfim, eu fiz o jantar e fiquei checando lugares para visitarmos quando formos ao Japão.

ㅡ Ah! Você está mesmo planejando? Que adorável! ㅡ Beijei o pescoço dele várias vezes.

ㅡ Já escolhi alguns restaurantes e pontos turísticos. Vou comprar muitos mangás.

ㅡ Otaku.

ㅡ Não me xingue. ㅡ Rimos.

ㅡ Mas é mesmo legal que você esteja animado com a viagem. Fico feliz. Vamos nos divertir muito.

ㅡ Vamos sim, anjo. Vamos sim.

{...}

Estava uma correria na editora de manhã. Teria uma sessão de fotos importante e todos estavam agitados. Encontrei Tae no corredor e ele estava tenso. Além de já ter sido modelo para várias revistas da editora, ele também tinha ações ali. Taehyung entendia de economia. Então se ele estava tenso, como eu devia estar? Jimin estava uma pilha de nervos e eu me sentia deslocado porque nem sequer sabia que sessão era ou para o que era. Também senti vergonha de perguntar, porque eu trabalhava lá, afinal. Como eu poderia dizer que não sabia o que acontecia no meu local de trabalho? Apenas fiz minhas atividades normais e tomei um chazinho quando tive tempo.

ㅡ Jimin, estão te chamando na sala da redação ㅡ Taemin avisou. Jimin assentiu.

ㅡ Já vou, só tenho que acabar aqui.

ㅡ Na redação? Isso não faz parte do seu trabalho ㅡ falei e deixei meu chazinho de lado.

ㅡ Muita coisa que eu faço não faz parte do meu trabalho, Jungkook. Esqueceu? ㅡ Pegou seu tablet. ㅡ Eu sou o pilar que mantém tudo funcionando. 

Suspirei em concordância. Jimin saiu. Fui buscar uns papéis que Jimin tinha me pedido um tempo atrás e passei pela sala da redação. Jimin estava saindo, no corredor, e Taemin estava falando com ele. Ele tentou tocar o ombro de Jimin, mas ele desviou. Aquilo foi o bastante para que eu passasse por ali.

ㅡ Senhor Park, estou indo pegar um arquivo que me pediu. Pode vir comigo? Tenho um problema.

Jimin estranhou, apenas concordou. Taemin me cumprimentou e eu e Jimin saímos dali. Era estranho tratar Jimin como meu chefe, ele não exigia isso quando estávamos sozinhos, então eu quase esquecia quando alguém aparecia.

ㅡ Precisa de algo importante, Jungkook? Tenho que passar na sala onde estão tirando as fotos e depois ir até o…

ㅡ Não, não. Não preciso de nada. Só achei o clima estranho e quis te tirar dali. ㅡ Jimin sorriu e negou com a cabeça. ㅡ Enfim, vou pegar os papéis que você pediu. Boa sorte na sessão! ㅡ Deixei um beijo na bochecha dele e saí rapidinho com medo de que alguém nos visse. Pude ouvir ele rir.

Avisei a mulher que estava na sala, Moonbyul, que vim a mando do Jimin. Ela já sabia o que eu queria e me entregou os papéis. Eram capas de edições antigas da revista que Jimin queria ver. Acabei meu trabalho bem rápido e pensei em escrever. O computador de Jimin estava ligado e com janelas abertas. Juro que passei os olhos pela tela e fiquei tonto. Pai amado, como esse homem trabalha. Pensei em me oferecer pra ajudar, mas eu não entendia quase nada do que acontecia ali.

Usei um espanador de Jimin para tirar o pó de alguns armários e da mesa dele, já que tinha tempo. Voltei a escrever meu livro porque Jimin estava demorando.

Eu tinha muitas ideias, mas escrevia devagar. Não conseguia fazer as conexões que queria e acabava refazendo várias páginas. Eu estava no capítulo 8. Quando minha inspiração me deixava, eu começava a escrever outras coisas para me distrair. Já havia escrito 4 fanfics inteiras desde que tinha começado o livro.

Escrevi até romance entre o Obama e o Trump de tanto que minha mente viajava. Jimin divulgou ela para todos os nossos amigos e eu parei de deixar que ele lesse meus trabalhos sem prometer segredo.

Eu não queria Taehyung me ligando às 3 da manhã, perguntando se Obama e Trump iriam adotar um cachorro, outra vez. 

Jimin entrou nervoso na sala. Andou rápido até sua cadeira e passou a mão no cabelo.

ㅡ O que houve, amor?

ㅡ Nada demais. Muito trabalho. Muitas pessoas… Muita conversa que eu não quero ter.

ㅡ Alguém incomodou você? ㅡ Me levantei e andei até ele. Agachei ao seu lado. Ele bufou e tirou os óculos.

ㅡ Eu… Eu te conto quando chegarmos em casa. Não quero falar disso agora nem aqui. Tenho que trabalhar.

Concordei com a cabeça. Estava voltando ao meu lugar quando Jimin me puxou para perto e me abraçou. Fiz carinho na nuca dele.

ㅡ Está tudo bem. Não precisa contar se não quiser. Eu não vou insistir.

ㅡ Só estou com medo, Jungkook. 

ㅡ De quê?

ㅡ De que você… me odeie.

ㅡ Jimin… ㅡ O afastei e segurei seu rosto. ㅡ Eu te amo. Você sabe disso. Não pense besteiras.

ㅡ Em casa… ㅡ Lambeu os lábios. ㅡ Em casa eu explico tudo. Vamos voltar a trabalhar. Me ajuda com algumas coisas?

O resto do dia também foi corrido e eu pude ajudar Jimin em poucas coisas, mas pelo menos pude. Tae apareceu para nos ver e tomou café comigo enquanto reclamava de quase todo mundo. Foi na hora do almoço e Jimin quase cuspiu a comida quando Tae chamou um colega dele de "lambe saco do chefe" e depois olhou pra mim e disse: "Você também é lambe saco de chefe, Jungkook. Mas literalmente." Me impressionava o quanto eu era uma piada para todo mundo e como ninguém me respeitava. Ele foi embora quando acabou o almoço e perguntou a Jimin se ele queria beber no fim de semana, quando fosse ao apartamento dele. Fiquei feliz em ver que Taehyung estava dando uma chance para Jimin e vice-versa.

Jimin estava tão cansado de andar pra lá e pra cá e ser chamado em salas e salas que quase dormiu no meu ombro no ônibus de volta pra casa. Quando chegamos, ele ficou mais um tempo no computador e não me disse para quê. Fiz o jantar para nós dois. Macarrão com molho, salada e arroz. 

ㅡ Desculpe não ter ajudado, amor. Pode descansar depois de comer. Eu limpo tudo.

ㅡ Não precisa. Eu limpo com você. Sei que devia estar fazendo algo importante.

ㅡ Você não sabe o quanto. ㅡ Mordeu o lábio, sorrindo pra mim.

ㅡ Está planejando algo, Park Jimin? ㅡ Estreitei os olhos e peguei mais refrigerante. Ele moveu os ombros e voltou a comer. ㅡ Espero que seja algo bom.

ㅡ Ah, é sim. Depois eu conto. Quando acabar.

Fingi estar desconfiado e ele piscou pra mim. Não aguentei e ri. Acabamos o jantar e lavamos a louça, a pia, guardamos tudo. O ritual de sempre. Tinham latinhas de cerveja na geladeira, eu e Jimin nos sentamos no sofá para beber e conversar. Jimin tomou a latinha dele toda de uma vez e ficou encarando a minha, que estava pela metade.

ㅡ Você quer? ㅡ perguntei. Ele negou com a cabeça. ㅡ Pode tomar. 

ㅡ Já que insiste. ㅡ Tomou todo o resto da cerveja em um gole e deixou a latinha no porta copos. ㅡ Vou te dizer o que queria te contar no trabalho antes que eu perca a coragem. ㅡ Nos olhamos e eu assenti com a cabeça. ㅡ É sobre o meu ex-namorado.

ㅡ O que tem ele?

ㅡ Ele é o Taemin.

Minha voz sumiu. Não por não saber o que dizer, mas por não conseguir achar as palavras. Senti uma mistura de tristeza com raiva, preocupação. Passei as mãos pelo rosto.

ㅡ Você tem mais pra contar ou só queria que eu soubesse que é ele?

ㅡ Tem mais, eu… Eu quero te explicar por que não te disse e… e eu quero te dizer, entende? Eu gosto de ser aberto com você de um jeito que não gosto com outras pessoas. Então, se você quiser ouvir, eu…

ㅡ Eu quero. Sempre quero, Jimin. Me diga o que quiser.

Me sentei ao lado dele no sofá e passei a mão por seu cabelo. Tão escuro, tão macio… Ele sorriu pra mim e eu pude observar seus olhos sumirem por baixo das lentes dos óculos.

ㅡ Ele era da minha turma. Eu tinha 16 anos. Ninguém falava muito comigo, nem era próximo de mim, nem gostava de mim. Eu sabia disso e não esperava mais nada. O Taemin foi legal comigo. Ele me deu atenção quando ninguém mais deu e eu me apeguei muito rápido. ㅡ Mordeu o lábio. ㅡ Ele não gostava de mim como eu gostava dele. Nem como amigo. Eu só era… ㅡ Riu e negou com a cabeça. Seus olhos pareciam magoados. ㅡ Eu só era muito fácil. Era fácil demais tirar qualquer coisa de mim. Fosse ajuda, fosse carinho, fosse sexo, fosse amor. E eu fiquei maravilhado. Entende? ㅡ Concordei com a cabeça e fiz carinho em seu cabelo outra vez. ㅡ Maravilhado por alguém me dar atenção. Era demais pra mim. Eu não merecia aquilo. Todos me odiavam e ele não! Aquilo era o bastante. Ele não me odiar era o bastante para que eu o amasse.

Ele fez uma pausa. Não sei se só ficou imerso demais em suas memórias ou não sabia como continuar. Toquei sua orelha devagar e chamei por ele. Nossos olhos se encontraram e eu disse baixo para que ele continuasse. Ele lambeu os lábios e respirou fundo.

ㅡ E no começo estava tudo bem. Ele andava comigo, era educado e… Bom, ele não me olhava torto. Na minha cabeça isso fazia dele um príncipe. Mas aí, quando ele percebeu que eu estava totalmente à mercê dele, ele começou a fazer o que acho que sempre quis fazer. Ele brigava comigo por quase tudo, ele não era mais educado ou carinhoso e quando eu dizia que algo me magoava, ele falava sobre como eu devia estar agradecido. Que ele era o único cara no mundo que me amaria, que ninguém me suportava, que eu não deveria reclamar porque eu já tinha demais. Mais do que eu merecia. Ele fazia eu me odiar mais do que eu já me odiava. Mas eu realmente acreditava que ninguém mais me amaria e eu não via problema. Eu era sortudo. Alguém me amava. "Ele só não demonstra como eu quero" era o que eu dizia a mim mesmo. "Ele me ama, ele só não demonstra como eu quero."

Nos olhamos outra vez e meu peito já queimava. Taemin trabalhava conosco. Trabalhava com Jimin há muito mais tempo. Eu já tinha tomado café com ele. Tinha rido com ele, já tinha pensado em chamar ele pra nos visitar. Eu estava incendiando de dentro para fora. Me sentia travar e também estava inquieto. Taemin. Eu tinha dito a Jimin que o achava bonito e questionei se ele tinha ciúmes. Ciúmes meus com ele. Taemin tentou tocar o ombro dele mais cedo. Minha mandíbula trincou.

ㅡ Na primeira vez que transamos, ele ainda tinha a pose de "príncipe". Mas até nessa pose ele não ligava muito pra mim. Ele me beijava e dizia que eu era lindo. Doeu, eu estava tenso. Mas ele disse que era normal. Ele disse que era normal eu não ter gozado também. Eu estava tão tenso que não consegui sentir prazer. Mas ele estava feliz. Ele parecia feliz e eu fiquei feliz! Pensei que nossa relação estava indo bem, que a gente estava mais próximo. Aquela foi uma das únicas vezes em que ele foi cuidadoso. Ele nunca… Ele nunca me empurrou contra a parede ou me obrigou a transar, entende? Mas ele… Às vezes… Será que não estava óbvio que eu não gostava daquele jeito? Ele dizia que eu deveria recompensar ele. Mostrar que o amava também. Eu passei a odiar os dias em que ele queria transar. 

ㅡ Você nunca disse a ninguém? Ao Hoseok? Jimin, isso que ele fez, isso tudo…

ㅡ Eu sei, eu sei. Agora eu sei. Naquela época eu não me importava. Eu achava que ele gostava de mim. Ele disse que minhas coxas eram largas demais, várias vezes. Dizia que não gostava de como um dos meus olhos era mais fechado que o outro. Não gostava do meu dente torto. Ele não gostava de mim. Ele me odiava mais do que todo mundo, eu acho. ㅡ Respirou fundo outra vez.

ㅡ Pode parar se quiser. Está tudo bem.

ㅡ Eu quero terminar. Mas posso parar se você…

ㅡ Jimin, meu amor, fale o que quiser. Já te disse. ㅡ Segurei seu rosto e lhe dei um selinho. ㅡ Só não quero que se sinta no dever de falar. Mas se você quer, continua. Eu juro que não minto. Eu quero saber. 

ㅡ Certo. ㅡ O beijei outra vez e fiquei fazendo carinho em suas bochechas quando ele voltou a falar. ㅡ Hoseok conheceu ele e não gostou dele logo de cara. Eu não entendi o porquê na época. Afastei minha relação com Taemin de Hoseok por conta disso. Não queria problemas. Mas aí… Mas aí Hoseok chegou mais cedo em casa. Eu estava chorando, tinha um vaso quebrado no chão e meu braço sangrava um pouco. Ele estava gritando. Algo sobre eu ser ingrato. Ele me traía. Eu sabia e naquele dia eu quis falar… Não sei se me arrependo ou não. Hoseok… ㅡ Riu e fechou os olhos. ㅡ Nunca tinha visto Hoseok com tanta raiva. O rosto dele ficou vermelho, vermelho demais. Ele deu um soco tão, tão forte no rosto do Taemin. Ele até cambaleou. Eu estava muito nervoso, estava tentando fazer Hoseok parar. Ele puxou Taemin pela camisa até fora de casa e disse que ele não devia mais voltar. Ele gritou tanto, Hoseok estava mesmo muito assustador. Foi nesse dia que tudo acabou. Hoseok discutiu comigo e depois chorou comigo enquanto cuidava do meu braço machucado e me ajudava a ajeitar a casa. 

ㅡ Gosto mais do hyung agora ㅡ falei. Jimin sorriu, triste.

ㅡ Ele me protegeu quando pôde. Tudo que Hoseok não fez por mim, Jungkook, foi o que ele não podia fazer. Foi ele que me fez entender que aquela relação não tinha sido boa, que eu tinha que me afastar de Taemin urgentemente. Foi ele que convenceu nossa mãe a me mudar de escola para que eu não tivesse mais que ver Taemin. E foi ele que me ajudou naquela noite com o cara da festa. Ainda não consigo dizer a palavra estupro pensando naquele momento.

ㅡ Não precisa dizer. 

ㅡ Não tenho problemas com a palavra, mas é que ainda estou processando que foi isso que ele fez comigo. Enfim, aquilo foi na época depois do meu "término" com Taemin. Eu comecei a sair muito e beber muito. Taemin tinha me usado, eu tinha entendido. Eu só deixei que qualquer um fizesse o mesmo. Era uma forma de me castigar, eu acho. De dizer a mim mesmo que era aquilo que eu merecia. Eu vivi nessa rotina noturna de beber e fazer sexo até aquela noite no banheiro. Hoseok me fez prometer que não faria mais isso comigo. Ele não confiava mais em mim. Foi nessa época que ele pegou o costume de me ligar. Ele queria saber se eu estava bem, onde eu estava, se eu estava com ele. Hoseok é ansioso porque passou a vida cuidando de mim. Tento não me culpar por tudo que aconteceu, mas… Parece que eu sempre fui um problema. Eu era um problema para minha mãe e depois fui um para Hoseok porque estava sempre fazendo coisas erradas. Na verdade… ㅡ Me olhou fixamente e fechou os olhos. ㅡ Você é a única pessoa que me faz sentir que não estrago tudo. Você me ensinou o que é amar alguém, o que é respeitar e tratar bem alguém. Você me ensinou o que significa amar a si mesmo, respeitar a si mesmo. Você me ensinou que não tem nada errado comigo. Por isso digo que você é a pessoa mais inteligente que eu conheço, Jungkook. ㅡ Voltou a me olhar. Tinham lágrimas em suas bochechas. ㅡ As coisas mais importantes, eu aprendi com você.

Aquilo foi demais para que eu não perdesse a pose e chorasse ali mesmo. Jimin chorou também. Nós… Nós amamos tanto. Nós amamos tanto naquele momento. 

Era um pedaço da história dele, era um pedaço da alma dele sendo dado a mim. Era a alma dele se misturando com a minha junto com nossas lágrimas. Eram nossas palavras não ditas tomando forma e virando poesia por nossos soluços e olhares. Era amor, era nossa relação, era nosso namoro. Acho que foi naquele momento que virou casamento. Não tinha nada mais entre nós. Viramos algo diferente, viramos outra coisa que eu nem sabia nomear. Mas nos tornamos essa coisa e de repente já não podíamos mais nos separar. De repente parecia que sempre estaríamos juntos e que nada no mundo faria a gente parar de se amar. Foi além de casamento. Foi além de tudo que eu consigo dizer. Foi lindo, foi triste, foi doloroso e foi a melhor coisa que já senti. 

Era Jimin. Era Jimin se tornando parte de mim. Tomando espaço e se unindo ao meu âmago e a tudo que me tornava eu, a tudo que me tornava dele. Jimin agora não era mais meu namorado ou marido, não era mais apenas uma pessoa que eu amava. Depois daquele momento, Jimin também era eu. Era uma parte de mim que eu nunca mais poderia tirar, mesmo se ele não estivesse comigo. 

Eu era ele, e ele era eu. E nunca mais iríamos deixar de ser.

ㅡ Eu só queria te dizer pra que você pudesse entender por que te tratei mal quando nos conhecemos e por que evitava você. Não era só o TOC, não era a misofobia, era o medo de te amar e passar por tudo aquilo de novo. Medo de ser um problema pra você. Eu não queria isso. Queria você longe e lamento, lamento.

ㅡ Por favor, pare de dizer que lamenta. Sempre que você se desculpa eu sinto que está me cortando ao meio. Sempre que você sofre, eu queimo, Jimin! Eu queimo! Eu sinto que vou morrer se você chorar outra vez.

ㅡ Mas eu só quero que você saiba que eu sinto muito. Eu não quero que você me entenda mal, que ache que faço algumas coisas porque sou chato… Juro que faço tudo que posso.

ㅡ Eu sei, eu sei que faz. E é por isso que não tem que se desculpar! Exigir desculpas de alguém que sofre é cruel, Jimin. É cruel e eu não quero que você faça isso. Eu quero te ouvir, te entender e vou esperar você estar pronto para falar! É o mínimo que posso fazer por você. Só não se machuque desse jeito. Está me matando.

ㅡ Pare de dizer isso… ㅡ Apoiou a cabeça na curva do meu pescoço. ㅡ Pare, por favor.

Eu tinha muito pra falar, muito. Mas eu mal conseguia abrir a boca. Eu sentia tudo pegando fogo. Meu peito em chamas, meus olhos ardiam pelas lágrimas, meu corpo inteiro parecia estar perto da combustão. Jimin estava chorando no meu pescoço e eu desejava morrer. Ele estava me partindo, acabando comigo. Ele estava sofrendo e isso era o bastante para que a vontade de gritar ficasse presa na minha garganta, incapaz de sair tamanha era minha dor. Eu achei que não havia nada no meu vocabulário capaz de descrever para Jimin como eu me sentia.

Foi essa falta de palavras, ou excesso delas, que me fez levantar e encher um copo com água pra ele. Foi essa falta ou excesso que me fez segurar sua mão e levar ele até o quarto comigo. Deitar ao seu lado na cama e dizer a única coisa que eu sabia de cor.

ㅡ Eu te amo, Jimin. 

Ele enxugou os olhos, seus óculos estavam na mesinha de cabeceira, segurou minha nuca. Sorriu e me beijou.

ㅡ Eu também te amo. Eu também te amo e morro de felicidade por saber que você me ama também. 

ㅡ Jimin… ㅡ Coloquei as mãos no rosto. 

Por que tudo que ele dizia me desmontava? Me transformava em pó. Não importava quantas lágrimas eu derramasse, elas não acompanhavam a velocidade com que minha dor crescia e queria vazar pelos meus olhos. Elas não acompanhavam a velocidade com que meu amor me inundava ainda mais e me tornava feliz e completo, mesmo que eu estivesse queimando em dor e despedaçado. O jeito que eu amava Jimin era maior. Maior que eu, maior do que minha capacidade de falar ou escrever. Me transcendia. Era como alcançar o nirvana com meus pés presos no inferno. Enchia minha alma e me deixava em completo êxtase.

ㅡ Eu nunca imaginei que alguém me amaria tanto assim! E… E eu não duvido de você! Entende o quanto isso é surreal pra mim? Nem minha mãe me amava, e eu tenho certeza que você ama. O quanto você me ama, Jungkook? Quanto é isso? Como é isso? Você tem ideia do quanto me faz feliz? Jungkook, você é o meu anjo. E eu jamais vou poder retribuir isso ou dizer pra você o quanto sou grato, o quanto sou feliz e o quanto você faz eu me sentir amado.

ㅡ Jimin… Jimin, pare. Eu não consigo parar de chorar. ㅡ Passei as mangas da camisa no rosto. Respirei fundo. ㅡ Eu te amo e essas são as únicas palavras que consigo dizer, porque… ㅡ Solucei. ㅡ Jimin, eu não consigo! Eu te amo, eu só te amo! 

Ele sorriu grande pra mim. Eu não consegui sorrir, meu rosto estava inundado. Nosso beijo foi salgado e febril devido ao calor de nossos corpos. Nosso abraço foi forte, foi a cola que me juntou outra vez. Senti todos os meus pedaços voltando ao lugar quando ouvi o som do coração dele batendo.

Alguns minutos depois, quando eu consegui dizer algo além de juras de amor e Jimin estava mais calmo, eu deitei no peito dele e fiz as perguntas que mais me rodeavam.

ㅡ Mas… como você e Taemin acabaram trabalhando juntos? E por que nunca me disse? Eu… Como pôde ficar perto dele esse tempo todo, Jimin? 

ㅡ Quando encontrei com ele, em um dos primeiros dias de trabalho, ele se desculpou. Disse que tinha mudado e não era mais o mesmo adolescente horrível e insensível de antes. Eu não queria conversar, não queria ser amigo dele. Então eu só disse: "Tudo bem. Não temos que falar." e nossa relação se tornou meramente profissional. Às vezes ele tenta se aproximar, não sei se quer ser meu amigo ou só quer que a gente fique "de bem". Eu nunca dei abertura.

ㅡ Não existe ficar "de bem", Jimin. Mesmo que ele tenha mudado e seja melhor agora, ele ainda abusou de você. Você viveu uma relação abusiva e se ele fazia você se sentir mal pra transar foi chantagem. Isso é crime, Jimin. Não importa como ele é agora. Ainda foi errado, ainda foi crime. Mesmo que você perdoe ele.

ㅡ Eu não sei se perdoei. Eu acho que sim, porque não queria ficar carregando isso comigo. Mas ainda dói. Eu realmente gostava dele, e mesmo que eu não o odeie ainda fico muito magoado quando me lembro.

ㅡ É óbvio que fica. Algumas coisas… ㅡ Mordi o lábio. Palavras e memórias vieram à minha mente. ㅡ Algumas coisas a gente nunca esquece, e elas doem por um tempo ou pra sempre. Perdoar já foi muito, muito mesmo. 

ㅡ Foi o que Hoseok disse quando contei a ele sobre trabalhar com Taemin. Hoseok nunca perdoou ele. Acho que ele daria outro soco nele se pudesse.

ㅡ Eu e ele dividimos essa vontade agora. ㅡ Passei a mão pelo cabelo.

ㅡ Não te contei porque não queria que você ficasse bravo. Não quero que tudo volte, que aconteça uma confusão. Só finja que não sabe quando vir ele de novo. Vou me sentir culpado se você confrontar ele ou algo assim.

ㅡ Eu só não faço isso porque preciso daquele trabalho. Você mais ainda. Poderia trazer problemas pra você e não vou arriscar que você sofra mais por conta disso. E eu não gosto de brigas, também. Mas minha vontade agora é voltar no tempo e estar ao lado de Hoseok pra bater nele.

ㅡ Até eu sinto essa vontade às vezes. Às vezes, tenho muita raiva. Mas não quero falar disso. Está tudo claro pra você? Tem algo que quer saber?

ㅡ Você se sente bem? Trabalhando com ele?

ㅡ Não exatamente… ㅡ Bufou. ㅡ Eu me acostumei. Agora é só um detalhe do meu dia. ㅡ Concordei com a cabeça. ㅡ Não pense demais nisso. Eu e Hoseok já sofremos o bastante.

ㅡ Espero que essa dor te deixe, amor. Espero que a terapia te ajude com tudo isso. Eu não posso te ajudar, espero que isso possa.

ㅡ Você já me ajuda demais estando comigo. Você me ama, Jungkook. Isso é tudo o que eu preciso. É tudo o que eu desejei durante toda a minha vida.

{...}

Eu estava ajeitando meu cabelo na frente do espelho do quarto, após ter saído do banho e estar pronto para o trabalho, quando Jimin me puxou pela mão e me fez sentar na cama, colocou o notebook no meu colo e sorriu.

ㅡ O que é isso?  

Passei os olhos pela tela e tinham fotos de quartos de hotel. Jimin mordeu o lábio.

ㅡ Era nisso que eu estava trabalhando ontem. Já conferi tudo com meu chefe ontem, também. Em parte era por isso minha correria. ㅡ Mordeu o lábio e segurou minha mão. ㅡ Escolha um, amor. Vamos para o Japão.

&_______&

[ Capítulo revisado em 08/11/2021 ]

O Jimin e o Jungkook trabalham numa editora que publica revistas, como o Jungkook citou. O Jimin trabalha com design e o Jungkook é o ajudante dele. Eu nunca expliquei muito bem a empresa em que eles trabalham, então quis explicar aqui porque sim. É isso. E eu não sei se a palavra empresa pode ser empregada aqui, mas eu empreguei. Me perdoem se não for certo.
E, gente, o Jimin narrou a experiência dele numa relação abusiva, mas é sempre bom lembrar que, mesmo seguindo um padrão, a experiência dele não é regra. Ciúme excessivo, tentar obter controle, gritar, censurar, manipular, chantagear, enfim, tudo aquilo que te faz mal numa relação é um motivo pra você considerar o término e buscar ajuda. O Jimin é um homem gay, então é óbvio que a experiência dele é diferente da de uma mulher na mesma situação, geralmente é pior para as mulheres. Só estou dizendo isso porque quero que se atentem, entendem? Usem a narrativa do Jimin como exemplo e prestem atenção nas relações que vocês têm. Amizades abusivas também existem. Cuidem de vocês. Se vocês não têm um Jungkook/Hoseok pra dizer isso pra vocês, eu digo. Não se culpem e busquem ajuda se acham que estão passando por algo assim.
Enfim, o que acharam? Está tudo sendo explicado e encaixado, como eu disse que seria. Estão gostando? Espero que sim, porque se não, não há nada que eu possa fazer KKKKK A história é essa, gente. Espero que possam apreciar 💕
USEM A # #aiminhatetinha PRA FALAR DA FANFIC!!! por favor, meu 😢💙
Leiam minhas outras fanfics se puderem, fiquem em casa, se cuidem e até! 🍒🍋

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